domingo, 29 de dezembro de 2013

O caráter pagão das lutas de MMA


 As lutas de MMA são anti-éticas e anti-estéticas

Sensação deste nosso século XXI são as lutas de MMA, UFC ou simplesmente “vale-tudo”, como usualmente costumam se denominar tais espetáculos.  A popularidade destas lutas cresce na mesma medida em que os valores cristãos são cauterizados no mundo Ocidental.

Nesses espetáculos nada se vê a não ser brutalidade e selvageria gratuitas, diante de um público extasiado pelo derramamento de sangue.  É a típica diversão que foge aos limites do bom senso e da moral.  Diferente do boxe e das tradicionais competições de lutas marciais, em que há um comedimento ético, nestes eventos os oponentes não se limitam a se agredir, mas beiram a letalidade até o momento em que a um dos dois é declarada a vitória.

É inevitável uma comparação às antigas lutas de gladiadores por todos os ingredientes citados, quais sejam: a popularidade, a diversão, o sangue, as apostas, com a única diferença que nas lutas de gladiadores invariavelmente acabariam em morte.  Nas lutas de MMA há apenas seqüelas que não são exploradas pela mídia, ávida pelo lucro.  No Brasil, a Rede Globo busca popularizar esses espetáculos, obedecendo fielmente à cartilha pão e circo ditada pelos nossos governos de esquerda.  Sendo pão o bolsa-família e circo a alienação produzida nesses espetáculos inadequadamente chamados de “desportivos”.

A história não se repete tal como uma roda.  É o mundo cristão que vem se atolando cada vez mais na aceitação de hábitos pagãos. É um sintoma de decadência moral da sociedade, com a substituição dos prazeres espirituais por deleites eminentemente materiais.

As lutas de MMA não são simplesmente brutalidade e selvageria, como também são espetáculos de muito mau gosto.  Ao contrário do boxe e das lutas marciais tradicionais, como por exemplo Karatê, Taekwondo e Kung Fu, que reúnem inquestionável beleza plástica, nestas lutas de MMA deparamo-nos com um espetáculo enfadonho e muito feio de homens se agarrando na lona de modo interminável, à procura de um golpe fatal.  Que beleza existe nisso?  As lutas de MMA são, pois, além de anti-éticas, anti-estéticas.

Mas se há crescente aceitação popular do MMA numa sociedade cada vez mais descristianizada, o que impede de no futuro serem ressuscitadas as antigas lutas de gladiadores, de uma maneira mais modernizada?  Se os valores éticos são alienados, se o valor da vida humana é cada vez mais relativizado com abortos e a eutanásia, por exemplo, o que impede que criminosos condenados, digamos, ou até homens livres venham a tomar parte de combates fatais homem a homem como outrora aconteceu em Roma?

A popularidade das lutas de MMA é notável, como também os gladiadores eram ovacionados pelo público.  Segundo o Historiador Douglas Barraqui, “alguns historiadores comparam o fanatismo pelo futebol na atualidade ao fanatismo pela luta entre gladiadores em Roma”.  Se os valores espirituais são deixados de lado, a glória material é colocada em seu lugar, e valores como fama e o dinheiro são entronizados.  Numa sociedade materialista isso é tudo, ainda que para Deus não signifique rigorosamente nada.  Pelo contrário, fama e dinheiro são pedras de tropeço para o homem no caminho da glória celestial.

O cristianismo não condena a violência.  Ele condena o abuso da violência.  Abuso significa “mau uso”; deturpação.  É o que permeia as lutas de MMA, por ferirem as virtudes cardeais de um cristão, sendo uma diversão típica de pagãos.

Sobre as antigas lutas, diziam os cristãos primitivos:

Mas, se me dizem que tomam os espetáculos como um tipo de jogo, a modo de passatempo, eu afirmo que não são prudentes aquelas cidades que tomam em sério os jogos. Não, já não são jogos essa cruel ambição de glória, que chega ao extremo da morte, também não a cobiça de vaidades, nem esses irracionais luxos e gastos sem sentido”. Clemente de Alexandria (195 d.C.)

Tudo zelo na busca de glória e honra está morto em nós… Entre nós nunca se diz, vê ou escuta nada que tenha algo em comum com... as atrocidades da areia ou o exercício inútil do campo de luta livre. Por que se ofendem conosco se diferimos de vocês quanto a seus prazeres?” Tertuliano (197 d.C.)

Vocês (os cristãos) não assistem aos jogos desportivos. Não têm nenhum interesse nas diversões. Recusam os banquetes, e aborrecem os jogos sagrados… Desta maneira, se têm vocês sensatez ou Juizo algum, deixem de fixar-se nos céus e nos destinos e segredos do mundo.” Marco Minucio Félix, citando a um pagão antagonista (200 d.C.)

As lutas de gladiadores são preparadas para que o sangue alegre os desejos de olhos sem piedade…” Cipriano (250 d.C.)

Uma virtude cristã é a temperança.  Temperança significa equilíbrio.  É a moderação dos prazeres, da vontade e dos instintos. A temperança nos leva a usar os bens temporais na medida em que servem de meio para atingir os bens eternos. O prazer sensível não é mal, em si – o mal está na sua procura desordenada e desvinculada do nosso verdadeiro fim. Como consignado por Aristóteles na Ética a Nicômaco, “está na natureza dessas coisas [dos atos] o serem destruídas pela falta e pelo excesso” (L.II, 1104a 11), “a virtude deve ter o atributo de visar ao meio-termo” (L.II, 6, 1106b 15).

Assim, um cristão genuíno está munido de escrúpulos morais, e por isso deve abster-se de tais espetáculos, que são frutos da concupiscência típica do paganismo.  Esta, porém, é uma orientação pastoral de alguém que não consegue enxergar compatibilidade entre estas lutas e o cristianismo - assim como também na maior parte dos chamados "esportes radicais" - da mesma forma que nas obras da carne e nas obras do espírito. Fica a critério do cristão o julgamento e discernimento destas orientações.

Fonte:
http://roberto-cavalcanti.blogspot.com.br

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O Inferno

Monsenhor de Ségur
INDÍCE

Prólogo
Se Existe Inferno
Há inferno: tem sido esta a crença de todos os povos em todos os tempos
Há inferno: o inferno não foi nem podia ser inventado  
Há inferno: Deus revelou-nos a existência dele
Se é certo que existe inferno, como é que nunca ninguém voltou de lá
O dr Raymundo Diocres
O religioso de S. Antonino
A meretriz de Nápoles
O amigo do conde Orloff
A senhora do bracelete de ouro
A prostituta de Roma
Porque é que tanta gente se esforça em negar a existência do inferno
Embora os mortos ressuscitassem muitas vezes, o ímpio não acreditaria no inferno
O que é o Inferno
Das ideias falsas e supersticiosas acerca do inferno
O inferno consiste, em segundo lugar, na grande pena de condenação
O inferno consiste em segundo lugar, na pena horrível do fogo
O fogo do inferno é sobrenatural e incompreensível
O P. Bussy e o mancebo libertino
Os três filhos dum velhusurário
Meus filhos, evitai o inferno!
O fogo do inferno é um fogo corporal
O fogo do inferno, ainda que é corporal, atormenta as almas
O capitão ajudante-mór de Saint-Cyr
A mão queimada de Foligno
O fogo do inferno é tenebroso (visão de Santa Tereza)
De outras penas muito grandes, que acompanham o sombrio fogo do inferno
Da Eternidade das Penas do Inferno
A eternidade das penas do inferno é uma verdade de férevelada
O inferno é necessariamente eterno, atenta a natureza da eternidade
Segunda razão da eternidade das penas: a falta de graça
Terceira razão da eternidade das penas: a perversidade da vontade dos condenados
Se é verdade que Deus é injusto punindo com penas eternas, faltas de um momento
Se sucede o mesmo com os pecados de fragilidade
Quais são os que trilham o caminho do inferno
Se podemos estar certos de que se condenou alguém que vimos morrer mal
Conclusões práticas
Sair imediatamente e a todo o custo, do estado de pecado mortal       
Evitar cuidadosamente as ocasiões perigosas e as ilusões
Assegurar a sua salvação eterna com uma vida seriamente cristã

~ * ~

BREVE
DIRIGIDO POR
Sua Santidade o Papa Pio IX ao Autor
__________
PIO IX, PAPA
Amado Filho, Saúde e Benção Apostólica. 
Nós vos felicitamos de todo o coração por não deixardes de seguir fielmente e com tanto proveito a vossa vocação de arauto do Evangelho. As vossas publicações são bem depressa espalhadas entre o povo por meio de milhares de exemplares.
Se os vossos escritos são tão procurados, é porque agradam; e se não tivessem o dom de atrair os espíritos, de penetrar até ao íntimo dos corações e de produzir neles os seus bené­ficos efeitos, não poderiam agradar.
Aproveitai, pois, a graça que Deus vos con­cedeu, continuai a trabalhar com ardor e a cum­prir vosso ministério de evangelização.
Quanto a Nós, vos prometemos fia parte de Deus uma grandiosa proteção para poderdes tra­zer ao caminho da salvação um número de almas cada vez mais considerável, e granjeardes deste modo uma magnífica coroa de glória.
Nesta expectativa, recebei, como penhor da proteção divina e dos outros dons do Senhor, a Benção Apostólica, que vos concedemos, muito amado Filho, com todo o afeto do Nosso cora­ção, para vos testemunhar a Nossa paternal benevolência.
Dado em Roma, junto de S. Pedro, aos 2 de Março de 1876, trigésimo ano do Nosso Ponti­ficado.
Pio IXPapa

~ * ~



Era em 1837. Dois alferes, ainda moços, que, há pouco, tinham saído de Saint-Cyr, visitavam os monumentos e raridades de Pa­ris. Entraram na igreja da Assunção, junto das Tulherias, e estacaram a observar os qua­dros, as pinturas e todas as obras artísticas daquele belo edifício. Nem sequer pensa­vam em orar.
Um deles viu ao pé de um confessionário um padre, ainda novo, com sobrepeliz, que adorava o SS. Sacramento.
— Olha para este padre, disse ao seu camarada; sem dúvida es­pera por alguém.
— Talvez por ti, respondeu o outro rindo-se.
— Por mim? Para que?
— Quem sabe? Talvez para te confessar.
— Para me confessar?! Pois bem, apostas que sou ca­paz de lá ir?
— Tu, ires confessar-te?! Ora! E pôs-se a rir, sacudindo os ombros.
— Apos­tas? repetiu o novo oficial, com um modo zombeteiro e decidido. Apostemos um bom jantar, acompanhado de uma garrafa de vinho de Champagne.
— Aceito a aposta do jantar e do vinho. Desafio-te a ires confessar-te.
Dito isto, o outro dirigiu-se ao padre e falou-lhe ao ouvido; este levantou-se, entrou no confessionário, enquanto o fingido penitente lançava para o seu camarada um olhar de vencedor, e ajoelhava como para confessar-se.
«Tem graça!», murmurou o outro; e assentou-se, para ver em que viria aquilo a parar. Esperou cinco minutos, dez minutos, um quarto de hora. «O que é que ele faz?, perguntava a si mesmo, com uma curiosidade quase impaciente. O que poderá ele ter dito todo este tempo?»
Enfim, o confessionário abriu-se, o padre saiu com o semblante animado e grave, e, depois de ter sondado o jovem militar, entrou na sacristia. O oficial levantou-se também, vermelho como a crista de um galo, puxando pelo bigode com ar um pouco dissimulado, e deu sinal ao seu amigo que o seguisse, afim de saírem da igreja.
«Que é isso?, disse este. O que foi que te aconteceu? Sabes que te demoraste quase vinte minutos com o padre? Palavra de honra, julguei por um momento que ias confessar-te deveras. Com efeito, ganhaste bem o teu jantar. Queres que seja esta tarde?
—Não, respondeu o outro com mau humor; hoje não. Qualquer dia nos veremos. Tenho que fazer e preciso de me retirar de ti.»
Apertando a mão de seu companheiro, afas­tou-se precipitadamente, de má catadura.
O que se teria passado, entre o alferes e o confessor? Ei-lo: Apenas o padre abriu a portinha do confessionário, conheceu, pelas maneiras do jovem oficial, que este ia ali, não para confessar-se, mas para fazer zombaria. Tinha ele ousado dizer-lhe, concluin­do não sei que frase: «A religião! con­fissão! Eu zombo de tudo isso!»
O padre era homem atilado. «Perdão, meu caro senhor, disse interrompendo-o com brandura; vejo que o que fazeis não é a sério. Deixemos de parte a confissão e con­versemos alguns instantes. Gosto muito dos militares, e, segundo me parece, vós sois um jovem bom e amável. Dizei-me: qual é a vossa graduação?» O oficial começava a conhecer que tinha cometido uma sandice. Contente por achar um meio de sair deste estado, respondeu cortesmente:
«— Sou apenas alferes. Saí ainda há pouco de Saint-Cyr.
— Alferes? E ficareis muito tempo alferes?
—Eu sei lá. Dois anos, ou três anos, quatro anos talvez.
—E depois?
—Depois passarei a tenente.
— E depois?
— Depois serei capitão.
—Capitão? em que idade se pode ser capitão?
— Se tiver fortuna, respondeu o oficial sorrindo, posso ser capitão aos vinte e oito ou vinte e nove anos.
— E depois?
— Oh! depois é difícil. Fica-se muito tempo capitão. Depois passa-se a major, em seguida a tenente-coronel, e depois a coronel.
 Muito bem! Aí estais vós coronel aos quarenta ou quarenta e dois anos de idade. E depois?
— Depois serei general de brigada e depois general de divisão.
— E depois?
— Depois não resta senão o grau de marechal; mas as minhas aspirações não chegam a tanto.
— Embora; mas não chegareis a casar-vos?
— Talvez chegue, talvez; mas será só quando for oficial superior.
— Pois bem! Então sereis casado, oficial superior, general de brigada, general de divisão o talvez até marechal de França, quem sabe? E depois, senhor?, acrescentou o padre com autoridade.
— Depois? depois? replicou o oficial, quase confuso. Oh! crede; não sei o que sucederá depois.
— Vede como isto é singular, disse então o sacerdote com um acento cada vez mais grave. Sabeis o que se passará até então e não sabeis o que depois sucederá. Pois bem, eu o sei e vou dizê-lo. Depois, senhor, morrereis. Apenas morrerdes, aparecereis diante de Deus para serdes julgado. Se continuardes a viver como até agora, sereis condenado e ireis arder eternamente no inferno. Eis-aqui o que depois sucederá!»
O mancebo, aterrado e enfastiado deste remate, parecia querer esquivar-se. «Um instante mais, senhor, continuou o padre. Tenho ainda algumas palavras a dizer-vos. Sois honrado, não é verdade? Pois bem, eu também o sou. Viestes aqui zombar de mim; deveis por isso dar-me uma reparação. Peço-a, exijo-a em nome da honra. Será além disso muito simples. Haveis de me afiançar que, por espaço de oito dias, de noite, antes de vos deitardes, posto de joelhos, direis em voz alta: «Um dia hei de morrer, mas rio-me disso. Depois da minha morte serei julgado, mas rio-me disso. Depois do meu julgamento serei condenado, mas rio-mo disso. Ireis arder eternamente no inferno, mas rio-me disso.» Direis isto; mas dais-me a vossa palavra de honra de que não haveis de faltar, não é verdade?»
O alferes, cada vez mais enfadado, querendo a todo o custo sair daquele embaraço, prometeu tudo e em seguida o bom padre despediu-o com bondade, acrescentando: «Não preciso, meu caro amigo, dizer que vos perdoo de todo o meu coração. Se tiverdes necessidade de mim, aqui me achareis sempre no meu posto. Não vos esqueçais da palavra dada.» Depois separaram-se, como vimos.
O novo oficial jantou só. Via-se que estava vexado. À noite, antes de se deitar, hesitou um pouco; mas tinha dado sua palavra de honra; não faltou ao prometido, «Morrerei, serei julgado; irei talvez para o inferno...» Não teve animo de acrescentar: «rio-me disso.»
Assim decorreram alguns dias. Sua penitência lembrava-lhe continuamente e parecia zunir-lhe aos ouvidos. A sua índole, como a das noventa e novo centésimas partes dos mancebos, tinha mais de dissipado que de mau. O oitavo dia não passou sem que o oficial voltasse, então desacompanhado, à igreja da Assunção. Confessou-se com contrição sincera, e saiu do confessionário com o rosto banhado de lágrimas e a alegria no coração.
Segundo alguém me certificou, ele foi depois um digno e fervoroso cristão. Foi a meditação do inferno que, com a graça de Deus, operou aquela mudança. Ora, o fruto que ela produziu no espirito deste novo oficial, porque o não produzirá no vosso, caro leitor?
É preciso, pois, meditar no inferno enquanto é tempo.
Cumpre pensar no inferno. É uma questão pessoal a sua existência, e, confessai-o, é profundamente temível. Aquela questão é proposta a cada um de nós; e, bom ou mau grado nosso, necessita de uma solução positiva.
Vamos pois, se quiserdes, examinar, breve mas rigorosamente, duas coisas: 1ª. se existe inferno; 2ª. o que é o inferno. Apelo aqui unicamente para a vossa fé e probidade.

Fonte:
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Devoção das Três Ave-Marias











Dizia Jesus: "Que aproveita ao homem ganhar todo o mundo se vem a perder a sua alma?..." E essas palavras repetiu reiteradamente S. Inácio, recordando que, de todos os negócios, o mais importante é o negócio da salvação.

   Quereis salvar-vos?... Sede devotos da Virgem Maria, porque sem a Sua mediação junto de Jesus, ninguém se salva. Pedi-lhe o Seu amparo, rezando todos os dias as TRÊS AVE-MARIAS, cuja breve e simples devoção revelou a mesma Mãe de Deus a Santa Matilde e deu a conhecer Santa Gertrudes, mostrando que sempre que os cristãos rezam as TRÊS AVE-MARIAS em honra dos privilégios que recebeu da Santíssima Trindade (o poder que lhe outorgou Deus-Pai, a sabedoria que lhe comunicou Deus-Filho, e a misericórdia com que a enriqueceu Deus Espírito Santo), outras tantas vezes, o poder, a sabedoria e o amor desbordam do Seu Imaculado Coração e vão inundar as almas dos que, desta maneira, a honram e invocam, os quais terão a Sua proteção durante a vida e a Sua especial assistência na hora da morte.

   Por isso S. Afonso de Ligório recomendou com insistência a devoção das TRÊS AVE-MARIAS; S. Leonardo de Porto Maurício pregou com fervor esta devoção, dizendo: "Oh! que santa prática de piedade! - É este um meio mui eficaz para assegurar a vossa salvação." E, por sua vez, o venerável servo de Deus, Luiz Maria Baudoin escreveu: "Rezai cada dia as TRÊS AVE-MARIAS; se sois fiéis em pagar a Maria este tributo, prometo-vos o Paraíso."
PRÁTICA PELA MANHÃ E À NOITE
REZAR ASSIM:

1º Maria, minha Mãe, Livrai-me de morrer em pecado mortal! Pelo Poder que vos concedeu o Pai Eterno.

Ave-Maria cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.

2º Pela Sabedoria que vos concedeu o Filho.
Ave-Maria...

3º Pelo Amor que vos concedeu o Espírito Santo.
Ave-Maria...
(Indulgência parcial)

Propagai esta devoção, pois, "quem salva uma alma, tem a sua salva." (S. Agostinho)

Com licença eclesiástica. - Matrid, 11-2-957 - OFFO, S.L.

Fonte:
http://osegredodorosario.blogspot.com.br

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

"A Heresia Anti-litúrgica", por Dom Prosper Guéranger, OSB

Dom Guéranger



A Heresia Anti-litúrgica
Servo de Deus Dom Prosper Louis Paschal Guéranger, OSB
Abade de Solesmes
Extraído de sua obra “Institutions Liturgiques”
(Cap. XIV – Da heresia anti-litúrgica e da Reforma Protestante do séc. XVI,
considerada em sua relação com a liturgia)
1840

Tradução do francês, com consultas ao inglês,

Para se dar uma ideia dos estragos da seita anti-litúrgica, parece-nos necessário resumir a marcha dos pretensos reformadores do cristianismo ao longo de três séculos, e apresentar o conjunto de suas ações e de sua doutrina sobre a purificação do culto divino. Não há espetáculo mais instrutivo e mais apropriado para se fazer compreender as causas da rápida propagação do protestantismo. Certamente aí se verá a obra de uma sabedoria diabólica agindo e levando infalivelmente a vastos resultados.

I. A primeira característica da heresia anti-litúrgica é o ódio pela Tradição nas fórmulas do culto divino. Não se pode negar esta característica especial em todos os hereges, desde Vigilâncio até Calvino, e a razão é fácil de se explicar. Todo sectário, querendo introduzir uma nova doutrina, encontra-se inevitavelmente na presença da Liturgia, que é a tradição em seu mais alto poder, e não consegue encontrar repouso até ter feito calar esta voz, até estarem rasgadas as páginas que contêm a fé dos séculos passados. Com efeito, como se estabeleceram e se mantiveram em meio às massas o luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo? Tudo se consumou através da substituição dos livros e fórmulas antigos por livros e fórmulas novos. Nada mais incomodaria os novos doutores; poderiam pregar à vontade: a fé das gentes estava doravante sem defesas. Lutero cumpriu esta doutrina com uma sagacidade digna de nossos jansenistas, dado que no primeiro período de suas inovações, à época em que se via obrigado ainda a guardar uma parte das formas exteriores do culto latino, estabeleceu o seguinte regulamento para a Missa reformada:

Nós aprovamos e conservamos os intróitos dos domingos e das Festas de Jesus Cristo, a saber, da Páscoa, de Pentecostes e de Natal. Nós preferiríamos de bom grado os salmos inteiros de que são tirados estes intróitos, como se fazia outrora, mas queremos bem nos conformar ao uso presente. Nem mesmo culpamos aqueles que desejam reter os intróitos dos Apóstolos, da Virgem e dos outros Santos, desde que estes três intróitos sejam tirados dos Salmos ou de outras passagens da Escritura”.

Ele tinha grande ódio dos cânticos sacros compostos pela própria Igreja para expressão pública da fé. Neles ele sentia pesado o vigor da Tradição que ele desejava banir. Reconhecendo à Igreja o direito de unir sua voz, nas santas assembleias, aos oráculos das Escrituras, ele se exporia a ouvir milhões de bocas a anatematizar os seus novos dogmas. Portanto, ódio a tudo que, na Liturgia, não era exclusivamente extraído das Sagradas Escrituras.

II. Com efeito, é o segundo princípio da seita anti-litúrgica a substituição das fórmulas de estilo eclesiástico pelas leituras da Sagrada Escritura. Ela aí encontra duas vantagens: a primeira, a de fazer calar a voz da Tradição que ela sempre teme; em seguida, um meio de propagar e de apoiar os seus dogmas, pela via da negação ou da afirmação. Pela via da negação, passando em silêncio, através de escolhas astutas, os textos que exprimem a doutrina oposta aos erros que eles querem fazer prevalecer; pela via da afirmação, pondo à luz passagens cortadas que só apresentam um lado da verdade, escondendo o outro dos olhos dos mais simples. Sabe-se, desde muitos séculos, que a preferência dada, por todos os hereges, às Sagradas Escrituras sobre as definições eclesiásticas, não tem outra razão que a facilidade que eles têm de fazer dizer pela Palavra de Deus tudo o que quiserem, apresentando-a segundo o que lhes convém. (...) Quanto aos protestantes, eles quase reduziram a Liturgia inteira à leitura da Escritura, acompanhada de discursos nos quais ela é interpretada pela razão. Quanto à escolha e à determinação dos livros canônicos, acabaram por cair no capricho do reformador, que, como último recurso, decide não somente o sentido da palavra de Deus, mas se esta palavra é verdadeira ou não. Assim, Martinho Lutero conclui, em seu sistema panteísta, que a inutilidade das obras e a suficiência da fé são dogmas a serem estabelecidos e a partir daí declara que a Carta de São Tiago é uma carta de palha, e não uma carta canônica, somente pelo fato de aí se ensinar a necessidade das obras para a salvação. Em todos os tempos e sob todas as formas, funcionará sempre do mesmo jeito: nada de fórmulas eclesiásticas, somente a Escritura, mas interpretada, escolhida e apresentada por aquele ou por aqueles que sabem tirar proveito para a inovação. A armadilha é perigosa para os simples, e somente depois de um longo tempo é que se percebe o engano em que se caiu, e que a palavra de Deus, esta espada de dois gumes, como diz o Apóstolo, abriu grandes feridas, pois foi manuseada pelos filhos da perdição.

III. O terceiro princípio dos hereges acerca da reforma da Liturgia é, digamos, depois de ter expulsado as fórmulas eclesiásticas e proclamado a necessidade absoluta de se empregar apenas as palavras da Escritura no serviço divino, visto que a Escritura nem sempre se dobra, como eles gostariam, a todas as suas vontades, fabricar e introduzir fórmulas novas, cheias de perfídia, pelas quais as pessoas sejam mais solidamente ainda acorrentadas ao erro, e todo o edifício da ímpia reforma venha a se consolidar pelos séculos.

IV. Alguém poderá se admirar da contradição que a heresia apresenta em suas obras, quando vier a saber que o quarto princípio, ou, se assim se desejar, a quarta necessidade imposta aos sectários pela própria natureza de seu estado de revolta, é uma habitual contradição frente aos seus próprios princípios. Deverá ser assim, para a confusão deles, naquele grande dia, que cedo ou tarde vem, quando Deus revelar a nudez deles à vista dos povos que foram por eles seduzidos, e também porque não é da natureza do homem ser coerente, consistente. Somente a verdade pode sê-lo. Por isso, todos os sectários, sem exceção, começam por reivindicar as prerrogativas da antiguidade. Eles querem abstrair o cristianismo de tudo o que o erro e as paixões dos homens nele misturaram de falso ou de indigno de Deus; tudo o que querem é o que é primitivo, e pretendem fazer voltar ao berço a instituição cristã. Para isto, eles podam, cortam e arrancam; tudo cai sob os seus golpes, e quando alguém esperar ver reaparecer em sua pureza primeva o culto divino, encontrar-se-á coberto de fórmulas novas que mal datam de ontem e que são incontestavelmente humanas, posto que aqueles que as redigiram ainda vivem. Toda seita sofreu esta necessidade; vimos isto nos Monofisitas, nos Nestorianos; reencontramos a mesma coisa em todos os ramos do protestantismo. Sua afetação ao pregar a antiguidade é a medida usada para fazer sumir diante de si todo o passado, e assim se põem diante do povo seduzido e lhe juram que tudo está muito bem, que o aparato papista supérfluo foi-se embora, que o culto divino retornou à sua santidade primitiva. Observemos ainda uma coisa característica na mudança da Liturgia por parte dos hereges. É que, em sua sanha inovadora, eles não se contentam em retirar as fórmulas de estilo eclesiástico, que eles menosprezam sob o nome de palavra humana, mas estendem sua rejeição até mesmo às leituras e orações que a Igreja tomou emprestadas da Escritura. Mudam-nas, substituem-nas. Não querem mais rezar com a Igreja. Excomungam, por isso, a si mesmos, e temem assim a menor parcela da ortodoxia que ordenou a escolha daquelas passagens.

V. Sendo a reforma da Liturgia realizada pelos sectários com o mesmo objetivo que a reforma do dogma, de que é consequência, segue-se que, assim como os protestantes se separaram da unidade para crer menos, eles são levados a subtrair do culto todas as cerimônias e todas as fórmulas que exprimem mistérios. Tacharam de superstição e de idolatria tudo o que não lhes pareceu puramente racional, restringindo assim as expressões da fé e obstruindo, pela dúvida e até pela negação, todas as vias que se abrem para o mundo sobrenatural. Por isso, nada mais de sacramentos, a não ser o Batismo, à espera do Socinianismo que o deixaria ao arbítrio de seus adeptos; nada de sacramentais, bênçãos, imagens, relíquias de santos, procissões, peregrinações, etc. Nada também de altar, mas simplesmente uma mesa; nada de sacrifício, como em toda religião, mas simplesmente uma ceia; nada de igreja, mas só um templo, como nos Gregos e Romanos; nada mais de arquitetura religiosa, dado que aí não há mistérios; nada de pintura ou escultura cristãs, dado que aí não há uma religião sensível; enfim, nada de poesia, num culto que não foi fecundado nem pelo amor e nem pela fé.

VI. A supressão das coisas misteriosas na Liturgia protestante produziu infalivelmente a extinção total do espírito de oração que se chama de Unção no Catolicismo. Um coração revoltado não tem amor, e um coração sem amor no máximo poderá gerar expressões de respeito ou de temor, com aquele frio orgulho farisaico. Tal é a Liturgia protestante. Sente-se que aquele que a reza aplaude a si mesmo por não ser contado no número dos cristãos papistas, que trazem Deus até a sua baixeza pela familiaridade de seu linguajar vulgar.

VII. Tratando nobremente com Deus, a liturgia protestante não tem necessidade de intermediários criados. Ela creria faltar com o respeito devido ao Ser soberano ao invocar a intercessão da Santa Virgem, a proteção dos santos. Ela exclui toda esta idolatria papista que roga à criatura aquilo que se deve rogar a Deus somente. Ela remove do calendário todos os nomes dos homens que a Igreja temerariamente inscreveu ao lado do nome de Deus. Ela tem, sobretudo, um horror àqueles monges e outros personagens dos tempos passados que aí se vê figurar ao lado dos veneráveis nomes dos apóstolos que Jesus Cristo escolheu, e pelos quais foi fundada a Igreja primitiva, a única que foi pura na fé e livre de toda superstição no culto e de todo relaxamento na moral.

VIII. Tendo, a reforma litúrgica, como um de seus principais fins a abolição dos atos e fórmulas místicas, segue-se necessariamente que seus autores devam reivindicar o uso da língua vulgar no serviço divino. Por isso, este é um dos pontos mais importantes aos olhos dos sectários. O culto não é algo secreto, dizem; é preciso que o povo entenda o que canta. O ódio à língua latina é inato ao coração de todos os inimigos de Roma. Nela eles vêem o elo entre os católicos de todo o universo, o arsenal da ortodoxia contra todas as sutilezas do espírito das seitas, a arma mais poderosa do Papado. O espírito da revolta que os leva a confiar a oração universal ao idioma de cada povo, de cada província, de cada século, já deu seus frutos, e os reformados estão diariamente a perceber que os povos católicos, não obstante suas orações latinas, têm mais gosto e cumprem com mais zelo os deveres do culto que os povos protestantes. A cada hora do dia, o serviço divino tem lugar nas igrejas católicas; o fiel que aí participa deixa sua língua mãe na porta; com exceção das horas de pregação, ele só ouve os misteriosos acentos [do latim], que até cessam de ressoar no momento mais solene, no Cânon da Missa; e, contudo, este mistério o encanta de tal forma que não inveja a sorte do protestante, embora o ouvido deste último nunca escute um som sem perceber seu significado. Enquanto o Templo Reformado reúne, com grande dificuldade, uma vez por semana, os cristãos puristas, a Igreja Papista vê incessantemente os seus numerosos altares cercados pelos seus filhos religiosos. Cada dia eles deixam seus trabalhos para ouvir as palavras misteriosas que devem ser de Deus, pois elas alimentam a fé e aliviam as dores. Admitamos: é um golpe de mestre do protestantismo o ter declarado guerra à língua sagrada; se conseguir êxito em a destruir, seu triunfo já estará bem avançado. Entregue aos gostos profanos, como uma virgem desonrada, a Liturgia, a partir deste momento, perdeu seu caráter sagrado, e o povo logo achará que não vale a pena deixar os trabalhos ou os prazeres para ir até aí e ouvir alguém falar como qualquer um fala na praça pública. (…)

IX – Tirando da Liturgia o mistério, que rebaixa a razão, o protestantismo tem o cuidado de não esquecer a consequência prática, ou seja, a libertação da fadiga e do desconforto que as práticas da Liturgia Papista impõem ao corpo. Primeiramente, nada mais de jejum e de abstinência; nada de genuflexão para rezar; para o ministro do templo, nada mais de ofícios diários a serem cumpridos, nem mesmo preces canônicas para se recitar em nome da Igreja. Tal é uma das formas principais da grande emancipação protestante: diminuir a quantidade de orações públicas e particulares. O decorrer dos fatos tem mostrado rapidamente que a fé e a caridade, que se alimentam da oração, foram sendo extintas na Reforma, enquanto elas não cessam, entre os católicos, de alimentar todos os atos de devoção a Deus e aos homens, fecundados que são pelas fontes inefáveis da oração litúrgica, realizada pelo clero secular ou regular, ao qual se une a comunidade dos fieis.

X – Como falta ao protestantismo uma regra para discernir entre as instituições papistas quais as que poderiam ser as mais hostis aos seus princípios, foi-lhe preciso cavar até os fundamentos do edifício católico, e encontrar a pedra fundamental que sustenta tudo. Seu instinto fez descobrir tudo que segue este dogma que é inconciliável com toda inovação: o poder Papal. Daí Lutero ter escrito em seu estandarte: “Ódio a Roma e às suas leis”. Ele não fazia nada mais que proclamar uma vez por todas o grande princípio de todos os ramos da seita anti-litúrgica. Daqui vem a necessidade de abrogar em massa o culto e as cerimônias, como idolatria de Roma; a língua latina, o ofício divino, o calendário, o breviário, todas as abominações da grande Prostituta da Babilônia. O Romano Pontífice oprime a razão pelos seus dogmas e os sentidos pelas suas práticas rituais; é preciso proclamar que os dogmas não passam de blasfêmia e erro, e suas observâncias litúrgicas, um meio de assegurar mais fortemente uma dominação usurpada e tirânica. Eis por que, em suas ladainhas emancipadas, a Igreja luterana continua a cantar inocentemente: “Do furor homicida, da calúnia, da ira e da ferocidade do Turco e do Papa, livrai-nos, Senhor”. Cabe aqui recordar as admiráveis considerações de Joseph de Maistre, em seu livro “Sobre o Papa”, onde ele mostra, com tamanha sagacidade e profundidade, que, não obstante as dissonâncias que isolam as diversas seitas separadas umas das outras, há uma característica que reúne todas elas: a de serem não-Romanas. Imaginai uma inovação qualquer, seja em matéria de dogma, seja em matéria de disciplina, e vereis se é possível empreendê-la sem incorrer, queira ou não queira, no apelido de não-Romana, ou se quiserdes, de meio Romana, se falta audácia. Resta saber que tipo de descanso poderá encontrar um católico seja na primeira ou na segunda das duas situações.

XI – A heresia anti-litúrgica, para estabelecer para sempre o seu reinado, tem necessidade de destruir de fato e de princípio todo o sacerdócio no cristianismo, pois ela sente que, onde há um pontífice, há um altar, e aí onde há um altar, há um sacrifício e, portanto, um cerimonial misterioso. Depois de ter abolido a qualidade de Sumo Pontífice, é preciso aniquilar o caráter episcopal, donde emana a mística imposição das mãos que perpetua a hierarquia sagrada. Resulta daí um vasto presbiterianismo, que é exatamente a consequência imediata da supressão do soberano Pontificado. Daí, não há mais um padre propriamente dito. Como a simples eleição, sem uma consagração, fará dele um homem sagrado? A reforma de Lutero e de Calvino não conhecerá outra coisa senão Ministros de Deus, ou dos homens, como se queira. Mas é impossível ficar só nisso. Escolhido e empossado por leigos, portando no templo uma toga de alguma bastarda magistratura, o ministro não passa de um leigo revestido de funções acidentais; não há nada mais que leigos no protestantismo. E assim deve ser, posto que não há mais Liturgia. Bem como não há mais Liturgia, posto que não há nada mais que leigos.

XII – Por fim, no último degrau de embrutecimento, não existindo mais o sacerdócio, dado que a hierarquia está morta, o príncipe, única autoridade possível entre leigos, proclamar-se-á chefe da Religião, e se verá os mais orgulhosos reformadores, depois de ter lançado fora o jugo espiritual de Roma, reconhecerem o soberano temporal como sumo pontífice, e colocarem o poder sobre a Liturgia entre as atribuições de direito majestático. Não mais haverá dogma, moral, sacramentos, culto e cristianismo, a não ser que agrade ao príncipe, dado que o poder absoluto lhe foi entregue sobre a Liturgia, pela qual todas aquelas coisas têm sua expressão e sua aplicação na comunidade de fieis. Tal é, portanto, o axioma fundamental da Reforma, na prática e nos escritos dos doutores protestantes. Este último traço completará o quadro, e permitirá ao próprio leitor julgar sobre a natureza desta pretensa libertação, operada com tanta violência no que tange ao papado, para estabelecer, em seguida, porém necessariamente, uma destrutiva dominação sobre a própria natureza do cristianismo. É verdade que, no começo, a seita anti-litúrgica não tinha o costume de bajular os poderosos: albigenses, valdenses, wycliffitas, hussitas, todos ensinaram que era preciso resistir e mesmo atacar todos os príncipes e magistrados que se encontrassem em estado de pecado, pretendendo que um príncipe perdia o direito no momento em que não estivesse mais na graça de Deus. A razão disso é que os sectários temiam a espada dos príncipes católicos, bispos de fora, tendo tudo a ganhar minando sua autoridade. Mas a partir do momento em que os soberanos, associados à revolta contra a Igreja, quiseram fazer da religião uma coisa nacional, um meio de governo, a Liturgia, bem como o dogma, reduzida aos limites de um país, ficou submetida naturalmente à mais alta autoridade do país, e os reformadores não tinham como deixar de prestar um vivo reconhecimento àqueles que davam, assim, o auxílio de um braço poderoso para estabelecer e conservar suas teorias. É bem verdade que aí há toda uma apostasia nesta preferência dada ao temporal sobre o espiritual, em matéria de religião; mas agem assim pela necessidade de se manter. Precisam não só ser consistentes, mas sobreviver. É por isso que Lutero, que se separou brilhantemente do Pontífice Romano, este considerado como fautor de todas as abominações da Babilônia, não teve vergonha de si mesmo ao declarar teologicamente legítimo um duplo casamento para o landgrave de Hesse, e é por isso também que o Abade Gregório encontrou em seus princípios o meio de associar, de uma vez, a Convenção inteira no voto de execução contra Luís XVI, e de se fazer o defensor de Luís XIV e de José II contra os pontífices romanos.

Tais são as principais máximas da seita anti-litúrgica. De modo algum estão exageradas. Apenas enfatizamos a doutrina centenas de vezes professada nos escritos de Lutero, de Calvino, dos Centuriadores de Magdeburgo, de Hospiniano, de Kemnitz, etc. Estes livros são fáceis de consultar, ou melhor, a obra que resultou daí está sob os olhos de todo o mundo. Cremos ter sido útil pôr à luz estas principais características. Sempre é bom ter conhecimento acerca do que é errado. O conhecimento prático e direto é, às vezes, menos vantajoso e menos fácil.

Cabe aos pensadores católicos tirar a conclusão.
Dom Guéranger
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