sábado, 9 de fevereiro de 2013

A graça do Conclave e a cilada «conclavista»


1a fumaça branca no conclave de 1958
Pela razão que a Igreja é a depositária do Mysterium Fidei que concerne a vida de toda a humanidade, ao seu Chefe, Pedro, depois de uma plena profissão de fé e de amor, Jesus Cristo, unigênito Filho de Deus vivo, confiou-lhe as chaves para a instauração da Ordem do Pai na terra.

E o milagre deste poder divino no mundo humano se perpetua na pessoa do Pontífice Romano; o milagre da presença real de Cristo no Sacrifício do altar estende-se à Sede que existe para custodiá-Lo.

Eis o motivo da máxima devoção católica pela Sede de Pedro e tudo que lhe diz respeito, desde o conclave que elege o sucessor de Pedro até a pessoa do Papa. Por isto é sentimento genuinamente católico confiar no bom êxito de tal conclave, assim como inquietar-se durante a vacância papal, fato contingente devido à morte de um papa ou a outros fatos previstos pela Igreja.

O período de vacância representa uma hora escura para o mundo, porque nela falta por um tempo quem representa a autoridade divina, a Luz dos homens, instituída por Jesus Cristo para que no mundo sejam vigentes os princípios da Ordem de Deus Pai, que guiam ao bem social e à salvação.

São os princípios formadores da reta razão que guiam a reta vontade de todo homem em todo lugar e tempo histórico. Vejamos.

A disposição de toda criatura humana para o sacrifício, atitude religiosa comum a todos os povos de todas as épocas, encerra a consciência do débito original para com o Criador que determinou nosso estado presente e nosso fim último; é o compêndio inicial na visão da verdadeira Fé.

Essa incipiente fé essencial foi completada com o Sacrifício redentor dos homens querido pelo Pai e cumprido pelo Filho. E a Igreja, nascida deste sublime Sacrifício, foi instituída para celebrá-Lo em perpétuo.

Pode o católico perder a memória da continuidade deste luminoso milagre que Nosso Senhor continua a realizar para a salvação dos homens e do qual promanam os Sacramentos e tudo na Sua Igreja?

No entanto, nos tempos modernos, a percepção católica desse Milagre contínuo, o Sacrifício perpétuo de que já falavam os Profetas do Antigo Testamento e a cuja suspensão Daniel, confirmado por Jesus, indica o fim dos tempos, foi tragicamente obscurecida. E à perda dessa percepção sobrenatural por causa de uma devastadora pandemia do vírus naturalista, sobreveio também a perda da reta visão do natural e do sentido da vida, da morte, da dor, do juízo e da vida eterna.

Na tremenda crise que envolve a Igreja na hora presente, afim de que seja restabelecida a força e firmeza do pensamento católico, faz-se necessário a todo custo voltar à segurança das verdades fundamentais da Igreja, como esta da Igreja nascida do Sacrifício redentor, ao qual devemos aderir com plena consciência. Só neste impulso de reconhecimento do Sacrifício de adoração, de louvor, de expiação e de súplica é que se manifestam todas as virtudes e a verdadeira Fé, Esperança e Caridade cristãs.

Ao contrário, na apatia ou indiferença deste impulso mais alto, é que fenece na terra toda vida espiritual suscitada por Deus, até a hora fatal da suspensão do Sacrifício perpétuo, que é momento terminal da história.

Atenção, porém, de não seguir a tendência atual de transformar um débito, um dever em um direito, e considerando-se com direito aos sacramentos, consumi-los onde estes parecem estar. Pode isto agradar a Deus?

A razão do Primado da Sede Romana

O Primado de Pedro, o cargo papal, existe e subsiste a serviço da Doutrina que remonta sem nenhuma interferência ou descontinuidade na Palavra de Nosso Senhor, jamais de idéias ou visões de prelados modernos adaptados as teorias naturalistas que vicejam no mundo do falso progresso.

Como se sabe, às conquistas materiais corresponde o declino espiritual. Poderia este não afetar o Clero católico? Deste contínuo e fatal perigo poderiam os católicos perder a memória sem arriscar a própria fé?

Sobre o aspecto contingente da vacância não há dúvida, devido à natureza humana do Papa: é inevitável, os homens morrem e, portanto, quando um papa morre, todos os católicos reconhecem que a Santa Sé está vacante e para resolvê-la a Igreja deve seguir normas de extrema segurança que foram desde sempre dispostos para impedir o terrível mal de uma tortuosa ocupação da Sé divina de Pedro por poderes que, também estes desde sempre visam subjugá-la  num “aggiornamento” ao mundo presente.

Isto, que é impossível no plano divino, pode aparecer tal na esfera terrena com a eleição de um clérigo de inclinação modernista e maçônica, aberto aos planos de adaptação da Igreja aos tempos segundo as idéias mundiais de liberdade, igualdade e fraternidade, que desconhecem e desprezam a paternidade universal de Deus e o Sacrifício fraternal de Cristo.

Para lembrar o perigo e a inutilidade de conquistar o mundo inteiro, mas perder a alma, Jesus instruiu seus Apóstolos e discípulos. Onde estão? Ou será que seus supostos sucessores não vão por ai para exaltar justamente o falso progresso do mundo em evolução com os quais não só a Igreja, mas os fiéis deveriam se reconciliar? Quem precisa deles para reconhecer as novidades do liberal mundo moderno? No entanto, esta tem sido a lição sociológica e ecumenista dos vértices do Vaticano, que por isto se revelam, não só alheios à Palavra divina e, portanto, vãos, mas seus contrafatores e portanto apóstatas. E sendo a Fé a base da autoridade, estes, perdendo a Fé, renunciaram tacitamente a toda autoridade na Fé.

Por tudo isto, se era sentimento genuinamente católico confiar no bom êxito dos conclaves, agora é sentimento católico ainda mais forte reagir fortemente diante da presença de um falso pastor, de alguém aplaudido pelo mundo como representante de Deus em Roma, mas que promove uma religião que substitui o Sacrifício com um festejo.

O primeiro sentimento, portanto, que a Igreja seja governada por um autêntico Vigário de Cristo, em perfeita continuidade na fé católica, é legítimo na medida em que não esquece a finalidade de tal cargo, que é de confirmar a Fé íntegra e pura, recebida diretamente de Jesus Cristo.

Assim não é; desde a morte de Pio XII, a Igreja vive o inaudito drama de ver sua santa Doutrina acomodada ao mundo moderno para agradá-lo.

Papa Pio XII pouco antes de sua morte
Papa Pio XII pouco antes de sua morte
Pio XII
Sua causa foi a dúbia eleição do modernista Ângelo Roncalli, que assumiu o nome do antipapa João XXIII e convocou o Vaticano II para o tal “aggiornamento” da Igreja requerido pelo modernismo e pelas lojas.
1958 Roncalli vai ao Conclave
Mas visto que esse modernismo é a ideologia a serviço da abertura da Religião ao diálogo com as idéias políticas e religiosas já reveladas contrárias à Igreja católica – como afirmou S. Pio X na sua Pascendi, (76): «definimos o modernismo síntese de todas as heresias» – pode-se afirmar, sem medo de errar, que João XXIII corrompeu a missão do Papado. De fato, ficou logo claro que o plano do Vaticano II convocado por ele mirava estabelecer as doutrinas ecumenistas condenadas pelo Magistério papal por estarem em ruptura com a Palavra evangélica.

A esta luz, visto que o cargo papal existe para confirmar a Fé íntegra e pura e por isto condenar o que lhe é contrario, como o modernismo, uma vez demonstrado que Roncalli e sucessores operaram para introduzir o modernismo na Igreja, eles não eram legítimos candidatos ao Papado, por não serem nem mesmo verdadeiros membros da Igreja de Cristo. E dai se pode e deve levantar o caso da ilegitimidade da eleição deles no conclave, assim como a grave questão de suas condenações, como ocorreu com o Papa Honório I, mais de quarenta anos depois de sua morte. Trata-se de «fato» que compete aos católicos distinguir e a um futuro Papa católico condenar canonicamente, embora sabendo que o papa precedente, Pio XII, promoveu estes prelados a altos cargos, ignorando que eram portadores dos vírus corruptores da Fé que ele ensinava infalivelmente.

Os homens podem ignorar o que Deus lê na mente de padres carreiristas. Mas quando os frutos que estes produzem são venenosos, seus planos se tornam reconhecíveis e compete então aos que os descobrem testemunhá-lo por caridade para com o próximo. O que Deus certamente quer e pelo qual a Igreja sempre se empenhou, é o máximo cuidado não só na escolha dos clérigos – dos quais muito depende a salvação das almas – mas da promoção destes para cargos de autoridade. Sobre tudo, quer a defesa do conclave pelo que este representa para a preservação da Fé. Dai o nome de evento fechado a chave para impedir toda violação sacrílega.

Os Conclaves não têm valor absoluto

Papa Paulo IV


A Bula «Cum ex apostolatus» do Papa Paulo IV é a explicação mais clara do valor relativo do conclave diante de suas condições absolutas, isto é que o homem eleito papa deve ter a fé católica e ser lúcido de mente, o que pertence também ao bom senso. Se alguém consegue enganar todos e a ser eleito papa sem professar a fé íntegra e pura da Igreja, a eleição é em si nula, mesmo se ratificada pela unanimidade dos cardeais, pela elevação desse eleito e pelo tempo em que ele é reconhecido papa devido ao fato de sua falta da fé verdadeira, como é o caso dos modernistas, ser ignorado por toda a Igreja militante. Sem a fé não se agrada a Deus e tanto menos se pode ser aceito para representá-Lo diante dos homens.

É verdade que o conclave goza da assistência do Espírito Santo, mas se nele é proposto como “papabile” um clérigo suspeito de fé desviada, a assistência se dirige aos filhos da Igreja, para que reconheçam o engano e a nulidade da eleição e possam resistir e reagir à obra de demolição da Fé que segue a essa falsa eleição, pedindo a eleição de um Papa católico.

Caso contrário, a negligência em reconhecer os promotores do que é contrário à Fé torna-se causa de castigo para uma Igreja exposta a enganos que provocam a sua demolição.
Quem pode negar que essa ruinosa destruição começou a partir da morte de Pio XII e que deve necessariamente estar ligada à posição do cargo supremo para a defesa da Fé. O testemunho cristão olha para essa alta posição para enfrentar os poderes do mundo que visam, abusando do nome da Igreja, levá-la a desculpar-se e aceitar o que em dois mil anos, heresias, sacrilégios, falsos concílios e conclaves ilegais quiseram impor-lhe. É o trabalho dos falsos cristos e falsos profetas, previstos pelo Senhor, prontos a inocular na Igreja o vírus de cada falsa doutrina do mundo seu inimigo.

Como avaliar a aberração “conclavista”

Tem sido frequente ouvir que “conclavista” é quem visa um conclave no momento presente, isto porque considera que a Sé de Pedro foi ocupada por falsos pastores, que seriam antipapas, senão anticristos. Tal aspiração seria assim tachada de “conclavismo”, uma aberração em relação ao conclave católico para a eleição de um papa, quando a Sede é vacante.

Como vimos, porém, há uma outra maneira de avaliar essa aberração, a saber, considerar um conclave como absoluto: isto é quem ali for eleito seria papa e não se discute mais, mesmo se depois se reconhecer nele um disfarçado modernista e filo-mação que se revelou tal pelas aberturas e novidades nesse sentido que introduziu na Igreja, de modo descrito há tempo nos mesmos planos maçónicos, que foram desvelados, onde se dizia que era preciso obter um papa que convocasse um concílio para transformar a Igreja segundo os princípios revolucionários.

Eis o que parece um dilema, mas não o é para o católico que segue os princípios da Igreja e não estes falsos princípios hoje dominantes.

Vejamos então onde reside a aberração do “conclavismo” partindo deste último que chamaremos “conclavismo conciliar”. Para este, como se viu, a escolha de um papa num conclave é assistida sempre pelo Espírito Santo e portanto é questão decidida, este recebe de Deus o poder pontifical e não se pode duvidar dele em nenhum caso, duvidando da sua autoridade de origem divina, mesmo se ele demonstra intenção de mudar a Religião.

Deste modo a escolha do conclave teria valor absoluto, indiscutível.

Já se viu que esta posição é contrária não só a Lei da Igreja, na Bula de Paulo IV, mas ao bom senso que indica a falibilidade e malícia humana, da qual não estão excluídos nem mesmo os cardeais, como ficou claro.

Do outro lado temos o que se chama “conclavismo” para acusar os católicos que diante dos desvios escandalosos contra a Fé dos eleitos conciliares, proclamam, de acordo com a mesma Lei da Igreja, a necessidade de um conclave a realizar apenas se apresentarem as condições de envolver nisto o mundo que restou católico.

É verdade que em diversas ocasiões essa iniciativa já foi promovida com modalidades estranhas para descrédito de quem pensava suster o princípio da urgência de um conclave quando a Sede está vacante ipso facto, embora ocupada abusivamente. Mas isto não invalida o princípio em si.

Há pois “conclavistas conciliares”, contrários aos princípios católicos, que acusam de “conclavismo” os católicos que testemunham o que se conhece como dever diante da Fé: que a Igreja tenha um Papa católico, que será contrário às atualizações modernistas do Vaticano II e volte a honrar o Culto do Santo Sacrifício, que é o fundamento de toda autoridade na Igreja de Jesus Cristo.

Errar nos princípios é falta incorrigível


“Quem erra salvando os princípios pode ser corrigido; mas quem erra nos princípios é incorrigível” (S. Tomás).

Concluindo sobre qual seja o “conclavismo” deletério para a Fé e a Igreja, devemos considerar qual o Princípio do conclave católico.

Este é eleger um papa com fé católica, jamais um modernista.

No entanto tem sido comum confundir conclavismo com um geral sedevacantismo! Mas a aspiração de um conclave nas condições descritas de Sede vacante é não só legítima e católica, é dever.

Todavia é claro que a maneira de realizar isto pode ser em si ilegítima, imprudente, errada e desastrosa. Mas se trata de erro no plano contingente, dos efeitos, conseqüência do mal real, que se baseia de modo errado, mas no justo princípio. É claro que para os infelizes que dizem ser melhor ter um papa herege que nenhum (!), esta passa a ser a verdadeira calamidade, mais que a da Nave da Igreja desarvorada e sem bússola, que tem por causa a eleição nula de modernistas, que a levam ao abismo. Eis o princípio violentado, não no plano contingente dos efeitos, mas das causas. Visto que os “ismos” são em geral corrupção do princípio porque algo existe, temos aí duas interpretações contrárias do que seja “conclavismo”. A primeira desacredita com o ridículo, na base de erros e besteiras contingentes, sedevacantistas que aspiram ver um conclave católico para eleger um papa que repudie o modernismo do Vaticano II.
Igreja Católica
A segunda que dá por certo que os conclaves que elegeram esses modernistas têm valor absoluto: senão a nave ficaria sem chefe, ainda que reconheçam que estes a levam para o abismo!

Francamente, quem pode duvidar que esse segundo é o nefasto “conclavismo” que dá ao conclave um valor divino. Basta ler a Bula de Paulo IV para compreender o calibre desse engano demoníaco.

Conclusão: é hora que se diga que o “conclavismo” a ser condenado é aquele que atribui a conclaves que elegeram, contra a Lei da Igreja, desviados modernistas e filo-mações, como se fossem católicos, um valor absoluto, como validados por Deus e, portanto, divinos!

A primeira idéia pode ser ignorada, esquecida ou corrigida.

A segunda, da legítima eleição de Roncalli e sucessores conciliares para mudar a Igreja, apresenta-se como o “terceiro castigo” que Nossa Senhora profetizou em Fátima, e que seria claro em 1960.

Eis a trágica “legalidade conclavista” que está demolindo a Igreja e poluindo o mundo, indicando tempos finais!

Mãe Puríssima
Salve Maria !

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