Abaixo transcrevemos excelente matéria, até recentemente disponível no
site da FSSPX, que, à semelhança do Catecismo de S. Pio X, didaticamente
expõe as características fundamentais da Missa e os motivos para o
católico não ouvir as missas segundos os desígnios do Concílio Vaticano
II. Em conjunto, aconselhamos a leitura da Bula Quo Primum Tempore, de valor incalculável durante os últimos cinco séculos para a manutenção da ortodoxia católica.
I – LITURGIA
1 - Que é Liturgia?
É o conjunto dos ritos prescritos pela Igreja para o exercício do culto público.
2 - Qual a origem da Liturgia católica?
Nas suas práticas fundamentais vem de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando
Nosso Senhor instituiu os Sacramentos e a Santa Missa, estabeleceu os
primeiros elementos do culto cristão.
3 - Qual o papel da Igreja quanto a esses ritos instituídos por Nosso Senhor?
Dado que estes ritos são essenciais, isto é, fazem a essência mesma da
Santa Missa e dos Sacramentos, a Igreja, assistida pelo Espírito Santo,
deve guardá-los cuidadosamente e transmiti-los. Ela pode explicitá-los,
enriquecê-los com novas cerimônias e preces. Mas de maneira sempre fiel
àqueles elementos essenciais.
4 - Qual é a relação que existe entre a Liturgia e a Fé?
Essa relação consiste naquele admirável e célebre princípio atribuído a
São Celestino I (século V) e retomado depois por vários papas até Pio
XII: “Lex orandi, lex credendi”; ele significa que a Liturgia (“lex
orandi”) é estabelecida, ditada pela Fé (“lex credendi”). E, por ser a
Liturgia a expressão externa da Fé, ela indica qual seja a Fé que a
Igreja professava e professa. Ela é o testemunho, o escrínio da Fé.
II – LITURGIA DA MISSA
5 - Qual é o principal ato de culto?
É o Santo Sacrifício da Missa.
6 - Em que consiste em geral o sacrifício?
O sacrifício, em geral, consiste em oferecer a Deus uma coisa sensível, e
destruí-la de alguma maneira, para reconhecer o supremo domínio que Ele
tem sobre nós e sobre todas as coisas.
7 - Que é a Missa?
É o sacrifício do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, oferecido sobre os
nossos altares, sob as espécies de pão e de vinho, em memória do
sacrifício da Cruz.
8 - O Sacrifício da Missa é o mesmo que o da Cruz?
O Sacrifício da Missa é substancialmente o mesmo que o da Cruz, porque o
mesmo Jesus Cristo, que se ofereceu sobre a Cruz, é que se oferece
pelas mãos dos sacerdotes, seus ministros, sobre os nossos altares, mas,
quanto ao modo porque é oferecido, o sacrifício da Missa difere do
sacrifício da Cruz, conservando todavia a relação mais intima e
essencial com ele.
9 - Que diferença, pois, e que relação há entre o Sacrifício da Missa e o da Cruz?
Jesus Cristo sobre a Cruz se ofereceu derramando o seu Sangue e
merecendo para nós; ao passo que sobre os altares Ele se sacrifica sem
derramamento de sangue, e nos aplica os frutos de sua Paixão e Morte.
Outra relação do Sacrifício da Missa com o da Cruz é que o sacrifício da
Missa representa de modo sensível o derramamento do Sangue de Jesus
Cristo na Cruz; porque em virtude das palavras da Consagração só o Corpo
de nosso Salvador se torna presente sob as espécies de pão, e sob as
espécies de vinho só o seu Sangue; entretanto, pela concomitância
natural e pela união hipostática, está presente, sob cada uma das
espécies, Jesus Cristo todo inteiro, vivo e verdadeiro.
10 - Para que fins se oferece o Santo Sacrifício da Missa?
Oferece-se o Sacrifício da Missa a Deus:
1) para honrá-Lo como convém, e sob este ponto de vista o sacrifício é latrêutico;
2) para Lhe dar graças pelos seus benefícios, e sob este ponto de vista o sacrifício é eucarístico;
3) para aplacá-Lo e dar-Lhe a devida satisfação pelos nossos pecados,
para sufragar as almas do Purgatório, e sob este ponto de vista o
sacrifício é propiciatório;
4) para alcançar todas as graças que nos são necessárias, e sob este ponto de vista o sacrifício é impetratório.
11 - Quem oferece a Deus o Santo Sacrifício da Missa?
O primeiro e principal oferente é Jesus Cristo, e o sacerdote é o
ministro que em nome de Jesus Cristo oferece este sacrifício ao Eterno
Padre.
12 - Que se entende por liturgia da Missa?
Entende-se o conjunto de cerimônias e preces que acompanham a Missa. O mesmo que rito da Missa.
13 – Como se desenvolveu a liturgia da Missa?
Nosso Senhor instituiu a liturgia da Missa, nos seus elementos
essenciais, na Quinta-feira Santa. Essa liturgia primitiva já continha
os principais dogmas eucarísticos: Presença Real de Nosso Senhor,
Sacerdócio hierárquico, Transubstanciação, caráter sacrifical da Missa. O
rito essencial usado por Nosso Senhor já continha a expressão dessas
verdades necessariamente incluídas na Missa. Desde o século I, ainda com
os apóstolos e seus sucessores imediatos, as palavras e gestos de Nosso
Senhor foram enriquecidos com novas orações e cerimônias, sempre fiéis
ao rito essencial.
No século IV havia quatro principais liturgias da Missa: o rito de
Antioquia, o rito de Alexandria, o rito romano e o rito galicano. A
partir do século V, porém, foi-se cristalizando a unificação dos ritos
conforme o modelo romano ou latino, que dessa época em diante não sofreu
mais nenhuma alteração expressiva.
No século XVI, São Pio V restaurou e codificou, tornando obrigatório, o
rito romano tradicional. [Ressalte-se, contudo, como se verá mais
abaixo, que o mesmo São Pio V permitiu a vigência dos ritos que
tivessem, então, mais de duzentos anos, como o melquita, o maronita, o
milanês, o toledano etc. (N. dos Ed.).] Daí por diante, até o Papa João
XXIII, vigorou sempre esse rito da Missa codificado por São Pio V.
14 - No decurso dos séculos, os hereges procuraram difundir seus erros através da liturgia da Missa?
Os hereges de todos os tempos compreenderam que a melhor maneira de
modificar a fé é mudar a liturgia. Por isso, sempre agiram assim, desde o
século II com os gnósticos, e depois com os eutiquianos, os
iconoclastas, os albigenses e os valdenses, e sobretudo com a mais
revolucionária das heresias, o protestantismo, no século XVI. O fato de
haver certa liberdade em matéria litúrgica até São Pio V facilitava a
difusão dessas heresias.
15 - Quais foram os principais erros protestantes a respeito da Missa?
Negação do caráter sacrifical propiciatório da Missa, do sacerdócio
hierárquico do Padre, da Presença Real de Nosso Senhor pela
Transubstanciação. A Missa passou a ser para eles uma mera comemoração
da Ceia, e nesse sentido revolucionaram toda a liturgia da Missa.
16 - Qual foi a reação da Igreja aos erros protestantes?
A reação veio como Concilio de Trento, infalível, que reafirmou e
definiu a doutrina católica e anatematizou os hereges protestantes e
suas doutrinas. No campo litúrgico o Concílio determinou a restauração
do Missal Romano. A restauração foi realizada pouco depois do Concílio
por São Pio V, na Bula Quo primum tempore (19 de julho de 1570).
17 - Que contém a Bula Quo primum tempore?
Na Bula, um dos documentos mais solenes da Igreja, São Pio V:
a) codifica a Missa conforme o Missal Romano tal qual existia antes dele, não compõe uma Missa nova;
b) obriga todos os Padres de rito latino a celebrar conforme este
Missal, autorizando, todavia, os ritos com mais de 200 anos de uso em
certas regiões;
c) concede um privilégio-indulto nos seguintes termos. “Em virtude de
Nossa Autoridade Apostólica, pelo teor da presente Bula, concedemos e
damos o indulto seguinte: que, doravante, para cantar ou rezar a Missa
em qualquer igreja, se possa, sem restrição, seguir este ‘Missal’, com
permissão e poder de usá-lo livre e licitamente, sem nenhum escrúpulo de
consciência e sem que se possa incorrer em nenhuma pena, sentença e
censura, e isto para sempre”;
d) conclui, decretando que a ninguém absolutamente seja permitido
infringir as prescrições da Bula, e que se alguém, por temerária
audácia, ousar atentar contra essas disposições incorrerá na indignação
de Deus e dos santos Apóstolos Pedro e Paulo.
18 - A Bula Quo primum tempore é, então, válida perpetuamente?
Sim. Três características confirmam esta perpetuidade da Bula:
a) a finalidade da Bula: para que haja um Missal idêntico que, pela unidade da oração pública, proteja a unidade da Fé;
b) o método de estabelecimento: não foi nenhuma fabricação artificial,
nenhuma reforma radical, mas a restauração do Missal Romano primitivo,
da Missa da Tradição;
c) os autores: um Papa avocando toda a sua Autoridade Apostólica, em
conformidade exata com o voto expresso por um Concílio Ecumênico
infalível, o Concílio de Trento, em conformidade com a Tradição
ininterrupta da Igreja Romana, e, enfim, quanto às partes principais do
Missal, em conformidade com a Igreja Universal.
A reunião dessas características nos assegura que nenhum Papa jamais
poderá licitamente ab-rogar a Bula de São Pio V, mesmo admitindo que o
possa fazer validamente, isto é, sem trair o depósito da Fé.
19 - Os Papas posteriores a São Pio V respeitaram essas prescrições?
Sim, mesmo fazendo os acréscimos acidentais exigidos, os Papas tiveram o
máximo cuidado em conservar o rito da Tradição da Igreja codificado por
São Pio V, exceto o Papa Paulo VI.
Este Papa promulgou uma nova Missa, “Novus Ordo Missae”, em 1969, após o Concílio Vaticano II.
III – A MISSA NOVA
20 - A Missa nova é, como a tradicional, um verdadeiro testemunho da Fé católica?
Respondo com as palavras do próprio Cardeal Ratzinger aos membros da
Fraternidade São Pedro em Wigratzbad: “A reforma litúrgica não foi feita
em continuidade com o legítimo desenvolvimento da expressão da Fé, mas
em espírito de ruptura (...) ela apareceu como um sistema de novidades,
portanto nocivo e perigoso para a solidez da Fé, sobretudo da maneira
como foi aplicada, (...) o rito tradicional, ao contrário, é uma muralha
de defesa para a Fé” (cf. Boletim da Fraternidade São Pio X na França,
maio/90).
E com o Cardeal Silvio Oddi: “Tenho a impressão de que as pessoas
escolhidas para efetuar todas essas reformas litúrgicas não estavam
muito preocupadas com a pureza do dogma e da doutrina. Tentaram
apresentar as coisas para agradar a alguém, por uma errônea concepção
ecumênica” (30 Dias, julho/91).
A Missa nova foi feita por uma comissão de que faziam parte seis
pastores protestantes, e foi impregnada do espírito do Concílio Vaticano
II, isto é, um espírito ecumênico de aceitação de todas as religiões,
de adaptação ao mundo moderno. Pela mentalidade ecumênica, sobretudo
para não chocar os protestantes, a Missa nova atenua (a Missa
tradicional acentua) os principais dogmas incluídos na Santa Missa:
Sacrifício propiciatório, Sacerdócio hierárquico, Presença Real e
Transubstanciação.