quinta-feira, 1 de junho de 2017

A rapidez do tempo


Por Pe. P. Huguet

Os anos temporais passam. Os seus meses reduzem-se em semanas. As semanas em dias, os dias a horas. As horas a momentos, que são os únicos que possuímos, mas que não gozamos senão à medida que acabam e tornam a nossa natureza mortal, a qual no entanto deve para nos ser amável. E visto esta vida estar cheia de miséria, não poderíamos ter consolação mais sólida do que a de estarmos certos de que aquela se vai dissipando para dar lugar à santa eternidade, que nos  está preparada na abundância da misericórdia de Deus, e à qual a nossa alma aspira incessantemente por contínuos pensamentos que sua própria natureza lhe sugere, embora não possa esperar senão por outro pensamento mais elevado que o autor da natureza sobre ela derrama.


Eu não estou atento à eternidade senão com muita suavidade, porque, digo eu, como é que a minha alma poderá estender o seu pensamento a este infinito se não tivesse alguma proporção com ele? Porém, quando conheço que o meu desejo corre com o meu pensamento para esta mesma eternidade, a minha alegria cresce sobremaneira. Porque sei que desejamos com um verdadeiro desejo senão coisas possíveis. O meu desejo de certificar-me pois de que posso ter a eternidade. Que me resta pois senão esperar possuí-la? E isto concede-se-me pela infinita bondade daquele que não criaria uma alma capaz de pensar e tender para a eternidade se não quisesse dar-lhe os meios de a conseguir.

Digamos pois muitas vezes: tudo passa, e após poucos dias desta vida mortal que nos restam, virá a infinita eternidade. Pouco nos importa que tenhamos aqui comodidades ou não, contanto que sejamos felizes por toda a eternidade. Seja esta eternidade santa que nos espera, a nossa consolação, e o sermos cristãos, membros de Jesus Cristo, regenerados com o seu sangue, porque só consiste a nossa glória neste divino Salvador ter morrido por nós.

Uma alma grande eleva os seus melhores pensamentos, afetos e desejos ao infinito da eternidade, e visto que é eterna, reputa em pouco o que não é. Tem por pequeno o que não é infinito, e elevando-se acima de todas as delícias, ou antes vis joguetes que esta vida nos apresenta, tem os olhos fixos na imensidade dos bens e anos eternos.

Ó, quanto é desejável a eternidade comparada com estas miseráveis e perecíveis vicissitudes! Deixemo-nos correr o tempo, com o qual corremos a pouco e pouco para sermos transformados na glória dos filhos de Deus. Ah! Quando penso como empreguei o tempo de Deus, aflige-me o pensar que ele não me queira dar a sua eternidade, pois que só a dará aos que empregaram bem o tempo.

Ó, Deus! Os anos correm imperceptivelmente uns após outros, e terminando a sua duração, terminam a nossa vida mortal, e acabando, acabam a nossa vida. Ó, como é incomparavelmente mais amável a eternidade! [...] Possais vós possuir este bem admirável da santa eternidade em tão alto grau quanto eu vos desejo! Que felicidade para a minha alma se Deus concedendo-lhe misericórdia, lhe patenteasse esta doçura.

Extraído da obra "Pensamentos consoladores de São Francisco de Sales"

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