domingo, 9 de dezembro de 2012

Tormentos do Inferno (S. Antônio Maria Claret) Parte 1




A sensação dos tormentos do inferno é essencialmente terrível. Ele se parece, ó alma minha, como uma noite escura sobre o cume de uma montanha alta. Lá embaixo há um vale profundo, e a terra se abre de maneira que, com o teu olhar, podes ver o inferno e sua profundidade. Ele se parece como uma prisão situada no centro da terra, muitos quilômetros abaixo, todo cheio de fogo, preso num recinto de forma tão impenetrável que, por toda a eternidade, nem se quer a fumaça pode escapar. Nesta prisão os condenados estão próximos um do outro como tijolos num forno… Imagine o calor do fogo em que são queimados.
Primeiramente, o fogo se alastra por todas as partes e tortura inteiramente o corpo e a alma. Uma pessoa condenada permanece no inferno para sempre no mesmo lugar que foi destinado pela justiça divina, sem ser capaz de mover-se, como um prisioneiro num tronco.
O fogo que o envolve totalmente, como um peixe na água, o queima em volta, à sua esquerda, à sua direita, encima e embaixo. Sua cabeça, seu peito, seus ombros, seus braços, suas mãos e seus pés estão totalmente invadidos pelo fogo, de maneira que ele, por inteiro, se assemelha a um peça de ferro incandescente e cintilante, que acaba de ser retirado do forno. O teto do recinto em que moram as pessoas condenadas é de fogo; a comida que se come é fogo; a bebida que se toma é fogo, o ar que se respira é fogo, tudo quanto se vê e se toca é fogo…
Mas este fogo não está simplesmente fora dele; além do mais ele transpassa pela pessoa condenada. Invade o seu cérebro, seus dentes, sua língua, sua garganta, seu fígado, seus pulmões, seus intestinos, seu ventre, seu coração, sua veias, seus nervos, seus ossos, inclusive a medula, bem como o sangue.
“No inferno – segundo São Gregório Magno – haverá um fogo que não pode se apagar, um verme que não morre, um cheiro insuportável, uma escuridão que pode se sentir, castigo por açoite de mãos selvagens, com todos os presentes desesperados por qualquer coisa boa.”
Um dos fatos mais terríveis é que, pelo poder divino, este fogo vai tão longe como para atuar sobre as faculdades (aptidões) da alma, queimando-as e atormentando-as. Suponhamos que eu me achasse colocado no forno de um ferreiro, de modo que todo o meu corpo estivesse em pleno ar, exceto um braço que está posto no fogo, e que Deus fosse preservar a minha vida por mil anos nesta posição. Não seria isto uma tortura insuportável? Como seria então estar completamente invadido e rodeado de fogo, o qual não atinge apenas um braço, mas inclusive todas as faculdades (aptidões) da alma?
Para quem já teve a graça de ver, e de sentir, em sonhos o que seja este tormento infinito, este fogo que queima o espírito sem consumir, esta consciência que acusa sem cessar, que atormenta mais que mil fogos, que faz compreender a eternidade do suplício, que entende a impossibilidade de fugir dali, contra a qual não adianta lutar, esbravejar, sequer odiar, é possível afirmar que o fogo exterior, que queima o corpo é apenas uma pálida centelha daquele que inflama o espírito. De fato, a alma daria tudo para poder esquecer, fugir dos pensamentos, escapar deste tormento mental, esmagar seu cérebro, pois para ela isso significaria um alívio assombroso em seu tormento.
É mais espantoso do que o homem pode imaginar.
Em segundo lugar, este fogo é muito mais espantoso do que o homem pode imaginar. O fogo natural que vemos durante esta vida tem um grande poder para queimar e atormentar. Não obstante, este não é nem sequer uma sombra do fogo do inferno. Há duas razões pelas quais o fogo do inferno é muito mais atroz, que vai além de toda comparação, do que o fogo deste mundo.
A primeira razão é a justiça de Deus, da qual o fogo do inferno e um instrumento dirigido para castigar o mal infinito causado contra a sua suprema majestade, que fora menosprezada por uma criatura. Para tanto a justiça supre este elemento com um poder tão grande que quase alcança o infinito.
A segunda razão é a malícia (perversidade) do pecado. Como Deus sabe que o fogo deste mundo não é suficiente para castigar o pecado como este merece, Ele tem dado ao fogo do inferno um poder tão grande que nunca poderá ser compreendido pela inteligência humana. Entendem agora, o quão eficazmente queima este fogo?
O fogo queima tão eficazmente, – ó minha alma! – que, de acordo com os grandes mestres da escola ascética, se uma simples faísca caísse numa pedra de moinho, esta se reduziria num instante em pó. Se caísse numa bola de bronze, esta se derreteria instantaneamente como se fosse de cera. Se caísse sobre um lago congelado, este haveria de ferver no mesmo instante.
Façamos uma breve pausa, ó alma minha, para que tu respondas a algumas perguntas que te farei. Primeiro, te pergunto: Se um forno especial fosse acesso, como usualmente se faz para atormentar os mártires, e, então, alguns homens colocassem diante de ti todo tipo de bens que o coração humano possa desejar, e garantissem a oferta de um reino próspero – se tudo isso te fosse prometido em troca de que entrasses, só por meia hora, no forno ardente, o que escolherias fazer?

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