Capa do Livro - Segredo de Fátima ou Perfídia em Roma?
Não temos a explicação directa do
Segredo, mas temos o que Lúcia ouviu de Jesus sobre seus ministros e o
que disse ao Padre Agostiño Fuentes em 1957 (v. Entre Fátima e o Abismo,
sigla FA, pp. 56-60). E temos os factos históricos; o que ocorreu na
Igreja desde então. Com o evento de Assis, a Maçonaria dava razão a João
Paulo II, que a abonava em detrimento do que a Igreja ensinou sobre a
liberdade das consciências. Era uma marca da nova «pastoral» actuada pela Igreja conciliar: a pressão para desviar as consciências da verdade, exercida para censurar o Segredo antes e depois para alterar o testemunho de Lúcia.
Isto
aconteceu porque para a plena compreensão da terceira parte do Segredo
parece faltar a explicação nas palavras de Nossa Senhora. Ora, os
elementos conhecidos do Segredo bastam para explicar, para quem tem
ouvidos para ouvir, o seu sentido profético na defesa da Fé.
Na
apresentação do Segredo, o Vaticano porfiou em ignorar muitos factos,
porque estava compelido a disfarçar a evidente crise da Igreja num mundo
sempre mais descristianizado. Era a aclamada alergia da hierarquia
actual para com a “profecia de desgraças” do Segredo, que “seria mais
clara” justamente à partir de 1960. Há pois que ver o que acontecera na
Igreja e na terra logo antes desta data e o que ocorreu desde então,
quanto o mundo católico e não só, esperava a abertura do Terceiro
Segredo, quando este «seria mais claro». Aqui vamos resumir o livro «João XXIII: Cara oculta da suma perversão», que conta com a colaboração de Hutton Gibson, do professor Tomás Tello Corraliza, do engenheiro Alberto Fontan e de outros católicos, sacerdotes e leigos.
A figura obscura, mas central do período que seguiu a morte de Pio XII foi Ângelo Roncalli. Se trata do mais «genial» infiltrado modernista e filo-mação que conseguiu, com ar bonachão, tornar-se o "Papa bom", censor de Fátima, que seguiu o plano para a mutação da Igreja.
Hutton Gibson («The Enemy is in… Rome» (pp. 82-91), na sua Introdução ao livro sobre João XXIII, o «bom Concierge» do Grão-Concílio, diz; «Ângelo Roncalli assumiu o nome de João XXIII, do antipapa Baldassare Cossa (1410-15), provavelmente porque, de acordo com Pier Carpi (Le profezie di papa Giovanni, Ed. Mediterranee, 1976, Roma), sob tal nome ele se filiou aos Mações Rosa Cruz na Turquia (1935).
É citado Robert Bergin de Fatima International que lamentava o disfarçado desprezo pela mensagem de Fátima no Vaticano II sob João XXIII. Mas mais tarde percebeu que ele era mação e já antes de sua eleição ao papado, o que tornou nula sua eleição. Cita Virgílio Gaito, Grão-mestre do Grande Oriente: “Consta que o Papa João XXIII foi iniciado em Paris e havia participado em Lojas de Istambul”. Bergin nos garante que “o Grão-mestre da Maçonaria da Itália estava em posição para saber com certeza se Ângelo Roncalli foi iniciado na Ordem em Paris. Teria sido incrivelmente irresponsável de sua parte aludir a esta informação decisiva sem conhecer o facto. Este teria invalidado a subsequente eleição de Roncalli.
Escreve Bergin, isto significaria que o Vaticano II, que convocou sem autoridade papal, teria sido igualmente inválido. Bergin continua: “Ademais há provas concretas que Ângelo Roncalli era um herege formal bem antes de se tornar Mação. Era conhecida sua aversão às reformas de São Pio X introduzidas contra o Modernismo”, mas…“como Núncio em Paris, Roncalli revelou especial adesão à pessoa de Marc Sangnier, fundador do Sillon” cujos erros e obstinação foram condenados por São Pio X que compôs o Juramento anti-modernista… abolido no tempo de João XXIII. «Em Paris o núncio Roncalli apoiou o projecto dos padres operários que, ao invés de trazer estes à Igreja, converteu muitos destes aos vermelhos; uma completa débâcle... E há provas da grande afinidade de Ângelo Roncalli, durante toda sua vida com os comunistas, esquerdistas e socialistas de todo tipo… Não permitiu nenhuma crítica ao Comunismo no seu Vaticano II. Se alguém na sua presença se referisse a estes inimigos da Igreja, ele cortava: “A Igreja não tem inimigos”. Afirmação que, além de insensata, é, para a defesa da Fé e da Igreja, uma das mais heréticas de sempre”. Também em Paris, o Barão Marsaudon, mação, foi designado ministro da Ordem dos Cavaleiros de Malta pela recomendação do Núncio Roncalli. Isto determinou uma investigação de Roma sobre a Nunciatura de Paris, o que revelou que, em grande segredo, ali se operava, por volta de 1950, para a reconciliação da Igreja Católica com a Maçonaria”.
«Charles Riandey, soberano grão-mestre da Maçonaria, contribuiu ao prefácio do livro escrito pelo Barão Yves Marsaudon, Ministro da Corte do Supremo Concílio da França (Rito Escocês) “Ecumenism as Seen by a Traditionalist Freemason” (Paris 1969): “À memória de Ângelo Roncalli, padre; Arcebispo de Messamaris, Núncio Apostólico em Paris, Cardeal da Igreja Romana, Patriarca de Veneza, Papa sob o nome de João XXIII, que se dignou de nos dar a sua bênção, a sua compreensão, e a sua protecção”. Um segundo prefácio: “Ao Papa dos Pobres. Ao Papa da Paz” [A primeira paz de sempre entre Cristãos e Mações!] Ao pai de todos os Cristãos, Ao amigo de Todos os Homens, Ao seu Augusto Continuador, Sua Santidade Papa Paulo VI”. O livro acusa o Papa Pio XII por ter evitado de dar o chapéu cardinalício a Montini, tornando “difícil para Montini tornar-se Papa, mas então veio um homem de nome João, como o precursor” que em seguida criou Montini seu primeiro cardeal. Cita “I Will Be Called John”, por Lawrence Elliott. Página 287: Na manhã do dia 20 de Janeiro... "De repente uma inspiração brotou-nos dentro como uma flor que floresce em uma primavera inesperada. Nossa alma foi iluminada por uma grande ideia... A palavra solene veio aos nossos lábios… exprimiu pela primeira vez: um concílio!"… O facto é que simplesmente mentiu. Porque? Porque o concílio lhe fora encomendado pelas lojas? Todavia, teve mais inspirações, como a de Montini seu sucessor. «Para Jozef Mackiewicz (Na Sombra da Cruz), outro detalhe foi quando se disse inspirado para iniciar negociações com o governo comunista da Rússia a fim de garantir observadores ortodoxos russos (da KGB) em seu Concílio inspirado… Em “Vatican II Revisited”, por Dom Alberic Stacpoole, OSB, p. 116, conta que seu secretário: “Dom Loris Capovilla, registou que, três vezes antes da inspiração divina, João XXIII falara do assunto concílio… Páginas 289-291: mas para qual celestial propósito teria servido um concílio então? [Dividir responsabilidades?] Quando alguém colocou a questão… João caminhou até a janela do seu gabinete e abriu-a. "Esperamos que ele faça entrar um pouco de ar fresco aqui dentro". [Remoção da atmosfera secular, o clima necessário para a autoridade e credibilidade a Igreja?] Para ele, é claro que isso bastava.
«Para abrir o caminho que deixasse entrar o seu espírito de inspiração João não propôs nenhum conteúdo “pastoral”. Mas, ficou logo claro, que o Concílio Vaticano II ia ser um livre fórum para reexaminar quase todos os aspectos da consciência católica. Modificação de tudo, desde a liturgia à ingestão de peixe na Sexta-feira Santa, tudo se tornou possível... em vista de novo conhecimento científico, de uma nova moralidade e política num mundo que havia atingido um equilíbrio de terror... «Seria a união de todas as igrejas também uma possibilidade? Na renovação espiritual vislumbrada por João, nada havia além dessas esperanças… O Vaticano II... se pronunciara em nome da "santa liberdade", como ele insistira... Os bispos... haviam caído sob um golpe mortal: o lema "Roma falou, o caso está encerrado". Ao invés da reacção, soprou um ar de optimismo, de aspiração, uma audácia divina… este iria encantar o Vaticano e animar o mundo.
“O Super-herói Roncalli, como já citado por Alden Hatch, salvou o seu Concílio, mais uma vez violando a lei da Igreja. E queria garantir a sucessão de Montini para completar o trabalho do Concílio. Todos seguiram Paulo VI… «Da biografia de (Montini) Paulo VI por Alden Hatch’s temos esses pontos: "É possível que, de todos os papas dos tempos modernos Paulo VI é o único que desejava o cargo" (página 8)... João inspirou Montini para sucedê-lo" (página 9). "Quando o Concílio se reuniu pela primeira vez em Outubro de 1962, Montini foi o único cardeal não-residente que João convidou para morar no Vaticano e assim tê-lo na mão para conversas não oficiais, não publicadas e íntimas sobre os problemas apresentados no dia a dia. À medida que estes se tornaram mais prementes e a duração provável do Concílio se alongava indefinidamente, o Papa João se persuadiu de que não viveria para ver o seu fim. Embora o papa não deve escolher seu sucessor, e qualquer tentativa de fazê-lo podia tornar-se um boomerang era sabido que para João a pessoa capaz de cumprir seus planos e realizar suas esperanças para uma Igreja aberta e uma cristandade unida era Montini" (página 9). É sabido também que João treinou Montini na questão de sua eleição, instando-o a não tomar uma atitude forte na sessão de abertura do Concílio evitando assim comprometer-se com um lado e afastando o outro. Pelo menos foi notado pelos jornalistas que o brilhante e progressista arcebispo de Milão, que poderia ter sido indicado para iluminar o Concílio com suas ideias, praticamente não participou nos debates. Restando sem posição, ele tornou possível para os cardeais de todas as opiniões votar nele em boa consciência" (página 10).
"O primeiro grande gesto do Papa João XXIII, que ele sempre atribuiu ao Espírito Santo, foi em 25 de Janeiro de 1959, quando em São Paulo Fora dos Muros, ele anunciou a dezoito cardeais a sua intenção de convocar um Concílio Ecuménico. Os cardeais permaneceram em silêncio atordoado e sem nenhum movimento ou palavra de aprovação" (p. 110). "O cardeal-arcebispo de Milão, foi o primeiro membro do Colégio Sagrado a publicamente saudar o gesto do Papa para a renovação da Igreja... Montini exultante, saudou o Concílio que iria abrir as suas janelas para o mundo. Outros podiam temer o projecto, mas ele olhou para a perspectiva razoável de "abrir para a história com visões imensas e seculares diante dos nossos olhos" (página 111). Há um sentido para estas frases exultantes, esta orquestração grandiosa da música das esferas? Algumas ecoam o «conhecimento» dos profundos mistérios da história ao ponto de ser revelado a todos os enganados, desavisados, ignorantes católicos? «Paulo VI nunca tentou refutar o abade Georges de Nantes nem o Padre Noel Barbara, em suas acusações extensivamente documentadas de heresia, cisma, escândalo, e apostasia. Ele confirmou, ao contrário, que diante destas, não tinha pejo em substituir a cruz pelo emblema (o ephod) usado pelo sumo-sacerdote judeu, o último dos quais condenou Cristo à sentença de morte), publicamente, pelo menos nestas ocasiões: Roma, 27 de Março de 1964, durante a Via Crucis; Roma, 8 de Dezembro de 1964 na Piazza di Spagna, em 1966 no Vaticano durante a visita do Dr. Ramsay, protestante "Arcebispo" de Cantuária; no Vaticano, 9 de Fevereiro de 1969, na Capela Sistina na recepção de padres das paróquias de Roma; em Castelgandolfo, Verão 1970 (Paris Match, 29 Agosto) [as fotos, são abundantes, em La Documentation Catholique, no L'Osservatore Romano, em diversas edições quando se vê Paulo VI com o ephod em suas funções oficiais]. «A lista de seus crimes contra a religião católica iria transbordar num compêndio de heresias, que promoveu ou tolerou, quando não as inventou. (Honório I foi condenado como herege por não condenar mas silenciar a heresia. Um herege, afirma Suárez e Belarmino, não é um papa). «João XXIII fingiu inspiração divina para convocar um concílio para mudar a Igreja imutável, para sua actualização e adaptação aos tempos, etc., ideia condenada por todos os papas anteriores. Tratou com declarados inimigos de Deus, os ateus perseguidores de Sua Igreja, e negociou com os ucranianos e bálticos para a presença de prelados ortodoxos russos em seu escandaloso Concílio. Ele destabilizou a Missa e arrumou o Colégio dos Cardeais para promover a eleição de seu sucessor, Montini, que continuou seu Concílio e promulgou decretos heréticos os mesmos que de há muito tempo estavam no Programa Maçónico”. Depois destes factos resumidos e iniciados com a eleição de João XXIII, que censurou o Segredo de Fátima pergunta-se: é possível que este Segredo nada tinha a ver com a eleição desse modernista para a Cátedra de Pedro?
Aqui vamos falar da mentalidade que incutiu nas consciências, a partir do modernismo desse «bondoso» utopista que censurou o sinal divino, porque adepto da «nova ordem» evolutiva para o futuro do mundo. Como enfrentar a burla de «papas conciliares» que passam por católicos num mundo infectado pela liberdade de mentir nos mais altos graus civis e clericais? Como chegamos a tal peste espiritual?
O «segredo profético» desarquivado mostrou a visão da eliminação do papa católico com o seu séquito fiel. A Cristandade semi-derruída foi “decapitada” de seu guia. Fica confirmada tal visão profética na vida da Igreja, cuja demolição é evidente, e no mundo vige desordem e perversão, vivemos entre escombros mentais, morais e religiosos.
Como não reconhecer que as ideias dos «papas conciliares» a partir de João XXIII, cara oculta da nossa era, com seus pactos inverteram os princípios teológicos e a fé com que 260 Papas e 20 Concílios precedentes guiaram a Igreja católica? Alteraram a vida na Fé seguindo a própria «consciência» segundo os novos tempos, para mudar a «consciência» objectiva da Igreja católica! Se mudaram a nossa religião, porque não iam também desprezar Fátima em nome de «modernismo», que relativiza ao presente os princípios que Deus imprime nas almas? Depois que o chamado «Papa bom» assumiu poder papal, passou a dominar a mentalidade conciliar, que denotava origem «iluminista».
Esta é confirmada na linha dos seus sucessores no Vaticano, basta ouvir Bento XVI, cujo actual «ecumenismo» é a realização do plano «pan-ecumenista» condenado pela Encíclica Mortalium animos do Papa Pio XI. Assim, iniciou a obra do tal “aggiornamento da consciência da Igreja”, com a desculpa que ela vivia fechada nas suas milenárias “profecias de desgraças” e devia superar o contraste com o novo milénio de luzes e galharda tecnologia, indo ao encontro de uma nova fé ecumenista no progresso humano sem limites! Esse delírio de novidades ocorreu desde então à revelia da podridão na vida espiritual da Igreja e da desordem social do mundo, que passaram a ter em mira, não mais o amor pela verdade, mas a sublimação da utopia!
Seus frutos, derivados de ideias já condenadas, são nefastos. Donde então a alcunha de “papa bom” atribuída ao inventor de “novas Pentecostes”? Só se a burla dessa «bondade» fosse parte do plano secreto para inverter a Tradição e a vida da Igreja católica e apostólica depois de dois mil anos de história. Esse utopismo ecumenista, que é suma contrafacção religiosa, mas também mental, devia interessar, não só aos católicos, mas a quem estima a verdade; é de um óbvio gritante!
Esse modernismo, aberto à toda liberdade religiosa, e ao gnosticismo maçónico, visa substituir a ordem cristã nas consciências com a nova ordem do laicismo global; não só o Estado separado da Igreja, mas o corpo humano de sua alma espiritual, cuja existência é admitida pelo iluminismo só como produto do processo evolutivo!
Foi o curso de ideias que em pouco tempo causaram uma inaudita “autodemolição”, de aspecto irreversível na Igreja, mas também no mundo, onde sinais “liberatórios” da imaginação no poder, a partir dos anos 60, produziram depravações e reivindicações de direitos sem fim na vida social, em nome de confusões ideológicas ateias e ecumenistas, com imprimatur conciliar! Era o direito à dignidade das aberturas, que no fundo significa dialogar sobre a mesma Verdade.
Isto estava nas entrelinhas da encíclica «Pacem in terris», na qual João XXIII proclamou que «… pode e deve haver cooperação entre os católicos e os regimes comunistas no campo social e político…». Assim, nas eleições italianas de Abril de 1963, os comunistas, num golpe, ganharam um milhão de votos em relação às eleições políticas de cinco anos antes. O clamoroso sucesso do PCI foi unanimemente atribuído à linha de João XXIII: o «sinistrismo eclesiástico».
A «mentalidade de abertura», continuada por Paulo VI, foi a «abertura conciliar ao mundo», que no caso da política comunista levou a Itália a ser o país mais desgovernado da Europa, pois tal ideologia, se não toma o poder, reivindica tudo, na ordem social e também existencial. E tal política passou a dominar onde havia a mentalidade modernista. Assim, o povo comunista italiano, sob vários nomes e a complacência do modernismo democristão, é o mais vasto da «área democrática». Para o seu ideólogo, Gramsci, "o socialismo é justamente a religião que abaterá o cristianismo" (1). "A filosofia da praxis – é o nome com que Gramsci indica o materialismo dialéctico e histórico – pressupõe todo este passado cultural, o Renascimento e a Reforma, a filosofia alemã e a Revolução francesa, o Calvinismo e a economia clássica inglesa, o liberismo laico e o historicismo na base de toda a concepção modernista da vida. A filosofia da praxis é a coroação de todo este movimento de reforma moral e intelectual… corresponde ao nexo: reforma protestante + revolução francesa". Para este «profeta comunista»: “O catolicismo democrático faz o que o socialismo não poderia fazer: amalgama, ordena, vivifica e suicida-se".
Incrível como isto aconteceu com a política clerical do companheiro e sucessor de Roncalli, João Batista Montini, futuro Paulo VI, sobre o qual veremos o que foi publicado do «Pacto Montini – Estaline».
Famosa foi sua homilia de «protesto» a Deus na Missa de exéquias de seu amigo Aldo Moro, democristão, por não ter evitado seu assassínio pelas Brigadas Vermelhas comunistas.
Voltando, porém, ao tempo de João XXIII, a questão que o marcou para sempre foi a incrível censura ao Terceiro Segredo de Fátima, cuja mensagem indicava os “erros esparsos pela Rússia”. Esta frase, detestável para quem via com optimismo o avanço socialista, para o qual abriu as portas do Vaticano, representa a realidade de um mundo cada vez mais ateu e materialista. Apenas concluído o Vaticano II, as mini-revoluções que reivindicam em todas direcções já eclodiam no Ocidente sem poupar nenhuma ordem social, enquanto a contestação global, especialmente na América Latina e na África, era cavalgava pelo comunismo animado pelos novos apóstolos das “aberturas” conciliares, que haviam liberado as consciências para reivindicar os direitos que fazem esquecer os deveres para com a verdade de Deus. Não há pois que negar a velada relação de causa-efeito entre as aberturas de Roncalli e sucessores e a profunda revolução que demoliu a fé da Igreja nas consciências. João XXIII apelava à misericórdia para não acusar erros, mas abriu às «ideologias» de padres guerrilheiros, como Camilo Torres, que celebrava a missa ao lado da metralhadora dizendo: “João XXIII me autoriza a marchar com os comunistas”; morreu lutando para aniquilar a ordem cristã! Como negar que quando o Vaticano II justificou o direito universal da escolha da própria religião ou irreligião, tal juízo incluía todo outro, da moral à política? Não era este o «compromisso histórico terminal» entre a falsa religião e o ímpio laicismo? À exposição dessa herança macabra no campo das ideias se aplica este livro que aquilata por exemplo o efeito da encíclica “Pacem in terris” (Ptr), tão apreciada em Moscovo como nos meios socialistas e mações, porque visava a “actualização” da noção de livre consciência. Não estava claro isto no documento? Se não, foi porque devia evitar a reacção católica; mas nem tão oculto para perder a ovação da área iluminista que há séculos exigia que a Igreja declarasse a liberdade de consciência e de religião, para julgar sobre o bem e o mal. É a ideia que passou a ditar a vida no mundo até a «alienação apocalíptica» final da Palavra de Deus. São as S. Escrituras a descrever essas «alienações»: a Original e a Judaica, que são as raízes da terceira alienação: a da grande e final apostasia «Cristã».
Esta se revela hoje na «perfídia» dos incubadores do “vírus” modernista, de que foi portador Roncalli, para inocula-lo no tecido da Igreja.
Como um insecto pode ser alieno portador de uma doença que inocula nos homens, na verdade a transmissão de certas ideias pode ser pior do que uma doença do corpo: afecta as consciências. A comparação parece rude? Não foi assim, por exemplo, com as ideias de Lenine e de Hitler? Pois bem, aludiu à periculosidade das iniciativas de João XXIII um dos mais célebres vaticanistas, o conde romano Fabrizio Sarazani, que sobre esse pontificado e suas consequências disse: “… o sinal deixado por Roncalli na história da humanidade supera de muito o impresso pelos tantos Lenines e Estalines. Se estes liquidaram alguns milhões de vidas, João XXIII liquidou dois mil anos da Igreja católica” (NR, p. 49). Se a citação parece interna aos adidos do Vaticano, eis outra do literato mundano, o inglês Anthony Burgess, autor do tema da “Laranja Mecânica” que, retratando Roncalli no seu romance «The earthly powers» (2), explicou que ele, por causa de seu pelagianismo anticristão, foi mais perigoso do que Hitler. Trata-se de localizar «causas» do mal que reside em ideias mesmo de aspecto religioso, que levam à agonia do Cristianismo no nosso tempo. Esta é evidente, mas não a sua causa, ligada a algo que assume forma de profetismo evocando sinais dos tempos, alheios à espiritualidade humana, mas afins à utopia da evolução ilimitada do homem.
Assim, a débâcle da Ideia cristã no mundo ocidental, no qual serpeia o new age ligado à nova ordem de reconciliação global ecumenista, é efeito da utopia religiosa modernista de marca gnóstica, usada pela Maçonaria para impor “liberdades” em vista de se substituir à Ordem cristã. Eis o programa do profetismo ecumenista que corrói a Cristandade para satisfazer a necessidade de um mundo globalizado. Neste, prevalece o «centro noaquita» que planeja a religião humanitarista e alienante do Evangelho de Jesus Cristo! E, visto que toda crise na terra reside na subtil diferença entre a íntima liberdade das consciências criada por Deus, e a «outra» liberdade de consciência em foro esterno, ideada pelo «centro» da revolução anti-cristã, sempre condenada pelos Papas católicos, havia que obter «papas» como João XXIII. Por isto vamos falar da mentalidade modernista, que em nome do amor, faz fenecer sua fonte, que mana da Verdade. João XXIII agiu com essa mentalidade, ou melhor, delirante «ideologia» que continua com os seus sucessores, apoiados no nefasto Vaticano II, fonte das piores liberalidades diante da moral, da qual a pedofilia é mero produto.
Isto responde aos que exclamam: como pode um católico atacar assim os papas? Ora, o Papa católico representa a Palavra e o «Pensamento» de Cristo, que deve confirmar no mundo. Se representa o «outro», não é bom pensador, porque parece «papa». Nem é papa porque parece pio pensador. Um filosofar actualizado aos tempos se viu nas parcas ideias de Roncalli, na invertida doutrina social de Montini, na trapalhada literária de Luciani, nas ideias existencialistas e antroposóficas de K. Wojtyla; hoje, na apologia do iluminismo de J. Ratzinger, que chegou a recomenda-lo aos muçulmanos (22.12.2006)! Tudo de acordo com as aberturas ecumenistas conciliares em todas as direcções, acção que traria a paz ao mundo moderno, já profusamente descristianizado!
No mundo se esquece que a Religião, ligada ao Pensamento divino, é guia também ao bem pensar, do qual a heresia é desvio ruinoso. No entanto, uma série de mestres modernistas que, mesmo se religiosos, foram festejados pelo mundo liberal, como Sangnier, Loisy, Duchesne, Mounier (de Esprit), antecessores dos vários Maritain, Rahner, Kung, Ratzinger etc., que por sua vez olhavam para a Sede suprema, de onde inocular suas ideias através de quem ocultasse tais ideias sob o aspecto pio, para depois aplicá-las a um concílio. Eis como Roncalli, descrito de “genial simplicidade”, pelo seu cúmplice e amigo Guitton, galgou o trono para abrir a Igreja ao perverso Modernismo, dominante nas versões intelectuais de Montini e Wojtyla, cujos matizes conciliares de existencialismo e personalismo vão sendo ampliados por Ratzinger. Abrem ao iluminismo do direito à liberdade de consciência e de religião, como quer o mundo moderno. É o filosofar de aparência religiosa que mina profundamente o recto pensar e toda a fé e o faz em nome do Cristianismo e da Sede apostólica da Verdade. Esta evoluiria conforme a época do mundo e a visão subjectiva da pessoa. Deviam pois «actualizar» a verdade e «purificar» a Fé com o pensamento evoluído que desenvolveram pessoalmente. É a perfídia terminal.
Continua...
Notas:
(1) Gramsci, António, Avanti!, e Sotto la Mole, 1916-20, Einaudi, Turim 1960, p. 148.
(2) Entrevista ao «O Estado de São Paulo», 10.1.1982.
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