Resumido de Brother Peter Dimond e Michael Dimond
COMO ACONTECEU O COLAPSO DO GRANDE CISMA OCIDENTAL
O conclave no Vaticano (1378) depois da morte do Papa Gregório XI foi o primeiro a ter lugar em Roma desde 1303. Os papas residiam em Avignon por aproximadamente 70 anos devido à baderna política. O conclave foi organizado entre cenas de baderna sem precedentes. Na medida em que a França havia se tornado a casa dos papas pelos últimos 70 anos, a multidão romana cercando o conclave estava bastante incontrolável e clamava aos cardeais para eleger um romano, ou pelo menos um italiano. Em um ponto, quando foi acreditado que um francês havia sido eleito em vez de um italiano, a multidão atacou o palácio:
“Em fúria, a multidão começou a atirar pedras nas janelas do palácio e atacar as portas com enxadas e machados. Não havia força defensiva efetiva; a multidão irritou-se.”
Finalmente um italiano, Papa Urbano VI, foi eleito pelos 16 cardeais. O novo papa perguntou aos cardeais se eles haviam o elegido livre e canonicamente; eles disseram que sim. Brevemente após a eleição, os 16 que haviam elegido Urbano VI escreveram aos 6 cardeais que permaneceram teimosamente em Avignon:
“Nós demos nossos votos para Bartolomeu, o Arcebispo de Bari [Urbano VI], que é notável por seus granes méritos e cujas múltiplas virtudes fazem dele um exemplo brilhante; nós o elevamos em plena concórdia para o cume da excelência apostólica e anunciamos nossa escolha para a multidão dos cristãos.”
CARDEAL REJEITA O PAPA URBANO VI SOB O PRETEXTO DA MULTIDÃO INCONTROLÁVEL
Brevemente depois dessa eleição, porém, o Papa Urbano VI começou a perder os cardeais.
Um por um os cardeais chegaram a Anagni, na França, para as férias. “O novo papa, nada suspeitando, deu sua permissão para ir pra lá no verão. No meio de julho ... eles concordaram entre si que a eleição de abril foi inválida devido à falta de dureza que envolvia a multidão e que, usando isso como razão, eles retrocederiam ao reconhecimento de Urbano.”
Depois que as notícias da decisão dos cardeais repudiarem Urbano VI foi circulada, o canonista Baldo, considerado o mais famoso jurista da época, publicou um tratado discordando de sua decisão. Nele, ele expressou que:
“... não houve qualquer base mediante a qual os cardeais pudessem repudiar um papa, uma vez que eles o elegeram, e ninguém na Igreja como um todo poderia depô-lo, exceto por heresia persistente e aberta.”
Apesar da imprecisão nessa opinião de Baldo – pois um verdadeiro papa nunca pode ser deposto; um herético depõe a si mesmo – nós podemos ver claramente nessas palavras a verdade comumente reconhecida que um requerente ao papado que é aberta e persistentemente herético pode ser rejeitado como um não-papa, desde que ele esteja fora da Igreja.
TODOS OS CARDEAIS DA ÉPOCA REJEITARAM URBANO VI E RECONHECERAM UM ANTIPAPA
Em 20 de julho de 1378, 15 dos 16 cardeais que elegeram o Papa Urbano VI retiraram sua obediência sobre os fundamentos que a ingovernável multidão romana tornou a eleição não-canônica. O único cardeal que não repudiou o Papa Urbano VI foi o Cardeal Tebaldeschi, mas ele morreu brevemente em 7 de setembro – deixando uma situação onde nenhum dos cardeais da Igreja Católica reconhecesse o verdadeiro papa, Urbano VI. Todos os cardeais vivos agora reconheciam sua eleição como inválida.
Depois de repudiarem Urbano VI, em 20 de setembro de 1378, os cardeais prosseguiram para eleger Clemente VII como “papa”, que instalou seu “papado” rival em Avignon. O Grande Cisma do Ocidente havia começado.
“Os cardeais rebeldes então escreveram para as cortes européias explicando sua ação. Carlos V da França e toda a nação francesa imediatamente reconheceram Clemente VII, como fizeram também Flandres, Espanha e Escócia. O Império e a Inglaterra, com as nações do norte e dos leste e a maioria das repúblicas italianas, aderiram a Urbano VI.”
Muito embora a validade da eleição de Urbano VI fosse averiguável, pode-se ver por qual motivo muitos foram levados pelo argumento que a multidão Romana tinha ilegalmente influenciado em sua eleição, tornando-a não-canônica. Demais a mais, pode-se ver como a posição do Antipapa Clemente VII foi fortalecida consideravelmente e de uma forma imponente aos olhos de muitos pelo fato de 15 dos 16 cardeais que haviam eleito Urbano VI virem a repudiar sua eleição como inválida. A situação que resultou depois da aceitação do Antipapa Clemente VII pelos cardeais foi um pesadelo, um pesadelo desde o completo início – um pesadelo que nos demonstra quão mau e confuso Deus às vezes permitirá as coisas acontecerem, sem violar as promessas essenciais que Ele fez a Sua Igreja:
“O cisma era agora um fato completo, e por quarenta anos a Cristandade foi tratada com o espetáculo de melancolia de dois e até três papas rivais invocando sua obediência. Foi a mais perigosa crise através da qual a Igreja já passou. Ambos papas declararam uma cruzada contra outro. Cada papa alegou o direito de criar cardeais e confirmar arcebispos, bispos e abades, de forma que houvesse dois colégios de cardeais e em muitos lugares dois requerentes às elevadas posições na Igreja. Cada papa tentou coletar todos os rendimentos eclesiásticos, e cada um excomungou o outro com todos seus aderentes.”
O espetáculo continuou conforme morressem papas e antipapas, somente para serem sucedidos por mais. O Papa Urbano morreu em 1389, e foi sucedido pelo Papa Bonifácio IX, que reinou desde 1389 à 1404. Depois da eleição de Bonifácio IX, ele foi imediatamente excomungado pelo Antipapa Clemente VII, e respondeu excomungando-o.
Durante seu reinado, o Papa Bonifácio IX “era incapaz de alargar sua esfera de influência na Europa; Sicília e Genova, que realmente distanciaram-se dele. Para impedir a difusão do apoio Clementino da Alemanha, ele apresentou favores ao rei Alemão Wenceslas...”
CARDEAIS DE AMBOS OS CAMPOS TOMAM JURAMENTO PARA TRABALHAR PELO FIM DO CISMA ANTES DE PARTICIPAR EM NOVAS ELEIÇÕES, O QUE DEMONSTRA QUÃO MAU A SITUAÇÃO HAVIA SE TORNADO
Enquanto isso, em Avignon, o Antipapa Clemente VII morria em 1394. Antes da elegerem o sucessor do Antipapa, todos os 21 cardeais “juraram trabalhar para a eliminação do cisma, cada qual responsabilizando-se, se eleito, a abdicar se e quando a maioria julgasse próprio”.
Os cardeais em Avignon procederam a eleger Pedro de Luna, Antipapa Bento XIII, para suceder o Antipapa Clemente VII. Bento XIII reinou como o requerente de Avignon pelo resto do cisma. Por algum tempo, Bento XIII teve em seu apoio ninguém mais do que o fazedor de milagres dominicano, São Vicente Ferrer. São Vicente realmente serviu como seu confessor por um tempo, acreditando que a linha de Avignon era a linha válida (até algum tempo depois no cisma). São Vicente foi obviamente persuadido que a eleição do Papa Urbano VI foi inválida devido à desgovernada multidão Romana, em acréscimo à formidável aceitação da linha de Avignon por 15 dos 16 cardeais que tomaram parte na eleição de Urbano VI.
Como cardeal, o Antipapa Bento XIII havia originalmente tomado parte na eleição do Papa Urbano VI, e depois abandonou Urbano e ajudou a eleger Clemente (tendo sido convencido, obviamente, que a eleição de Urbano foi inválida). Como cardeal sob o Antipapa Clemente VII, Bento XIII “chegou à península Ibérica por onze anos como seu legado, e por seu corpo diplomático de Aragão, Castela, Navarra e Portugal para sua obediência.”
Depois de ter jurado perseguir a estrada da abdicação no intuito de terminar o cisma se a maioria dos seus cardeais concordassem, o Antipapa Bento XIII perdeu muitos de seus cardeais quando ele se arrependeu de sua promessa e mostrou-se sem vontade de considerar a abdicação, muito embora a maioria dos seus cardeais quisessem-na. Seu rival, o Papa Bonifácio IX, estava igualmente sem vontade.
Em 1404, o Papa Bonifácio IX (sucessor de Urbano VI) morreu, e o Papa Inocêncio VII foi eleito como seu sucessor por oito cardeais disponíveis. O Papa Inocêncio VII não viveu muito, porém; ele morreu apenas dois anos depois, em 1406. Durante seu curto reinado, Inocêncio VII permaneceu oposto ao encontro com o reclamante de Avignon, Bento XIII, apesar de ter feito um juramento antes de sua eleição para fazer tudo em seu poder para terminar o cisma, incluindo a abdicação se necessário.
Conforme o cisma persistia, membros de ambos os lados se tornaram crescentemente frustrados com a falta de vontade dos reclamantes em tomar medidas efetivas para terminar o cisma.
Em conformidade com seu sentimento expandido para tomar ação efetiva para terminar o cisma, um outro juramento foi tomado antes da eleição do sucessor do Papa Inocêncio VII.
O fato completo que os cardeais preparando-se para eleger um verdadeiro papa que tomava um tal juramento – que incluía negociações com um antipapa – demonstra quão horrível era a situação durante o cisma, e quanto apoio o antipapa teve na Cristandade.
O conclave prosseguiu para eleger o Papa Gregório XII em 30 de novembro de 1406. A esperança que o final do cisma viria, foi renovada pelas negociações do Papa Gregório XII com o Antipapa Bento XIII. Os dois até concordaram em local para se encontrar, mas o Papa Gregório XII hesitou; ele temia (e com razão) a sinceridade das intenções do Antipapa Bento XIII. O Papa Gregório XII também foi influenciado contra o caminho da renúncia por alguns de seus próximos, que pintavam um retrato negativo do que poderia acontecer se renunciasse.
CARDEAIS DE AMBOS OS LADOS IRRITAM-SE, VÃO PARA PISA E ELEGEM UM NOVO “PAPA” EM UMA IMPRESSIONANTE CERIMÔNIA COM CARDEAIS DE AMBOS OS LADOS
Os 14 cardeais que deixaram a obediência ao Papa Gregório XII e fugiram para Pisa reuniram-se com 10 cardeais que deixaram de obedecer o Antipapa Bento XIII. Os cardeais dos dois lados organizaram um concílio, e foi resolvido terminar o cisma através de uma eleição conjunta em Pisa.
O Cardeal Arcebispo de Milão fez o discurso de abertura em Pisa. Ele condenou ambos reclamantes, Gregório XII e (Antipapa) Bento XIII, e formalmente os intimou a aparecerem no concílio. Eles foram declarados contumazes quando não apareceram.
Deve ser enfatizado que, nesse ponto do cisma (1409), o povo estava tão exasperado com a duradoura desunião e as promessas quebradas pelos dois reclamantes, que a assembléia em Pisa foi amplamente recebida e apoiada. Foi feito tudo o mais impressionante e suplicante pelo fato que seus 24 cardeais estavam compreendidos de um número substancial de cardeais que haviam tomado parte de ambos os lados. Isso deu-lhe a aparência de uma ação unida dos cardeais da Igreja. Em 29 de junho de 2409, os 24 cardeais unanimemente elegeram Alexandre V. Agora havia três reclamantes ao Papado ao mesmo tempo.
O antipapa de Pisa recém-eleito, Alexandre V, teve o mais amplo apoio na Cristandade entre os três reclamantes. O verdadeiro papa, Gregório XII, tinha o menor.
Desde o início, Alexandre V “teve o apoio da Inglaterra, maior parte da França, Países Baixos, Boêmia, Polônia, Milão, Veneza e Florença. De Luna [Antipapa Bento XIII] guardava o apoio de seu próprio Aragão, Castela, partes do Sul da França e Escócia. Gregório XII era o mais fraco dos três, guardando a lealdade somente de Nápoles, oeste da Alemanha e algumas cidades do Norte da Itália. O Grande Cisma Ocidental se tornou um triângulo de lealdades distorcidas, com o verdadeiro Papa sendo o mais fraco dos três. A Igreja Católica parecia estar sofrendo o destino que desataria mais tarde no protestantismo: subdivisão repetida e irrepreensível. Pior de tudo, nenhum regaste desse desastre parecia possível.”
A maioria dos teólogos e canonistas instruídos do tempo favoreciam a linha de Pisa dos antipapas.
“Através do final de 1408 e o inverno de 1409, o debate continuava a enraivecer-se entre os teólogos e canonistas. A maioria deles, em variados graus de desespero, agora favoreciam o concílio independentemente de quem o verdadeiro papa pudesse estar ou como era pra ser autorizado”.
NENHUM PAPA NA HISTÓRIA TEVE UM TÃO PEQUENO APOIO COMO GREGÓRIO XII PRÓXIMO AO FIM DO GRANDE CISMA DO OCIDENTE
Em 1411, o recém eleito Imperador do Sacro-Império Romano Sigismundo seguiu o sentimento geral e abandonou o verdadeiro papa, Gregório XII.
O recém eleito antipapa de Pisa, Alexandre V, não viveu muito. Ele morreu menos de um ano depois de sua eleição, em Maio de 1410. Para sucedê-lo, em 17 de Maio de 1410, os cardeais de Pisa sem unanimidade elegeram Baldassare Cossa como João XXIII. Como seu predecessor Antipapa Alexandre V, João XXIII também guardou o mais amplo apoio dos três reclamantes.
Como nós vemos, o Antipapa João XXIII foi apto a reinar em Roma. João XXIII (1410-1415) seria o último antipapa a reinar de Roma, até a apostasia do pós-Vaticano II, que começou com um homem que também se chamava João XXIII (Angelo Roncalli, 1958-1963).
Durante o quarto ano de seu reinado como antipapa, o Antipapa João XXIII convocou o Concílio de Constância em 1414, com a insistência do Imperador Sigismundo. É bastante interessante notar que o recente João XXIII também convocou o Vaticano II no 4º ano de seu reinado, 1962. E como o Vaticano II, o Concílio de Constância começou como um falso concílio, tendo sido convocado por um antipapa.
Nesse ponto do cisma, o Imperador Sigismundo estava determinado a unir a Cristandade, trabalhando para a abdicação de todos os três reclamantes. Quando o Antipapa João XXIII percebeu que ele não seria aceito como verdadeiro papa no Concílio de Constância, ele evitou o concílio.
O Antipapa João XXIII foi então formalmente condenado pelo concílio como deposto. Uma ordem foi enviada pelo Imperador para sua prisão; ele foi apreendido e atirado na prisão. Na prisão, o Antipapa João XXIII “entregou seu selo papal e o anel de pescador, com lágrimas, aos representantes do concílio”. Ele aceitou o veredicto contra si sem protesto.
Assim, depois que o Antipapa João XXIII foi deposto, o Papa Gregório XII concordou em convocar o Concílio de Constância (no intuito de conferir a legitimidade Papal, que o Antipapa João XXIII não podia lhe dar) e então se demitiu na esperança de acabar com o cisma.
Neste ínterim, o Antipapa Bento XIII (o reclamante de Avignon) foi abordado pelo Imperador Sigismundo, que pediu para demitir-se. Ele obstinadamente recusava-se à consumação, mas agora o sentimento geral havia ido muito longe contra ele que seus seguidores foram grandemente reduzidos.
Ambos antipapas foram depostos, e o verdadeiro papa, tendo renunciado, o Concílio de Constância procedeu a eleição do Papa Martinho V em 11 de Novembro de 1417, trazendo um fim oficial ao Grande Cisma Ocidental.
CONCLUSÃO: O QUE O GRANDE CISMA OCIDENTAL NOS ENSINA PARA NOSSO TEMPO
Nesse artigo nós examinamos um dos importantes capítulos da história da Igreja. No processo nós vimos um número de coisas muito importantes – coisas bastante relevantes para nossa situação presente.
Nesse artigo nós examinamos um dos importantes capítulos da história da Igreja. No processo nós vimos um número de coisas muito importantes – coisas bastante relevantes para nossa situação presente.
Vimos que antipapas podem existir;
Vimos que antipapas podem reinar de Roma;
Vimos que todos os cardeais viventes, brevemente após a eleição do Papa Urbano VI, o repudiaram (o verdadeiro papa) e reconheceram o Antipapa Clemente VII. Isso ilustra que não é de todo incompatível com a indefectibilidade (isto é, as promessas de Cristo para estar com Sua Igreja e com o Papado até o fim dos tempos) para todos os cardeais reconhecerem um antipapa;
Vimos que a maioria dos teólogos da época favoreceram a terceira linha, a linha de Pisa dos antipapas. Essa linha de antipapas deve ter sido uma opção tentadora para muitos porque os cardeais de ambos os lados apoiaram-no. Isso nos mostra como a vontade de Deus algumas vezes permite ilusões sem violar as promessas essenciais que Ele fez a Sua Igreja;
Aprendendo isso, podemos ajudar a ver claramente que o que nós provamos em bases doutrinais, em outras palavras, que houve uma linha de antipapas desde o Vaticano II que enganou o mundo com uma religião falsificada, que reduziu a verdadeira Igreja Católica a um remanescente (em cumprimento das profecias das Escrituras e Católicas a respeito do engano da Grande Apostasia e os últimos dias) não é um patente absurdo, como alguns disseram erroneamente.
Fonte: The Truth about What Really Happened to the Catholic Church after Vatican II, Bro. Michael Dimond & Bro. Peter Dimond, pp. 21-28.
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