A esterilidade da igreja
conciliar, como a denominou um famoso cardeal, está chegando às últimas
etapas, como um cadáver no qual a decomposição vai-se acelerando mais e
mais. Infelizmente, a França, outrora primogênita da Igreja (não da
conciliar) está na dianteira, e os dados são assustadores: a média de
idade no seu clero é de mais de 70 anos, párocos idosos estão a cargo de
dezenas de paróquias (nos casos extremos, mais de cem), uma parte
ínfima da população pratica a religião, etc, etc.[...]
[...]
O fim está próximo, distando talvez em 5 ou 6 anos. Mas assim como ela é
primeira no mal, o é também no bem. Considere-se que hoje 25% das
ordenações francesas são de sacerdotes jovens que “fazem a escolha pelo
rito tradicional”, isto considerando a tradição num sentido amplo, e não
só a FSSPX. Agora, nesta pequena onda de volta ao normal, por assim
dizer, é evidente que existem passos a serem dados uns depois dos
outros, tal qual uma pessoa que, depois de sofrer um gravíssimo
acidente, precisa fazer uma reabilitação progressiva. Poderíamos dizer
que a missa nova (e a liturgia em geral) é a causa próxima do mal, já
que “lex orandi lex credendi”, e assim uma corrosiva e desnaturada
liturgia corresponde a um povo corroído e desnaturado (ou talvez
poderíamos dizer des-sobrenaturalizado). Pois bem, a causa próxima do
reestabelecimento da Igreja será sem dúvida a missa e todos os outros
sacramentos dos quais e pelos quais flui a vida divina (eles são causa
instrumental da graça).
Agora para dizê-lo sem rodeios, o
Corpo Místico morre por falta de circulação da graça divina de um modo
análogo ao corpo físico de qualquer ser vivo onde as veias já não
transportam o sangue. O que o Motu Proprio Summorum Pontificum chama de
“rito ordinário” da missa não pode ser considerado tal por razões
seriíssimas, que podem ser reduzidas a uma só: a doutrina contida nela
não forma parte do depósito da Revelação divina. Mas, será possível que
uma missa (e a liturgia em geral) aprovada pela autoridade competente
padeça deste defeito de base? É fato!
O Papa João Paulo II no
documento “Vicesimus quintus annus” – 4 de dezembro 1988- diz: “O
primeiro princípio é a atualização do mistério pascal de Cristo na
liturgia da Igreja” O incauto católico, não iniciado neste tipo de
linguagem, pensa automaticamente: isso é verdade! Isso é católico! Pensa
nas palavras ‘mistério pascal’ e diz inconscientemente: mistério é
normal, a religião está cheia de mistérios sem os quais não poderia ser
divina e pascal; bom, deve ser algo relacionado com a páscoa ou talvez
com o cordeiro pascal…
Infelizmente, caro leitor,
mistério pascal não é o que se pensa. Se fazemos uma pequena
retrospectiva histórica, veremos logo que a expressão “mistério pascal”
aparece raras vezes nos Padres da Igreja, e, com mais freqüência, no
plural, nos antigos sacramentários. Uma só vez é utilizada no singular
pelo sacramentário gelasiano. Até o século XX não teve nenhum
significado especial entre os teólogos. Como explicar a frase de João
Paulo II, então? Peçamos ao magistério da Igreja que nos explique o que é
este mistério pascal que é agora o primeiro princípio litúrgico!
Mas….ai!…..não existe documento Romano oficial explicativo. Dá para
acreditar numa coisa dessas? Ele simplesmente não existe.
Pois
bem, onde vamos achar o que seja o mistério pascal? Perguntemos aos
“teólogos” aos quais Pio XII chama de “néscios”. Que nos dizem os
senhores Dom Odo Casel, Aimon-Marie Roguet, Yves de Montcheuil, Henry
Pinard de la Boullaye (todos mestres dos Papas pós-conciliares [1])
acerca do que é o mistério pascal? “O modo como a Redenção foi
apresentada pela Igreja até agora não é conveniente para o homem
atual, posto que é demasiado negativo-pessimista. Ressaltemos no lugar
da morte de Cristo a sua Ressurreição gloriosa e a Ascensão como a
manifestação do amor incondicional de Deus aos homens. Paremos com
aquilo de que o Pai eterno escolheu seu próprio Filho para expiar em
nosso lugar e tendo diante dos olhos a vítima mais inocente, mais amada,
e mais apropriada para levá-lo à compaixão, exigiu-lhe a reparação mais
humilhante e dolorosa! Que rigor! Que incompreensível insensibilidade! –
Digam antes, Senhores: que modo abominável de interpretar os
pensamentos de Deus! Nada o justifica!” [2]
“Como se chega até isto?”, perguntará o caro leitor. A explicação é como segue, se abreviarmos um pouco:
- Deus é infinito e perfeito: assim como o dom de uma criatura não lhe agrega nada, o pecado não lhe tira nada.
- Deus é amor: o amor que Deus nos tem nunca diminui, ainda que nossos corações se fechem a este amor.
Como o amor de Deus
continua apesar do pecado, e como sua justiça não exige nenhuma
compensação, seria contrário à bondade de Deus infligir-nos penas como
conseqüência de nossas faltas. A desgraça que se segue ao pecado vem só
do homem mesmo, não de Deus.
Jesus Cristo não veio satisfazer
os pecados dos homens (que não ferem a Deus), mas manifestar o amor de
Deus aos homens e isso em primeiro e único lugar.
Com esta “nova luz” podemos
afirmar que Jesus Cristo não fez uma obra de Redenção, posto que não
havia dívida nenhuma a pagar, simplesmente.
O que pode fazer um liturgista com esta teologia na cabeça? Fazer esquecer que na missa há uma vítima! Apenas alguns exemplos:
- O centro da missa será agora a assembléia
- Equiparação entre “a liturgia da palavra e a da eucaristia”
- Mudança do ofertório tradicional pela bênção judaica para as refeições ou “berakoth”
- Diminuição das genuflexões do sacerdote de 14 para 3
- Diminuição dos sinais da cruz sobre a hóstia de 24 para 1
- Supressão da mediação de Cristo (quase desapareceu o “per Dominum nostrum Iesum Christum”)
- Supressão da mediação dos santos
- No momento da comunhão não se diz mais: “que o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo guarde tua alma para a vida eterna. Amém”
- Etc…etc
A conclusão se impõe
sozinha: uma liturgia que contém uma doutrina que não é a dos Apóstolos,
mesmo na boca dum Anjo…deve ser anatematizada. São Paulo não brinca! A
missa nova não pode ser tida como católica, ainda que tenha “elementos
católicos”, tal como uma cerimônia anglicana que ainda guarda vestígios
de um remoto passado. Para concluir estas linhas, gostaríamos de dizer
expressamente que não é a nossa intenção, nem está no nosso ânimo querer
brigar ou disputar por ter um espírito inflado, senão só queremos
seguir o que a Igreja de sempre sente e rejeitar o que a Igreja de
sempre rejeita. E que não se diga, como alguns bispos alemães, que 40
anos já criam uma tradição, e por isso devem ser mantidas as reformas!
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