quinta-feira, 29 de novembro de 2012

CONTRIBUIÇÃO PROTESTANTE NA MISSA NOVA DE PAULO VI

“A Missa nova foi feita por uma comissão de que faziam parte seis pastores protestantes, e foi impregnada do espírito do Concílio Vaticano II, isto é, um espírito ecumênico de aceitação de todas as religiões, de adaptação ao mundo moderno. Pela mentalidade ecumênica, sobretudo para não chocar os protestantes, a Missa nova atenua (a Missa tradicional acentua) os principais dogmas incluídos na Santa Missa: Sacrifício propiciatório, Sacerdócio hierárquico, Presença Real e Transubstanciação.” (A missa nova em questão)


Veja na foto abaixo os seis pastores protestantes que ajudaram na elaboração da Nova Missa com o Papa Paulo VI:


Pastores protestantes Georges, Jasper, Sephard, Konneth, Smith, e Thurian com o Papa Paulo VI.

*   *   *

No dia 10 de abril de 1970, Paulo VI recebeu a comissão que elaborava o novo “Ordo Missae”. Nesta audiência, o Pontífice deixou-se fotografar ao lado dos observadores das “Comunidades eclesiais não católicas” que participaram da referida Comissão (os pastores protestantes: Dr Georges, Côn. Jasper, Dr. Sephard, Dr. Konneth, Dr. Smith, Fr. Max Thurian). A fotografia foi publicada na Revista “Notitiae”, da Sagrada Congregação para o Culto Divino, nº 54, maio de 1970. Na oportunidade, o Papa dirigiu aos presentes uma Alocução em que agradece sua colaboração: “Nós temos de agradecer-vos muito vivamente (…). O que vos era pedido, não era fácil com efeito (…): redigir de uma maneira nova textos litúrgicos provados por um longo uso, ou estabelecer fórmulas inteiramente novas” (cfr.“ La Documentation Catholique, 3-5-70. nº 1562, 52º ano, T. LXVII).


*   *   *

Ora, estes pastores não se limitaram a assistir, mas tiveram participação ativa.

“A intervenção ativa destes ‘observadores’ é corroborada por declarações de Mons. W.W.Baum, “diretor executivo” dos assuntos ecumênicos da Conferência Episcopal Americana: “Eles não lá estiveram como simples observadores, mas como consultores, e participaram plenamente das discussões sobre a renovação litúrgica católica. Não faria muito sentido caso se contentassem em ouvir, mas eles puderam contribuir” (Detroit News, 27 de junho de 1967).” 1

Ademais, como afirmou Mons. Lefebvre, por que os protestantes teriam sido convidados para a Comissão da Reforma Litúrgica senão para que dissessem “se estavam satisfeitos ou não, ou se havia alguma coisa que lhes não agradava, se eles podiam rezar conosco?” 2

Essa escandalosa participação dos protestantes teve um precedente notório: o Concílio Vaticano II:

Os protestantes, integrando um grupo que foi chamado de “OBSERVADORES NÃO-CATÓLICOS”, já estavam presentes na Aula Conciliar desde o primeiro dia da Primeira Sessão do Concílio Vaticano II, e a importância de sua participação foi logo enfatizada, pois no programático discurso de abertura do Concílio (11/10/62), o Santo Padre João XXIII anunciou formalmente que uma das grandes finalidades do encontro seria a união dos cristãos.

“Esses “OBSERVADORES NÃO-CATÓLICOS” participaram do início ao fim do Concílio e no final deste, ou seja, no dia 4 de dezembro de 1965, estavam presentes em uma cerimônia ecumênica, na qual o Papa Paulo VI, “com evidente satisfação” e dirigindo-se a tais “observadores”, disse:

“… Sabeis, Irmãos, que de muitas maneiras o nosso próprio Concílio Ecumênico pôs-se em movimento em direção a vós: da consideração que os Padres Conciliares não deixaram de manifestar pela vossa presença, que tão cara lhes era, até o esforço unânime para evitar toda expressão que não fosse cheia de deferências para convosco; da alegria espiritual de vermos vosso grupo de escol associado às cerimônias religiosas do Concílio, até a formulação de expressões doutrinais e disciplinares aptas a arredar os obstáculos e a abrir sendas tão largas e aplainadas quanto possível para uma melhor valorização do patrimônio religioso que conservais e desenvolveis: a Igreja Romana, como vedes, testemunhou a sua boa vontade de vos compreender e de se fazer compreender; não pronunciou anátemas, senão invitações; não traçou limites à sua espera, como tampouco os traça ao seu oferecimento fraterno de continuar um diálogo que a empenha.” 3 (grifos nossos)

1 “La nouvelle messe est d´esprit protestant”, Mons. Lefebre, “La Libre Belgique”, 25/9/76. Reproduzido de “Le mouvement Liturgique”, Abbé Didier Bonneterrre, ed. Fideliter.
2 A Missa de Lutero, conferência de Mons. Lefebvre.
3 A “Renovação” da celebração da Missa, Francisco Lafayette.

(Extraído de RESPONDEO nº 1; Permanência; “C) O escandaloso convite feito aos protestantes”)

*   *   *

Eis o testemunho insuspeito do presidente da Comissão de Liturgia, principal responsável pela Nova Missa,  Mons. Aníbal Bugnini: ” A oração da Igreja não deve ser um motivo de constrangimento para ninguém“, portanto, é necessário ” arredar toda a pedra que poderia constituir qualquer sombra de risco de tropeço ou de desprazer para os nossos irmãos separados” – quer dizer os protestantes - (L’Osservattore Romano, 19.03.65). No mesmo sentido fala o teólogo, amigo confidencial de Paulo VI, Jean Guitton: ” O Papa Paulo VI me confiou que era sua intenção assemelhar o mais possível a nova liturgia ao culto protestante(…)”.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Jesus está no chão!


Abaixo disponibilizamos um vídeo dramaticamente claro que demonstra o que ocorre de fato quando o cristão-católico comunga com as mãos, umas das práticas instauradas pelo Concílio Vaticano II sob o pretexto de higiene: partículas do sacratíssimo corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo ficam retidas nas mãos ou caem no chão por inanição do ministro. Ao final, uma demonstração clara não deixa dúvidas do que de fato se passa todos os dias nas paróquias do mundo inteiro: completo descaso para com o Corpo vivo de Cristo.




Trecho extraído do site do Apostolado Católico Arauto da Verdade©, disponível no link: http://www.arautoveritatis.com/2012/07/jesus-esta-no-chao.html#ixzz2CQA8iqSR
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial Share Alike
cano II sob o pretexto de higiene: partículas do sacratíssimo corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo ficam retidas nas mãos ou caem no chão por inanição do ministro. Ao final, uma demonstração clara não deixa dúvidas do que de fato se passa todos os dias nas paróquias do mundo inteiro: completo descaso para com o Corpo vivo de Cristo.

Trecho extraído do site do Apostolado Católico Arauto da Verdade©, disponível no link: http://www.arautoveritatis.com/2012/07/jesus-esta-no-chao.html#ixzz2CQAEYEk8
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial Share Alike
Monumento maçônico construído em homenagem a Paulo VI no Sacro Monte di Varese, na Lombardia, Itália.
A homenagem dos maçons ao Concílio. “O Vaticano II ensinou aos crentes o valor do diálogo como método que torna possível o encontro entre os homens, para além de todo credo ou filiação; a se sentirem parte de uma comunidade em movimento. A nós, laicos, ensinou a reconhecer a humanidade da Igreja. Depois de 50 anos, esta mensagem de paz, de concórdia e de fraternidade entre todos os homens está mais viva do que nunca e é necessária para reagir à crise de valores que ameaça o nosso mundo moderno”, disse Gustavo Raffi, grão-mestre do Grande Oriente da Itália, ao recordar o aniversário da abertura dos trabalhos do Concílio Vaticano II. 
“O Concílio — afirmou — obrigou os homens da Igreja a encarar a sociedade no momento em que ela se estava abrindo à modernidade. Entre os resultados, uma nova concepção de uma instituição que corria o risco de permanecer fechada na torre de marfim da doutrina e que, no entanto, decidiu abrir as portas aos homens. É triste ter que constatar que atualmente este grande impulso para uma visão mais humana da Igreja tenha sido substituído com um enfoque dogmático, por uma atitude fechada”, enfatizou. “A Maçonaria, há séculos, ensina a enxergar mais além dos horizontes dos dogmas e das diferenças — explicou Raffi –, abrindo o coração ao encontro com o outro, com uma nova disposição de conhecimento e de respeito.
Esperamos que a Igreja volte a se abrir ao mundo, inspirando-se justamente nesta breve e corajosa primavera que representa o Concílio Vaticano (II) e no exemplo, frequentemente esquecido, do Papa Montini, para que aceite dialogar, sem preconceitos, com todos os homens de boa vontade”. A história das relações entre a Igreja e a maçonaria está marcada por momentos de enormes fechamentos, fases de abertura e de diálogo. O problema se encontra nas questões mais delicadas que afetam a Igreja. Trata-se de uma história pouco conhecida, cheia de condenações pontifícias (sobretudo nos séculos XVIII e XIX), mas também com momentos contraditórios no século XX. O primeiro pronunciamento Papal sobre a maçonaria se deve a Clemente XII, que, em 28 de abril de 1738 (a 21 anos do nascimento oficial do grupo), promulgou a bula “In eminenti”, com a qual declarou a incompatibilidade entre a Igreja e a maçonaria. A partir de então, se desenvolveu um percurso altamente problemático ao longo da história.


Trecho extraído do site do Apostolado Católico Arauto da Verdade©, disponível no link: http://www.arautoveritatis.com/2012/10/maconaria-reconhecendo-os-meritos-do.html#ixzz2CQAdRr30
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial Share Alike
Abaixo disponibilizamos um vídeo dramaticamente claro que demonstra o que ocorre de fato quando o cristão-católico comunga com as mãos, umas das práticas instauradas pelo Concílio Vaticano II sob o pretexto de higiene: partículas do sacratíssimo corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo ficam retidas nas mãos ou caem no chão por inanição do ministro. Ao final, uma demonstração clara não deixa dúvidas do que de fato se passa todos os dias nas paróquias do mundo inteiro: completo descaso para com o Corpo vivo de Cristo.



 

sábado, 10 de novembro de 2012

Comunhão Espiritual



Quanto à maneira de fazer a comunhão espiritual, é preciso conhecer a doutrina do santo Concílio de Trento, o qual ensina que se pode receber o Santíssimo Sacramento de três modos: sacramentalmente, espiritualmente, ou sacramentalmente e espiritualmente ao mesmo tempo.

Não se fala aqui do primeiro modo, que se verifica também nos que comungam em estado de pecado mortal, como fez Judas; nem do terceiro, comum a todos os que comungam em estado de graça; mas trata-se aqui e do segundo, adequado àqueles que, tomando as palavras do santo Concílio, impossibilitados de receber sacramentalmente o Corpo de Nosso Senhor, “o recebem em espírito, fazendo, atos de fé viva e ardente caridade, e com um grande desejo de se unirem ao soberano bem, e, por meio, se põem em estado de obter os frutos do Divino Sacramento.”

“Qui voto propositum illum caslestem panem edentes fide
viva quae per dilectionewm operatur, fructum ejus et
utilitatem sentium”. (Sess. XIII, c.8.)

Para facilitar-vos prática tão excelente, pesai bem o que vou dizer-vos. No momento em que o sacerdote se dispõe a comungar, na Santa Missa, recolhei-vos no vosso íntimo, tomando a mais modesta posição; formulai, em seguida, em vosso coração um ato de sincera contrição e, batendo humildemente no peito, em sinal de que vos reconheceis indignos de tão grande graça, fazei todos os atos de amor, oferecimento, humildade e os demais que costumais fazer quando comungais sacramentalmente:

Desejai, então, vivamente receber o adorável JESUS , oculto por vosso amor, no Santíssimo Sacramento. Para excitar em vós o fervor, imaginai que a Santíssima Virgem ou um de vossos santos padroeiros vos dá a santa comunhão. Suponde recebê-la realmente e, estreitando JESUS em vosso coração, repeti-Lhe muitas e muitas veze com ardente amor:

“Vinde, JESUS adorável, vinde ao meu pobre coração; vinde saciar meu desejo; vinde meu adorado JESUS, vinde ó dulcíssimo JESUS!”

E depois ficai em silêncio, contemplando vosso DEUS dentro de vós, e, como se tivésseis todos os atos que habitualmente fazeis depois da comunhão sacramental.

Ora, sabei que esta santa e bendita comunhão espiritual, tão pouco praticada pelos cristãos de nossos dias, é um tesouro que cumula a alma de bens incalculáveis; e, no sentir de muitos autores, é de tal modo eficaz que pode produzir as mesmas graças que a comunhão sacramental, e maiores ainda.

Com efeito, se vem que a comunhão sacramental, na qual se recebe a santa Hóstia, seja por sua natureza de maior proveito, porque como sacramento, age ex operare operato, é possível, no entanto, que uma alma faça a comunhão espiritual com tanta humildade, amor e fervor, que obtenha mais graças que não obteria outra, comungando sacramentalmente, mas com disposição menos perfeita.

Nosso Senhor, outrossim, ama tanto este modo de fazer a comunhão espiritual, que muitas vezes se dignou atender com milagres visíveis os piedosos desejos de seus servos, dando-lhes a comunhão ou por sua própria mão, como fez à bem-aventurada Clara de Montefalco, a Santa Catarina de Sena, e a Santa Lidvina; ou pela mão dos Anjos, como aconteceu a São Boaventura e aos santos bispos Honorato e Firmino; ou ainda, mais freqüentemente, por meio da augusta Mãe de DEUS, que se dignou dar a comunhão ao bem aventurado Silvestre.

Não vos admireis desta condescendência tão terna, pois a comunhão espiritual abrasa a alma no amor a DEUS, une-a
Ele, e dispõe-na a receber as graças mais insignes. Se refletísseis, portanto, nestas coisas, seria possível permanecerdes, frios e insensíveis? Que desculpa poderíeis invocar para isentar-vos de tão devota prática? Tomai a resolução de vos habituardes a ela; e notai que a comunhão espiritual tem sobre a sacramental esta vantagem, que esta só se pode fazer uma vez ao dia, enquanto aquela podeis fazê-la em todas as Missas que quiserdes, e ainda, de manhã, à tarde, o dia todo ou de noite, em casa como na igreja, sem necessitar permissão de vosso confessor.

Em resumo, quantas vezes fizerdes a comunhão espiritual,
outras tantas vos enriquecereis de graças, de méritos e de
toda sorte de bens.

domingo, 4 de novembro de 2012

Os três segredos de Fátima



Em julho de 1917, Nossa Senhora revelou aos três pequenos pastores, a quem aparecia pela terceira vez, três segredos que, em seu conjunto, constituíam a mensagem de Fátima. Esta mensagem de Nossa Senhora seguia o seguinte esquema:
1. Deus estava muito ofendido pelos pecados do mundo moderno.
2. Por isso, exigia penitência.
3. Caso ela não fosse feita, viria um castigo.

No primeiro segredo, Nossa Senhora mostrou aos três pastorinhos de Aljustrel "o inferno para onde vão os pecadores", e explicou-lhes que foram os pecados dos homens que provocaram o castigo da I Guerra Mundial (1914-1917).
"Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados em esse fogo os demônios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saíam, juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das fagulhas nos grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Os demônios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros. Esta vista foi um momento, e graças à nossa boa Mãe lá do céu, que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos levar para o céu (na primeira aparição). Se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor. Em seguida, levantamos os olhos para Nossa Senhora, que nos disse com bondade e tristeza: 'Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz.'"
O segundo segredo: "A guerra vai acabar, mas, se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite iluminada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz."
Até aqui, os dois primeiros segredos, tais quais foram redigidos por Irmã Lúcia e tais quais foram agora publicados pelo Vaticano.
O primeiro segredo tratava da Primeira Guerra Mundial como castigo pelos pecados do mundo. Nossa Senhora anunciava que esse primeiro castigo logo iria acabar, e pedia que se rezasse muito pela conversão dos pecadores, e que se fizesse penitência. Portanto, este primeiro segredo tratava das almas.
Ao anunciar aos três pastorinhos que a I Guerra Mundial logo ia acabar, Nossa Senhora preveniu que, se não houvesse emenda dos pecados, outra guerra ainda pior castigaria o mundo, "no tempo do Papa Pio XI". Esse castigo seria precedido por "uma grande luz que iluminaria o céu".
Esse castigo veio. Portanto, não houve a emenda pedida.
A seguir, Nossa Senhora previa que "a Rússia espalharia seus erros pelo mundo" - e a Revolução Comunista na Rússia só ia acontecer em novembro de 1917, alguns meses depois da revelação de julho de 1917. Dizia ainda Nossa Senhora que, nessa II Guerra Mundial, "várias nações seriam aniquiladas", "os bons seria martirizados", "o Santo Padre teria muito que sofrer". O comunismo na Rússia e o espalhar dos erros comunistas pelo mundo ocorreram. Houve perseguições à Igreja, e os bons foram martirizados em todos os países comunistas. Só a frase "o Santo Padre terá muito que sofrer" parece exigir uma interpretação maior, porque nenhum dos Papas do século XX teve grandes sofrimentos. Só o tiro de Agca foi uma exceção, mas quão pequena se comparada com os demais sofrimentos preditos!
O segundo segredo, então, tratava das nações.
Para impedir que os castigos prosseguissem, Nossa Senhora pedia:
1. Que o Papa - junto com todos os Bispos do mundo - consagrasse nominalmente a Rússia ao Imaculado Coração de Maria, coisa que até hoje nunca foi feita nos termos em que Nossa Senhora pediu.
2. Pedia ainda, de novo, penitência e oração, assim como o estabelecimento da devoção ao Imaculado Coração de Maria, e a comunhão reparadora nos primeiros sábados.
Claro que, se os pedidos de Nossa Senhora não fossem atendidos, haveria novo castigo e, desta vez, ao que parece por certos detalhes, atingindo diretamente o clero, e mesmo o Papa.
Jacinta via um Papa rezando e sendo apedrejado numa casa muito grande e, quando perguntou à Lúcia se podia contar isso e falar de uma multidão faminta e massacrada por estradas, Lúcia a proibiu, porque isso "fazia parte do segredo" e, sabendo desse detalhe, "ficaria fácil descobrir o segredo". Ora, estranhamente, como veremos, estes detalhes não aparecem no texto agora publicado. Por quê?
Conhecia-se ainda uma conclusão, que, exatamente por ser conclusão, supunha-se com toda a lógica que ela viria no final da mensagem, isto é, após o terceiro segredo, ora revelado: "Por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz."
E, numa quarta redação da mensagem de Fátima, a Irmã Lúcia escreveu uma frase elucidativa: "O dogma da Fé se manterá sempre em Portugal, etc." O que faz supor - evidentemente! - que o dogma da Fé não se manteria em outros países. Portugal seria uma exceção. Ora, aparentemente, nada na visão publicada fala de uma crise da Fé em nenhum país. Por quê?
Se o primeiro segredo tratava das pessoas e o segundo tratava das nações, era lógico, pela progressão estabelecida, que o terceiro segredo deveria tratar da Igreja. Claro que não dos pecados da Igreja, porque a Igreja é Santa e não pode cometer pecados, e sim dos pecados que se cometem na Igreja, isto é, especialmente dos pecados do clero. Pecados do clero que, hoje, os membros do clero costumam transferir para a Igreja, esquecendo-se de que Ela é imaculada e impoluta. E essa transferência de culpa do clero para a Igreja é um dos grandes pecados atuais. Ora, a visão que consta do terceiro segredo, e que agora foi publicada, mostra exatamente uma cena trágica a respeito de um Papa, e da Igreja martirizada. Por quê?
Agora, o Vaticano acaba de publicar a seguinte versão do terceiro "segredo" de Fátima, redigida pela Irmã Lúcia. No texto aparecem estranhas aspas que indicariam que ela copiou algumas frases de uma outra versão, não publicada. (Colocaremos essas aspas sempre em negrito, para salientá-las.) "Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um anjo com uma espada de fogo em a mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que parecia iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contato do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro.
O anjo, apontando com a mão direita para terra, com voz forte disse: 'Penitência, Penitência, Penitência!'
E vimos numa luz imensa que é Deus: "algo semelhante a como se vêem as pessoas num espelho quando lhe passam por diante" um Bispo vestido de branco "tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre".
Vários outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande cruz de troncos toscos como se fora de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meio em ruínas, e meio trêmulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegando ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande cruz, foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros de armas de fogo e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás aos outros os bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e posições.
Sob os dois braços da cruz estavam dois anjos, cada um segurando um regador de cristal em a mão, neles recolhiam o sangue dos mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus. Tuy, 3-1-1944. [Não há nenhuma assinatura no documento publicado pelo Vaticano!!!]"
 

É patente e claríssimo que, se Deus mandou, pela primeira vez, sua própria Mãe prevenir o mundo a respeito dos pecados e de seus castigos conseqüentes, é porque tanto os pecados quanto os castigos eram únicos na História. Que pecados seriam esses? Há que distinguir:
a. os pecados das pessoas, castigados especialmente pela I Guerra Mundial (primeiro segredo);
b. o pecado e o castigo específico das nações (segundo segredo);
c. e, finalmente, os pecados cometidos pelo clero, que são punidos na visão do terceiro segredo.

Sobre os pecados que causaram a I Guerra Mundial, os três videntes deram a entender, posteriormente, que eles foram especialmente os pecados da carne. E isso é claro para quem conhece a história dos costumes do século passado, e a profunda decadência moral em que morreu o século XIX. Basta falar do decadentismo e do satanismo que dominaram a arte desse fim de século, assim como a grande corrupção moral que caracterizou a chamada "Belle Époque", no começo do século XX.
E pior viria a ser depois da I Guerra, que, ao invés de ter sido aproveitada como penitência, foi um novo e possante incentivo para degradações inauditas. Jacinta alude a "modas que virão e que ofendem muito a Nosso Senhor". Numa carta de 19-2-1940, Irmã Lúcia escreveu ao Cardeal patriarca de Lisboa: "Eminentíssimo Senhor Cardeal, Nosso Senhor está descontente e amargurado com os pecados do mundo e com os de Portugal, queixando-se da falta de correspondência, vida pecaminosa do povo e em especial da tibieza, indiferença e vida demasiado cômoda que levam a maioria dos sacerdotes, religiosos e religiosas [O negrito é nosso]; é limitadíssimo o número das almas com quem se encontra na oração e no sacrifício. Em reparação e súplica por si e pelas outras nações, Nosso Senhor deseja que em Portugal sejam abolidas as festas profanas nos dias de carnaval e substituídas por orações e sacrifícios com preces públicas pelas ruas. Rogo pois a Vossa Eminência se digne em união com todos os Excelentíssimos Senhores Bispos promovê-las, não esquecendo que Nosso Senhor, ao prometer uma proteção especial à nossa Nação, a declarou também culpada e lhe anunciou algo que sofrer também. Esse algo consistirá em conseqüências de guerras estrangeiras mais ou menos graves segundo a nossa correspondência aos desejos de Nosso Senhor. Nosso Senhor deseja que atraiamos assim a paz não só sobre Portugal mas sobre as demais nações." (Apud Padre Antônio Maria Martins, S. J., Novos Documentos de Fátima, ed. Loyola, São Paulo, sem data, p. 251).
O que espanta nessa carta de Irmã Lúcia é o imenso contraste com a atual situação moral do mundo, neste início do assim mal chamado "Terceiro Milênio", na "aurora da Civilização do Amor"... Imagine-se! Deus estava amargurado com o carnaval de Portugal em 1940! Que pensa Nosso Senhor, então, do carnaval atual do Rio de Janeiro? E como o clero nada diz nem do carnaval de hoje, e, muito menos, nada disse do carnaval lisboeta de 1940? E pelo carnaval de Lisboa, em 1940, Portugal sofreria guerras sangrentas! O que sofrerá o mundo atual pelos crimes de hoje? Ainda agora, a mídia notícia o World Gay Pride realizando-se em Roma, e conta que o Papa teve que proibir um bispo francês de participar desse congresso de homossexuais, fazendo nele uma conferência! E a reação do Mestre do Palácio Apostólico (o teólogo pessoal do Papa, o Abbé Cottier) ao Congresso Mundial dos Homossexuais, em Roma, foi bastante tímida. Que castigos ameaçam, hoje, o mundo?
Irmã Lúcia, na carta supracitada, mostra que Nosso Senhor se queixava não só da "vida pecaminosa do povo" - que hoje piorou tanto - como também "e em especial da tibieza, indiferença e vida demasiado cômoda que levam a maioria dos sacerdotes, religiosos e religiosas".
Isso em 1940!!!
Oxalá fossem, ainda hoje, apenas essas as queixas de Cristo a respeito do clero! Não que desejássemos que houvesse, ainda hoje, esses pecados de indiferença, de tibieza, e de vida cômoda do clero... Mas, se isso for comparado à apostasia e deboche em que caíram tantos sacerdotes, isso seria bem pouco. Hoje, a situação do clero é muito mais calamitosa e escandalosa. Quer do ponto de vista moral, como de fé. Que é a difusão da heresia e do mundanismo, em que grande número de sacerdotes e bispos estão mergulhados, senão a conseqüência lógica e natural da tibieza, vida cômoda e indiferença em que vivia o clero em 1940? Velemos pudicamente a face - e este texto - diante dos pecados atuais do clero... Mas sem esquecer que eles, desgraçadamente, existem.
Resumindo, então, podemos concluir que os pecados que determinaram o castigo da Primeira Guerra Mundial foram:
1. A imoralidade dos costumes;
2. A decadência do clero, devida ao liberalismo e a tendência à boa vida, mesmo no clero mais "conservador";
3. E - evidentemente - a heresia no clero mais progressista, isto é, o Modernismo, condenado por São Pio X, em 1908.

Dissemos que os pecados foram a primeira causa do primeiro castigo, e, como disse e mostrou Nossa Senhora aos pastorinhos, muitas almas se perdiam pelos pecados no começo do século XX. Que dirá hoje?
O segundo castigo teria sido evitado, se tivesse havido conversão nos costumes do povo e do clero, e se o Papa tivesse consagrado a Rússia ao Imaculado Coração, nas condições pedidas pela Virgem Maria em Fátima. Nenhum Papa fez o que Nossa Senhora pediu, como Ela o pediu, nas condições que Ela estabeleceu. Nem houve conversão do povo. E a mudança dos costumes foi para pior. Por isso, veio o segundo castigo: a Segunda Guerra Mundial, ainda pior que a Primeira, e a Rússia espalhou seus erros comunistas e socialistas pelo mundo todo. O marxismo dominou e tiranizou nações. Embebeu as inteligências e contaminou até o clero. Quantos não passaram a defender um "socialismo cristão"(???), condenado, graças a Deus, por Pio XI, na encíclica Quadragésimo anno?
O castigo da Segunda Guerra Mundial também não foi aproveitado. Ao invés de conversão, a Guerra trouxe ainda maior corrupção nos costumes e um modo de vida inteiramente naturalista e pagão. Pior ainda, os erros do Modernismo se desencadearam depois da II Guerra, e o clero se mostrou contaminado pelos maus costumes do mundo moderno, e pela heresia modernista espantosamente crescente e cada vez mais dominante.
A desobediência à lei de Deus, hoje, piorou muitíssimo e atingiu níveis antes nunca vistos. Ela é uma das causas dos castigos anunciados em Fátima, por Nossa Senhora, castigos que ainda não se realizaram. Em que pese a opinião contrária do Cardeal Ratzinger, que garante que os fatos enunciados em Fátima já aconteceram, embora, contraditoriamente, ele diga que o terceiro segredo "não rasgou o véu do futuro".
O pecado - infelizmente - existe em abundância e gravissimamente. O arrependimento e a penitência - infelizmente - não se vêem. Os castigos piores anunciados para o Papa - e para o clero também, assim como para o povo -, no terceiro segredo, ainda não chegaram.
Ratzinger e Sodano dão um certo aval à identificação do Papa que morre na visão do terceiro segredo com o caso Agca-João Paulo II. (Mais adiante, veremos como essa interpretação é esdrúxula, visto que João Paulo II está vivo!!!). Se a interpretação de Ratzinger e Sodano fosse verdadeira, o Vaticano teria admitido que o castigo predito já se realizou. Porém, nesse caso, o Vaticano está admitindo que houve uma culpa anterior do clero - e talvez do próprio Papa - que mereceu tal castigo. (A nosso ver, o castigo que redunda na morte de um Papa ainda não aconteceu; uma das razões - determinante e evidente - é que João Paulo II está vivo).
Qual terá sido o grande pecado que provocará a cena trágica de tantas mortes e martírios, inclusive a de um Papa? Ou, se se admite uma visão "otimista" da história da Igreja no século XX, qual terá sido a causa que evitou o grande castigo predito na visão misteriosa do terceiro segredo? Causa do castigo, ou ação virtuosa e penitencial salvadora que o evitou, deve ter acontecido entre o fim da Segunda Guerra Mundial (castigo predito no segundo segredo) e agora. (A Irmã Lúcia havia dito que Nossa Senhora marcara a data de 1960 para a revelação do terceiro segredo. Agora, ela afirmou que essa data foi escolhida a esmo, por ela mesma. Ora, Deus pode tê-la guiado, mesmo inconscientemente, a escolher essa data, pouco anterior ao Concílio Vaticano II...)
Que de mais importante aconteceu, na história da Igreja, entre 1945 e 2000? Tenha-se que opinião for sobre o Concílio Vaticano II, não há quem, na Igreja e fora dela, não concorde com a afirmação de que o Concílio Vaticano II foi o fato mais importante da história da Igreja no século XX. Nisto - e só nisto - concordam quer os progressistas (moderados ou radicais), quer os chamados integristas (tradicionalistas de todos os matizes): o Vaticano II foi o fato mais importante da história da Igreja no século XX.
Os progressistas o consideram a abertura de uma nova era na história da Igreja, a chegada a sua fase adulta, o triunfo, dizem alguns, de uma nova Igreja, oposta à Igreja do passado, triunfalista e constantiniana. Os integristas de todos os matizes vêem no Vaticano II o triunfo da heresia, e alguns o têm como uma verdadeira apostasia da fé antiga. De qualquer modo, todos concordam que ele foi de importância inigualável.
Sendo assim, como Nossa Senhora não disse uma palavra sequer, em sua mensagem, sobre o Vaticano II? Ela deveria tê-lo elogiado como o Concílio que salvou a Igreja e converteu o mundo moderno, prestes a ser punido pelo anjo que tinha sua espada de fogo sintomaticamente na mão esquerda... Ela deveria ter deixado claro que o fulgor da mão direita de Nossa Senhora, que impediu o anjo de incendiar o mundo, foi resultante do bom sucesso e dos bons efeitos do Vaticano II! Nada!!! Absolutamente nada! Para a Virgem Maria, parece que o Concílio de João XXIII e de Paulo VI não mereceu nenhum elogio. Nenhum louvor.
Se Ela tivesse dito a menor palavra de apoio ao Vaticano II, como essa palavra seria trombeteada pelo clero progressista! Se ela tivesse elogiado, ainda que palidamente, o Concílio, é evidente que não se teria esperado todos esses anos para publicar o segredo! Mas, então, teria Nossa Senhora criticado o Concílio? Teria dito Ela alguma coisa contra o que se fez no Concílio? E, nesse caso, teria sido o Vaticano II uma das causas do massacre que a misteriosa visão do terceiro segredo prenuncia: a do martírio de um Papa "meio trêmulo e vacilante"?
E o que fez o Concílio Vaticano II? Que significou o "aggiornamento", isto é, a atualização, a modernização da Igreja feita pelo Concílio? Ninguém melhor do que Paulo VI para julgar o Vaticano II. No final do Vaticano II, Paulo VI fez um discurso em que disse: "A Igreja, nesses quatro anos, se ocupou muito do homem, do homem tal como ele se apresenta na realidade em nossa época, o homem vivo. O homem todo inteiro ocupado consigo mesmo, o homem que se faz não somente o centro de tudo o que lhe interessa, mas que ousa pretender ser o princípio e a razão última de toda a realidade [...]." (Discurso de Paulo VI no encerramento do Concílio Vaticano II, 7-XII-1965. O negrito é nosso).
Não é preciso ser um extremado integrista para verificar que esse homem, de que a Igreja se ocupou no Vaticano II, é o homem que se faz Deus contra Deus. E que fez Paulo VI? Que atitude tomou o Vaticano II diante desse Homem, ídolo de si mesmo? Responde Paulo VI: "a velha história do Samaritano foi o modelo da espiritualidade do Concílio [Vaticano II]. Uma simpatia sem limites o invadiu inteiramente. [...] Nós também, Nós mais do que ninguém, nós temos o culto do homem." (Paulo VI, discurso em 7-XII-1965, encerrando o Concílio Vaticano II, apud Yves Chiron, Paul VI, le Pape écartélé, Perrin, Paris,1993, pg. 249. O negrito é nosso).
Está aí um fato inaudito na história da Igreja: um Papa que, encerrando o maior Concílio da História, proclama que a Igreja, que sempre cultuou a Deus Criador do Céu e da Terra, agora se diz cultuadora do homem que se faz centro e causa última de tudo, isto é, do Homem que se adora a si mesmo. Ainda nesse mesmo discurso de encerramento do Concílio Vaticano II, Paulo VI declarou: "A religião do Deus que se fez homem [o Catolicismo] se encontrou com a religião (porque ela é tal) do homem que se faz Deus [o Comunismo]". E continuou Paulo VI, dizendo que muitos julgavam que haveria um enfrentamento, um choque, uma luta, um anátema, mas nada disso aconteceu. "Pelo contrário, uma simpatia imensa, uma atenção nova da Igreja às necessidades dos homens. A igreja quase que se fez serva da humanidade, no Vaticano II." (O negrito é nosso). Que frutos se poderia esperar dessa capitulação?
Note-se que haveria muito mais o que examinar no Concílio: o ecumenismo; a liberdade de religião e de consciência; a questão de que a Igreja de Cristo é a Igreja Católica, ou se nela apenas subsiste a Igreja de Cristo; quem tem o supremo poder na Igreja; etc. Muitos outros "etc" que, cada um de per si, justificaria um imenso castigo. Por que Nossa Senhora nada disse do Vaticano II? Por que não lhe fez nenhum elogio?
Teria Ela concordado com Paulo VI, que afirmou do Concílio Vaticano II: "Por alguma brecha, a fumaça de Satã está no Templo de Deus: a dúvida, a incerteza, a problemática, a inquietação, a insatisfação, o afrontamento surgiram [...].
Nós teríamos acreditado que o porvir do Concílio seria um dia de sol para a Igreja. Mas Nós encontramos novas tempestades. Procuramos cavar novos abismos em vez de preenchê-los.
Que aconteceu?
Nós vos confiamos nosso pensamento: trata-se de uma potência adversa, o diabo, este ser misterioso, inimigo de todos os homens, este qualquer coisa de sobrenatural, vindo estragar e secar os frutos do Concílio ecumênico e impedir que a Igreja expluda em hinos de alegria por ter redescoberto a consciência dela mesma." (Apud Yves Chiron, op cit., p. 320. O sublinhado, itálico e negrito são nossos).
Veja-se que declaração terrível! O Papa declara que a fumaça de Satã entrou no Templo de Deus. Qual foi a brecha pela qual ela entrou? Evidentemente através do Vaticano II. Ainda o Papa Paulo VI, analisando a situação da Igreja no pós-Concílio, declarou: "A Igreja se acha em uma hora inquieta de autocrítica, dir-se-ia melhor de autodemolição. É como se um revirar-se agudo e complexo que ninguém teria esperado depois do Concílio. A Igreja quase quase golpeia-se a si mesma." (Paulo VI, Discurso de 7-XII-1968. O negrito é nosso).
Será que este processo de autodemolição - quase, quase um suicídio - não foi considerado um pecado do clero, que exigia a penitência três vezes proclamada pelo anjo da visão?
Paulo VI culpa o diabo por isso, mas logo depois declara uma segunda coisa tremenda: "No Vaticano II a Igreja redescobriu a consciência de si mesma." Como se fosse possível que a Igreja a tivesse perdido!!! E será que, dizendo isso, houve a penitência que evitou o castigo predito na visão do terceiro segredo? Ou, pelo contrário, nisso houve um pecado que causou o castigo que se descreve na visão dos três pastorinhos? "Ora o corte na unidade vem amplamente reconhecido no discurso paulino [de Paulo VI] de 30 de agosto de 1973, que chora 'a divisão, a desagregação que infelizmente entraram agora em não poucas camadas da Igreja', e diretamente proclama que 'a recomposição da unidade espiritual e real no interior da Igreja é, hoje, um dos mais graves e urgentes problemas da Igreja'. E no discurso de 23 de novembro de 1973, o Papa toca também na etiologia do extravio [smarrimento = desmaio] enorme e confessa o erro próprio admitindo que 'a abertura ao mundo foi uma verdadeira invasão do pensamento mundano na Igreja'. Esta invasão tolhe da Igreja a força de oposição e lhe tira toda expressividade. E é dramático neste discurso o uso equívoco do pronome da primeira pessoa do plural. 'Nós', diz, 'fomos débeis demais e imprudentes, etc...' É nós ou Nós?" (R. Amerio, Iota Unum, ed. Ricardo Ricciardi, Milano Torino, 1985, p. 11).
Já em 1965, ainda durante o Concílio, Paulo VI viajou a Nova York. Foi à ONU - "Cette chose là de New York", como dizia depreciativamente De Gaulle - fazer um discurso apenas como "um expert em humanidade", e lá, diante dos membros da ONU, o Papa declarou que vinha trazer "uma ratificação moral e solene", declarando que a ONU... ..."é o caminho obrigatório da civilização moderna e da paz mundial." (Apud Yves Chiron, op. cit. p. 243).
Para Paulo VI, então, o caminho da civilização moderna não é obrigatoriamente Cristo, Príncipe da Paz, nem a Igreja, mas a ONU. Será que essa frase, pronunciada por um Papa diante das maiores - usemos de eufemismos - delegações diplomáticas do mundo moderno, não teve nenhuma importância diante de Deus? E que importância teve diante de Deus: positiva ou negativa? Essas declarações tremendas de um Papa não foram causa do castigo anunciado na visão do terceiro segredo de Fátima?
E, coerente com essa visão internacionalista e laica da salvação pela ONU, Paulo VI foi mais além ao declarar que hoje, pelo menos na aparência, o mundo supera a Igreja: "Para quem observa as coisas superficialmente, a Igreja parece impensável em nossos dias e, antes, parece destinada a apagar-se e a se deixar substituir por uma mais fácil e experimentável concepção do mundo, sem dogmas, sem hierarquia, sem limites ao gozo possível da existência, sem a Cruz de Cristo." E continuava o Papa Paulo VI: "Mas, abramos os olhos: a Igreja está, agora, sob certos aspectos, em graves sofrimentos, em radicais oposições, em corrosivas contradições.
E o Papa põe em dúvida se o mundo precisa ainda da Igreja para aprender os valores de caridade, de respeito aos direitos, de solidariedade, visto que, neste momento, tudo isto, e parece muito melhor, o faz o mundo." (Apud Romano Amerio, Iota Unum, Ricardo Ricciardi Editori, Milano Napoli, 1985, p. 154).
Resumindo:
1. O Concílio Vaticano II recusou condenar o comunismo, mas, no dizer do próprio Paulo VI, "abraçou a religião do homem que se fez Deus".
2. Pior. Depois do Concílio, se adotou a política de 'aggiornamento' e de abertura para o mundo moderno que redundou na Ost Politik do Vaticano. Deste modo, além de não se condenar o comunismo, se procurou um acordo diplomático com ele. Mais ainda, com a Teologia da Libertação esse acordo foi ao terreno doutrinário, e daí ao terreno da "práxis", o clero modernista e progressista apoiando até mesmo a ação guerrilheira e terrorista do comunismo.
3. Aceitou-se o igualitarismo e o democratismo modernos, expressos no Vaticano II pela famigerada "Colegialidade". A Igreja se democratizou e se "humanizou". Democratizou-se e aceitou o liberalismo ao proclamar, no Vaticano II, a liberdade de religião e de consciência, cujas aplicações práticas são o ecumenismo e o fim das missões. Humanizou-se, aceitando o "culto do Homem" de que a Nova Missa de Paulo VI é a manifestação mais clara.
Eis aí os três sinais de que o segundo castigo - o das nações - não foi aproveitado, e, por isso, a visão do terceiro segredo anuncia um castigo ainda maior.
 
Se a visão misteriosa publicada agora pelo Vaticano como sendo o terceiro "segredo" de Fátima é quase indecifrável, como julga o Cardeal Ratzinger - o que não o impediu de fazer um "tentativa de interpretação" -, julgamos que ela pode ser muito esclarecida pelos sonhos que Dom Bosco teve sobre o estado futuro da Igreja.
É bem sabido que São João Bosco gozou de um carisma especial, que fez dele um grande profeta. Sobre o futuro da Igreja, ele teve, no século passado, dois sonhos - também misteriosos - que entretanto, hoje, e com a versão do terceiro segredo, parecem se esclarecer uns aos outros. Dos dois sonhos de Dom Bosco sobre a Igreja, o primeiro é conhecido como o "Das duas colunas no mar" e o segundo como "O triunfo da Virgem".
Vejamos estes sonhos, que têm por fonte o mesmo Deus que fez Nossa Senhora dar aos pastorinhos de Aljustrel a terrível visão, ora publicada.
 
Sonho das duas colunas no mar
Dom Bosco teve este sonho em 1862, portanto antes da realização do Concílio Vaticano I, em 1870. Damos aqui a versão do sonho tal qual se acha na famosa obra de Lemoyne: Memórias Autobiográficas de Dom Bosco, vol VII, pp. 169 a 171.
"Dom Bosco, no dia 26 de maio, havia prometido aos jovens que lhes contaria alguma coisa bonita no último ou no penúltimo dia do mês. No dia 30 de maio, pois, contou à noite uma parábola ou semelhança, como ele quis chamá-la.
'Quero contar-lhes um sonho. É verdade que quem sonha não raciocina, todavia, eu, que lhes contaria até mesmo os meus pecados, se não tivesse medo de fazer que vocês todos fugissem e fazer cair a casa, lhes conto isso para utilidade espiritual de vocês. O sonho, eu o tive há alguns dias.
Imaginem vocês de estar comigo numa praia do mar, ou antes, sobre um escolho isolado, e de não ver outro espaço de terra a não ser aquele que lhes está sob os pés. Em toda aquela vasta superfície das águas se via uma multidão inumerável de navios em ordem de batalha, cujas proas eram terminadas por um agudo esporão de ferro em forma de lança, que, onde era dirigido, feria e traspassava qualquer coisa. Estes navios estavam armados com canhões, carregados com fuzis, com outras armas de todo gênero, com matérias incendiárias, e também com livros, e avançavam contra um navio muito maior e mais alto que todos eles, tentando chocar-se com ele por meio do esporão, incendiá-lo, ou então causar-lhe todo o dano possível.
Aquela nave majestosa, perfeitamente guarnecida, era escoltada por muitas navezinhas que recebiam dela os sinais de comando e executavam manobras para se defender das frotas adversárias. O vento lhes era desfavorável e o mar agitado parecia favorecer os inimigos.
No meio da imensa extensão do mar elevavam-se acima das ondas duas robustas colunas, altíssimas, pouco distantes uma da outra. Sobre uma delas havia a estátua da Virgem Imaculada, a cujos pés pendia um longo cartaz com esta inscrição: Auxilium Christianorum; sobre a outra, que era muito mais alta e mais grossa, havia uma Hóstia de grandeza proporcional à coluna, e sobre um outro cartaz, com as palavras: Salus Credentium.
O comandante supremo da grande nau, que era o Romano Pontífice, vendo o furor dos inimigos e o mau partido em que se achavam os seus fiéis, pensa convocar para junto de si os pilotos dos navios secundários, para ter um conselho e decidir o que se deveria fazer.
Todos os pilotos sobem e se reúnem em torno do Papa. Mantêm uma reunião, mas, enfurecendo-se cada vez mais o vento e a tempestade, eles são mandados de volta para dirigir seus próprios navios.
Ocorrendo um pouco de calmaria, o Papa reúne os pilotos de novo, pela segunda vez em torno de si, enquanto a nau capitania segue o seu curso. Mas a borrasca volta espantosa.
O Papa permanece no timão, e todos os seus esforços são dirigidos a levar a nau para o meio daquelas duas colunas, de cujo cimo pendem, em toda a volta delas, muitas âncoras e grossos ganchos presos a correntes.
Os navios inimigos se movem todos a assaltá-la, e tentam de todo modo detê-la e fazê-la afundar. Algumas com escritos, com livros, com matérias incendiárias de que estão cheias, e que buscam lançá-las a bordo; as demais com os canhões, com os fuzis, e com os esporões; o combate se torna cada vez mais encarniçado. As proas inimigas a chocam violentamente, mas seus esforços e seu ímpeto se revelam inúteis. Em vão tentam de novo o ataque e desperdiçam toda a sua fadiga e munições: a grande nau prossegue seguramente e livre em seu caminho. Ocorre por vezes que, atingida por golpes formidáveis, apresenta em seus flancos largas e profundas brechas, mas apenas acontece o dano, sopra um vento proveniente das duas colunas e as brechas se fecham e os furos se obturam.
E explodem os canhões dos assaltantes, despedaçam-se os fuzis, e todas as outras armas e os esporões; destroem-se muitos navios e se afundam no mar. Então, os inimigos, furibundos, começam a combater com armas curtas; e com as mãos, com os punhos, com blasfêmias e com maldições.
Quando eis que o Papa, ferido gravemente, cai. Imediatamente, aqueles que estão junto com ele correm a ajudá-lo e o levantam. O Papa é ferido a segunda vez, cai de novo e morre.
Um grito de vitória e de alegria ressoa entre os inimigos; sobre os seus navios se dá um indizível tripudio. Eis que apenas morto o Pontífice, um outro Papa o substitui em seu posto. Os pilotos reunidos o elegeram tão subitamente que a notícia da morte do Papa chegou com a notícia da eleição do sucessor. Os adversários começam a perder a coragem.
O novo Papa, dispersando e superando todo obstáculo, guia o navio até as duas colunas e, chegando junto a elas, o ata com uma pequena corrente que pendia da proa a uma âncora da coluna sobre a qual estava a Hóstia; e com uma outra pequena corrente que pendia da popa o prende do lado oposto a uma outra âncora, que pendia da coluna sobre a qual estava colocada a Virgem Imaculada.
Então, aconteceu uma grande reviravolta. Todos os navios que até aquele ponto tinham combatido a nau sobre a qual governava o Papa fogem, se dispersam, se chocam e se destroçam mutuamente. Uns naufragam e procuram afundar os outros. Outras navezinhas que tinham combatido valorosamente com o Papa são as primeiras a virem a atar-se àquelas colunas. Muitas outras naus que, tendo-se retirado por temor da batalha. se acham em grande distância, ficam prudentemente observando, até que, desaparecidos nos abismos do mar os restos de todos os navios destroçadas, com grande vigor vogam em direção daquelas duas colunas, onde, chegando, se prendem aos ganchos pendentes das mesmas colunas, e aí ficam tranqüilas e seguras, junto com a nau principal, sobre a qual está o Papa.
No mar reina uma grande calma.'
Dom Bosco, neste ponto, interrogou Dom Rua: 'Que pensa você deste relato?'
Dom Rua respondeu: 'Parece-me que a nau do Papa seja a Igreja, da qual ele é o chefe: os navios, os homens, o mar são este mundo. Aqueles que defendem o grande navio são os bons afeiçoados à Santa Sé, os outros são os seus inimigos que com toda sorte de armas tentam aniquilá-la. As duas colunas de salvação me parece que sejam a devoção a Maria Santíssima e ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia.'
Dom Rua não disse nada do Papa caído e morto, e Dom Bosco calou-se também sobre isso. Somente acrescentou: 'Disseste bem. É preciso somente corrigir uma expressão. As naus dos inimigos são as perseguições [à Igreja]. Preparam-se gravíssimos sofrimentos para a Igreja. O que até agora aconteceu é quase nada comparado com aquilo que deve acontecer. Os seus inimigos são figurados pelos navios que tentam afundar, se o pudessem, a nau capitania. Só restam dois meios para salvar-se entre tantas desordens: a devoção a Maria Santíssima e a freqüência à Comunhão, empregando todos os meios e fazendo de nossa melhor maneira para praticá-los e os fazer praticar, em toda parte, e por todos. Boa noite!'
As conjeturas que fizeram os jovens a respeito deste sonho foram muitíssimas, especialmente com relação aos Papas, mas Dom Bosco não acrescentou outras explicações. Entretanto, os clérigos Boggero, Ruffino, Merlone, e o senhor Cesar Chiala descreveram este sonho e nos restam seus manuscritos. Dois foram compilados no dia seguinte à narração de Dom Bosco, e os outros dois passado maior tempo: mas estão perfeitamente de acordo e variam somente em algumas circunstâncias, que um omite e outro registra.
Todavia, é de se notar como neste caso, e em outros de gênero semelhante, se bem que o conto feito por Dom Bosco fosse escrito logo depois com a maior fidelidade possível, entretanto não podia evitar alguma imperfeição. Um discurso que durou meia hora, talvez uma hora, naturalmente devia ficar compendiado em poucas folhas, colhidas apenas as principais idéias. Algumas frases não tinham podido ser percebidas pelo ouvido, algumas outras não eram mais lembradas; a mente se cansava, a ordem dos fatos se confundia, daí antes que arriscar escrever algo exagerado se omitiam aquelas coisas das quais não se estava seguro. Daqui provinham obscuridades em assuntos que por sua natureza tinham muitos pontos obscuros, especialmente referentes a coisas futuras; por isso discussões e explicações diversas e contraditórias.
E isso aconteceu também com relação ao sonho ou parábola que citamos acima. Alguém disse que os Papas que se sucederam no comando da nau foram três e não dois. Deste parecer foi o Cônego Giovanni Maria Bourlot, que foi pároco de Cambiano, o qual, sendo estudante de filosofia em 1862, estava presente quando Dom Bosco contou o sonho acima. Vindo ao Oratório no ano 1886, falando com Dom Bosco, na hora do jantar, das impressões que lhe ficaram da sua juventude, assegurava estar seguro da fidelidade de sua memória, começou a descrever o sonho das duas colunas no meio do mar, afirmando que os Papas caídos foram dois. Na queda do primeiro haviam exclamado os pilotos: 'Apressemo-nos; é coisa fácil substituí-lo.' E, na queda do segundo, tinham acorrido os pilotos, mas sem pronunciar esta frase. Quem escreve estas memórias [o próprio Lemoyne] naquele momento estava distraído conversando com seu vizinho à mesa, e Dom Bosco lhe disse: 'Escuta e presta atenção ao que diz Dom Bourlot.' Ele [Lemoyne] tendo-lhe respondido que conhecia bastante bem aquele fato pelos documentos que possuía, e que segundo ele os Papas da nau eram somente dois, Dom Bosco lhe replicou: 'Digo-te que tu não sabes nada.' Em 1907, Dom Bourlot, retornando ao Oratório, repetia, com exatidão - sinal de uma boa memória - depois de 48 anos, o relato do sonho, sustentava o número dos Papas serem três, recordava nossa contestação às suas afirmações e as palavras de Bosco a nós dirigidas.
Com tudo isso, destas duas versões, qual será a legítima? Aquela da crônica ou então a do Cônego Dom Bourlot? Talvez os acontecimentos darão a solução da dúvida. Devemos porém concluir dizendo que César Chiala com os outros, são as suas precisas palavras, a entendeu como uma verdadeira visão e profecia, se bem que Dom Bosco, ao contá-la, não parecesse ter outro escopo senão induzir os jovens a rezar pela Igreja e pelo Sumo Pontífice, e de atraí-los à devoção ao Santíssimo Sacramento e para com Maria Imaculada."
 
O triunfo da Virgem Maria (ou: Do triunfo do Imaculado Coração de Maria)
"Era uma noite escura. Os homens não podiam mais discernir qual fosse o caminho para retornar a suas aldeias, quando apareceu no céu uma luz esplendorosíssima que esclarecia os passos dos viajantes como se fosse meio-dia.
Naquele momento, foi vista uma multidão de homens, de mulheres, de velhos, de crianças, de monges, freiras e Sacerdotes, tendo à frente o Pontífice, sair do Vaticano enfileirando-se em forma de procissão. Mas eis um furioso temporal escurecendo um tanto aquela luz. Parecia engajar-se uma batalha entre a luz e as trevas.
Chegou-se a uma pequena praça coberta de mortos e de feridos, dos quais vários pediam conforto em altas vozes. As fileiras da procissão se tornaram bastante ralas. Depois de ter caminhado por um espaço de duzentos levantar do sol, cada um percebeu que não estava mais em Roma. O espanto invadiu os ânimos de todos, e cada um se recolheu em torno do Pontífice para guardar a sua pessoa e assisti-lo em suas necessidades. Naquele momento, foram vistos dois anjos que portavam um estandarte e o foram apresentar ao Pontífice dizendo: 'Recebe o vexilo d'Aquela que combate e dispersa os mais fortes exércitos da terra. Os teus inimigos desapareceram, os teus filhos, com lágrimas e com suspiros, invocam o teu retorno.'
Levantando, depois, o olhar para o estandarte, se via escrito nele, de um lado: 'Regina sine labe originale concepta'; e do outro lado: 'Auxillium Christianorum'. O Pontífice tomou o estandarte com alegria, mas tornando a olhar o pequeno número daqueles que haviam permanecido em torno de si, ficou aflitíssimo.
Os dois anjos acrescentaram: 'Vai depressa consolar os teus filhos. Escreve a teus irmãos dispersos nas várias partes do mundo que é preciso uma reforma nos costumes e nos homens. Isto só se poderá obter repartindo aos povos o pão da Divina Palavra. Catequizai as crianças, pregai o desapego das coisas da terra.' 'Chegou o tempo', concluíram os dois anjos, 'que os pobres serão os evangelizadores dos povos. Os Levitas serão buscados entre a enxada, a pá e o martelo, a fim de que se cumpram as palavras de Daví: Deus levantou o pobre da terra para colocá-lo sobre o trono dos príncipes do teu povo.'
Ouvindo isto, o Pontífice se moveu e as filas da procissão começaram a engrossar-se. Quando, afinal, ele colocou o pé na cidade santa, ele começou a chorar por causa da desolação em que estavam os cidadãos, dos quais muitos não existiam mais. Reentrado, enfim, em São Pedro, ele entoou o Te Deum, que foi respondido por um coro de anjos, cantando: 'Gloria in excelsis Deo, et pax in terris hominibus bonae voluntatis'.
Terminado o canto, cessou de fato toda escuridão e se manifestou um sol fulgidíssimo. As cidades, as aldeias, os campos tinham a população muito diminuída, a terra estava pisada como por um furacão, por um temporal e pelo granizo, e as pessoas iam umas para as outras dizendo com ânimo comovido: 'Há um Deus em Israel'.
Do começo do exílio até o canto do Te Deum, o sol se levantou duzentas vezes. Todo o tempo que transcorreu para se cumprirem estas coisas corresponde a quatrocentos levantar de sol."
 
Haveria ainda que analisar as visões que as três crianças - particularmente Lúcia - tiveram no dia 13 de outubro de 1917. Nesse dia é que se realizou o milagre prometido por Nossa Senhora para comprovar a autenticidade das aparições dela em Fátima.
No dia 13 de outubro de 1917, após rezarem o terço, estando presentes no local das aparições cerca de setenta mil pessoas, Lúcia gritou ao povo, após a despedida de Nossa Senhora: "Olhem para o sol." "Assim que Nossa Senhora desapareceu no esplendor que se irradiava das suas mãos abertas, apareceram no zênite três quadros sucessivos que simbolizavam os mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos do Rosário.
O primeiro era uma representação da Sagrada Família: Nossa Senhora vestida com a tradicional veste branca coberta com um manto azul, e, ao lado, São José com o Menino Jesus nos braços, que pareciam abençoar o mundo com um gesto de mão em forma de cruz.
Somente Lúcia contemplou a visão seguinte: 'Pouco depois, desvanecida essa aparição, vi Nosso Senhor e Nossa Senhora que me dava a idéia de ser Nossa Senhora das Dores'. Jesus Cristo parecia abençoar o mundo.
Por último, pareceu-lhe ver ainda Nossa Senhora 'em forma semelhante a Nossa Senhora do Carmo': a Virgem Maria Rainha dos céus e da terra, Refúgio dos pecadores, Consoladora dos aflitos, Medianeira de todas as graças.
A multidão nada viu de tudo isso; pelo menos não se confirmou o boato de que alguns haviam visto a Senhora. O que todos presenciaram, porém, foi um fenômeno inaudito, quase apocalíptico.
O sol brilhava no zênite como se fosse um imenso disco de prata. Brilhava com a intensidade normal, e no entanto podia ser fitado sem que ofuscasse. Isso durou apenas um instante. Enquanto todos olhavam assombrados, a imensa bola começou a 'dançar'; esta foi a palavra com que todos os observadores a descreveram. Primeiro, viram-na girar rapidamente, como uma gigantesca roda de fogo. Depois de um certo tempo, parou. A seguir, voltou a girar sobre si mesma, vertiginosamente, numa velocidade incrível. Finalmente, os bordos tornaram-se escarlates e espalharam-se pelo firmamento espargindo chamas vermelhas de fogo, como um redemoinho infernal.
Essa luz foi-se refletindo na terra, nas árvores, nos arbustos, nas próprias faces voltadas para cima e nas vestes, tomando tonalidades brilhantes e cores diferentes: verde, vermelho, laranja, azul, violeta, as cores todas do espectro solar. Girando loucamente sob essa aparência, por três vezes, o globo de fogo pareceu agitar-se, estremecer, e depois precipitar-se em ziguezague sobre a multidão. (...) Isso durou talvez uns dez minutos. Logo depois, viram todos o sol começar a elevar-se da mesma maneira, em ziguezague, até o ponto onde havia aparecido antes. Ficou então tranqüilo e brilhante. Ninguém mais pôde lhe suportar o fulgor. Era novamente o sol de todos os dias." (Apud W. Thomas Walsh, Nossa Senhora de Fátima, Quadrante, São Paulo, 1996, pp. 165-166).
Que significa este milagre do sol?
O sol, que ilumina e permite que haja vida na terra, sempre foi tido como símbolo da Igreja Católica, fonte da Verdade revelada e da Vida sobrenatural das almas. O sol começar a girar sobre si mesmo, saindo de sua ordem natural, simboliza uma crise na Igreja, que a fez girar sobre si mesma, deixando de seguir seu curso normal. Pior ainda se deu depois: o sol começou a cair em ziguezague, em direção à terra.
Que mistério indica essa queda do sol? Se o sol representa a Igreja - e disto não há dúvida - sua queda em direção à terra simboliza que a Igreja teria uma crise tal que se diria ela estivesse caindo. E caindo em direção à terra, isto é, ao que é terreno, ao que é humano. Ora, no Concílio Vaticano II se diria que a Igreja enlouqueceu, tantas as barbaridades que nele foram propostas, e, depois do Concílio, ela começou a cair e a cair em ziguezague, porque ora ia para a esquerda - com a Ost Politik e a Teologia da Libertação, e ainda com a "Populorum Progressio", a Declaração de Medellin e outros documentos do mesmo jaez, subservientes ao racionalismo marxista - ora ia em direção contrária, com o Documento de Puebla e a propulsão dada ao carismatismo e ao misticismo irracional.
Curioso que o sol pareceu agitar-se, estremecer, e cair três vezes. Por que três vezes? Seria uma referência aos três Papas principais seguidores do Vaticano II: João XXIII, Paulo VI e João Paulo II? (João Paulo I reinou tão pouco que não teve tempo de fazer o sol da Igreja estremecer e cair). Talvez... Parece bem plausível. Curioso que o sol não retornou a seu lugar no alto do céu subindo diretamente. Também seu retorno foi ziguezagueante, hesitante, "cambaleante". Não retornou em linha reta, indicando que a Igreja retornaria à situação anterior à queda em meio a hesitações. A volta à posição normal de Roma será tão longa e tão ziguezagueante como a saída da posição normal e natural. Os Papas que determinarem a volta a Roma não o farão de uma só vez.
Todo este milagre do sol parece, então, confirmar os símbolos dos sonhos de Dom Bosco e da visão do terceiro segredo. Curioso também é que só a Irmã Lúcia teve as três visões dos mistérios do Rosário. Francisco e Jacinta viram, com Lúcia, a Sagrada Família abençoando o mundo, porque os três assistiram à graça dada ao mundo em Fátima. Mas só a Lúcia ficou viva para assistir à Via Crucis da Igreja, representada por Cristo carregando a cruz às costas e por Nossa Senhora das Dores. Só ela também viu Nossa Senhora triunfante. Estará ela viva ainda para assistir ao triunfo de Nossa Senhora? E por que Nossa Senhora triunfa com o hábito do Carmo? Que é que esse triunfo tem a ver com o Carmo?
Os dois sonhos apresentam uma mesma estrutura: os dois mostram que a Igreja - ou o Papa - se afastam de um lugar seguro - e santo - para colocar-se numa situação de perigo, longe da Hóstia e de Nossa Senhora, longe de Roma. O que significa um misterioso afastamento da Fé, da devoção eucarística, portanto, da Missa, e da devoção a Nossa Senhora.
Ora, o milagre do sol em Fátima, em 1917, tem o mesmo esquema: o sol que cai e retorna a seu lugar de sempre. Depois de peripécias, o navio da Igreja e a procissão do Papa retornam ao ponto seguro, de onde não deveriam ter se afastado. O sol volta a seu lugar normal, e volta a brilhar com um tal fulgor que não podia ser fixado. Parece evidente que afastar-se o navio da Igreja das colunas, onde estava preso e seguro, foi um erro. Quem se afasta da Hóstia e de Nossa Senhora só pode encontrar perigos e tentações. Do mesmo modo, a procissão que sai do Vaticano e caminha duzentos dias, até que o Papa, e cada um, se dão conta de que não estão em Roma, indica o mesmo erro. O sol caiu em direção à terra, ao humano. E que significa aí sair de Roma? Será sair fisicamente de Roma ou sair espiritualmente? Que significa que o sol caiu?
Evidentemente, este sair não foi físico - como a queda do sol foi apenas simbólica - porque, se fosse um sair fisicamente de Roma, como o Papa e os que o seguiam só perceberam que estavam fora da cidade santa depois de 200 dias de caminhada? Sair de Roma significa afastar-se do que ensina a Fé, assim como fazer o navio da Igreja afastar-se da coluna da Eucaristia, isto é, da Missa, e de Nossa Senhora, significa abandonar os dois pontos fundamentais de nossa religião. Como o cair do sol simboliza uma queda sofrida pela Igreja em sua parte humana.
Esta visão da procissão que sai de Roma tem pormenores muito curiosos que a aproximam sobremaneira da visão do terceiro segredo, na qual os Cardeais Sodano e Ratzinger identificaram a "Via Crucis dos Papas no século XX". Ora, a Via Crucis é uma espécie de procissão... Só que, pelo sonho de Dom Bosco, essa Via Crucis marchou para um exílio de Roma. Alguém orientou mal a Via Crucis, como alguém fez mal em soltar a nau da Igreja das colunas da Eucaristia e da devoção a Nossa Senhora. Quem cometeu essa culpa atraiu para a Igreja e para o mundo um grande castigo de que fala a visão do terceiro segredo. E tal castigo ainda não aconteceu.
No auge da crise, haverá uma intervenção sobrenatural que fará um Papa tomar o caminho de volta para Roma - para as duas colunas de salvação: a Missa e a devoção a Nossa Senhora. O Papa que iniciará esse retorno parece fazê-lo de modo vacilante. Ele cambaleia, hesita, chora, vendo os estragos causados por aqueles que deram uma orientação errada ao caminho da procissão e da nau. Não fica claro se o Papa que começa a retornar é o mesmo que, afinal, prende a nau da Igreja solidamente às duas colunas, se ele é o mesmo Papa que entoa o Te Deum de triunfo. Provavelmente são vários os Papas que são indicados nas visões de Dom Bosco, e mesmo na visão do terceiro segredo de Fátima. Que essa causa ocorreu no século XX, parece óbvio, pelo que dizem as mensagens de Fátima.
Ora, mesmo muitos daqueles que defendem o Concílio Vaticano II concordam que ele abriu uma crise sem precedente na História da Igreja. Paulo VI, como vimos, falou da fumaça de Satã que entrou no templo de Deus. E ele mesmo disse que aguardava depois do Concílio "um dia de sol para a Igreja", e em vez disso veio uma noite de tempestade. São quase as mesmas palavras dos sonhos de Dom Bosco, com o mesmo significado. Que o Concílio provocou uma rarefação das pessoas que seguem a "procissão do Papa" parece indubitável. Basta verificar as estatísticas das apostasias e da diminuição da assistência à Missa dominical para constatá-lo.
Concluindo, vemos que os dois sonhos de Dom Bosco e a visão do terceiro segredo de Fátima fazem referência a um movimento, a um deslocamento do Papa, que deveria ser sempre estável como a pedra. Essa mudança de posição de um Papa foi a causa de todos os sofrimentos que a Igreja e o mundo tiveram e terão que suportar. E o Vaticano II foi uma mudança. E uma mudança tal que pôs tudo em movimento. O sol começou a "dançar" e a rodar sobre si mesmo, como se tivesse enlouquecido...
 
O documento publicado pela Congregação para a Doutrina da Fé, assinado pelo Cardeal Ratzinger, faz questão de deixar bem claro que o famoso e desconhecido terceiro "segredo" de Fátima é autêntico e completo. Disso, Ratzinger procura dar várias provas, das quais a mais importante é a cópia fotostática das páginas em que Irmã Lúcia escreveu o segredo em 3 de janeiro de 1944, em Tuy.
Infelizmente, porém - o que é pena - falta o mais essencial: a foto da página final com a assinatura de Irmã Lúcia. O documento publicado - muito estranhamente - não contém a assinatura da vidente. E esta era a garantia mais fundamental e absolutamente necessária.
Por que falta a assinatura de Irmã Lúcia? Haveria ainda uma página final com a assinatura dela? Por que, no documento publicado, não há nenhum selo, registro, ou garantia de seu arquivamento, no Vaticano?
O documento se encerra após a narração da visão, quando se esperava a explicação dela por Nossa Senhora, com uma data: Tuy, 3-1-1944. Num fim de página. Apertadamente. E sem assinatura! E isto é sobremaneira estranho.
Essa falta inexplicável e inexplicada da assinatura da vidente viva se torna ainda mais intrigante pelo fato de que a data da redação aparece num fim de linha, e num fim de página, como que enfiada de modo estranho. Pareceria que Irmã Lúcia quis aproveitar o fim da página, escrevendo duas linhas na margem inferior da página, e, por fim, enfiando a data da redação, sem deixar espaço para a assinatura.
A estranheza cresce ainda mais devido à extrema preocupação do Vaticano em dar garantias de que o texto publicado é o original. E é o texto integral. Alguém havia suspeitado de que seria possível uma deturpação ou a exclusão de alguma parte mais comprometedora?... Há sempre, no mundo, pessoas que desconfiam de tudo. Por exemplo, na Itália, um caricaturista, devido à demora em sair o documento anunciado para o começo de junho de 2000, fez uma caricatura, na qual alguém perguntava ao Papa: "Então, afinal, quando sai o terceiro segredo de Fátima?" Ao que João Paulo II respondia: "Logo que secar o pincel do 'branquinho'..." (Corriere della Sera). O que foi um tanto irreverente.
Para eliminar qualquer suspeita de fraude, o documento publicado pelo Vaticano sobre o terceiro "segredo" cita a palavra de Irmã Lúcia, confirmando que reconhece a carta do "segredo" como sendo a sua carta, e com a "sua letra": "Então, o senhor D. Tarcísio Bertone apresenta-lhe dois envelopes: um exterior que tinha dentro outro com a carta onde estava a terceira parte do 'segredo' de Fátima. Tocando esta segunda com os dedos, logo exclamou: 'É a minha carta', e depois de a ler acrescentou: 'É a minha letra'."
O Vaticano, para que não houvesse dúvida alguma sobre a autenticidade de sua interpretação e do documento publicado, chega a dar até a cor do envelope em que foi guardado o segredo, na ocasião em que ele foi entregue a João Paulo II: "...dois envelopes: um branco, com o texto original da Irmã Lúcia em língua portuguesa; outro cor de laranja, com a tradução do 'segredo' em língua italiana." Para que tantos cuidados, se no final do documento faltou a assinatura da vidente?
Ademais, segundo o documento de Ratzinger, o terceiro "segredo" viria depois das frases: "Por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre me consagrará a Rússia que se converterá, e será dado ao mundo algum tempo de paz. Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé etc." E por que esse misterioso "etc"? Seria o "etc" o terceiro segredo? Ora, o texto do terceiro "segredo" - tal qual foi publicado - não se harmoniza com estas frases que deveriam imediatamente precedê-lo.
Também não fica muito clara a relação lógica - ou teológica - da visão das mortes narradas no "segredo" com as frases: "Será dado ao mundo algum tempo de paz" e "Por fim meu Imaculado Coração triunfará". Essas frases pressupõem uma enorme derrota anterior. Dessa derrota nada se diz.
Por que, depois de anunciar um triunfo, se mostra uma visão de uma cidade meio em ruínas, um Papa assassinado a tiros e setas, seguido de um massacre de Bispos, religiosos e leigos? Como houve um triunfo antes de uma massacre como esse? Como pode haver tal massacre depois de um triunfo e concedida a paz? Paz com massacre? Qual a causa de tantos males, depois do triunfo do Imaculado Coração ter trazido paz ao mundo e à Igreja? Como haverá um massacre depois da consagração da Rússia? Isso não é lógico. Há alguma confusão nesses textos ou nessas versões. Ou a ordem das frases foi trocada, ou falta algo. Por que o massacre? Não fica clara a relação da visão, tal qual foi publicada, com a afirmação de que "em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé, etc." Então o dogma da Fé não se manteria em outros países? Por que o "segredo" - revelado agora - nada diz da perda da Fé em lugar algum?
Convém lembrar que a pequena Jacinta teve um visão na qual via um Papa rezando num palácio, que estava sendo atacado por uma multidão, que atirava pedras no Papa rezando.
Ela disse ainda: "Não vês tantas estradas, tantos caminhos e campos cheios de gente morta a escorrer sangue? Tanta gente a chorar com fome, e não tem nada para comer?! E o Santo Padre a rezar?! E tanta gente a rezar com ele?!" "Posso dizer que vi o Santo Padre e toda aquela gente?" "Não. Não vês que isso faz parte do segredo?! Que por aí logo se descobria?!" (Pe. Antonio Maria Martins, S. J., Novos Documentos de Fátima, Ed. Loyola, São Paulo, sem data, p. 271). Essa frase é confirmada pelo livro de Walsh sobre Fátima: "Não - respondeu Lúcia - Não vês que isso faz parte do segredo?" (William Thomas Walsh, Nossa Senhora de Fátima, Quadrante, São Paulo, 1996, p. 110. O negrito é nosso).
Portanto, havia um Papa que ia ser apedrejado, e isso fazia parte do segredo. E isso não aparece na versão agora publicada pelo Vaticano. Por quê? E isso também ainda não aconteceu! E será que o Papa que reza e é apedrejado é o mesmo Papa que caminha trêmulo e vacilante entre mortos e feridos numa cidade semi-arruinada? Parece que não, pois quem reza, chora, mas não treme nem vacila. Parece, pois, que são dois Papas distintos: um que reza e é odiado, e outro que treme e vacila.
Repetimos: como é que na versão publicada agora, nada do que viu a Jacinta - e que Irmã Lúcia disse que fazia parte do segredo - aparece?
Teria faltado um pedaço do segredo na versão agora finalmente publicada pelo Vaticano? E ainda que a visão de Jacinta fosse um outro símbolo da mesma visão do terceiro segredo, por que ela foi cortada? Se este detalhe não fazia parte da visão, como é que a Lúcia diz que fazia parte do segredo? E por que, e como, contando esse detalhe, "por aí logo se descobria" o segredo? E como é que, agora, mesmo conhecendo o que o Vaticano diz ser a íntegra do "segredo", nada se descobre, nem se vê claramente como "por aí" - pelo que viu a Jacinta - se descobre absolutamente o segredo?
Hoje, conhecemos o "segredo". Só que ele - diz Ratzinger - é um enigma indecifrável, e, para o Cardeal, "o véu do futuro não foi rasgado". Teria sido, então, inútil a revelação de Fátima? Não pode ser. Daí nossa perplexidade.
Por tudo isso, fica-se a indagar se não faltou alguma página final do terceiro segredo, possivelmente contendo outros dados, e a explicação de Nossa Senhora sobre a visão tão misteriosa. Pois, se Nossa Senhora explicou aos videntes até o óbvio significado da visão do inferno, por que deixaria sem explicação a última tão estranha visão?
 
Depois de uma introdução em que o Cardeal Ratzinger afirma que o terceiro "segredo" não revelou o futuro - "o véu do futuro não foi rasgado", diz o Cardeal - ele faz uma longa dissertação sobre revelação pública e revelação privada. E, no final, mostra que "...tais visões, que, na sua maioria, só podem ser decifradas a posteriori". Ora, segundo as autoridades vaticanas, os fatos preditos em Fátima já ocorreram, e, por isso, se torna possível a publicação do "segredo". E comenta o mesmo Cardeal Ratzinger: "Em primeiro lugar devemos supor, como afirma o Cardeal Sodano, que os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do "segredo" de Fátima [as aspas agora são do Cardeal Sodano] parecem pertencer ao passado" (O negrito é nosso).
Já o Cardeal Ratzinger afirma aparentemente com mais segurança e certeza que "Os diversos acontecimentos, na medida em que lá são representados, pertencem já ao passado". Portanto, a profecia teria ficado facilmente compreensível. Apesar disto, declara Ratzinger que ela tem "uma linguagem simbólica de difícil decifração". E Ratzinger fez então uma "tentativa de interpretação" histórica do "segredo" de Fátima, particularmente no caso da morte a "tiros e setas" de um Papa, que se pretende identificar com o misterioso "Bispo vestido de branco". E essa tentativa de interpretação feita por Ratzinger - com o devido respeito a sua autoridade e à sua pessoa - nos parece particularmente absurda.
Resumamos o que foi dito.
Disseram o Cardeal Sodano e o Cardeal Ratzinger que o Papa que morre a tiros e setas, segundo o texto do terceiro "segredo", é João Paulo II, por ter escapado do atentado de Agca. Mas João Paulo II continua vivo!!! Como poderia ser ele, então, por ter escapado vivo do atentado de Agca, o Bispo vestido de branco, que morre a tiros e a setas na visão das crianças de Fátima??? Pois isto é que é o mais incrível: se pretende afirmar que o "Bispo vestido de branco" seria o mesmo Papa que morre, na visão dos pastores, e este Papa seria João Paulo II, que se mantém vivo! E Ratzinger e Sodano afirmam que isto já aconteceu!? E, segundo eles, a cena da visão do terceiro segredo seria o atentado de Agca na Praça de São Pedro! Parece que se está delirando! E esta "tentativa de interpretação" do Cardeal Ratzinger foi feita para confirmar o que julgou o próprio João Paulo II, que se considerou - não se sabe por que, nem como - o Papa que é morto na visão publicada, e isso por ter escapado vivo do atentado a tiros na Praça de São Pedro!!! (???)
E mais um outro absurdo: procura-se dar a entender que a própria Irmã Lúcia teria concordado com essa interpretação estapafúrdia. É o que insinua o texto de Monsenhor Tarcísio Bertone, quando narra sua entrevista com a Irmã Lúcia: "Quanto à passagem relativa ao Bispo vestido de branco, isto é, ao Santo Padre - como logo perceberam os pastorinhos durante a 'visão' - que é ferido de morte e cai por terra, a Irmã Lúcia concorda plenamente com a afirmação do Papa: 'Foi uma mão materna que guiou a trajetória da bala, e o Santo Padre agonizante deteve-se no limiar da morte'." (João Paulo II, Meditação com os Bispos italianos, a partir da Policlínica Gemelli, 13 de maio de 1994. O negrito é nosso).
Ora, com essas palavras a Irmã Lúcia não "concordou plenamente" com a interpretação de que o Bispo vestido de branco que morre a tiros e setas é João Paulo II. Ela concordou plenamente só com a afirmação de que a trajetória da bala de Agca foi guiada por mão materna. E, em que pesem a autoridade do Papa e desses Cardeais, a Irmã Lúcia não podia concordar com a interpretação que o Vaticano deu da morte do Papa na visão, visto que nada havia na visão que pudesse se aplicar ao caso Agca-João Paulo II.
Senão, vejamos:
1. No "segredo", o "Bispo vestido de branco" morre. No atentado de Agca, João Paulo II não morreu. João Paulo II continua vivo. Como então se pode aplicar a profecia da morte do "Bispo vestido de branco" a ele?
2. No "segredo" várias pessoas são mortas junto com o Papa. No atentado da Praça de São Pedro, ninguém mais morreu, e nem sequer foi ferido.
3. No "segredo", o misterioso Bispo "vestido de branco" é morto por soldados a tiros e setas. No atentado de Agca, não houve soldado nenhum atirando no Papa, e nem se usaram setas.
4. No "segredo", tal qual foi publicado, se diz que o Papa morre numa cidade em ruínas. Ora, o atentado de Agca foi numa cidade rica, cujas únicas ruínas são as do Fórum Romano, e as morais. Que são imensas. Que são imensas...
Ratzinger nos responderia dizendo que o terceiro "segredo" de Fátima era condicional. Os fatos que nele se anunciam estavam condicionados à conversão ou não dos homens. Que, por isso, eles não devem ser tidos como fatos destinados a ocorrer. E que, portanto, se João Paulo II não morreu, mas apenas foi gravemente ferido graças à proteção da Virgem Maria, é porque os homens já se emendaram...
Pena que ninguém tenha notado ainda essa conversão... Ó cegueira da humanidade, que nem percebe que a humanidade se converteu! Como ninguém vê que a virtude reina no mundo, e que o "Imaculado Coração de Maria triunfou"? (Exceto em certas pessoas originárias de "ambiente cultural anglo-saxônico, ou germânico", que, lembra Ratzinger, têm certa dificuldade para entender que essa devoção é o grande meio de salvação para os homens de nosso tempo).
Evidentemente, cegueira é ver o mundo atual convertido. Visão estranhamente contorcida é ver no Papa João Paulo II - que está vivo - o Papa que é morto a tiros e setas no "segredo" de Fátima. Portanto, a interpretação da profecia do terceiro "segredo" de Fátima feita pelo Papa e pelos Cardeais Sodano e Ratzinger, é espantosamente divergente e contrastante com o próprio texto publicado.
Evidentemente, não se titubeou em forçar uma interpretação que não se encaixa, de modo algum, nem mesmo com o "segredo" publicado. Por quê? Por que essa incrível "tentativa" de convencer a opinião pública com uma interpretação estapafúrdia do terceiro segredo, como se ninguém fosse capaz de pensar e de analisar?
E, se havia tanta certeza de que o "segredo" de Fátima previra o atentado de Agca, por que não o publicaram no dia seguinte ao atentado? Profecia ocorrida é de fácil interpretação... Por que esperaram 19 anos para descobrir que o "segredo" de Fátima falava de João Paulo II e do caso Agca? E por que guardaram esse "segredo" desde 1917? Que perigo havia em sua publicação? Por que os sete selos fechando um segredo já realizado? Tudo isso é incompreensível.
E quem seria o "Bispo vestido de branco"? Gente ligada à Teologia da Libertação diz que esse Bispo é Dom Romero, porque ele usava batina branca, embora ele não tenha sido morto a setas... Em contrapartida, lefebvrianos poderiam imaginar que Dom Lefebvre, que foi Bispo na África, usava lá batina branca, embora ele não tenha morrido nem a tiros, nem a setas. Mas essas interpretações estapafúrdias valem até um pouco mais que a de Ratzinger e Sodano, pois João Paulo II nem morreu.
É preciso notar que Ratzinger se esqueceu de identificar, entre os Papas do século XX - já que ele diz que tudo isso já aconteceu - qual é o Papa do século XX que tremeu e vacilou.
Fala-se de males, não se trata de sua causa. Por tudo isso, parece que falta algo no "segredo" publicado... Que continua então segredo. Sem aspas.
Uma outra hipótese é que a visão agora publicada se insere antes do anúncio do triunfo e da paz prometida após a consagração da Rússia. A qual, aliás, não foi feita nos termos em que Nossa Senhora pediu: pelo Papa junto com todos os Bispos do mundo, consagrando a Rússia e não o mundo. Nisto também o texto do Vaticano foge da realidade, ao querer convencer que a consagração do mundo já inclui a Rússia. Não foi assim que Nossa Senhora pediu. Não adianta o Papa consagrar a Via Láctea, porque nela está incluída a Terra e a Rússia. A Mãe de Deus pediu para consagrar a Rússia, nominalmente. Por que custa tanto fazer o que Ela pediu, como Ela o pediu? Que razões teológicas - e políticas - impedem fazer o que Ela pediu, como Ela o pediu?
O Cardeal Sodano havia falado de uma "Via Crucis dos Papas no século XX", e Ratzinger confirma essa expressão. Ora, o texto publicado não fala de Via Crucis nenhuma. De onde tiraram eles a idéia de uma Via Crucis? O "segredo" fala apenas de um "Bispo vestido de branco", e depois de um Papa que é morto, assim como de "Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e posições", e que depois são mortos. Na Praça de São Pedro, nada disso aconteceu.
Sodano e Ratzinger falam em Via Crucis dos Papas no século XX, "século dos mártires". Ora, onde há mártires, há carrascos. Onde há santos mortos pela Fé, há Neros. Então, o século XX deveria ser chamado por eles de o século dos novos Neros. E estes não são difíceis de serem conhecidos: Hitler, Lenin, Mussolini, Stalin, Mao, Ho Chi Minh, etc. E no "etc" está Fidel Castro! Está o Nero do Caribe: Fidel, o querido amigo de Dom Arns e de Frei Betto. Com qual deles não se buscou um acordo? Com qual deles os dirigentes da política vaticana não propugnaram "una piccola, o pure proprio, una grossa, ma anzi, qualche volta, una vergognosa, conciliazzione"?
Será que Sodano e Ratzinger se esqueceram da vergonhosa Ost Politik do Vaticano com o comunismo ateu? Será que eles não se lembram já do seu predecessor de vermelha e vergonhosa memória, o Cardeal Casarolli, protetor dos Cardeais Baggio e Silvestrini, que tanto poder têm no Vaticano até hoje? E dessa Ost Politik ninguém pediu perdão.
Ratzinger cita entre os Papas dessa Via Crucis do século XX até mesmo São Pio X. Ora, São Pio X é anterior aos fatos previstos em Fátima. Ele morreu em 1914. Se citam São Pio X por ser do século XX, por que excluir Leão XIII, que reinou até 1903? Será porque a política de Leão XIII foi oposta à de São Pio X? Mas então, por que citaram Bento XV, João XXIII, Paulo VI, e mesmo João Paulo II, cujas políticas foram em sentido diametralmente oposto à preconizada pelo Papa São Pio X? Que confusão nessa Via Crucis de Sodano e Ratzinger!
E que significa a "cidade em ruínas" de que fala o "segredo" de Sodano e Ratzinger? Que cidade é essa? Não seria ela a Cidade do Homem que Santo Agostinho exprobrou, e que a "ONU" - usemos também nós as muito convenientes aspas - quer construir? A Cidade do Homem que Paulo VI elogiou em seu discurso na ONU? Não será essa cidade em ruínas a civilização moderna que Pio IX, no Syllabus, condenou, dizendo que a Igreja jamais se poderia conciliar com ela? E não foi para essa cidade da civilização moderna que João XXIII abriu os braços, ao fazer o "aggiornamento" da Igreja, no Vaticano II? Ou seria a cidade semi em ruínas a própria Cidade de Deus, a Igreja Católica Apostólica Romana, tão arruinada, hoje, pela política de conciliação com o mundo moderno?
Não podemos deixar de comentar uma afirmação surpreendente num escrito de um Cardeal da Santa Igreja, principalmente, na pena de um Secretário da Congregação para a Defesa da Doutrina da Fé. E é esta: "Como caminho para se chegar a tal objetivo" - a conversão e salvação das almas - "é indicado de modo surpreendente para pessoas originárias do ambiente cultural anglo-saxônico e germânico - a devoção ao Imaculado Coração de Maria".
Quer dizer que para pessoas de origem cultural inglesa ou alemã - e Ratzinger é de origem cultural germânica - é surpreendente que se diga que o Imaculado Coração de Maria é o meio para converter e salvar o mundo? Mas quem são esses cuja origem "cultural" supera a devoção que todo católico tem que ter para com a Mãe de Deus? Ratzinger, o "Defensor da Fé", deveria ter dito "pessoas de mentalidade protestante", e não de origem cultural anglo-saxônica ou germânica... São perífrases como essa, na pena de um Cardeal, que arruinam a Cidade de Deus.
Concluindo.
A divulgação do "segredo" de Fátima aumentou o mistério. Não o elucidou. Fica então no ar um novo mistério. O que nos consola e nos dá esperança é que Nossa Senhora nos declarou: "Por fim, meu Imaculado Coração triunfará." O que nos consola e nos dá esperança é que a Verdade encarnada, Nosso Senhor Jesus Cristo, nos disse e nos garantiu que: "Não há nada de oculto que não venha a ser conhecido." (Mt X, 26) Até mesmo o terceiro segredo de Fátima. Sem aspas!

A visão contida no terceiro segredo de Fátima apresenta quatro quadros diferentes:
Quadro 1: o anjo e Nossa Senhoraa. O anjo segurando uma espada de fogo visando incendiar o mundo;
b. Intervenção misericordiosa de Nossa Senhora impedindo esse castigo;
c. O anjo grita três vezes "Penitência!"

Quadro 2: o Bispo vestido de branco
Quadro 3: os martíriosa. A cidade em ruínas e a montanha com a cruz;
b. A procissão que precede o Papa;
c. O Papa "meio trêmulo e vacilante";
d. O Papa sobe a montanha;
e. Os martírios do Papa e dos fiéis.

Quadro 4: os anjos que regam a terra com o sangue dos mártires.
***
Analisemos, agora, esses diversos quadros.
Evidentemente, como já dissemos, não pretendemos, senão, fazer uma hipótese de interpretação, e despretensiosa. Outros, mais doutos e mais capazes, a critiquem, desqualificando-a, ou a corrijam, ou ainda aproveitem o que nela possa haver de hipoteticamente correto. Não pretendemos dar a solução do enigma, mas apenas tentar ajudar a elucidá-lo.
 
Quadro 1: o anjo e Nossa Senhora
As crianças de Fátima viram, inicialmente, um anjo brandindo uma espada de fogo com sua mão esquerda, procurando incendiar o mundo. O que lembra muito as visões do Apocalipse... E o fato de segurar a espada na mão esquerda poderia indicar de onde vem o incêndio... "Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um anjo com uma espada de fogo em a mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que parecia iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contato do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro. O anjo, apontando com a mão direita para terra, com voz forte disse: 'Penitência, Penitência, Penitência!'"
Ora, esta visão, após a enunciação do castigo do segundo segredo, significa, evidentemente, que o segundo castigo (o da 2ª Guerra Mundial e a difusão dos erros da Rússia) não foi aproveitado convenientemente. Pelo contrário, ao invés de combater os erros da Rússia, se defendeu até um "socialismo cristão", buscou-se um acordo diplomático com a URSS - a famigerada Ost Politik do Vaticano - se elaborou uma Teologia de Libertação marxista, se apoiaram os movimentos terroristas e guerrilheiros marxistas. Na Igreja - como dissemos - o Vaticano II estabeleceu a Colegialidade democratizante, o ecumenismo, a adesão ao humanismo e ao mundo moderno, de que a Missa Nova de Paulo VI é o fruto e a expressão mais clara. A Igreja Conciliar se afastou da coluna da Hóstia e da devoção a Nossa Senhora. E o mundo não se emendou. Pelo contrário, moralmente piorou muitíssimo, merecendo um terceiro castigo que é anunciado pelo anjo com a espada de fogo, tentando incendiar o mundo. E os três gritos por penitência podem muito bem ser interpretados como correspondendo a esses três grandes pecados: a imoralidade crescente, os erros do Vaticano II, e a Nova Missa.
O fato de Nossa Senhora ter impedido inicialmente que o mundo seja incendiado não significa, de modo nenhum, que esse incêndio não se dará. A cidade semi-arruinada, vista no terceiro quadro, parece indicar o contrário: o mundo vai sofrer um grande incêndio, se não fizer a penitência clamada por três vezes pelo anjo. E isto tem algo de apocalíptico.
O Cardeal Ratzinger e demais autoridades do Vaticano raciocinam como se os fatos preditos tivessem todos se realizado. Ora, isso não só é muito discutível, como parece que o contrário é que é verdadeiro. Como o Cardeal Ratzinger pode dizer que a visão do terceiro segredo não anuncia nada de apocalíptico? É claro que isso não parece razoável. Nossa Senhora impediu o incêndio do mundo? Até agora, sim. Continuará impedindo? Sim, se fosse feita a penitência clamada pelo anjo. Essa penitência foi feita? Está sendo feita? Parece-nos que não, porque o mundo atual, o que ele não faz é penitência. Nem no clero se vê disposição para isso.
Por exemplo, seria natural que a publicação do terceiro segredo fosse acompanhada de um apelo do Papa a que o mundo agradecesse a Nossa Senhora por ter impedido o incêndio com que o anjo ameaçava o mundo inteiro. Nenhum ato de agradecimento foi anunciado ou pedido. Seria mais do que natural e lógico que o Papa pedisse aos Bispos de todo o mundo que promovessem atos penitencias, visando a conversão dos homens. Nada disso ocorreu. Aconteceu um Bispo defender a realização da Jornada do Gay Pride, em julho de 2000, em Roma... O mundo não agradeceu a Nossa Senhora. O mundo não fez penitência. O mundo aumentou os seus pecados e seus desafios a Deus. E a Igreja, agradeceu ela a Nossa Senhora o ter poupado o mundo de um grande castigo? E a Igreja, recomendou ela que se fizesse penitência para evitar o castigo? Nada disso ocorreu. Consideram-se os fatos preditos como já realizados e que tudo está bem. Sem agradecimentos e sem penitências... Seria de surpreender que o anjo, enfim, incendiasse o mundo? Ou a penitência será feita no futuro, a pedido de um Papa que, por causa disso, será apedrejado e fuzilado?
 
Quadro 2: o Bispo vestido de branco
Para melhor fazermos a análise deste quadro citemos, mais uma vez, o próprio texto da visão do terceiro segredo: "E vimos numa luz imensa que é Deus: "algo semelhante a como se vêem as pessoas num espelho quando lhe passam por diante" um Bispo vestido de branco "tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre".
Inicialmente é interessante notar que, nesse período, a frase principal é a que não está entre aspas. As duas frases explicativas - que colocamos em negrito - são colocadas entre aspas, como se tivessem sido copiadas de outro texto. Que outro texto seria esse? A frase principal diz apenas: "Vimos numa luz imensa que é Deus... um Bispo vestido de branco". O que viram as três crianças? Viram um Bispo. Acrescentam um pormenor: que o Bispo estava "vestido de branco". É só depois - quando? - que elas acrescentaram que tiveram o "pressentimento de que era o Santo Padre". Note-se que ter o pressentimento não é afirmar com certeza. A expressão deixa margem a dúvida.
Além disso, em 1917, pelo menos uma das três videntes de Fátima não entendia nem o que significava a expressão "Santo Padre": "Foram interrogar-nos dois Sacerdotes, que nos recomendaram que rezássemos pelo Santo Padre. A Jacinta perguntou quem era o Santo Padre, e os bons Sacerdotes explicaram-nos quem era e como precisava muito de orações." (Pe. Antônio Maria Martins, Novos Documentos de Fátima, ed. Loyola, São Paulo, sem data, p. 158-159).
É verdade que a Irmã Lúcia diz: "tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre" e, pouco depois, ela escreve: "O Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meio em ruínas". Mas esta é apenas uma interpretação dos videntes. Embora seja bem possível que a interpretação deles seja correta, não há garantia de que o "pressentimento" deles seja absolutamente certo. É evidente que tem muita autoridade, porque afinal foram eles que tiveram a visão. Apesar disto, a interpretação das crianças não é absolutamente decisiva nem certa.
Seria o "Bispo vestido de branco" um Papa mesmo? De fato, o Papa usa batina branca. Mas por que Nossa Senhora, que chamou Pio XI de Pio XI, o Papa de Papa, ou de Santo Padre, por que não elucidou os videntes a respeito de seu "pressentimento" de que o tal "Bispo vestido de branco" era o Papa mesmo, e que ele é também o Papa martirizado? É estranho...
Quando dizemos: "Um homem vestido de bombeiro entrou na casa", salientamos a veste, mas não afirmamos de modo claro que o homem é bombeiro de fato. Poderá ele ser ou não ser bombeiro de fato. Usando essa circunlocução, podemos querer insinuar que o homem não era propriamente bombeiro. Caso contrário diríamos simplesmente: um bombeiro entrou na casa. Não necessariamente o Bispo vestido de branco é o mesmo Santo Padre que galga a montanha escabrosa, e nem é necessariamente o mesmo Papa que atravessa a cidade meio em ruínas. É muito possível que seja o mesmo. Mas isto não é necessariamente certo, já que, nas visões, os fatos ocorridos em tempos variados podem aparecer como seqüentes ou concomitantes.
Teria Nossa Senhora aludido a um Papa no futuro? Ou a um antipapa futuro? Seria o "Bispo vestido de branco" um Papa, ou poderia ser um falso Papa, ou até um antipapa que ainda não apareceu, mas que poderá vir a aparecer? Na História da Igreja, houve já a tragédia de existirem antipapas. Num tempo em que vários tresloucados se afirmam Papas, e em que existem movimentos sedevacantistas que contestam audaciosamente o Papa atual, não é fora de propósito levantar a possibilidade de haver um antipapa, um Bispo vestido de branco que se pretenda Papa, sem o ser.
Há quem, como Cassandra anunciando desgraças, diga que no próximo e iminente Conclave poderá haver um cisma espantoso... Dele poderá sair - quem sabe? - um antipapa. E Deus nos livre dessa possível desgraça! Só nos faltava mais essa calamidade! E não se diga que lançamos uma hipótese estapafúrdia, porque já agora, mesmo antes do Conclave, existem - infelizmente - vários loucos dizendo-se Papas. Ainda recentemente apareceu um que se diz Pio XIII...
 
Quadro 3: a grande cidade meio em ruínas e a montanha com a cruz.
O terceiro quadro mostrou aos videntes uma montanha encimada por uma cruz tosca, e uma "grande cidade meio em ruínas" e "cheia de cadáveres", que o Papa pranteia.
Que podem significar essas duas imagens?
A montanha encimada pela cruz tosca parece ser mais fácil de interpretar: ela significa mais provavelmente a Igreja, o Calvário, e portanto a Missa, centro da Igreja e da Fé. (Também poderia a montanha significar Nossa Senhora, e a cruz a Missa...)
O curioso é que o Papa não se acha nela... Ele está longe da montanha e da cruz: está na "grande cidade meio em ruínas" e "cheia de cadáveres". E só depois é que, meio trêmulo e vacilante, o Papa sai da cidade e se dirige até a montanha da cruz...
Isto lembra os dois sonhos citados de Dom Bosco, nos quais o navio da Igreja está longe da coluna da Hóstia e da coluna de Nossa Senhora, assim como no sonho da procissão, o Papa sai de Roma, e depois volta para a cidade santa, caminhando sobre cadáveres. Tanto essa procissão como o navegar da nau da Igreja são paralelos ao que os Cardeais Sodano e Ratzinger chamaram de Via Crucis dos Papas no século XX, ao interpretarem a visão do terceiro segredo. Que é, então, que representa esta "grande cidade meio em ruínas" e "cheia de cadáveres"?
Como o Cardeal Ratzinger, numa entrevista, falando sobre o terceiro segredo de Fátima, fez alusão ao Apocalipse, temos também o direito de referir-nos a esse livro da Revelação. Ora, no Apocalipse se fala também de "uma grande cidade" em ruínas: "...vendo essa cidade queimada: 'Que cidade', dizem eles, 'igualou jamais esta grande cidade?' E eles cobriram a cabeça de pó, lançando gritos acompanhados de lágrimas e soluços, e dizendo: 'Ái! Ái! desta grande cidade, que enriqueceu com sua opulência todos os que tinham navios no mar; como se acha ela em ruínas neste momento?'" (Apoc. XVIII, 18-19) "E se encontrou nessa cidade o sangue dos profetas e dos santos, e de todos os que foram mortos sobre a terra." (Apoc. XVIII, 24).
Que cidade misteriosa é esta? Se ela fosse a Igreja, ou Roma, se deveria perguntar: como é que ela está meio arruinada? Que significam essas ruínas, e como contradizem elas a visão otimista que têm da Igreja hoje tantos eclesiásticos progressistas? Seriam essas ruínas a causa do castigo ameaçado pelo anjo da espada de fogo? Seriam o efeito do castigo? Quem causou essas ruínas? Quem foi culpado por elas? Não seria a queda do sol uma representação simbólica da queda dos Papas do Vaticano II em direção ao mundo moderno? E não é o mundo moderno uma cidade em ruínas?
Essa interpretação parece alcançar o centro do alvo. É bem provável, então, que esta "grande cidade meio em ruínas", "cheia de cadáveres" dos profetas e dos santos, é bem provável que ela represente a civilização moderna - a Cidade do Homem - com a qual o Syllabus declarou que o Sumo Pontífice jamais poderia se conciliar.
Veja-se o erro LXXX condenado pelo Syllabus de Pio IX: "O Romano Pontífice pode e deve reconciliar-se e transigir com o progresso, com o liberalismo e com a civilização moderna" (Denzinger, 1780). Ora, o Concílio Vaticano II levou exatamente a Igreja a se conciliar com o progresso, com o liberalismo e com a civilização moderna, através do famoso aggiornamento preconizado por João XXIII, Paulo VI e realizado por João Paulo II.
No discurso de encerramento do Vaticano II, não proclamou Paulo VI adesão da Igreja ao culto do Homem? E não foi sua ida à ONU - onde o Papa, vigário de Cristo e Príncipe da Paz, declarou que essa instituição absolutamente laica era o caminho único da paz - não foi isso uma "saída" do Vaticano para o mundo moderno? No Concílio Vaticano II, a Igreja saiu de Roma para ir até a Cidade do Homem. Não teria sido tudo isso a causa da ira de Deus, ameaçando o mundo com um incêndio apocalíptico e com martírios?
Vejamos, agora, aquilo que os Cardeais Sodano e Ratzinger chamaram de "A Via Crucis dos Papas do Século XX". Porque na visão do terceiro segredo se fala de fato de um cortejo ou procissão, que corresponde de modo claríssimo ao que Dom Bosco viu no sonho do triunfo da Virgem, onde ele descreve uma procissão que sai do Vaticano, e depois retorna; e no sonho das duas colunas no mar, onde descreve como a nau da Igreja se separou da Hóstia, isto é, da Missa, e de Nossa Senhora, e como custou retornar a elas.
É realmente impressionante o paralelismo entre o sonho da procissão que retorna a Roma e ao Vaticano, de Dom Bosco, e a visão do terceiro segredo de Fátima.
Uma diferença entre o sonho e a visão está no fato de que, no sonho de Dom Bosco, se conta com mais detalhe a saída do Papa de Roma, à frente da procissão de Bispos, Sacerdotes, religiosos, religiosas e pessoas do povo, enquanto que, na visão do terceiro segredo, se conta mais o retorno à montanha com a cruz, isto é, provavelmente o retorno a Roma. Mas, neste retorno, quem está à frente da procissão não é o Papa. Pelo contrário, o Papa é precedido pelos Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas, e por pessoas do povo.
Impressionante também é a coincidência da descrição do caminhar do Papa na "grande cidade" - Roma? A Cidade do Homem? - em meio aos cadáveres. No sonho do triunfo da Virgem se lê, inicialmente, ao sair a procissão de Roma: "Chegou-se a uma pequena praça coberta de mortos e de feridos, dos quais vários pediam conforto em altas vozes. As fileiras da procissão se tornaram bastante ralas." E, depois, ao voltar a Roma: "...o Pontífice se moveu e as filas da procissão começaram a engrossar-se. Quando, afinal, ele colocou o pé na cidade santa, ele começou a chorar por causa da desolação em que estavam os cidadãos, dos quais muitos não existiam mais." Na visão do terceiro segredo se lê: "...o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meio em ruínas, e meio trêmulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho".
Se tomarmos a descrição do Papa, neste trecho da visão, indubitavelmente há uma curiosa coincidência material com o atual estado de saúde do Papa João Paulo II. Dizer que se viu um Papa caminhando "meio trêmulo com andar vacilante" lembra evidentemente o caminhar do Papa João Paulo II hoje. Mas esta é apenas uma coincidência material. Se a identificação fosse real, o Papa João Paulo II teria que ser morto, em futuro próximo. Considerando, porém, sua idade avançada e sua doença, assim como o estado do mundo atual, não se vê como se daria um conflito tal que levasse ao assassinato de João Paulo II.
O Papa que será morto foi visto por Jacinta rezando e chorando num palácio, enquanto a multidão o apedrejava. E isto, disse Lúcia, fazia parte do terceiro segredo. Nada disso aconteceu até agora, e não se vê como poderia vir a acontecer. Parece, então, que isto se daria com um futuro Papa, que lideraria um "Retorno a Roma". Um retorno às duas colunas da Hóstia e de Nossa Senhora. Um retorno à Missa como era, e à devoção a Nossa Senhora. É claro que, se um dia um Papa decretar que se volte à Missa de São Pio V, que se retorne à situação anterior ao Vaticano II, pela condenação do que foi feito nesse Concílio meramente pastoral, evidentemente esse Papa será apedrejado no Vaticano, e possivelmente será morto.
O Papa sobe a montanha encimada pela cruz
Leiamos, de novo, o que diz o texto do terceiro segredo nesta parte. "...o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meio em ruínas, e meio trêmulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho."
Embora de modo trêmulo e vacilante, o Papa segue o mesmo caminho dos Bispos, Sacerdotes, religiosos, freiras e leigos até o alto da montanha. Ele mostra grande angústia, dor e pena pelos que jazem mortos na cidade meio arruinada. Que significam estes mortos? Morreram como mártires, ou morreram numa guerra, num "incêndio do mundo"? "Morreram" espiritualmente porque o sol caiu? A visão não deixa isto claro.
Se o Papa está indo para o alto da montanha da cruz, de onde vinha ele? Se saíra de Roma, qual a responsabilidade dele nas mortes das pessoas que ele encontra em seu caminho? Pelo sonho de Dom Bosco, quem saiu de Roma teve alguma culpa nisso, enquanto o Papa que retorna procura corrigir o erro cometido em desligar-se das duas colunas, e de ter feito a procissão sair de Roma, durante 200 dias.
Quem foi o responsável pela queda do sol?
Os martírios
"... chegando ao cimo do monte prostrado de joelhos aos pés da grande cruz [o Papa] foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros de armas de fogo e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás aos outros os Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas, e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e posições."
O martírio do Papa é realizado por um grupo de soldados, o que dá a entender que houve um poder estatal, dispondo de força militar, que ordenou a execução. Significaria isto que haveria uma nova guerra? Que Roma seria ocupada? Mas guerra de quem contra quem? Hoje, os Estados Unidos dispõem de tal supremacia militar que não se vê quem poderia guerrear contra quem. Nem quem poderia ocupar Roma. Haveria uma guerra mundial fruto da perda de controle nuclear, provocada por uma guerra local? A luta entre árabes e judeus parece ser a única capaz de ser deflagrada e provocar - por perda de controle - um dilúvio de fogo, incendiando o mundo. Que aconteceria depois, ninguém pode prever.
Descartada a hipótese de uma nova Guerra Mundial, poder-se-ia pensar em uma guerra civil na Itália? Tudo parece muito improvável. "O Senhor virá como um ladrão, na hora que menos esperardes..."
O modo em que o Papa é morto é muito estranho e misterioso: ele é morto por tiros e por setas. Que significam estas setas? Se os tiros de armas de fogo significam atos de violência material contra a Igreja, o Papa e os que lhe são fiéis, as setas significariam os ataques doutrinários e as heresias que levaram o sol a cair? Estas setas são bem enigmáticas, exatamente porque não podem ser entendidas literalmente...
A seqüência mostra um massacre. E um massacre em Roma que ainda não se deu.
Quem afirma - como o Cardeal Ratzinger - que o terceiro segredo nada tem de apocalíptico está querendo tapar o sol com a peneira. Parece evidente que haverá, no futuro, um terrível castigo sobre o Papa, sobre o clero e sobre o povo. E em Roma. Quando? Só Deus o sabe.
 
Quadro 4: os anjos regando a terra com o sangue dos mártires.
"Sob os dois braços da cruz estavam dois anjos cada um segurando um regador de cristal em a mão, neles recolhiam o sangue dos mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus. Tuy, 3-1-1944."
Este quadro final mostra que o sangue dos mártires será - como sempre - semente de cristãos. Os méritos dos que morreram pela Fé, junto com o Papa, serão utilizados por Deus para produzir uma nova seara de católicos verdadeiros. Após as cenas de sangue e dor, haverá um triunfo do Imaculado Coração de Maria. A nau da Igreja será fortemente atada às duas colunas, de onde jamais deveria ter saído. O Papa retornará a Roma, e a humanidade retornará à Fé que sempre foi professada. Haverá um triunfo do Imaculado Coração, e coincidentemente, no sonho de Dom Bosco, o estandarte dado ao Papa tem como dístico "Regina sine labe originale concepta". E será dado ao mundo algum tempo de paz...
Gloria in excelsis Deo.
Et in terra pax hominibus bonae voluntatis.


    Para citar este texto:
Fedeli, Orlando - "Fátima: um "segredo" contendo um enigma envolto em um mistério"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/index.php?secao=cadernos&subsecao=religiao&artigo=fatima3&lang=bra