Antes de tudo, leitora e mãe, é teu filho uma alma. Hoje acentua-se demais o corpo e se deixa esquecida a alma da criança. Os pedagogos escandalizam-se com descuidos que prejudicam a saúde e o desenvolvimento do corpo. E bem pouco se impressionam com os erros que prejudicam os interesses e os destinos da alma. Paganismo moderno, leitora!
A pedagogia que vai da alma ao corpo, do espiritual para o material, do pensamento para o prazer, é também uma pedagogia que traz vantagens aos interesses do corpo. A mulherzinha do povo que segue a pedagogia da alma é uma educadora, ao passo que o mestre que segue a do corpo jamais será um educador. É apenas um cunhador de moedas falsas. Para respeitar esta ordem mais se necessita de coragem do que de ciência.
Por isso, leitora, convence teu filho do seguinte: Um esforço intelectual, a descoberta de uma verdade, um ato de vontade, o domínio de um apetite, valem todos os fáceis prazeres do corpo. Porque? Porque o menor progresso da alma é infinitamente superior aos mais vastos proveitos materiais.
Essa alma, mais nobre do que o corpo, está vivificada por uma vida sobrenatural. Teu filho é também, pelo batismo, filho de Deus. De ti recebeu a vida do corpo. Dele recebeu a vida divina da graça. Há, portanto, em teu filho duas vidas, distintas nas suas qualidades, mas tão unidas que a primeira (recebida de ti) sem a segunda (vinda de Deus) não passa de uma grande nódoa, de uma grande chaga, perdendo-se no abismo de condenação.
… Digna de todo o respeito torna-se a criança que, com a graça do batismo, é herdeira divina. Teu filho não nasceu ainda, leitora, e já deves preparar-lhe esta vida. Durante os nove meses de vida comum, que poderosa irradiação propaga no corpo e na alma da criança a presença eucarística de Jesus Cristo no coração da mãe, que é piedosa na assiduidade à Comunhão!
… A graça há de existir e também crescer na alma do teus. Ela não pode ser unicamente objeto de um culto. Há de reinar sobre as paixões e impor-lhes ordem e harmonia. Como na orquestra cada instrumento concorre para o colorido da sinfonia, assim, sob a regência da graça, os impulsos da natureza hão de se unir e ordenar harmoniosamente. Mônica, a santa progenitora de Agostinho, acreditava que quase nada diria o nome de mãe, se não desse aos filhos, juntamente com a mísera vida do tempo, a vida infinitamente bela e preciosa da eternidade.
Por causa desse parto sofria dores mais vivas e longas do que pelo primeiro, com o qual pôs no mundo uma vida mortal. Aludindo a isto, afirmava Agostinho ser ele “o filho de torrentes de lágrimas“.
Não podem acertar na educação de um cristão os pais que não sabem preferir para os filhos a vida sobrenatural à vida natural. Só educa que, sabe respeitar a escala de valores nas várias culturas. Se os hábitos adquiridos não elevam o espírito; se a inteligência e a vontade não reinam sobre os apetites; se as faculdades espirituais não são governadas pela graça – a educação é mutilada. Tão gravemente é tal, que, provavelmente, a vida será um fracasso.
O futuro de uma criança é coisa viva, animada, ameaçada por mil quedas e que, sobretudo, depende da altura da alma. Antes de tomar uma resolução, leitora e mãe, antes de regular os hábitos mais caseiros, perguntarás a ti mesma:
“Tendes minha palavra, meu ato, a respeitar a hierarquia dos valores? A formação que vou dando aos meus, neste ou naquele caso, prefere os bens do espírito aos bens do corpo, os sobrenaturais aos bens do espírito, a verdade infinita aos reflexos dela, Deus às criaturas?”
Exercitarás teu filho não somente a sentir, mas a bem sentir; não somente a pensar, mas a bem pensar; não somente a pensar acertadamente, mas também a julgar acertadamente, não tomando as criaturas pelo que não são. Toda idolatria é um erro de juízo prático sobre o valor dos seres. Sobretudo ensinarás os teus a analisar tudo sob clarões da fé e da eternidade, sob a aprovação ou reprovação de Deus.
Finalmente, depois de ensiná-los a sentir, pensar, julgar com acerto, trabalharás para que amem acertadamente, dominando as paixões pelo amor a Deus e ao próximo.
Assim sendo, a criança é um meio de santificação para a mãe. Pois é impossível apontar e dirigir para o ideal, sem com o tempo a mãe tornar-se uma apaixonada pelo ideal. O guia dos Alpes sobe cada vez mais, à medida que faz subir os guiados…
As três chamas do lar – Pe. Geraldo Pires de Sousa
Nenhum comentário:
Postar um comentário