Conferência de Dom Marcel Lefebvre
Qual
é a crise que estamos atravessando atualmente? Manifesta-se, no meu
entender, sob quatro aspectos fundamentais para a Santa Igreja.
Manifesta-se, à primeira vista, acredito eu, e me parece que é um dos
aspectos mais graves, porque, para mim, se se estuda a história da
Igreja, dá-se conta de que a grande crise que atravessou o século XVI,
crise espantosa, que arrebatou à Santa Igreja, milhões e milhões de
almas, regiões inteiras, Estados na sua totalidade, esta crise foi,
antes de tudo, uma crise do culto litúrgico; e que, se atualmente
existem divisões entre aqueles que se dizem cristãos, há que se atribuir
mais que a outras causas à forma de celebrar o culto litúrgico; e se os
protestantes se separaram da Igreja, a causa principal é que os
instigadores do protestantismo, como Lutero, disseram, desde o primeiro
momento: "Se queremos destruir a Igreja temos que destruir a Santa Missa". Esta foi a chave de Lutero.
Tinha-se
dado conta de que, se chegasse a por as mãos na Santa Missa, se
conseguisse reduzir o Sacrifício da Missa a uma pura refeição, a uma
comemoração ou recordação, a uma significação da comunidade cristã, a
uma rememoração ou memorial da Paixão de Nosso Senhor e, como
consequência, que ficasse mais débil o mais sagrado que há na Igreja, o
mais santo que nos legou Nosso Senhor, o mais sacrossanto, ele
conseguiria destruir a Igreja. E certamente, conseguiu, por desgraça,
arrebatar à Igreja nações inteiras, obrando dessa forma.
A Missa, um sacrifício
Pois
bem. Hoje existe uma tendência, que ninguém pode negar, de pôr as mãos
sobre a Santa Missa. Chega-se a alterar coisas que são essenciais na
Santa Missa. E quais são estas coisas essenciais, na Santa Missa? Em
primeiro lugar, a Santa Missa é um sacrifício. Um sacrifício
não é uma refeição. Mas, na atualidade, se quis desterrar até a palavra
sacrifício. Se fala de Ceia Eucarística, se fala de comunhão
eucarística..., se fala de tudo o que se quer, com tal de não mencionar
sequer a palavra sacrifício.
E
apesar disso, a Missa é, essencialmente, um sacrifício, o Sacrifício da
Cruz; não é outra coisa. Substancialmente, o Sacrifício da Cruz e o
Sacrifício da Missa são a mesma coisa e o mesmo e único Sacrifício.
Não
há outra mutação que na forma de oblação. Nosso Senhor se ofereceu de
uma forma sangrenta, cruenta, no altar da Cruz, sendo Ele mesmo o
Sacerdote e a Vítima. E sobre nossos altares, se oferece, sendo
igualmente o Sacerdote e a Vítima, por ministério dos sacerdotes.
Somente
o sacerdote é o Ministro consagrado pelo Sacramento da Ordem,
configurado, pelo Caráter, ao Sacerdócio de Nosso Senhor Jesus Cristo,
oferecendo o Sacrifício da Missa, na pessoa de Cristo: "in persona Christi".
A presença real
Se
se tira a Transubstanciação da Missa... Já que vos falei de Sacrifício,
falemos agora da segunda coisa necessária, essencial, que é a Presença
Real de Nosso Senhor, na Sagrada Eucaristia. Se se elimina a
Transubstanciação... Esta palavra é de uma importância capital, porque,
ao suprimi-la, se omite a presença real, e deixa, portanto, de haver
Vítima.
Deixa
de haver Vítima para o Sacrifício. E, portanto, deixa de haver Missa.
Dizendo de outra maneira: deixa de existir Sacrifício e nossa Missa é
vã. Ficamos sem Missa. (Deixou de ser o Sacrifício que nos deu Nosso
Senhor, na Santa Ceia e na Cruz, e que mandou os Apóstolos o perpetuarem
sobre o altar). É o segundo elemento indispensável. Primeiro, o
Sacrifício, logo, a Presença Real. Falemos agora do Caráter sacerdotal
do Ministro.
É o sacerdote, não os fiéis
É
o sacerdote o que recebeu o encargo, de Deus Nosso Senhor, para
continuar o Sacrifício. E de nenhuma forma os fiéis. É certo que os
fiéis têm de se unir ao Sacrifício, unir-se de todo coração, com toda a
sua alma, à Vítima, que está sobre o altar, como deve fazer também o
sacerdote. Mas os fiéis não podem oferecer, de forma alguma, o Santo
Sacrifício, "in persona Christi", como o sacerdote.
O sacerdote está configurado ao Sacerdócio de Cristo, está marcado para sempre, para a eternidade. "Tu es sacerdos in aeternum"...
Somente ele pode oferecer verdadeiramente o Sacrifício da Missa, o
Sacrifício da Cruz. E, por conseguinte, somente ele pode pronunciar as
palavras da Consagração.
De joelhos!
Não
é normal que os leigos se coloquem ao redor do altar e que pronunciem
todas as palavras da Missa, junto com o sacerdote. Porque eles não são
sacerdotes no sentido próprio em que o é o sacerdote consagrado.
Tampouco podemos considerar como coisa normal o ter suprimido todo sinal
de respeito à Real Presença. À força de não ver nenhum respeito à
Sagrada Eucaristia, acaba por não se crer na Presença Real. E quem se
atreverá a chegar, por tal caminho, a coisa parecida, depois de meditar a
divina Palavra, segundo a qual "ao nome de Jesus, que se dobre todo joelho, no céu, na terra e nos infernos"? Se somente ao nome há que ajoelhar-se, vamos permanecer de pé, quando está presente em realidade, na Sagrada Eucaristia?
Ao
lugar onde se oferece um sacrifício, se dá o nome de altar. Por isso,
não se pode aceitar, como substituto do altar, uma mesa comum, destinada
às refeições, que, segundo recordava São Paulo, se encontram nos
refeitórios das casas, para comer e beber. O altar tem que ser peça que
não se traslade e onde se oferece e se derrama o sangue. No momento em
que se converte o altar em mesa de refeitório se deixa de ser altar.
Tomado do protestantismo
Suprimir
todos os altares que são verdadeiramente tais, pôr, em seu lugar, uma
mesa de madeira, diante do altar que foi solenemente consagrado, é,
precisamente, fazer desaparecer a noção de Sacrifício, que vimos é de
importância capital para a Igreja Católica. E é desta forma como chegou e
se consolidou o protestantismo. Por esta desaparição da ideia de
Sacrifício, passou a Inglaterra inteira ao cisma e logo à heresia.
... Deslizando, deslizando, pouco a pouco, vamos tornar-nos protestantes, sequer sem dar-nos conta.
(Granby, Canada, 14/03/71)
Retirado do Livro "La Misa Nueva - Mons. Marcel Lefebvre" Editora ICTION, Buenos Aires 1983
Nenhum comentário:
Postar um comentário