Se Existe
O que é
Como poderemos evitá-lo
Monsenhor de Ségur
Da Eternidade das Penas do Inferno
A eternidade das penas do inferno é uma verdade de férevelada
O inferno é necessariamente eterno, atenta a natureza da eternidade
Segunda razão da eternidade das penas: a falta de graça
Terceira razão da eternidade das penas: a perversidade da vontade dos condenados
Se é verdade que Deus é injusto punindo com penas eternas, faltas de um momento
Se sucede o mesmo com os pecados de fragilidade
Quais são os que trilham o caminho do inferno
Se podemos estar certos de que se condenou alguém que vimos morrer mal
Conclusões práticas
Sair imediatamente e a todo o custo, do estado de pecado mortal
Evitar cuidadosamente as ocasiões perigosas e as ilusões
Assegurar a sua salvação eterna com uma vida seriamente cristã
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BREVE
DIRIGIDO POR
Sua Santidade o Papa Pio IX ao Autor
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PIO IX, PAPA
Amado Filho, Saúde e Benção Apostólica.
Nós vos felicitamos de todo o coração por não deixardes de seguir fielmente e com tanto proveito a vossa vocação de arauto do Evangelho. As vossas publicações são bem depressa espalhadas entre o povo por meio de milhares de exemplares.
Se os vossos escritos são tão procurados, é porque agradam; e se não tivessem o dom de atrair os espíritos, de penetrar até ao íntimo dos corações e de produzir neles os seus benéficos efeitos, não poderiam agradar.
Aproveitai, pois, a graça que Deus vos concedeu, continuai a trabalhar com ardor e a cumprir vosso ministério de evangelização.
Quanto a Nós, vos prometemos fia parte de Deus uma grandiosa proteção para poderdes trazer ao caminho da salvação um número de almas cada vez mais considerável, e granjeardes deste modo uma magnífica coroa de glória.
Nesta expectativa, recebei, como penhor da proteção divina e dos outros dons do Senhor, a Benção Apostólica, que vos concedemos, muito amado Filho, com todo o afeto do Nosso coração, para vos testemunhar a Nossa paternal benevolência.
Dado em Roma, junto de S. Pedro, aos 2 de Março de 1876, trigésimo ano do Nosso Pontificado.
Pio IX, Papa
~ * ~
Era em 1837. Dois alferes, ainda moços, que, há pouco, tinham saído de Saint-Cyr, visitavam os monumentos e raridades de Paris. Entraram na igreja da Assunção, junto das Tulherias, e estacaram a observar os quadros, as pinturas e todas as obras artísticas daquele belo edifício. Nem sequer pensavam em orar.
Um deles viu ao pé de um confessionário um padre, ainda novo, com sobrepeliz, que adorava o SS. Sacramento.
— Olha para este padre, disse ao seu camarada; sem dúvida espera por alguém.
— Talvez por ti, respondeu o outro rindo-se.
— Por mim? Para que?
— Quem sabe? Talvez para te confessar.
— Para me confessar?! Pois bem, apostas que sou capaz de lá ir?
— Tu, ires confessar-te?! Ora! E pôs-se a rir, sacudindo os ombros.
— Apostas? repetiu o novo oficial, com um modo zombeteiro e decidido. Apostemos um bom jantar, acompanhado de uma garrafa de vinho de Champagne.
— Aceito a aposta do jantar e do vinho. Desafio-te a ires confessar-te.
Dito isto, o outro dirigiu-se ao padre e falou-lhe ao ouvido; este levantou-se, entrou no confessionário, enquanto o fingido penitente lançava para o seu camarada um olhar de vencedor, e ajoelhava como para confessar-se.
«Tem graça!», murmurou o outro; e assentou-se, para ver em que viria aquilo a parar. Esperou cinco minutos, dez minutos, um quarto de hora. «O que é que ele faz?, perguntava a si mesmo, com uma curiosidade quase impaciente. O que poderá ele ter dito todo este tempo?»
Enfim, o confessionário abriu-se, o padre saiu com o semblante animado e grave, e, depois de ter sondado o jovem militar, entrou na sacristia. O oficial levantou-se também, vermelho como a crista de um galo, puxando pelo bigode com ar um pouco dissimulado, e deu sinal ao seu amigo que o seguisse, afim de saírem da igreja.
«Que é isso?, disse este. O que foi que te aconteceu? Sabes que te demoraste quase vinte minutos com o padre? Palavra de honra, julguei por um momento que ias confessar-te deveras. Com efeito, ganhaste bem o teu jantar. Queres que seja esta tarde?
—Não, respondeu o outro com mau humor; hoje não. Qualquer dia nos veremos. Tenho que fazer e preciso de me retirar de ti.»
Apertando a mão de seu companheiro, afastou-se precipitadamente, de má catadura.
O que se teria passado, entre o alferes e o confessor? Ei-lo: Apenas o padre abriu a portinha do confessionário, conheceu, pelas maneiras do jovem oficial, que este ia ali, não para confessar-se, mas para fazer zombaria. Tinha ele ousado dizer-lhe, concluindo não sei que frase: «A religião! confissão! Eu zombo de tudo isso!»
O padre era homem atilado. «Perdão, meu caro senhor, disse interrompendo-o com brandura; vejo que o que fazeis não é a sério. Deixemos de parte a confissão e conversemos alguns instantes. Gosto muito dos militares, e, segundo me parece, vós sois um jovem bom e amável. Dizei-me: qual é a vossa graduação?» O oficial começava a conhecer que tinha cometido uma sandice. Contente por achar um meio de sair deste estado, respondeu cortesmente:
«— Sou apenas alferes. Saí ainda há pouco de Saint-Cyr.
— Alferes? E ficareis muito tempo alferes?
—Eu sei lá. Dois anos, ou três anos, quatro anos talvez.
—E depois?
—Depois passarei a tenente.
— E depois?
— Depois serei capitão.
—Capitão? em que idade se pode ser capitão?
— Se tiver fortuna, respondeu o oficial sorrindo, posso ser capitão aos vinte e oito ou vinte e nove anos.
— E depois?
— Oh! depois é difícil. Fica-se muito tempo capitão. Depois passa-se a major, em seguida a tenente-coronel, e depois a coronel.
— Muito bem! Aí estais vós coronel aos quarenta ou quarenta e dois anos de idade. E depois?
— Depois serei general de brigada e depois general de divisão.
— E depois?
— Depois não resta senão o grau de marechal; mas as minhas aspirações não chegam a tanto.
— Embora; mas não chegareis a casar-vos?
— Talvez chegue, talvez; mas será só quando for oficial superior.
— Pois bem! Então sereis casado, oficial superior, general de brigada, general de divisão o talvez até marechal de França, quem sabe? E depois, senhor?, acrescentou o padre com autoridade.
— Depois? depois? replicou o oficial, quase confuso. Oh! crede; não sei o que sucederá depois.
— Vede como isto é singular, disse então o sacerdote com um acento cada vez mais grave. Sabeis o que se passará até então e não sabeis o que depois sucederá. Pois bem, eu o sei e vou dizê-lo. Depois, senhor, morrereis. Apenas morrerdes, aparecereis diante de Deus para serdes julgado. Se continuardes a viver como até agora, sereis condenado e ireis arder eternamente no inferno. Eis-aqui o que depois sucederá!»
O mancebo, aterrado e enfastiado deste remate, parecia querer esquivar-se. «Um instante mais, senhor, continuou o padre. Tenho ainda algumas palavras a dizer-vos. Sois honrado, não é verdade? Pois bem, eu também o sou. Viestes aqui zombar de mim; deveis por isso dar-me uma reparação. Peço-a, exijo-a em nome da honra. Será além disso muito simples. Haveis de me afiançar que, por espaço de oito dias, de noite, antes de vos deitardes, posto de joelhos, direis em voz alta: «Um dia hei de morrer, mas rio-me disso. Depois da minha morte serei julgado, mas rio-me disso. Depois do meu julgamento serei condenado, mas rio-mo disso. Ireis arder eternamente no inferno, mas rio-me disso.» Direis isto; mas dais-me a vossa palavra de honra de que não haveis de faltar, não é verdade?»
O alferes, cada vez mais enfadado, querendo a todo o custo sair daquele embaraço, prometeu tudo e em seguida o bom padre despediu-o com bondade, acrescentando: «Não preciso, meu caro amigo, dizer que vos perdoo de todo o meu coração. Se tiverdes necessidade de mim, aqui me achareis sempre no meu posto. Não vos esqueçais da palavra dada.» Depois separaram-se, como vimos.
O novo oficial jantou só. Via-se que estava vexado. À noite, antes de se deitar, hesitou um pouco; mas tinha dado sua palavra de honra; não faltou ao prometido, «Morrerei, serei julgado; irei talvez para o inferno...» Não teve animo de acrescentar: «rio-me disso.»
Assim decorreram alguns dias. Sua penitência lembrava-lhe continuamente e parecia zunir-lhe aos ouvidos. A sua índole, como a das noventa e novo centésimas partes dos mancebos, tinha mais de dissipado que de mau. O oitavo dia não passou sem que o oficial voltasse, então desacompanhado, à igreja da Assunção. Confessou-se com contrição sincera, e saiu do confessionário com o rosto banhado de lágrimas e a alegria no coração.
Segundo alguém me certificou, ele foi depois um digno e fervoroso cristão. Foi a meditação do inferno que, com a graça de Deus, operou aquela mudança. Ora, o fruto que ela produziu no espirito deste novo oficial, porque o não produzirá no vosso, caro leitor?
É preciso, pois, meditar no inferno enquanto é tempo.
Cumpre pensar no inferno. É uma questão pessoal a sua existência, e, confessai-o, é profundamente temível. Aquela questão é proposta a cada um de nós; e, bom ou mau grado nosso, necessita de uma solução positiva.
Vamos pois, se quiserdes, examinar, breve mas rigorosamente, duas coisas: 1ª. se existe inferno; 2ª. o que é o inferno. Apelo aqui unicamente para a vossa fé e probidade.
Fonte: http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/2013/11/e-preciso-pois-meditar-no-inferno.html
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