I. Deve ser cuidadoso em advertir os pecadores. Os padres que vêem ofender a Deus, e se calam, são chamados por Isaías de cães mudos. E é a esses cães mudos que serão imputados os pecados que não tiverem impedido, quando podiam impedi-los. Não vos caleis, diz Alcuino, para que não vos sejam imputados os pecados do povo. Não querem certos padres repreender os pecadores, para não se incomodarem , dizem eles; mas S. Gregório adverte-lhes que essa paz que desejam conservar lhes fará desgraçadamente perder a paz com Deus. Caso estranho, exclama S. Bernardo!
Se um animal cai, correm muitos a levantá-lo; perde-se uma alma e ninguém a socorre! Apesar de tudo isso, diz S. Gregório, o padre é estabelecido principalmente para apontar o bom caminho a quem se extraviou. E S. Leão ajunta: O padre que não avisa os fiéis a respeito dos seus desmandos mostra que também anda fora do caminho. Nós, sacerdotes do Senhor, diz ainda S. Gregório, damos a morte a todas as almas que vemos perecer, sem corrermos em seu socorro.
II. O padre zeloso deve dar-se à pregação. Foi pela pregação, diz S.Paulo, que o mundo se converteu à fé de Jesus Cristo. É também pela pregação que a fé e o temor de Deus se conservam entre os fiéis. Os padres que se não sentem capazes de pregar devem ao menos, todas as vezes que possam, nas suas conversações com parentes e amigos, dizer coisas edificantes, quer contando algum exemplo de virtude da vida dos santos, quer lembrando alguma máxima eterna, por exemplo, sobre a vaidade do mundo, importância da salvação, certeza da morte, paz de que se goza no estado de graça etc.
Em tal conjuntura, não conviria mesmo que um padre falasse doutra coisa, senão da alma e de Deus. Necessário é contudo desempenhar este dever com muita prudência e modéstia, para não ser ocasião de ruína para si próprio e para os outros; não aconteça que, ajudando os outros a morrer, dê a morte à sua própria alma. — Além disto, o que não se encontra em condições de pregar, deve ao menos cuidar de instruir as crianças e os rústicos, dos quais um grande número nos campos, não podendo freqüentar os templos, ignoram até as principais verdades da fé.
IV. Finalmente, deve o padre persuadir-se de que o meio mais eficaz para salvar as almas é aplicar-se a ouvir confissões. O venerável Pe. Luís Fiorilo, dominicano, dizia que pregar é lançar a rede, ao passo que confessar é puxá-la para a praia e tomar o peixe. Mas, direis vós, é um ministério muito arriscado. — Sim, por certo, vos responde S. Bernardo, é perigoso exercer as funções de juiz das consciências; mas ainda a maior perigo vos expondes, se, por preguiça ou excessivo temor, negligenciais cumprir este dever, quando a ele vos chama o Senhor.
Lamento, acrescenta ele, que estejais à frente dos outros homens, mas lamento ainda que, por temor de exercerdes a autoridade sobre eles, recuseis fazer-lhes bem. Já falamos da obrigação, imposta a todos, de empregarem na salvação das almas o talento que receberam de Deus, e dissemos que, ao receberem a ordenação, se encarregam especialmente de administrar o sacramento da penitência.
Replicareis ainda: Não estou apto para este ministério, porque não tenho estudado. — Mas não sabeis que o padre está obrigado a instruir-se? Pois que os lábios do sacerdote devem ser os guardas da ciência, é da sua boca que se há de aprender a lei. Se não quereis estudar para vos tornardes capaz de assistir ao próximo, para que vos ordenastes? Quem vos obrigou, pergunta o Senhor, a receber as Ordens sacras? Quem vos forçou a serdes padres, insiste S. João Crisóstomo? Antes de receberdes o sacerdócio, ajunta ele, devíeis examinar-vos; ao presente, visto que sois padre, já não é tempo de vos examinardes, é necessário trabalhar; tornai-vos capaz, se o não sois. Alegardes hoje ignorância, continua o santo Doutor, é acusar-vos duma segunda falta para desculpardes a primeira: não pode desculpar-se com a ignorância quem se obrigou por ofício a ensinar os ignorantes. Não poderia com esse pretexto escapar ao suplício que o espera, ainda mesmo que, por sua negligência, apenas tivesse causada a perda duma alma. Há padres que passam o seu tempo a estudar uma infinidade de coisas inúteis, e descuram a aquisição dos conhecimentos necessários para trabalharem com fruto na salvação das almas; proceder assim, diz S. Próspero, é violar as regras da justiça.
Numa palavra, é necessário ter bem presente ao espírito que o padre só deve trabalhar para a glória de Deus e salvação das almas. Por isso o papa S. Silvestre quis que, para os eclesiásticos, os dias da semana não tivessem outro nome senão o de férias, isto é, dias vagos: “Dias em que se devem pôr de parte todos os cuidados, para só tratar das coisas de Deus”. Os próprios pagãos diziam que os sacerdotes só se devem ocupar das coisas divinas; razão por que lhes era interdito o exercício de cargos públicos, para que só se consagrassem ao culto dos seus deuses. Moisés, a quem Deus tinha encarregado especialmente os interesses da sua glória e a execução da sua lei, dava-se ainda a outros cuidados, mas Jetro advertiu-o e disse-lhe: Olha que tu está a esgotar-te com um trabalho inútil… Presta-te ao povo nas coisas que dizem respeito a Deus. Antes de seres elevado ao sacerdócio, diz Sto. Atanásio, podias fazer o que quisesses, mas agora que estás investido nele, deves aplicar-te a cumprir os deveres do teu ministério. E quais são eles? Um dos principais é trabalhar na salvação das almas, como acima demonstramos. Confirmam-no estas palavras de S. Próspero: Foi confiado aos padres o cuidado das almas, como sua atribuição própria.
Livro A Selva – Sto Afonso de Ligório
Fonte:http://catolicosribeiraopreto.com/
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