sábado, 18 de abril de 2015

O trabalho NÃO é uma punição de Deus


Nesse sentido, a mitologia grega constitui eco de uma tradição mais antiga, de caráter bíblico, na qual os primeiros seres humanos, Adão (em hebraico significando homem) e Eva (e hebraico significando mãe), são colocados num paraíso de delícias, mas recebendo dois mandamentos:

a)     um para trabalhar (ut operaretur, tal como aparece na Vulgata): ‘O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo (Gen. 2, 15);

b)     outro para respeitar o direito (estabelecido por Deus numa ordem taxativa, para verificar se o homem estava disposto a obedecer-Lhe, reconhecendo sua condição de criatura frente ao Criador): “Deu-lhe este preceito: Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente (Gen. 2, 16-17).

Nesse sentido, segue o Antigo Testamento: 'O homem nasce para trabalhar como a ave para voar' (Jó 5, 7).

Ao contrário do que por vezes se imagina, o trabalho é natural ao homem, inerente à sua natureza, a qual é eminentemente racional e busca, de forma contínua, o progresso no conhecimento e no domínio das realidades criadas.  Assim, é fundamentalmente por meio do trabalho que a pessoa, em larga medida, terá a possibilidade de desenvolver suas potencialidades, bem como aquelas que o mundo traz em si, com vistas a alcançar os seus fins pessoais e os fins da sociedade (compartilhados com os demais).

Nesse compasso, vê-se que o trabalho não consiste num castigo decorrente de uma queda original, mas constitui uma participação do homem na obra criadora.

Apenas o esforço que o trabalho traz consigo – o suor do rosto – poderia ser atribuído a essa queda original (cf. Gen. 3, 19).  Daí que o trabalho tenha sempre ocupado o lugar central em volta do qual as pessoas organizam suas vidas.

(...)

Preguiça é a tendência à ociosidade: pelo amor do prazer, busca-se evitar tudo o que exija esforço ou traga incômodo.

A malícia da preguiça está em que o homem foi feito para trabalhar (cf. Gen. 2, 15 e Jó 5, 7).  A gravidade é maior quando se descumprem deveres de estado em relação à família e ao trabalho.  A tibieza, além da tristeza da alma, esteriliza a vida da pessoa.”

(FILHO, Ives Gandra Martins. Manual Esquemático de Filosofia, 4ª Ed., Editora LTR, São Paulo, 2010, pp. 411-472)

Fonte:
http://catolicismoeconservadorismo.blogspot.com.br/

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