sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O Papa que mudou a Igreja

Em destaque, no círculo abaixo, o Ephod  usado por  Paulo VI

PAULO VI

  Revº. Doutor Luigi Villa
  [Tradução: Gil Dias]
  Fonte: Chiesa Viva
  O Papa Paulo VI foi dois: aquele que foi visto nas audiências gerais e privadas, e o que foi descrito em livros e jornais do seu tempo, sobretudo como iniciador, com João XXIII, e depois continuador até à conclusão do Vaticano II.

  Nós, todavia, ousamos dizer que Paulo VI foi um Papa que mudou a Igreja. Até o Avvenire de 19 Março de 1999 o escreveu, sob o título “A Cátedra de Paulo VI. Ruini traça o perfil do Papa que mudou a Igreja”. Assim, até o Cardeal Ruini reconheceu que Paulo VI mudou a Igreja. Mas nós permitimo-nos afirmar que oCardeal Ruini se calou, ao não dizer que Paulo VI, na sua eleição a Pontífice, tinha jurado «não diminuir ou mudar nada de quanto tinham conservado os meus honradíssimos antecessores e não aceitar qualquer novidade, mas conservar e venerar com fervor, como verdadeiro seu discípulo e sucessor, com todas as minhas forças e com todo o empenho, aquilo que foi transmitido».

  Então, porquê mentiu o Cardeal Ruini, como se não soubesse a viragem que tinha feito o perjuro Paulo VI em toda a estrutura da Igreja?

  Mas, que mais se esperava de todas aquelas tramas e manipulações pós-conciliares, tais como mudar, ab imis, toda a Igreja da Tradição, e quem podia suspeitar que Paulo VI pudesse encontrar tantos artífices como lugares-tenente para deixar a Igreja em ruínas?
  Impossível, agora, listar todos aqueles estragos por ele feitos, e os que ele encobriu ou encorajou, ou tolerou, ou desenvolveu, como o niilismo, o paganismo moral, o divórcio, o aborto, a secularização, a pornografia, o temporalismo político, o comunismo... Assim, o abandono da religiosidade da vida, devido à perda dos valores cristãos, conduziu o mundo Católico a tal estado de degradação que até esqueceu qual era a vida da Igreja anteriormente ao infausto Vaticano II! E assim chegamos, mesmo nós, como Lutero, a rasgar a “túnica inconsútil”, sem costurade Nosso Senhor Jesus Cristo, a verdadeira e única Cabeça do Seu Corpo Místico, a Igreja.
  Querendo fazer uma síntese do Pontificado de Paulo VI, poderemos dizer que, “politicamente”, era de esquerda; “intelectualmente”, era um modernista e que, “religiosamente”, era um maçom.

  De facto, a Fé, no seu Pontificado, foi destruída pelo “ecumenismo”, a Evangelização foi substituída pelo “diálogo”; o Reino de Deus deu lugar ao “Reino do Homem”, em nome da laicidade e dos presumíveis “direitos humanos”; Moral Católica, enterrando a Fé e a centralidade da Pessoa de Jesus Cristo, dissolveu-se, sem mais contar com as consequências do “pecado original”; e a nova fórmula, definida como “a única legítima”, de relações entre a Igreja e o mundo, foi o “diálogo”.

  Mas esta instituição do “diálogo” foi uma verdadeira condenação da doutrina e da prática da Igreja através de todos os séculos. A religião divina, por isso, quase desaparece frente à liberdade do homem, que prevalece sobre a Verdade divina, e a religião Cristã torna-se uma opinião entre outras. O Inferno, o Paraíso, a Graça, a maldição, a piedade, a impiedade, perderam consistência.

  Esta hetero-praxis de Paulo VI gerou a heterodoxia do Culto do Homem. O seu discurso na IV sessão do Concílio foi o nascimento do verdadeiro “Culto do Homem”. E este seu amor pelo homem provocará a famigerada “Pastoral da Igreja no mundo de hoje”, tornando-o “centro e cabeça do mundo”, representando-o como coroamento da obra do Vaticano II, que cancela a sentença bíblica: «maldito o homem que confia no homem, e, pondo a sua força num ser de carne, retira de Deus o seu coração» (Jeremias 17, 5).

  Mas Paulo VI, em 7 de Dezembro de 1965, perante toda a Assembleia Conciliar, pronunciou um discurso no qual proclamou o “CULTO do HOMEM”:
  «Para conhecer Deus, precisa conhecer-se o homem».
  «Toda esta riqueza doutrinal do Concílio não alveja senão uma coisa: servir o homem».
  «Nós, nós mais do que ninguém, temos o CULTO do HOMEM».
  «A religião do Deus que se fez homem encontrou-se com a religião (porque é uma!) do homem que se fez Deus»...
  Em outra ocasião, em 5 de Julho de 1969, disse:
  «... O homem revela-se divino. Revela-se divino não em si, mas no seu princípio e no seu destino».

  Mas isto é idolatria. Paulo VI ignorava a frase de Jesus a Satanás: «Vade retro, Satanás, porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus, e a Ele só prestarás culto!» (Mt. 4, 10). Este abandonar Deus para seguir Satanás, caindo, assim, no Culto do Homem que substitui o Culto de Deus, não é senão um culto Luciferino que, sob a aparência de “actualização doutrinal”, fez brotar toda a espécie de “heresias”, e foi dada aos teólogos verdadeira imunidade com máxima autonomia. Dir-se-ia que Paulo VI tinha fobia à ortodoxia, uma aversão ao Magistério Ordinário e àquilo que ensinaram os seus predecessores.

  O seu Magistério, de facto, foi uma nova teoria da religião, entendida como “Movimento de Animação Espiritual da Democracia Universal”, cheia de quimeras como o Messianismo Revolucionário de Lamennais, como a Democracia Cristã de Sangnier, ambos traduzidos no sistema de Jacques Maritain com o seu“Humanismo Integral”.

  Esquematizemos: 

  1. A “Humanidade” no lugar da “Igreja” 
  Leão XIII, na sua “Humanum Genum”, escreve: «O género humano está dividido em dois campos inimigos, que se combatem por intermédio dos seus, um pela verdade e a virtude, o outro pelos seus contrários. Um, é a verdadeira Igreja de Cristo... o outro, é o reino de Satanás».
  Paulo VI queria um mundo profano, corpo social universal, autónomo no exterior da Igreja. Na sua “Ecclesiam Suam”, intencionalmente omite duas “passagens” de São Paulo aos Coríntios: «Que acordo entre Cristo e Belial? Que acordo entre o templo de Deus e o dos ídolos?» (II Cor. 6, 14-16).
  Paulo VI, por sua vez, queria os homens todos fraternos, numa “comunhão sacra”. É o primeiro artigo do seu novo “Credo humanístico”, que pretende uma“humanidade civilizada”. Na sua “Mensagem de Natal de 1964”, disse: «Hoje, a fraternidade impõe-se, a amizade é o princípio de toda a sociedade humana moderna... É preciso que a democracia, a que hoje se chama convivência humana, se abra a uma concessão universal, que transcenda os limites e os obstáculos de uma efectiva fraternidade».
  Foi um dos princípios de Paulo VI: o homem é bom; os homens querem a paz; a forma democrática permite ao povo impôr-se com a sua vontade pacífica... Pois bem, estamos em democracia... Isto quer dizer que o povo comanda, que o poder provém do número, do povo, assim é» (discurso de 1 de Janeiro de 1970). Deste modo, a virtude sobrenatural, a graça dos Sacramentos e a obediência aos Mandamentos de Deus, são substituídos pela “democracia universal”, como se o “pecado original” e o demónio não mais existissem.
  Por isso, como chefe da Igreja de Deus, Paulo VI colocou a ONU, aquela Torre de Babel maçónica, como esperança da humanidade: «Este aspecto da Organização das Nações Unidas é o mais belo, é o seu lado humano mais autêntico. É o ideal da humanidade peregrina no tempo, é a esperança melhor do mundo, é o reflexo, ousamos dizer, do desígnio transcendente e amoroso de Deus acerca do progresso do consórcio humano na Terra, um reflexo onde vislumbramos a mensagem evangélica, de celeste fazendo-se terrena» (discurso à ONU, em 1965).
  Não conhecia Paulo VI o desprezo que esta organização mundial anti-Cristã – ONU, UNESCO, FAO – tem pela Igreja Católica? 

  2. OS “DIREITOS DO HOMEM” no lugar do “Evangelho” 
  “Democracia Universal” sairá da “Carta dos Direitos do Homem”, que confunde a “consciência moral” com a força moral que só dá a Graça Divina, e confunde a solidariedade humana com a Caridade Cristã, e faz desaparecer a Graça de Cristo Redentor, os Sacramentos e a Oração:
  Porque «o bem público... não pode subsistir diferentemente do vosso (ONU), fundado no respeito do Direito da justa liberdade e da dignidade da pessoa» (“Breve” às Nações Unidas, de 4 de Outubro de 1965).
  Ora, Paulo VI empenhou-se a fundo naquele naturalismo cuja base é a actuação dos princípios da Revolução Francesa de 1789.
  3. A “DEMOCRACIA UNIVERSAL” em lugar do “REINO DE DEUS” 
  É claro que Paulo VI, com as suas quimeras intelectuais terrenas, defraudou o Reino de Deus de todos os seus atributos divinos, para fazer sonhar com um Paraíso terrestre, construído com a única força dos homens. Mas a palavra de Deus desmente todas as suas afirmações, uma por uma, mostrando que não há paz conseguida pelos homens ímpios, construtores daquela fabulosa Torre de Babel.
  Só  Cristo dá a paz, mas não do modo como a dá o mundo. São Pio X, na sua Carta sobre o Sillon, escreve: «... Não se edificará a cidade de modo diverso daquele que Deus edificou; não se edificará a sociedade se a Igreja não edifica a base e não dirige o trabalho; não, a civilização não se inventa e a nova cidade não se edifica no meio de nuvens. Essa foi, essa é a Civilização Cristã, a Cidade Católica. Não se trata senão de instaurá-la e de restaurá-la sem descanso sobre os seus fundamentos naturais e divinos, contra os ataques sempre recorrentes da utopia malsã, da revolta e da impiedade: omnia instaurare in Christo».
  Mas Paulo VI foi ainda subversivo. A dialéctica da sua encíclica “Populorum Progressio”, de 26 de Março de 1967, excitou o ressentimento de todos os povosdo Terceiro Mundo, propondo o seu “desenvolvimento” como primeiro objectivo essencial do seu esforço. Sobretudo em Bogotá, em Manila, na Austrália, Paulo VI colocou os pobres contra os ricos, recomendo-lhes mesmo a solução do Evangelho: o Amor. Mas este “reino do amor” é uma utopia irrealizável num mundo sem Deus. À parte os idílicos convites ao amor, a “Populorum Progressio” soa como o “Mein Kampf” do Anti-Cristo, para realizar um mundo no qual todos os homens, sem distinção nem de raça, nem de religião, podem viver uma vida plenamente humana.
  Foi assim que em Belém, em 6 de Janeiro de 1964, Paulo VI disse: «devemos assegurar à vida da Igreja um novo modo de sentir, de querer, de comportar-se».
  E, com mais audácia, repete: «A religião dever ser renovada»; «não é mais o caso de atrair as almas e de interessá-las nas “coisas supremas”» (discurso de Dezembro de 1965). É o ecumenismo do Vaticano II: “Não se trabalha para a Igreja, trabalha-se para a humanidade”, pensamento e acção de verdadeira apostasia!
  Todos os dogmas, deste modo, são um verdadeiro obstáculo à compreensão universal, tornam-se entraves à fraternidade. Os Sacramentos cessam de ser nascentes de força e de energia espiritual para todo o empenho temporal. Os Mandamentos de Deus são rejeitados quando se tornam freios insuportáveis.
  A instituição da Igreja, então, abana porque o seu modo de viver, de pensar, de educar não pode mais integrar-se no mundo, na comunidade secular como o fermento na massa.Quer dizer, o humanismo integral sufocou a religião para se transformar em humanismo ateu.
  Todos os fiéis, neste momento, podem perguntar como podia Paulo VI reclamar-se de Fé Católica, até com firmeza, mas, depois, dar campo livre a todas as heresias, sem nunca intervir contra os seus propagadores. Como, por exemplo, Teilhard de Chardin, que Paulo VI louvou por ter «dado uma explicação do universo e... saber ler nas coisas um princípio inteligente que deve chamar-se Deus».
  Este discurso deixa transparecer a afinidade de um vago teilhardismo com a forma mental de Paulo VI. A sua evolução panteísta, de facto, é uma visão utópica de umprogresso mundial e de união de todas as religiões e de todos os homens em direcção a um fim comum.
  A sua visão, deste modo, é a do homem que sobe por intensificação de todo o seu esforço.
  Temos outro exemplo na escandalosa história do “Catecismo Holandês”, traduzido e difundido em todo o mundo. Foi ele que permitiu que aquele livro venenoso se difundisse em toda a Igreja, sem as correcções queridas por Roma, não ousando nunca pronunciar uma palavra de censura, nem tomar alguma providência contra os seus autores; subitamente, une-se aos admiradores das heresias contidas no Catecismo. Basta lê-lo para compreender o porquê da aceitação.
  Naquele catecismo, Deus não aparece, mas apenas o Homem e o Mundo. Deus é chamado profundidade misteriosa do nosso ser... mas é o Ser Transcendente, soberanamente livre em relação à sua criação. Toda a dissensão, toda a contradição, todo o abandono definitivo são excluídos. Deus, por isso, está ao lado do homem, preocupado com a sua felicidade. Tais relações excluem qualquer ideia de justiça benéfica, porque Deus perdoa a todos e sempre. O mistério da Redenção é, assim, negado. A religião une-se sem ruptura de continuidade com a vida natural e mundana.
  Como se vê, esta linguagem não é diferente da heterodoxia e da hetero-praxis de Paulo VI. Prega a “liberdade de pensamento”. Porque tinha mesmo necessidade dele [Catecismo holandês] para a sua fantasia e porque era a base doutrinal do seu humanismo progressista.
  Não sem razão se diz que foi obra de Paulo VI o envenenamento das seguintes gerações de Católicos baptizados com aquele novo catecismo, modernistas, progressistas, eróticas e subversivas.
  Inútil continuar com citações que convenceram toda as Autoridades da Igreja que, com Paulo VI, não se podia condenar ninguém, nem combater algum erro ou acto de indisciplina: «não constranger ninguém, não impedir nada».
  Outra figura vergonhosa, Schillebeckx, desencadeou a mafia do “Concilium”, que protestou imediatamente contra todo atentado aos direitos do homem, à liberdade de pesquisa, à autonomia do teólogo.
  Uma terceira figura vergonhosa é  a de Hans Küng, que perseverou na sua crítica à instituição da Igreja, sempre tolerada por Paulo VI.
  Mas a Igreja, por fim, já estava corroída na Cabeça! Paulo VI arrastava com mestria o povo Cristão atrás da sua quimera política. A “fé no homem”substituiu a “fé em Deus”. Todos os dias, sob Paulo VI, foram dias de Paixão para a Igreja! Como podia, então, ser Paulo VI Cabeça da Igreja, por cima de todos os erros, mesmo de toda a culpa, digna de esmagar toda a heresia com a ajuda de Jesus Redentor e de Maria Imaculada, Mãe de Deus?
  Ora, um Papa que não cumpre a sua missão de Cabeça da Igreja e de Vigário de Cristo, mas procura formar no mundo outra “comunidade de salvação”, outra“religião universal”, um “Movimento de Animação Espiritual da Democracia Universal”, deve considerar-se cismático, porque incapacitado de distinguir a Igreja, “Corpo Místico de Cristo”, de uma “nova religião humana”, “corpo do diabo”!
  Todo o Cristão e, com maior razão, todo o Sacerdote, deve estar consciente da Verdade e ter-lhe amor; e, deste modo, depois do anúncio público do Cardeal Ruini, noAvvenire de 29 de Março de 1999, dizendo que “Paulo VI mudou a Igreja”, deve sentir-se obrigado a permanecer na “Igreja de antes”, a fundada por Jesus Cristo, que não é a “Igreja Conciliar”, e considerar, como consequência, que o Pontificado de Paulo VI foi uma “punição de Deus”. Lançando às ortigas a “Tiara”,o reinado Papal de Paulo VI manifestou-se como verdadeira e dramática “punição divina”!

http://www.santamaeddeus.blogspot.com.br/2011/12/o-papa-que-mudou-igreja.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário