sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O que é o manípulo?



O manípulo é um pano que o sacerdote traz no braço esquerdo. Sua origem está no fato de que os filósofos gregos levavam no braço um pano para enxugarem o suor do rosto quando ensinavam nas praças; bem como no fato de que os trabalhadores também levavam um pano no braço para enxugarem o suor do rosto enquanto trabalhavam. Remete-nos às cordas que ataram as mãos de Nosso Senhor. Lembra-nos a autoridade que o sacerdote tem para pregar a verdade, bem como de que devemos trabalhar para conseguirmos o Céu, fazendo boas obras.







segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A contrição perfeita



A contrição perfeita

A contrição perfeita
uma chave de ouro do Céu


Aos fiéis oferecida por J. de Driesch
Sacerdote da Arquidiocese de Colônia

Com um prólogo pelo P. Agostinho Lehmkuhl, S.J.
Tradução para o português
Bahia
Tip. de S. Francisco
1913


NIHIL OBSTAT.
Fr. Benigno Randebrock, O.F.M.
Cens. 
Dioc.
IMPRIMATUR.
Bahia, 11 de Março de 1913.
Mons. Castro,
Vigário Geral



Prólogo

Tanto pela importância da matéria, de certo bem pouco conhecida da maioria dos cristãos, como pela abundância de doutrina e o interesse com que ela é tratada no que diz respeito à sua utilidade prática, bem pode dizer-se que este livrinho encerra em suas poucas páginas o valor de muitos volumes

O grande meio de salvação chamou Santo Afonso Maria de Ligório a um livrinho que, entre muitos outros, compôs sobre a oração; e diz dele que queria vê-lo nas mãos de todos, por tratar de um meio tão principal e de tanta eficácia para assegurar o Céu às almas. Pois, com não menos verdade, ainda que em sentido algum tanto distinto, devemos dizer outro tanto da prática do amor e contrição perfeita, como sendo o grande meio de salvação, pois que está em conexão ainda mais imediata com a consecução da vida eterna do que somente a oração.

Por isso, queria eu, como Santo Afonso com o seu, ver este livrinho nas mãos de todos, persuadido de que a sua atenta leitura e a execução prática das doutrinas que nele se ensinam, abrirão as portas do céu a muitíssimas almas, para quem, sem ele, estariam eternamente cerradas, e de que hão de acrescentar de uma maneira inesperada o direito ao Céu e à eterna bem-aventurança a muitas outras que, pela guarda da graça santificante, já são credores dele.

Não devia haver cristão algum que não estivesse solidamente instruído sobre a transcendência que tem um ato de contrição e caridade perfeita, pois que é de incalculável importância tanto para a hora da morte própria como para a dos outros, a quem talvez tenha de assistir.

Assim, pois, ninguém deveria esquecer-se desta verdade em tempo de saúde; porém, para o tempo de enfermidade e de perigo sobretudo, é sumamente para desejar-se que a conheçam a fundo e profundamente a gravem na alma os que a têm esquecido ou só imperfeitamente a conhecem.

Oxalá, pois, se difunda o mais possível esta obrazinha, e não duvido de que a sua leitura será acompanhada de inumeráveis bênçãos do céu.

Pe. Agostinho Lehmkuhl, S.J.

Valkenburg, Colégio de Santo Inácio, outubro de 1903.


Introdução

Ao ver o título de Chave de ouro do Céu, parece-me, amado leitor, que estarás ansioso por ver se este livrinho corresponde por dentro ao que promete por fora. Mas, pode ser que te ocorram algumas suspeitas. Talvez que, nas práticas dominicais, o teu zeloso pároco te tenha prevenido contra certas folhas e publicações supersticiosas, contra as Chaves do Céu, os Ferrolhos do Inferno, as Orações maravilhosas autênticas e contra todas as mercadorias parecidas, chamem-lhe como quiserem.

"Porém, se este livrinho é o que deve e promete ser — dirás, de ti para ti — seria ditoso, teria uma chave do Céu, de que poderia muito bem aproveitar-me".
E verdadeiramente de ouro e digna, portanto, de todo o apreço deve ser a chave que este autor me apresenta reluzente diante dos olhos.

Se é de verdadeiro ouro, e não só de ouropel, estou feliz.

Sim, amado leitor, sólida e legítima é a chave e bem fácil de manejar por certo: é a contrição perfeita. Ela te abrirá, em cada dia e a cada momento, o Céu se o fechaste com o ferrolho do pecado mortal; e sobretudo se, no fim da tua vida, como pode suceder, não tiveres nem puderes ter a teu lado o sacerdote, que é o depositário das chaves da divina misericórdia, a contrição perfeita será a última e suprema chave com que, ajudado da graça de Deus, poderás franquear-te o Céu. Porém, para isso, é preciso que te acostumes a manejá-la em vida.

Pela contrição perfeita, estão salvas no Céu inumeráveis almas que, de outro modo, se teriam perdido para sempre. Já vês, pois, que é importante, e sumamente importante, o que te recomendo neste livrinho. Por isso, dizia o douto e piedoso cardeal Franzelin: "Se eu pudesse percorrer os campos pregando a palavra divina, nenhuma outra coisa pregaria com mais freqüência do que a contrição perfeita".

Mais adiante, no capítulo V, te direi como vim a escrever este livrinho e a percorrer assim os campos pregando a contrição perfeita. Deus Nosso Senhor, por seu amor e misericórdia, te assista com sua graça para que o compreendas, e, sobretudo, para que o pratiques, que é o que importa, conforme a sua doutrina.

Posto isto, começo em nome do Senhor.


I

Que é a contrição perfeita?


Contrição é uma dor da alma e uma detestação dos pecados cometidos. Deve acompanhá-la o propósito, quer dizer, uma firme vontade de emendar a vida e de não mais pecar. Para que a contrição seja legítima, deve ser interna e estar na alma, isto é‚ que não seja uma mera expressão feita com os lábios e sem reflexão: isto seria apenas contrição de boca.

Não é necessário manifestar exteriormente a contrição interna por meio de suspiros, lágrimas, etc.: tudo isto pode ser sinal de contrição, não é, porém, sua essência. A essência da contrição está na alma, na vontade, em afastar-se deveras do pecado e converter-se para Deus.

Além disto, a contrição deve ser geral, quer dizer, deve estender-se a todos os pecados cometidos ou, pelo menos, a todos os mortais. Deve, finalmente, ser sobrenatural e não meramente natural, pois esta nada aproveita.

Segue-se que a contrição, como todo o bem, deve proceder de Deus e da sua graça, e, com a graça de Deus, desenvolver-se na alma. Porém, não tenhas receio; basta que a peças, basta que tenhas boa vontade e te arrependas por algum motivo legítimo, sobrenatural, e Deus te dará a graça necessária.

Se o motivo se funda na natureza ou somente na razão (por exemplo, nos danos temporais, na vergonha, doença, etc.), é muito fácil que a dor seja puramente natural e sem mérito; porém, se o motivo da contrição é alguma verdade da Fé, por exemplo: o inferno, o purgatório, o céu, Deus, etc., então a contrição é legítima, sobrenatural.
E esta contrição legítima e sobrenatural pode, por sua vez, ser de duas classes: perfeita e imperfeita; e com isto temos chegado a nossa matéria da contrição perfeita.

Em poucas palavras, contrição perfeita é a contrição que procede de amor; imperfeita, a que procede do temor de Deus.

É contrição perfeita quando procede de amor perfeito a Deus. Pois bem, o nosso amor a Deus é perfeito quando o amamos porque Ele é em Si infinitamente perfeito, formoso e bom (amor de benevolência), e porque nos mostrou de uma maneira tão admirável o seu amor (amor de agradecimento).

É imperfeito o amor de Deus quando o amamos porque esperamos alguma coisa dEle. De modo que, com o amor imperfeito, pensamos sobretudo nos dons; com o perfeito, na bondade do dador; com o amor imperfeito, amamos mais os dons; com o perfeito amamos mais o dador, e isto não tanto pelos seus dons como pelo amor e bondade que nos dons se manifesta.

Do amor nasce a contrição. Será, pois, perfeita a contrição se nos arrependermos dos pecados por amor perfeito de Deus, quer seja de benevolência quer de agradecimento. Será imperfeita se nos arrependermos dos pecados por temor de Deus, porque pelo pecado perdemos a recompensa de Deus, o Céu, e merecemos seu castigo, o inferno ou o purgatório.

Na contrição imperfeita, fixamo-nos principalmente em nós e nas desgraças que, segundo a Fé nos ensina, nos acarretou o pecado. Na contrição perfeita, fixamo-nos sobretudo em Deus, na sua grandeza, na sua formosura, amor e bondade, vendo quanto o pecado O ofende, e que foi o pecado que Lhe ocasionou tantos sofrimentos e dores para nos redimir.

Na contrição perfeita, não queremos unicamente o nosso bem, senão o bem de Deus.

Com um exemplo o verás melhor. Quando São Pedro negou o Divino Salvador, saiu fora e "chorou amargamente" (I Lc 22,62). — Por que chora São Pedro? É, porventura, pensando na vergonha que vai ter diante dos outros apóstolos? Se assim fosse, a sua dor teria sido puramente natural e sem mérito. É porque receia que seu Divino Mestre lhe tire, como ele merece, o cargo de Apóstolo e Superior e o expulse do seu reino? Então seria boa contrição, mas somente imperfeita. Mas, não; Pedro arrepende-se e chora, antes de tudo, porque ofendeu a seu amado Mestre, tão bom, tão santo, tão digno de ser amado e por ser tão desagradecido ao seu imenso amor por ele. Tem, pois, verdadeira e perfeita contrição.

Agora dize-me: tens tu também, cristão de minha alma, algum fundamento, algum motivo, parecido com o de São Pedro, para te arrependeres dos teus pecados por amor, e por amor perfeito e agradecido? Sim, certamente, pois os benefícios que Deus te tem feito são mais que os cabelos da tua cabeça, e, considerando-os, podes dizer, em cada um deles, o que dizia São João: "Amemos a Deus já que Ele nos amou primeiro" (I Jo 4,19).

E como te amou?

"Com amor eterno te amei — disse Ele — e me compadeci de ti e te atrai a mim" (Jer 31,3).

Sim, com amor eterno te amou. Desde toda a eternidade, desde quando ainda não havia nem um átomo de ti sobre a terra, te olhou com aqueles seus olhos amorosos e que tudo penetram, e te preparou alma e corpo, céu e terra, com o amor com que uma mãe prepara todo o necessário para o filhinho que ainda não nasceu. Ele deu-te a saúde e a vida, Ele te deu e te dá, em cada dia, todos os bens naturais. Consideração esta que até aos pagãos pode fazê-los chegar ao conhecimento e amor perfeito de Deus; quanto mais a ti, cristão, que conheces outro gênero muito diferente de amor e de bondade, o amor e bondade sobrenatural de Deus para contigo; porque Deus se compadeceu de ti; e quando, com todo o gênero humano, estavas condenado pela culpa original, Deus enviou o seu Unigênito Filho, e Ele se fez teu Salvador e te remiu com seu sangue, morrendo na Cruz. E em ti pensava com entranhado amor quando agonizava no horto das Oliveiras, e quando derramava o seu sangue com os açoites e os espinhos, e quando subia arrastando a pesada Cruz pelo longo e áspero caminho do Calvário; e quando, cravado nela, se desfazia em sangue entre indizíveis tormentos. Em ti pensava com entranhado amor, como se tu foras o único homem da terra.

Que tens a concluir daqui? "Amemos a Deus já que Ele nos amou primeiro" (I Jo 4,19).

E Deus te atraiu a Ele pelo batismo, graça capital e primeira da tua vida, e pela Igreja, em cujo seio foste então admitido. Quantos há que, só a força de trabalhos e canseiras, conseguem encontrar a verdadeira Fé, e a ti te a ofereceu Deus desde o berço, por puro amor. Atraiu-te a Ele e te atrai sempre pelos sacramentos e pelas inumeráveis graças interiores e exteriores de que te enche todos os dias, pois, em verdade, estás nadando, como em imenso mar, na bondade e amor de Deus. E este amor, quer ainda coroá-lo colocando-te consigo no Céu e fazendo-te eternamente feliz. Que lhe deves por tanto amor? Não é verdade que deves corresponder a ele? Amemos também a Deus já que Ele nos amou primeiro.

Pois, vamos a contas e dize-me: Como tens pago a Deus, tão bom e amoroso, o seu amor e bondade para contigo? Dir-me-ás, sem dúvida, que com ingratidão e pecados. E pesa-te essa ingratidão? Sem dúvida que sim e queres ressarcir a tua pesada ingratidão, amando quanto possas tão grande e amoroso benfeitor. Pois, olha, se assim é, já tens contrição perfeita, contrição de amor de Deus. Para facilitar, chama-se a esta contrição de amor de Deus, contrição de amor ou de caridade.

Na mesma contrição de caridade, há uma mais levantada, que é quando alguém ama a Deus porque Ele é em si infinitamente formoso, glorioso, perfeito e digno de amor, prescindindo do seu amor e misericórdia para conosco. Há estrelas — e com esta comparação julgo que entenderás melhor — que, por estarem muito longe de nós, não as podemos distinguir, e, contudo, são tão grandes e formosas como o sol, que tão prodigamente nos dá o calor e a vida. Pois assim, ainda quando o homem não tivesse visto nem gozado nunca do amor de Deus, eterna estrela do céu, ainda quando Deus não tivesse criado o mundo nem criatura alguma, seria apesar disso grande, formoso, glorioso e digno de ser amado, porque é em si mesmo e para si, o bem mais excelente, o mais perfeito e digno de amor. Isto e não outra coisa quer dizer essa expressão que, mais de uma vez, terás encontrado nos devocionários e nas fórmulas do ato de contrição e te terá parecido talvez algum tanto obscura.

Detém-te, pois, agora e contempla o amor de Deus; contempla-o, sobretudo, nos amargos sofrimentos do Salvador, a cuja luz o compreenderás tão facilmente como facilmente te arrebatará o coração.

Eis aqui o modo de alcançar praticamente a contrição perfeita.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Fátima x Assis III – A verdade tem uma qualidade libertadora!



 Foi Nosso Senhor que o disse: “a verdade te libertará”. E a Mensagem de Fátima livra-nos de cair à falsidade de tantos slogans vazios, tantas vezes repetidos hoje em dia. Livra-nos de aderir ao slogan de que “as Nações Unidas (de princípios ateus) são a última grande esperança de Paz para a humanidade”. Livra-nos de cair naquele outro que diz que estamos agora a entrar numa “nova primavera” com o advento do novo milênio. Livra-nos de acreditar no slogan de que estamos agora no limiar de uma espécie de “nova civilização do amor”, na qual tanto os Católicos como os membros de falsas religiões podem atenuar as diferenças entre si, para trabalharem juntos na construção de um mundo melhor.

(É curioso recordar que, na realidade, esta noção de que Católicos e não-Católicos poderiam unir-se para construírem uma espécie de nova “civilização do amor” já tinha sido condenada pelo Papa São Pio X, quando condenou o movimento SILLON, surgido em França em 1910).

Devemos também frisar que, de ambas as expressões, tão vulgarizadas – “uma nova Primavera” e “uma civilização do amor”, nem uma só contém qualquer menção ao Imaculado Coração de Maria. Ora, na realidade, Nossa Senhora prometeu, em Fátima, uma grande vitória; mas nunca lhe chamou “nova Primavera”, nem nunca lhe chamou “civilização do amor”. Chamou-lhe, sim, “O TRIUNFO DO MEU IMACULADO CORAÇÃO”.

Nossa Senhora trouxe a Fátima à seguinte Mensagem: “Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração”. Logo, não pode haver nenhuma vitória, não pode haver nenhuma “nova Primavera” sem que um considerável número de Católicos corresponda fervorosamente aos pedidos de Nossa Senhora de Fátima.

(...)
Assim, em conclusão, eu creio que o Céu quer que a Mensagem de Nossa Senhora de Fátima esteja no centro da nossa visão do mundo. Seja o que for que aconteça com a Igreja ou no mundo, nós o julgaremos bom ou mau, apropriado ou não, com base naquilo que está, ou não está, em conformidade com as palavras de Nossa Senhora em Fátima.

Em Fátima, a Senhora reforçou pontos-chaves da doutrina sobre a Fé (Terço; devoção ao Seu Imaculado Coração; uso do Escapulário marrom; existência do Purgatório; do Céu e do Inferno; autoridade do Papado; Sacramento da Confissão; valorizar a Divina Eucaristia que é o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo). 

Nossa Senhora valorizou, precisamente, aqueles pontos que SEPARAM os Católicos dos Protestantes, justamente os pontos que INDIVIDUALIZAM os Católicos em relação a qualquer outra religião à face da terra. Ela demonstrou que o mais importante é a VERDADE.

(...)
A Senhora não veio ensinar uma doutrina nova, nem qualquer compreensão modernizada da doutrina que, de qualquer outro modo nos fizesse reinterpretar os ensinamentos da Santa Igreja Católica diferentemente do modo como tem sido ensinados durante 2.000 anos.

Disse-nos Ela que o mundo só alcançaria a Paz através da obediência ao Seu pedido de Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria; realizada não por Católicos unidos a falsas religiões, em “orações” comuns pela paz, essas religiões, a própria Nossa Senhora as proclamou como blasfêmias contra Ela, pelo fato de Nela não acreditarem. A Consagração pedida foi que o Papa juntamente com todos os Bispos consagrassem a Rússia ao Imaculado Coração de Maria e somente assim seria concedido ao mundo algum tempo de Paz.
_ John Vennari


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

ALCANCE JURÍDICO DA BULA “QUO PRIMUM”


ALCANCE JURÍDICO DA BULA “QUO PRIMUM”
Pe. Raymond Dulac
-
I – NOTAS PRELIMINARES
1 – Se a Bula promulga uma verdadeira lei, esta será uma lei humana, cujo valor provem, não da natureza das coisas nem da vontade revelada de Deus, mas certamente de uma refletida escolha do legislador humano.
2 – Este deverá, então, manifestar da maneira mais clara e completa que lhe for possível, a natureza e a extensão de sua vontade:
1º) Dizer que promulga uma verdadeira lei, criando uma obrigação jurídica. Não se trata, pois, de um simples desejo ou recomendação, nem de uma “diretiva”, ou mesmo talvez, de uma vontade formal, mas vontade que não se declarasse como impondo uma ordem que obriga seus súditos.
2º) Em seguida, delimitar o campo de aplicação de sua lei quanto ao tempo, lugares e pessoas.
3º) Precisar, se for o caso, as modalidades da decisão legislativa: o que ela manda, o que permite e, talvez certos privilégios que concede ao lado da lei comum.
4º) No caso em que a prescrição não legisla sobre matéria inteiramente nova, precisar a relação da presente lei à lei ou aos costumes precedentes:
a) simples derrogação parcial;
b) simples abrogação.
5º) Como a lei habitual, não escrita, é munida de uma força que lhe é própria, decidir expressamente o que a nova lei dela conserva ou suprime.
3 – Para a expressão formal, oficial, destas diversas vontades, há certas “regras de direito”, um vocabulário próprio, um “própria verborum significatio” que os juristas conhecem bem. A Igreja jamais as desprezou, pois são a garantia única, ao mesmo tempo contra o despotismo arbitrário e contra a anarquia.
Estava reservada à “Igreja pósconciliar” desprezar estas regras, o que ela chama de “juridismo”, isto é, em todas as matérias (dogmática, ética, disciplinar) desprezar a expressão clara, honesta, leal do pensamento e das coisas.
O Superior hierárquico “atualizado”, não ousando mais comandar, exprime-se de maneira bastante ambígua para ser entendido ou não entendido. Assim ele pode, de acordo com a opinião que “espera”, ora recuar, ora avançar em sua vontade original, sem nunca perder a autoridade porque ele a encobriu. Este novo tipo de autoridade recebeu um novo nome: “Serviço”. O melhor seria dizer “self-service“, cada um, de alto a baixo, servindo a sua própria vontade.
É assim que o legislador do novo Breviário não diz mais, como o cânon 135 do Código de Direito Canônico:
Os clérigos que estão nas Ordens sagradas têm por obri- gação recitar todos os dias as Horas Canônicas“.
Ele diz: os clérigos se desobrigarão. Será que a “obrigação” do Breviário subsiste? Sim ou não? – Sim, acaba de notificar o Secretário Bugnini: Não há nada mudado, a não ser a palavra. Porque a mudaram? – Porque, diz ele:
a mentalidade moderna prefere obedecer a convicções e não a obrigações“. (“L’Osservatore Romano“, 24-11-71).
Como o autor desta astuciosa substituição verbal confessou-a em público e publicou-a no jornal, a quem pretende ele enganar?
Estas notas preliminares não nos distraíram do nosso assunto. Nosso leitor estará melhor preparado para conhecer o alcance jurídico da Bula que ordena o Missal restaurado de Pio V, se já conhece as condições formais tradicionais de toda obrigação jurídica, e, ao contrário, o espírito, o vocabulário e as “espertezas” dos ordenadores do Missal reformado de Paulo VI.
II – A BULA PROMULGA UMA VERDADEIRA LEI
1 – Uma lei contendo uma obrigação jurídica expressa nos termos tradicionais do direito: nós os sublinhamos ao longo da nossa tradução.
2 – Esta lei não é apenas uma determinação pessoal do Soberano Pontífice, mas notadamente em ato conciliar. Pio V se refere explicitamente aos decretos do Santo Concílio de Trento, que lhe remetera este encargo, depois que os Padres tivessem acertado as modalidades por eles desejadas. Daí o título oficial de nossos Missais: “Missale Romanum ex DECRETO S.C. Tridentini RESTITUTUM, S. Pio V jussu editum”. O Concílio decretou sua restauração, o Papa ordenou sua publicação.
3 – A vontade do legislador aparece na sua Bula, sob modalidades variadas, detalhadas ao curso da longa enumeração final, e da qual anteriormente havíamos observado que não se trata de uma redundância enfática:
“… Hanc, paginam Nostrae permissionis, statuti, ordinationis, mandati, proecepti, concessionis, indultti, declarationis, voluntatis, decreti et inhibitionis…
O leitor pode facilmente pôr cada um destes onze termos à frente de um enunciado da Bula: excelente exercício de atenção respeitosa.
4 – A Bula especifica minuciosamente as pessoas, o tempo, os lugares submetidos a estas diversas disposições.
5 – A obrigação é sancionada por penas expressas.
6 – O Pontífice não promulga a lei de um novo Missal, ele restaura o primitivo, restituído. Entretanto, ele vai claramente significar o que derroga, parcialmente, do passado e, de outro lado, o que abroga totalmente.
Observamos o quanto a cláusula final do “Não obstante” é, a este respeito, precisa, específica e rigorosa, não se satisfazendo com a menção puramente genérica das leis e costumes precedentes que quer abolir, mas designando-as pelo seu próprio nome.
III – A BULA RESPEITA OS DIREITOS ADQUIRIDOS
Traço característico do verdadeiro chefe: mais sua ordem é firme quando ele impõe deveres, mais também ele é atento a respeitar os direitos, não apenas os direitos gerais e absolutos da pessoa abstrata, mas os direitos históricos dos indivíduos ou das comunidades particulares, mesmo adquiridos por simples costume.
Pio V confirma assim, dois direitos:
1º – O direito das Igrejas ou Comunidades que foram beneficiadas com um Missal próprio, aprovado desde a sua instituição.
2º – Mesmo direito reconhecido a um Missal igualmente distinto do Romano, quando ele pode justificar seu uso de fato, há mais de 200 anos.
Esta confirmação (“nequaquam auferimus“) não deve ser confundida com a “permissão” nem com o “indulto” que seguem, trata-se aqui de direitos já existentes que a Bula se contenta em manter.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Participação na Santa Missa.

Participação na Santa Missa (rito gregoriano/tridentino)

Introdução

Vamos seguir o que disse o Papa Pio XII na Instrução sobre Música Sacra e Sagrada Liturgia, em 3 de setembro de 1958. Este é o último documento que tratou do assunto até o ano de 1962 e, portanto, é o referencial normativo para as celebrações no rito gregoriano.

1) Noções prévias

A Santa Missa pode ser:

a) Missa Papal (não é celebrada desde os anos 60 e seria muito difícil voltar a ser, pois muitas regras consuetudinárias se perderam e não há mais a corte papal que tinha um papel importante nesse tipo de celebração).

 
(paramentos do Papa Pio XII)

b) Missa Pontifical: é a Missa celebrada por um bispo. Esta pode ser:

»Solene: celebrada com canto e ministros sagrados.

»Rezada: sem canto e com a ajuda de dois sacerdotes capelães (mesmas normas de participação da Missa dialogada ou rezada por um padre).

c) Missa com canto: quando o sacerdote canta as partes que lhe são próprias. Subdivide-se em:

»Solene: quando o sacerdote é ajudado por um diácono e subdiácono.

»Cantada (ou de guardião - denominação antiga no nosso país): quando o sacerdote é ajudado só por acólitos.

d) Missa dialogada: quando os fiéis participam liturgicamente, ou seja, respondendo ao celebrante e rezando com ele o Glória, Credo, Sanctus e Agnus Dei.

e) Missa rezada: quando os fiéis participam em silêncio ou em comum por meio de orações e cânticos de piedade popular (extra-litúrgicos).

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Por que a Missa Tradicional?

Por Padre Michael Rodriguez  | Tradução: T.M. Freixinho, Fratres in Unum.com - (1) A venerável e imemorial Missa Romana, incluindo seus ricos detalhes rituais, é teocêntrica – centrada e direcionada a Deus Todo-Poderoso. Ela dá glória constante ao Deus Trino: um sacrifício de adoração, ação de graças, propiciação e impetração, direcionado a Deus, tanto teológica quanto ritualmente.
(2) A venerável Missa Romana (Missa Tradicional) é a “Missa de Sempre”; é a Missa que sempre foi oferecida pela Igreja una, santa e católica. Assim, ela é a verdadeira e autêntica Missa Católica. Ela é a Missa que foi transmitida pela tradição de Roma, a cidade consagrada pelo sangue de dois príncipes, os santos apóstolos São Pedro e São Paulo. Ela é a obra prima de dois mil anos da Tradição, vida e culto católicos.
A única missa celebrada por Pe. Pio.
A única missa celebrada por Pe. Pio.
(3) Através da Missa Tradicional podemos ser supremamente fiéis a nossa religião católica, isto é, fiéis (exatamente à mesma) lei da fé (lex credendi) e (exatamente à mesma) lei da oração (lex orandi) que foram professadas por todos os nossos ancestrais na Fé, remontando aos próprios Apóstolos.
(4) A venerável Missa Romana, incluindo seus ricos detalhes, professa, manifesta e honra o inefável Mistérioque acontece: Jesus Cristo, o único Sumo Sacerdote, oferece a Sua vida, através do ministério de Seus sacerdotes, de maneira incruenta. Nosso Redentor volta a morrer por nós de maneira mística.
(5) A venerável Missa Romana, incluindo seus ricos detalhes rituais, professa, manifesta, reverencia e adora o inefável Mistério que acontece: o Corpo e Sangue de Jesus Cristo, junto com a Sua alma e Divindade, se tornam realmente presentes através do Milagre da Transubstanciação no momento da Consagração.
(6) É Dogma da Fé Católica que o culto de Adoração (latria) deve ser dado a Cristo presente na Eucaristia. A venerável Missa Romana, incluindo seus ricos detalhes rituais, realiza esse culto de maneira perfeita.
(7) A venerável Missa Romana realça o fato de que a Santa Missa é o próprio sacrifício de Cristo, santo, perfeito e completo em cada aspecto, através do qual cada fiel honra a Deus de maneira nobre, confessando ao mesmo tempo o seu próprio nada e o supremo domínio que Deus tem sobre ele.
(8) A venerável Missa Romana é imutável. Ela se caracteriza por uma santa permanência e estabilidade. Ela é extremamente importante, porque reflete a lex credendi (a Fé), que não muda. Deus é imutável, as santas verdades da Fé Católica são imutáveis, a Sagrada Escritura é imutável. . . A Santa Missa é imutável.
(9) A Missa Romana clássica é universal. Ela nos une não somente a todos os católicos do mundo (espaço), mas também a todos os nossos ancestrais católicos ao longo dos séculos (tempo), especialmente, às multidões de santos, cujas almas foram nutridas e fortalecidas pela mesma Liturgia celeste.
(10) O nosso Rito Antigo expressa a Fé Católica Romana de maneira clara e completa, com beleza sublime e nobre precisão, como, por exemplo, os mistérios da Santíssima Trindade e da Encarnação, a santidade e grandeza de Deus Todo-Poderoso, o mistério da graça e a realidade do pecado, a veneração da Santíssima Virgem Maria, os anjos e os santos, a Missa como o Sacrifício de Cristo oferecido ao Pai Eterno para a nossa salvação, o sacerdócio como uma perpetuação do próprio Sacerdócio de Cristo, a natureza hierárquica da Igreja, morte, juízo, céu e inferno.
(11) A venerável Missa Romana professa, manifesta e exalta os seguintes efeitos do Santo Sacrifício da Missa: a Santíssima Trindade é adorada, honrada e glorificada, Jesus Cristo renova [misticamente] a Sua Morte na Cruz, Jesus Cristo intercede pela Igreja, a Virgem Maria e os santos são honrados, a Igreja é auxiliada na batalha contra o demônio e em seu esforço para alcançar o céu, as santas almas são libertadas do purgatório.
(12) As orações da Missa Tradicional expressam, transmitem e exaltam a doutrina católica, como, por exemplo, o ensinamento católico sobre o inferno, o juízo divino, a ira de Deus, a punição pelo pecado, a maldade do pecado como o mal maior, o desapego do mundo, o purgatório, as almas dos falecidos, o reinado de Cristo na terra, a Igreja Militante, o triunfo da Fé Católica, os males da heresia, cisma e erro, a conversão de não católicos, os méritos dos santos e os milagres.