Ó sacerdote de Cristo, procedei de tal modo que, antes de tudo, seja simples e pura a vossa intenção, e que só tenhais a DEUS em vista.
Com esta finalidade, renovai ao menos mentalmente, antes de começar a Santa Missa, as quatro intenções ensinadas anteriormente, e em vosso memento, depois de feita a aplicação devida, oferecei brevemente o Sacrifício ao Altíssimo, para os fins a que foi instituído, Isto é, para honrar a DEUS, agradecer-Lhe, dar-Lhe reparação e obter de sua bondade todos os bens.
Usai em seguida de todo o cuidado, a fim de celebrar com o máximo de modéstia, recolhimento e atenção possível, calmamente, sem vos apressardes, mas empregando todo o tempo necessário para pronunciar bem todas as palavras, para executar integralmente todas as cerimônias com a gravidade e dignidade convenientes. Pois, se as palavras não são bem articuladas e as cerimônias bem feitas, ao invés de excitar a piedade e devoção tornam-se para os assistentes motivo de escândalo.
Isto posto, todo sacerdote deve tomar a firme e constante resolução de celebrar todos os dias a Santa Missa. Se na Igreja primitiva, os leigos comungavam diariamente, é de crer com mais forte razão que os padres celebravam todos os dias. Santo André dizia a seu perseguidor: “Quotidie Emmolo DEO Agnum immaculatum“. “Ofereço diariamente a DEUS o Cordeiro Imaculado”. E São Cipriano, em uma de suas cartas: “Sacerdotes que Sacrificium DEO quotidie immolamus”. “Nós sacerdotes, que cada dia oferecemos a DEUS o Sacrifício”.
São Gregório Magno conta que São Cassiano, Bispo de Narni, tinha o costume de celebrar a Santa Missa todos os dias, e que seu capelão recebeu de DEUS a ordem de dizer-lhe que fazia muito bem, e quão agradável lhe era a devoção do santo Bispo, estando-lhe reservada grande recompensa no Paraíso.
Onde encontrareis ladrão tão audacioso que, de uma vez, cometa um roubo de tal importância, como este padre que, omitindo sem motivo a Santa Missa, subtrai tão grandes bens aos vivos, aos mortos e a toda a Igreja? Múltiplas ocupações não constituem desculpa.
O bem-aventurado Fernando, arcebispo de Granada, e ao mesmo tempo primeiro ministro do reino e, portanto, assoberbado de afazeres, celebrava, ainda assim, diariamente. O Cardeal de Toledo comunicou-lhe que a corte lamentava que, com tantos negócios a atender, celebrasse diariamente. “É justamente por isso, respondeu o servo de DEUS. Já que suas altezas impuseram-me aos ombros fardo tão pesado, não acho, para manter-me, melhor sustentáculo que o santo Sacrifício da Missa, no qual vou haurir força e coragem para desempenhar minhas funções”.
Muito menos vale para escusar-me uma espécie de humildade como a de São Pedro Celestino. A ideia sublime que ele fazia deste Mistério leva-o a abster-se de celebrar diariamente. Apareceu-lhe, porém, um santo abade e lhe disse severamente: “E que Serafim digno de celebrar encontrareis no Céu? A escolha de DEUS para ministros do Santo Sacrifício não recaiu sobre os Anjos, mas sobre os homens, como tais sujeitos a mil imperfeições. Está bem que vos humilheis; mas celebrai diariamente, que tal é a vontade de DEUS.”
No entanto, para que a frequência não diminua o respeito, esforçai-vos por imitar estes Santos que se salientaram especialmente pela modéstia e devoção nos santos Mistérios:
O grande e ilustre arcebispo São Herberto celebrava com tão extraordinário fervor que parecia um anjo do Paraíso. São Lourenço Justiniano ficava imóvel no Altar, seus olhos pareciam rios de lágrimas, e seu espírito se empolgava todo em DEUS. Entre todos, porém, distingue-se São Francisco de Sales; jamais se viu um padre subir ao Altar com mais majestade, respeito e recolhimento. Quando se revestia dos ornamentos sagrados, depunha e afastava todo pensamento estranho, e, apenas punha o pé no primeiro degrau do Altar, sua fisionomia, em que as refletia o recolhimento de sua alma, assumia uma expressão toda angélica, que deixava encantados os assistentes.
Mas como encontravam estes santos tantas delícias espirituais na celebração da Santa Missa? É que celebravam como se estivessem em presença de toda a corte celeste. Assim acontecia realmente a São Bonet, Bispo de Clermont. Uma noite em que ficara sozinho na igreja, apareceu-lhe a Santíssima Virgem rodeada de uma multidão de Santos. Alguns dentre eles perguntaram à augusta Rainha quem devia celebrar a Santa Missa. “Bonet, o meu servo bem-amado”, respondeu ela. O santo Bispo, ouvindo pronunciar seu nome, recuou assustado, buscando esconder-se, e a parede de pedra, sobre a qual se apoiou, por um grande milagre, amoleceu; a forma de seu corpo aí ficou impressa e ainda se pode ver. Sua humildade só lhe serviu para o tornar mais digno. Teve de celebrar em presença da Santíssima Virgem, com assistência de todos aqueles cidadãos do Céu. – Depois da Santa Missa, a Santíssima Virgem Maria deu-lhe uma alva de fulgente brancura e de estofo tão fino como não se pode encontrar nenhum comparável. Ainda hoje se venera esta alva como preciosa relíquia. Com que modéstia, pergunto-vos, com que recolhimento e amor não terá ele celebrado aquela Santa Missa?
Se este exemplo, entretanto, vos parece por demais extraordinário, imitai então a conduta do glorioso São Vicente Ferrer. Diariamente ele celebrava a Santa Missa, antes de pregar a um inumerável auditório. Ora, duas coisas ele levava ao santo Altar: uma soberana pureza de alma e uma extremada compostura exterior. Para conseguir a primeira, confessava-se cada manhã; e eis o que quisera de vós, ó sacerdote que buscai a maior honra de DEUS, ao celebrar os santos Mistérios.
É espantoso que alguns empreguem meia hora lendo livrinhos em preparação ao santo Sacrifício, enquanto que um curto exame e um ato de viva contrição sobre qualquer pecado, se não houver outra matéria, bastar-lhe-ia para adquirir grande pureza de coração. Esta é a preparação mais perfeita que poderíeis fazer para a Santa Missa: confessar-vos, o mais que puderdes, todas as manhãs.
Bani todo escrúpulo e não desprezeis o conselho que vos dou. Oh! Que messe abundante de méritos amontoaríeis então! Como me agradeceríeis ao encontrar-nos na bem-aventurança eterna!
Para alcançar a segunda, o santo queria que o altar fosse ornamentado com magnificência; exigia extremo asseio nos paramentos e vasos sagrados. Confesso que a pobreza de muitas igrejas escusa-as de possuir paramentos ricos, bordados a ouro e seda; quem pode, porém, dispensar o asseio e a decência convenientes? Zelo tão ardente pelos Santos Mistérios animava o seráfico São Francisco, que, apesar de seu amor à santa pobreza, queria os Altares mantidos em perfeita limpeza, e mais ainda os sagrados paramentos que diretamente servem ao Divino Sacramento. Ele mesmo punha-se muitas vezes a varrer as igrejas.
São Calos, em suas ordenações, mostra-se tão exigente em coisas que podem parecer mesquinhas minúcias, que, na verdade é de admirar. Para terminar, a augusta Mãe de JESUS, nosso DEUS, quis pessoalmente fazer-nos compreender esta necessidade, quando em uma aparição a Santa Brígida, disse: “Missa dicinon, debet nisi in ornamentis mundis”. “Não se deve celebrar a Santa Missa senão com paramentos convenientes, que inspirem devoção por seu asseio e decência”. Antes de terminar este parágrafo, resta dizer algo a respeito do ministro que serve à Santa Missa. Em nossa época dá-se aos meninos e a ignorantes este encargo, de que nem os próprios reis seriam dignos.
Diz São Boaventura que é um mister angélico, pois muitos Anjos assistem ao Santo Sacrifício e servem a DEUS neste santo Mistério. A gloriosa Santa Mectilde viu a alma de um irmão leigo envolta em deslumbrante claridade por ter-se empregado com extremo fervor em servir em todas as Santas Missas que pudera.
São Tomás de Aquino, o sol da Escolástica, conhecia bem o valor inestimável deste ofício de servir no divino Sacrifício, e não se dava por satisfeito se, depois de ter celebrado a Santa Missa, não ajudava noutra. São Tomás More, chanceler da Inglaterra, punha suas delícias nesta santa função; e certo dia, admoestado por um grande do reino que lhe avisava de que o rei Henrique veria com desprazer ação tão pouco digna dum primeiro ministro, respondeu: “Não pode segredar a meu senhor, o rei, que eu sirva o Senhor de meu rei, o qual é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores”.
Aí está o bastante para confundir essas pessoas, às vezes até piedosas, a quem é preciso pedir de suplicar para que ajudem à Santa Missa, quando deveriam porfiar e apoderar-se do missal a fim de ter a honra de desempenhar emprego tão santo que faz inveja aos próprios Anjos e Santos do Paraíso.
Importa, evidentemente, velar com cuidado para que os que ajudam à Santa Missa sejam bem instruídos quanto a seu papel. Devem manter os olhos baixos, uma atitude modesta e piedosa; cumpre-lhes pronunciar as palavras, distintamente, docemente, em voz não baixa demais, que o sacerdote não os ouça, nem por demais alta, que incomode os que celebram nos Altares próximos.
Dever-se-ia, outrossim, excluir certos meninos muito levianos, que brincam e fazem barulho e perturbam o recolhimento do sacerdote. Rogo a DEUS que inspira aos homens prudentes dedicarem-se a este ofício tão santo e louvável. Competiria aos mais nobres e aos mais instruídos dar esse belo exemplo.
As Excelências da Santa Missa - São Leonardo de Porto Maurício
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