quarta-feira, 3 de junho de 2015

Pe. Fernando Rifan, por Dom Tomás de Aquino, OSB.



SUPLEMENTO
Nº 7
Dom Fernando Arêas Rifan

Dom Fernando Rifan sempre foi um líder. Dotado de uma viva inteligência e de contato fácil, ele não teve dificuldades para conquistar a admiração e a confiança de todos.

Ordenado em 1974 por Dom Antônio de Castro Mayer ele não demorou a tornar-se o secretário do bispo de Campos.



Em 1980, por ocasião da minha ordenação, o Rev. Pe. Fernando Rifan encontrou um meio de ir a Ecône. Aproveitando-se de uma visita ad limina que Dom Antônio fazia naquela ocasião, o Rev. Pe. Rifan também visitou nosso mosteiro na França e Dom Gérard logo discerniu nele um futuro bispo. Os acontecimentos darão razão a Dom Gérard, mas de modo bem diferente que se poderia esperar naquela época. Mas não antecipemos.
No Brasil o Pe. Fernando fora solicitado pelos fieis de Permanência para rezar a missa no Rio. Num simpático diálogo entre o Pe. Fernando Rifan e o Dr. Júlio Fleichman, foi selada uma cooperação entre Campos e a Permanência.

- “Não podemos tirar o pão dos nossos fiéis de Campos para dar aos do Rio”, argumentou o Pe. Rifan que queria evitar este apostolado fora da diocese de Campos. Campos sempre se ressentirá de um certo legalismo que limitará a ação de Dom Antônio de Castro Mayer e de seus padres.
- “Mas os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos filhos”, respondeu o Dr. Júlio que, com esta bela resposta, ganhou a partida.
Campos começou então a atender os fiéis do Rio e quando Santa Cruz foi fundado, em 1987, Campos pensou em nos confiar este apostolado. Consentimos somente numa colaboração, pois não queríamos assumir uma responsabilidade que poderia perturbar a regularidade de nossa vida monástica. Nosso apostolado, segundo nosso fundador, o Rev. Pe. Muard, deve ser mais o das missões do que o das paróquias.

Assim foi até 1989 ou 1990, quando Dom Lourenço assumiu o apostolado no Rio ao qual foi acrescentado, em seguida, o de Niterói.

Mas antes se deram as sagrações de 1988. Numa bela manhã, Dom Antônio de Castro Mayer tomou uma decisão que pegou de surpresa os seus padres. Ir a Ecône para as sagrações. Esta decisão partiu dele mesmo, como o Pe. Possidente repetiu em várias ocasiões. O Pe. Fernando o acompanhou, bem como os Rev. Padres Possidente e Athayde. Na cerimônia de sagração o Pe. Fernando traduziu o pequeno sermão, ou melhor, a profissão de fé que Dom Antônio fez para justificar sua presença naquela cerimônia e declarar publicamente seu apoio à obra de Dom Lefebvre. Este pequeno sermão marcou profundamente aqueles que o escutaram.

Depois das sagrações Dom Antônio e seus padres partiram para o Barroux onde eles não puderam entreter-se com Dom Gérard como desejavam. Dom Gérard os evitava deixando assim perceptível para que lado ele estava inclinado. Saindo do Barroux o Pe. Rifan deixou uma carta a Dom Gérard sobre a imensa confusão e decepção que um acordo entre o Barroux e Roma provocaria na Tradição.

Quando, no Brasil, recebemos a notícia dos acordos entramos em contato com Dom Lefebvre e Dom Castro Mayer para nos orientar sobre o que era mais prudente fazer. O Pe. Rifan, nestas horas difíceis, serviu de intermediário, para nos comunicar os conselhos de Dom Antônio. Sua Excelência e os padres propunham que fechássemos Santa Cruz e nos instalássemos na diocese de Campos. Uma carta de Dom Lefebvre nos fez tomar uma decisão diferente: não entregar o mosteiro e fazer uma declaração pública, expondo as razões de nossa ruptura com Dom Gérard. Os bens da Igreja pertencem ao Cristo Rei, não se deve deixar que caiam nas mãos dos inimigos de Seu reino universal. O Pe. Rifan veio a Nova Friburgo com o Pe. Tam ajudar-nos a redigir esta declaração.
Posteriormente ele voltou mais uma vez para falar sobretudo com Dom José Vannier, que tomara o partido de Dom Gérard mas que tinha consideração pelos padres de Campos. Os Rev. Padres Possidente e Rifan falaram com Dom José, mas sem resultado.

Alguns dias mais tarde, o próprio Dom Gérard apresentou-se ao mosteiro com Dom Emmanuel Butler para tentar reaver o mosteiro. Padre Fernando esteve novamente aqui para nos ajudar nas discussões que tivemos com Dom Gérard. Expressamos aqui nossa gratidão por toda aquela ajuda dada a Santa Cruz que contrasta tanto com o que ele faz hoje.

Logo após estes acontecimentos, ou um pouco antes, o Pe. Rifan veio nos ajudar numa missão em nossa região, com toda sua experiência na matéria. Ao fim da missão plantamos uma cruz com a inscrição « Salva tua alma ».
Os laços entre nós e o Pe. Fernando aumentaram ainda mais por ocasião duma viagem a Alemanha para obter ajuda para o mosteiro e para a paróquia do Rev. Pe. Rifan. Passando por Ecône, Dom Lefebvre nos recebeu com a gentileza que lhe era característica e colocou no bolso do Pe. Rifan uma ajuda substancial para a compra de um terreno onde se construiu uma igreja, a mesma onde, atualmente, ele defende a submissão ao Vaticano II e aos decretos litúrgicos da Igreja Conciliar. Que diria Dom Lefebvre se pudesse prever tão mal uso de sua generosa ajuda?

Depois da morte de Dom Antônio uma questão urgente se impôs aos padres de Campos. Quem substituiria Dom Antônio? Isto já poderia ter sido feito em 1988, mas Campos deixara passar a ocasião. Depois de algumas deliberações o clero fiel decidiu escolher um bispo, e um pequeno “conclave” se reuniu. Dom Antônio indicara, antes de sua morte, dois nomes: o Rev. Pe. Emmanuel Possidente e o Rev. Mons. Licínio Rangel. Pode-se supor que o Rev. Pe. Rifan não tinha pois as preferências de Dom Antônio de Castro Mayer.

O Rev. Mons. Rangel foi escolhido. A sagração de Dom Licínio Rangel realizou-se na cidade de São Fidelis, em 28 de julho de 1991. O bispo consagrante foi Dom Tissier de Mallerais, assistido por Dom Williamson e Dom Galarreta. Apesar do respeito que se tinha por ele, Dom Rangel jamais pertenceu ao trio dirigente do clero de Campos. Os Rev. Pe. Possidente, Rifan e Athayde tinham uma influência que limitava um pouco a ação de Dom Rangel, que era de temperamento bastante reservado e um pouco tímido. Não há nada de pejorativo nisto que é dito aqui de Dom Licínio ou dos três padres mais influentes de sua diocese. Isto é simplesmente um fato. Ele pode talvez explicar, em parte, os acontecimentos que se seguiram.

Convidado pela Fraternidade São Pio X para pregar o retiro sacerdotal que precedeu o Capítulo Geral onde Dom Fellay foi eleito, em 1994, para suceder ao Rev. Pe. Schmidberger, o Rev. Pe. Rifan tornou-se cada vez mais uma referência na Tradição. Assim, quando a Fraternidade entrou em contato com Roma depois do Jubileu de 2000 e convidou Campos para participar, o Pe. Rifan foi escolhido para representar Campos nestas entrevistas. O drama de Campos ia começar.

Quando as condições apresentadas por Roma pareceram inaceitáveis por parte da Fraternidade São Pio X, Campos preferiu não dar marcha ré. É difícil de estabelecer qual é a responsabilidade exata de uns e outros nestes acontecimentos. O que pode-se afirmar com certeza é que o Pe. Fernando tornara-se o homem da situação. Ainda que obedecendo às diretivas de Dom Rangel, ele era o único interlocutor presente em Roma durante as negociações. O Pe. Rifan, deve-se notar, já tinha depois de certo tempo contatos cada vez mais freqüentes com os progressistas e tinha também o costume de obter permissões para rezar a missa de São Pio V nos locais que pertenciam aos adversários. Embora isto não seja necessariamente um mal, isto foi, creio, uma abertura que contribuiu para a queda do Pe. Fernando e de toda a diocese. O simples contato com estes homens imbuídos de modernismo e liberalismo foi o ponto de partida desta queda? Vale à pena fazer-se esta pergunta.

Para a grande decepção dos católicos de todo o mundo, Dom Rangel assinou um acordo com Roma na catedral da cidade de Campos no dia 18 de janeiro de 2002, na presença do Cardeal Castrillon Hoyos; do bispo titular de Campos, Dom Roberto Guimarães, e de outras personalidades do mundo eclesiástico. Foi a sentença de morte da Tradição em Campos, embora o Pe. Fernando repetisse que não se tratava de um acordo, mas de um reconhecimento. Todos os fiéis aceitaram os acordos, enganados por seus padres que, por sua vez, enganaram-se a si mesmos. Na verdade nem todos os fiéis aceitaram estes acordos, mas os que resistiram foram verdadeiramente o “pusillus grex”. Entre eles deve-se destacar aqui o Sr. Hirley Nelson de Souza.

Dom Licínio, atacado por um câncer, faleceu pouco depois, e o Rev. Pe. Rifan o sucedeu à frente da Administração Apostólica, nascida dos acordos com Roma. Sagrado pelo cardeal Hoyos, Dom Fernando revelar-se-á o “ralié”[1] por excelência. Tornando-se amigos de nossos inimigos, ele percorrerá todas as dioceses, abraçando aqueles que outrora ele atacava com um ardor que os progressistas não esquecerão tão cedo. Com a mudança de lado, Dom Rifan vai acumular as provas da sinceridade de seu “alinhamento”[2]. Como disse Abel Bonnard: “Um “ralié” nunca é bastante “ralié” ”. A autoridade do Vaticano II; a legitimidade da missa nova; a obrigação de se submeter ao “magistério vivo” dos Papas liberais; a condenação de Dom Lefebvre, considerado como um cismático: tudo isso Dom Fernando Rifan foi obrigado a aceitar e proclamar.

Todavia, não era isto que os padres de Campos queriam, nem o que eles haviam dito aos fiéis, nem mesmo o que eles haviam dado a entender ao Cardeal Castrillon Hoyos. Prova disso, a declaração que eles redigiram, na qual afirmaram sua determinação de continuar o combate contra o liberalismo, o modernismo e o progressismo que inspirou o Vaticano II. O Cardeal Hoyos, depois de ler a declaração, fez a seguinte reflexão que um dos padres de Campos me relatou: “Sim, foi o que nós combinamos. Mas não é necessário dizer tudo isto. Basta declarar que os senhores farão críticas construtivas conforme permite o Código de Direito Canônico”. “Depois disto, disse o mesmo padre, nosso combate terminou”. Seja por medo de contristar o Papa ou o Cardeal Hoyos, seja por falta de convicção, ou por causa de uma fé abalada, ou por medo de Dom Fernando Rifan, ou por qualquer outra razão, o fato é que Campos tornou-se semelhante a um cachorro mudo. A Roma modernista não tem nada a recear da parte destes padres, apesar deles terem sido formados na escola de um dos grandes bispos do século XX, que se opôs energicamente aos erros modernos. Como explicar isto? Sem querer penetrar no fundo dos corações e ir além daquilo que os fatos nos revelam, penso que, certamente, o contato com as autoridades que não professam a integridade da fé católica só pode levar, pouco a pouco, aqueles que se submetem a elas a compartilhar de suas idéias e de seu modo de ser. Dom Lefebvre alertara o bastante a Dom Gérard sobre isto. Em Roma não se faz o que se quer, mas o que Roma quer. Dom Gérard não levou isso em conta; Dom Fernando, menos ainda.
Mas, da própria diocese é que viria a reação. Os próprios fiéis perceberam com o tempo que alguma coisa estava mudando. Eles apelaram para o mosteiro, e Dom Antônio-Maria foi rezar uma missa para eles numa fazenda que tem o belo nome de Santa Fé. Dom Fernando ficou furioso. Ele reuniu os “culpados” e lhes advertiu duramente.
-“Ai dos senhores, se trouxerem aqui novamente um padre do mosteiro ou da Fraternidade!”
-“Excelência, respondeu um camponês que conhecera Dom Castro Mayer, isto depende só do senhor. Se o senhor perseverar na nova direção que escolheu, eu chamarei, todos os anos, um padre da Fraternidade ou do mosteiro para fazer minha Páscoa, eu e minha família.”
Dom Rifan não pôde obter nada daqueles valorosos camponeses, que atualmente, nas grandes festas, são mais de 250 numa pequena igreja construída por eles, onde os padres da Administração não põem mais os pés.

Para terminar, observemos somente que Dom Fernando hoje concelebra com os bispos progressistas e diz que recusar sistematicamente a rezar a Missa Nova é uma atitude cismática. É o que chamamos de traição: ação de faltar com a fidelidade que se deve ter aos princípios católicos, pois eles nos foram confiados pela Santa Igreja, ou seja, por Nosso Senhor. É uma constatação, nada mais. Se se prefere uma outra definição de traição, pode-se aplicar-lhe esta: crime de uma pessoa que passa para o lado do inimigo. É duro, mas é um fato. Todo mundo pode constatar. Que Deus nos preserve de fazer o mesmo, nós que, por nossa fragilidade, podemos cair ainda mais baixo. Atualmente Dom Rifan é amigo daqueles que condenaram Dom Lefebvre e Dom Antônio. Ele chama João XXIII e João Paulo II de beatos. Ele é amigo dos liberais, daqueles que destronaram Nosso Senhor e que promovem a descristianização da sociedade.

Que Nosso Senhor e sua Mãe Santíssima nos preservem de perder a herança que nos foi legada com tanto sofrimento por Dom Marcel Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer, a qual não é senão aquela de que falava São Paulo: “Eu transmiti o que eu recebi” (I Cor. 11, 23)

Ir. Tomás de Aquino O.S.B.


[1] “Ralié”. Nome que os franceses deram aos que, seguindo diretivas de Leão XIII, aceitaram trabalhar com o governo republicano e maçom da França, no século XIX. As diretivas de Leão XIII se revelaram imprudentes, e os melhores católicos franceses se recusaram a segui-las. Este mesmo governo francês depois expulsou as ordens religiosas do país, obrigando-as a emigrarem para o exterior.
[2] Traduziremos assim o termo “ralliement”, e para “ralié” manteremos a forma francesa.

Fonte:http://missaosagradafamilia.blogspot.com.br/

5 comentários:

  1. Meus parabéns a D. Tomás de Aquino Ferreira da Costa OSB pelo seu magnífico texto, um primor de narrativa verídica de fatos tão dolorosos.
    Só falta acrescentar uma coisa: D. Rifan não é só um traidor, é um pulha.

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    1. Vc seja quem for, não deveria faltar com o respeito a um sacerdote.
      Pulha... não...

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  2. Dom Tomás não deixou de espetar a D. Lourenço Fleichman dizendo que o fundador da congregação queria apostolado de missionários e não de párocos!
    D. Tomás é inteligente em suas observações, não deixa passar nenhuma oportunidade.
    Tomara que este site continuasse publicando matérias interessantes como esta.

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  3. Rogamos ao Sagrado Coração de Jesus que não permita que a Fraternidade São Pio X não caia na arapuca armada pelo Vaticano contra os tradicionalistas.
    No caso de D. Rifan foi uma ratoeira, não para matá-lo, mas para transformá-lo em ratazana da curia romana!

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    1. Realmente, não há motivo para D. Fellay recorrer aos tribunais romanos. A Fraternidade, com razão, sempre alegou estado de necessidade. Se abençoa os matrimônios, se expede cartas dimissoriais para as ordenações sacerdotais, por que recorrer aos tribunais romanos?
      A crítica do prof. Fedeli e da Montfort aos tribunais da Fraternidade não procede. A Montfort não aceitava os casamentos celebrados pela Fraternidade e pelos Padres de Campos dizendo que eles tinham jurisdição extraordinária? Por que não terão uma jurisdição extraordinária para julgar os casos particulares que surgirem? Parece coisa infantil ficar impressionado com o termo "tribunal". Na verdade, a Fraternidade, por orientação de D. Lefebvre, instituiu uma Comissão Canônica para resolver os problemas. Sempre levando em conta a situação crítica que a Igreja vive.
      Ademais, é uma hipocrisia criticar por esse motivo a Fraternidade quando se sabe que essa gente não aceita as sentenças proferidas pelos tribunais romanos, pois dizem que instituíram o divórcio dentro da Igreja e consideram que as segundas uniões abençoadas nas paróquias baseadas nessas sentenças são sacrílegos adultérios.
      Realmente, concordo com o dito antes: que D. Fellay saia da arapuca armada por Roma.

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