segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O amor dos santos para com o Senhor e sua Mãe




Os bem-aventurados, ao verem a descoberto as três Pessoas divinas, divisam outrossim em Deus a união pessoal do Verbo e a humanidade de Jesus, a plenitude da graça, de glória, de caridade de sua alma santa, os tesouros do seu Coração, o valor infinito dos seus actos¹ teândricos, dos seus méritos passados, o valor de sua paixão, da mais pequena gota do seu sangue, o valor sem medida de cada missa, o fruto das absolvições [...]



[...] contemplam igualmente a glória que emana da alma do Salvador sobre seu corpo após a ressurreição e como, após a Ascensão, ele se encontra no vértice superior de toda a criação material e espiritual. Vêem, também, in Verbo, Maria corredentora, e apreciam a eminente dignidade da sua maternidade divina que, graças ao seu termo, é, de ordem hipostática, superior aos da natureza e da graça. Contemplam, além disso, a grandeza do seu amor ao pé da cruz, a sua elevação acima das hierarquias angélicas, o reflexo da sua mediação universal. Esta visão in Verbo de Jesus e de Maria está ligada à bem-aventurança essencial, como o objecto secundário mais elevado se encontra ligado, na visão beatífica, ao objecto primário². 

Os santos, portanto, amam intensamente o Senhor, como Salvador, ao qual tudo devem. Vêem que, sem Ele, não teriam podido fazer nada em ordem à salvação; tomam conhecimento até à mais miúda de todas as graças que dele receberam, e reconhecem que lhe devem todos os efeitos da predestinação: a vocação, a conservação da justificação, a glorificação; eles não cessam de lhe agradecer tudo isto. A toda a hora Ele os vivifica. Cada um vê nele o esposo das almas e o esposo da Igreja militante, purgante e triunfante. Que amor eles consagram ao Corpo místico que tem Jesus por cabeça! Sentem-se amados por Deus como membros de Jesus Cristo.

Obtém nessa altura realização o que se diz no Apocalipse (V, 12): "Milhares de anjos exclamavam com voz forte: Digno é o cordeiro, que foi morto, de receber a virtude e a divindade e a sabedoria, e a fortaleza, e a honra, e a glória e a benção". Foi o cordeiro imolado que resgatou pelo seu sangue os homens de todas as tribos, de todas as línguas, de todos os povos, de todas as nações (Apoc., V, 9). "A Jerusalém celeste não tem necessidade de sol, nem de lua para a iluminar, porque a glória de Deus a ilumina e o cordeiro é o seu facho luminoso. As nações caminharão à sua luz e os reis da terra trarão a ela a sua magnificência... Não entrará nela coisa alguma contaminada², mas só aqueles que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro" (Apoc. XXI, 23).

Bossuet, nas sua Meditações sobre o Evangelho (II, P., 72º dia) escreve: "Comecemos, portanto, desde já a contemplar pela fé a glória de Jesus e a tornamo-nos, através da imitação, semelhantes a ele. Um dia seremos semelhantes a ele pela efusão da sua glória, amaremos nele apenas a felicidade de nos parecermos com ele, ver-nos-emos ébrios do seu amor. Consumar-se-á então plenamente a obra que trouxe Jesus ao mundo".

"Jesus diz aos eleitos: Estou neles (João, XVII, 26). São os meus membros vivos, ... são como que eu próprio... O Pai eterno apenas vê neles Jesus e é assim que os ama por extensão e efusão do mesmo amor que consagra ao Filho. Depois disto, o que temos a fazer é permanecermos em silêncio perante o Salvador, manter-nos no deslumbramento de tanta grandeza a que somos chamados em Jesus, não ter outro desejo senão o de nos tornarmos dignos dele com sua graça" (Ibid, 75º dia).

O Espírito Santos escreve nestas almas unidas a Cristo um Evangelho espiritual enquanto elas vivem na terra, não a tinta, sobre o próximo, mas com a graça, nas inteligências e nas vontades. Este Evangelho espiritual constitui o complemento daquele que lemos todos os dias na missa. Vem a imprimir-se desde o princípio dos séculos, e só ficará pronto no último dia. É a história espiritual do Corpo místico. Deus conhece-a desde toda a eternidade e os bem-aventurados vêem nela os traços essenciais da essência divina. Caussade escreveu a este respeito páginas admiráveis, no seu "Tratado do abandono à Providência".

Maria, no céu, é reconhecida por todos os santos e amada acima de todos, como a digníssima Mãe de Deus, a Mãe da divina graça, a Virgem poderosa, a Mãe da misericórdia, o refúgio dos pecadores, a consoladora dos aflitos, o socorro dos cristãos, a Rainha dos patriarcas, dos profetas, dos apóstolos, dos mártires, dos confessores, das virgens e de todos os santos. Este amor de caridade em Deus, in Verbo, liga-se à bem-aventurança essencial, como o mais elevado dos objectos secundários se liga ao objecto primário.

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