domingo, 14 de dezembro de 2014

Como preparar-se para o Natal?


Por São João de Ávila, sermão pregado no terceiro Domingo do Advento. 

Uma palavra para todos os que quiserdes receber a Deus neste Natal: - "Padre, eu amo a Deus, que farei?" Se tiverdes a casa suja, varrei-a; se houver poeira, pegai em água e molhai-a. 

Haverá aqui alguns que não varrem a casa há dez meses ou mais, Existirá mulher tão desleixada que, tendo uma marido muito asseado, fique dez meses sem varrer a casa? Há quanto tempo não vos confessais? Irmãos, não vos pedi na Quaresma passada que vos acostumásseis a confessar-vos algumas vezes no ano? Pelo menos no Natal, nos dias de Nossa Senhora e em outras festas religiosas importantes do ano, mas penso que vos esquecestes. Praza a Nosso Senhor que não vos exijam contas disso no dia do Juízo. E se disserdes então: - "Eu não sabia, por isso não me confessei", dir-vos-ão: - "Bem que vo-lo disseram, bem que vo-lo gritaram, muito se afadigaram em alertar-vos; agora de nada serve puxar os cabelos porque antes não o quisestes fazer".

Irmãos, pecamos todos os dias. Se até hoje fostes preguiçosos em varrer a vossa casa, pegai agora na vassoura, que é a vossa memória. Lembrai-vos do que fizestes ofendendo a Deus e do que deixastes de fazer a seu serviço; ide ao confessor e jogai fora todos os vossos pecados, varrei e limpai vossa casa. 

Depois de varrida, molhai o chão. - "Mas não posso chorar, padre". E se vos morre o marido ou o filho, ou se perdeis um pouco do vosso dinheiro, não chorais? - "Claro que choro, padre, e tanto que quase chego ao desespero". Pobres de nós que, se perdemos um pouco de dinheiro, não há quem nos possa consolar, mas se nos sobrevém um mal tão grande como perder a Deus - pois isso acontece a quem peca -, o nosso coração é de tal forma uma pedra que são necessários muitos pregadores, confessores e admoestadores para que sintamos um pouco de tristeza! Mais valorizas o real perdido do que o Deus que perdes. Quando perdes uma quantia insignificante, não há quem consiga consolar-te, nem frades, nem padres, nem amigos, nem parentes. E, no entanto, não te entristeces quando perdes nada menos que o próprio Deus. Que significa isto, senão que tens tanta terra nos canais entre o coração e os olhos que a água não pode passar? 

- "Que me leva a ter o coração tão duro e a não poder chorar?" De todos os tempos apropriados que há ao longo do ano, este é o mais apropriado para os duros de coração. Valorizai o tempo santo em que estamos, considerai esta semana como a mais santa de todas do ano. É uma semana santa, e se a aproveitardes bem e vos preparardes como já sabeis, certamente vos será tirada a dureza do coração.  

Livro: O Mistério do Natal, São João de Ávila.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Calendário Litúrgico Dezembro 2014



DEZEMBRO 2014
01
Segunda-feira
Féria do Advento
02
Terça-feira
03
Quarta-feira
04
Quinta-feira
05
Sexta-feira
1ª Sexta-feira do mês
06
Sábado
1ª Sábado do mês
07
Domingo
2º Domingo do Advento    -   começa a Novena do Enxovalzinho de Jesus
08
Segunda-feira
e Novenas e Tríduo aqui
09
Terça-feira
Féria do Advento
10
Quarta-feira
11
Quinta-feira
12
Sexta-feira
13
Sábado
14
Domingo
3º Domingo do Advento: Sermão de São João de Ávila
15
Segunda-feira
Féria do Advento
16
Terça-feira
S. Eusébio, Bispo e Mártir  * -   Começam três novenas (vide abaixo n. 11)
17
Quarta-feira
TÊMPORAS – jejum e abstinência
Leia mais aqui * 
18
Quinta-feira
Féria do Advento
19
Sexta-feira
TÊMPORAS – jejum e abstinência
20
Sábado
Sábado das Têmporas do Advento * 
Vigília de S. Tomé, Apóstolo
TÊMPORAS – jejum e abstinência
21
Domingo
4º Domingo do Advento
22
Segunda-feira
Féria do Advento - Começa Tríduo para a Festa do Natal
23
Terça-feira
Féria do Advento
24
Quarta-feira
Lembre-se que é dia de abstinência!
25
Quinta-feira
26
Sexta-feira
27
Sábado
28
Domingo
Domingo da Oitava de Natal
29
Segunda-feira
30
Terça-feira
VI dia da Oitava de Natal
31
Quarta-feira
S. Silvestre I, Papa e Confessor

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Por que razão as mulheres devem cobrir a cabeça na igreja?


Por que razão as mulheres devem cobrir a cabeça na igreja?

1. A razão primeira, imediata, suficiente e determinante é que é a lei de Deus e da Igreja.

– É a lei de Deus, que o Espírito Santo revelou por São Paulo: “Quero que saibais que o cabeça de todo homem é Jesus Cristo, o cabeça da mulher é o homem, e o cabeça de Jesus Cristo é Deus. Todo homem que reza ou profetiza com a cabeça coberta, desonra a sua cabeça. E toda mulher que reza ou profetiza, sem véu sobre a cabeça, desonra a sua cabeça, porque é como se estivesse rapada. Portanto, se a mulher não se cobre com véu, que ela tenha os cabelos raspados. […] Por isso que a mulher deve, por causa dos Anjos, trazer a marca de sua dependência sobre a cabeça. […] Julgai vós mesmos: é decente que a mulher faça oração a Deus, não tendo véu? […] E, se alguém quiser contestar, nós não temos tal costume, nem a Igreja de Deus” [I Cor XI, 3-16].

– É a lei da Igreja, promulgada pelo primeiro sucessor de São Pedro, o Papa São Lino (dixit o breviário na festa dele, a 23 de setembro); esta lei tem estado em vigor sem interrupção na Igreja, como testemunha o direito canônico de 1917: “Ao assistirem às funções sacras, quer na igreja ou fora dela, os homens devem ter a cabeça descoberta […]. Quanto às mulheres, devem elas ter a cabeça coberta e estar modestamente vestidas, principalmente ao se aproximarem da santa Mesa” [cânon 1262 § 2].

Eu sei, esta lei não foi retomada no código de 1983: mas será razão para esquecer São Paulo (que não foi abolido, e cuja ordem perdura) e vinte séculos de sabedoria (que nos falta cruelmente)?

Para que esta lei obrigue, não é necessário que a compreendamos. Por isso que digo que esta primeira razão é suficiente e determinante.
Mas é desejável procurar compreender as razões de uma lei, para melhor obedecer a ela, entrando assim no espírito dele e se conformando com maior inteligência e docilidade à vontade do legislador.

2. As razões de ser desta lei divina são indicadas pelo Apóstolo São Paulo: …em sinal de sujeição …por causa dos Anjos.
Estas duas razões deixam prever, ainda mais em nosso mundo acometido de igualitarismo e de impudicícia, um bocado de incompreensão.

Sujeição.

Há uma sujeição da mulher ao homem que é gloriosa, e outra que é um dos castigos do pecado original.

Quanto à primeira, São Paulo diz que a mulher é a glória do homem… a santidade da sua alma, a honra do seu lar, a educadora dos seus filhos, a guardiã dos seus costumes, a doçura de sua vida: glória insubstituível, glória que fez e que faz a sociedade cristã, glória que é penhor também de uma sociedade simplesmente humana (ao absorver a segunda sujeição), glória que um tolo igualitarismo destrói, para máximo detrimento de todos.

Quanto à segunda, ela é efeito do desregramento da carne (esta concupiscência é em geral bem mais viva no homem) e do desregramento da força, que se torna brutalidade e apetite de dominação. A graça de Deus liberta do pecado; ela não liberta (neste mundo) da condição de pecador sob o jugo das consequências do pecado – mas ela suaviza este jugo e faz dele ocasião de mérito.

A virgindade consagrada torna uma mulher diretamente glória e esposa de Jesus Cristo, e a coloca numa condição em que a segunda sujeição desaparece.


Por causa dos Anjos.

– Por causa dos bons Anjos, pois eles são ministros da presença de Deus, santificadores dos lugares onde Deus está mais particularmente presente (presença eucarística nas igrejas, presença espiritual nos locais de oração pública [ali onde dois ou três estão reunidos em meu nome, eu estou no meio deles]) e executores de Sua lei;

– por causa dos ministros de Deus, cuja visão não deve ser turbada nas cerimônias santas;

– por causa dos homens, que devem tender a levar uma vida angélica, dominando a concupiscência, e não o conseguem a não ser que as mulheres estejam vestidas com pudor e modéstia;

– por causa dos anjos maus, que excitam nas mulheres o desejo de agradar, de ser admiradas, de ser glorificadas (em público, elas arriscam muito de o ser por algum outro que não o seu esposo). Frequentemente as mulheres creem que esse desejo bem feminino de agradar seja anódino ou inocente, esquecendo-se de que ele tem como correlativo o desejo bem masculino de conquistar. Todas as barreiras postas na sociedade cristã são feitas para que esses dois desejos não se encontrem, e não possam exprimir-se fora do matrimônio legítimo.


Por que então cobrir a cabeça? Por uma razão simbólica, dada por São Paulo (marca de dependência), e por uma razão real, que se une àquela (a cabeleira é o ornamento da mulher, que atrai os olhares). Não quer dizer isto que o resto do corpo possa estar descoberto, não! As partes visíveis do corpo humano são aquelas menos marcadas pela animalidade (e, portanto, as menos feridas pelo pecado original): o rosto, que é o reflexo da alma espiritual, e as mãos, que são os instrumentos da natureza inteligente.

______________
PARA CITAR ESTA TRADUÇÃO:
Rev. Pe. Hervé BELMONT, Por que razão as mulheres devem cobrir a cabeça na igreja?, 1ª. redação s.d./republicado pelo A. em dez. 2005; trad. br. por F. Coelho, dez. 2014, blogue Acies Ordinata,http://wp.me/pw2MJ-2te
de: “Retour sur les têtes couvertes…”, 3 dez. 2005, antigamente (não mais) em: « archives.leforumcatholique.org/consulte/message.php?arch=2&num=161354 »

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Doutrina da Igreja sobre a canonização dos Santos



No verbete “Infallibilità”, a Enciclopedia Cattolica escreve:
No objeto secundário [da infalibilidade] estão reunidas aquelas que, com termo genérico, se chamam ‘verdades conexas’ [com a Revelação]. (…) As classes mais consideradas destas verdades conexas são: a das conclusões teológicas, a dos fatos dogmáticos, a da canonização, a da legislação eclesiástica. A conexão da canonização com a Revelação se manifesta pelo fato de que ela nada mais é que a aplicação concreta de dois artigos de fé, o sobre o culto dos santos, e o da comunhão dos santos, além de que interessa à própria moral religiosa cristã, sendo o canonizado proposto também como modelo de perfeita virtude”.

No verbete “Canonizzazione”, lê-se:
É, porém, doutrina comum dos teólogos que o Papa na canonização é deveras infalível, tratando-se de um ato importantíssimo atinente à vida moral da Igreja universal, dado que o santo não é somente proposto à veneração por gozar da glória celeste, mas também por ser modelo das virtudes e da santidade real da Igreja. Ora, seria intolerável se o Papa, numa declaração dessas que implica toda a Igreja, não fosse infalível. Essa doutrina resulta de não poucas bulas de canonização, inclusive da Idade Média; das deduções dos canonistas, desde a Idade Média; e dos teólogos desde Santo Tomás de Aquino (1)Bento XIV (2) ensina que é certamente herético e temerário ensinar o contrário”.

Poderíamos ajuntar citações atrás de citações; o que acaba de ser dito parece-nos, todavia, suficiente para concluir que um católico não pode pôr em dúvida – como, ao invés, faz a Fraternidade – a infalibilidade do Papa nas canonizações dos Santos.

Notas
1) O ensinamento de Santo Tomás se encontra na Quodlibetale IX, art. 16 (Utrum omnes sancti qui sunt per Ecclesiam canonizati sint in gloria, vel aliqui eorum in inferno) e é admiravelmente comentado por Bento XIV em seu De servorum Dei

2) Papa Bento XIV é a máxima autoridade na matéria por causa de sua obra monumental, escrita quando ele era Cardeal Arcebispo de Bologna, intitulada De servorum Dei beatificatione et beatorum canonizatione. A questão da infalibilidade da canonização é tratada no Livro I, nos capítulos 43 (De ecclesiastico judicio, quod interponitur in Sanctorum Canonizatione: utrum sit infallibile), 44 (In quo repelluntur opposta iis, quae dicta sunt in Capite præcedenti), 45 (An sit de fide Summum Pontificem errare non posse in Canonizatione Sanctorum; et an de fide sit, Canonizatum esse sanctum) [notemos que, para uma escola teológica – que não seguimos –, nem tudo aquilo que é ensinado infalivelmente deve ser crido com fé divina: algumas verdades deveriam ser cridas somente com fé eclesiástica: daqui a divisão de capítulos feita por Bento XIV, que se indaga primeiro se o Papa é infalível nas canonizações, e depois se aquilo que é por ele assim definido é de fé]. Bento XIV sustenta a opinião segundo a qual o Papa é infalível ao canonizar os Santos, e que isso é de fé, razão pela qual quem o negue seria herege. Em vista, porém, das opiniões diversas, conclui (livro I, c. 45, n. 28) expondo aquilo em que todos concordam, e que se deve crer como mínimo, a saber que: “quem ousasse sustentar que o Papa errou nesta ou naquela Canonização, ou que este ou aquele Santo canonizado pelo Papa não deve ser venerado com culto de dulia, se não for herege[como pensa nosso autor, o Papa Bento XIV], ao menos deve ser chamado (como admitem inclusive os que ensinam não ser de fé que o Papa é infalível na Canonização dos Santos, ou que não seja de fé que este ou aquele Canonizado é Santo) temerário, que escandaliza toda a Igreja, injuria os Santos, favorece os hereges que negam a autoridade da Igreja na Canonização dos Santos, tem odor de heresia, enquanto abre caminho para os infiéis zombarem dos fiéis, sustenta uma proposição errônea e merece as mais graves censuras” (o DTC [Dicionário de Teologia Católica], no verbete “Canonisation”, adota esse juízo minimalista).

Fonte:https://aciesordinata.wordpress.com

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Extra Ecclesiam nulla salus: Fora da Igreja não há salvação

"Não há salvação fora da Igreja". (São Cipriano)
Credo de Santo Atanásio (séc. IV), oficial da Igreja Católica: "Todo aquele queira se salvar, antes de tudo é preciso que mantenha a fé católica; e aquele que não a guardar íntegra e inviolada, sem dúvida perecerá para sempre (...) está é a fé católica e aquele que não crer fiel e firmemente, não poderá se salvar".
Papa Inocêncio III: "De coração cremos e com a boca confessamos uma só Igreja, que não de hereges, só a Santa, Romana, Católica e Apostólica, fora da qual cremos que ninguém se salva". (Denzinger, 423)
IV Concílio Infalível de Latrão (1215), cânon I:"...Há apenas uma Igreja universal dos fiéis, fora da qual absolutamente ninguém é salvo...". Canon III: "Nós excomungamos e anatematizamos toda heresia erguida contra a santa, ortodoxa e Católica fé sobre a qual nós, acima, explanamos...".(Denzinger, 430).
Papa Bonifácio VIII: "Por imposição da fé, estamos obrigados a crer e manter que há uma só e Santa Igreja Católica e a mesma apostólica e nós firmemente cremos e simplemente a confessamos e fora dela não há salvação nem perdão dos pecados. (...) Submeter-se ao Romano Pontífice, o declaramos, o decidimos, definimos e pronunciamos como de toda necessidade de salvação para toda criatura humana".(Denzinger, 468-469)
Há um caminho real’, que é a Igreja católica, e uma só senda da verdade. Toda heresia, pelo contrário, tendo deixado uma vez o caminho real, desviando-se para a direita ou para a esquerda, e abandonada a si mesma por algum tempo, cada vez mais se afunda em erros. Eia, pois, servos de Deus e filhos da Igreja santa de Deus, que conheceis a regra segura da fé, não deixeis que vozes estranhas vos apartem dela nem que vos confundam as pretensões das erroneamente chamadas ciências” (Santo Epifânio).
A Igreja é toda santa (Ef 5, 27). "A esposa de Cristo não pode ser adulterada, ela é incorrupta e pura, não conhece mais que uma só casa, guarda com casto pudor a santidade do único tálamo." (S. Cipriano, Sobre a Unidade da Igreja, cap. 4).
"Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja católica" (Santo Agostinho).  
"Temos o Espírito Santo na medida em que amamos a Igreja". (Santo Agostinho).
"Em tudo me sujeito ao que professa a Santa Igreja Católica Romana, em cuja fé vivo, afirmo viver e prometo viver e morrer" (Santa Teresa D'Ávila).

Somente a ortodoxia católica faz o homem feliz: é como os muros postos ao redor de um precipício onde pode brincar uma porção de crianças” (Chesterton)

sábado, 29 de novembro de 2014

ALGUNS ARGUMENTOS CONTRA O PADRE JONAS ABIB


DE: JULIANO
PARA: ASSOCIAÇÃO CULTURAL MONTFORT

PERGUNTA

A chamada RCC é um movimento pentecostal que teve origem entre os protestantes. É lógico, então, que a RCC - como a senhora diz -- não respeite, e, até pratique abusos contra a Missa. Ignorava eu que houvesse abusos desse porte. Mas acredito em sua palavra, porque quem diz que já tem o Espírito Santo na alma, porque razão daria importância à Missa, à Igreja e ao Clero?

Olha, sinceramente eu não sei de onde você tira essas coisas...! A RCC foi o movimento que mais deu valor e fez renascer na alma dos católicos o respeito pela Santa Missa e a sua importância. A RCC também ama profundamente a Igreja, o Clero e a Hierarquia. Os movimentos heréticos sempre afirmam que a Igreja, em um certo momento de sua História, errou e abandonou a doutrina de Cristo, e que, por isso, é necessário retornar à Igreja primitiva. Esse erro supõe que o Espírito Santo abandonou a Igreja, em certo momento, negando portanto que Cristo cumpriu sua promessa de estar com a Igreja todos os dias, até o fim dos tempos.

Não sei até que ponto se afirma, na RCC, que é preciso retornar ao que a Igreja era, a princípio, mas de qualquer forma essa é uma formulação errada.

Sei porém que o fundador da Canção Nova, Padre Jonas Abib, afirma em um de seus livros uma tese inaceitável sobre essa questão: "Em 1975, no Congresso Internacional da Renovação Carismática Católica, em Roma, surgiu uma palavra de profecia. Essa palavra orientou os rumos da Renovação naquele momento, e agora, mais do que nunca, se mostra atual.

"Veja bem a data: estávamos em 1975. Fazia apenas oito anos que Deus começara a derramar o seu Espírito de maneira nova sobre a Igreja Católica" (Padre Jonas Abib, A Bíblia no meu dia-a-dia, p. 14. O negrito é meu).

Como a senhora vê, Irmã, segundo o Padre Abib, Deus só começou a derramar o Espírito Santo e seus dons sobre a Igreja -- de maneira nova -- na década de 1960, isto é, após o Vaticano II.

E até essa data, como Deus deixara a Igreja?


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O Porquê das Heresias

 

O Porquê das Heresias
Do livro "As Grandes Heresias
de Monsenhor Cristiani

Na oração sublime que os exegetas chamam "oração sacerdotal", Cristo pede ao Pai, com certa angústia, que os seus discípulos guardem para sempre a unidade: "Pai Santo, guarda em teu nome aqueles que me confiou, de modo que sejam um, como Nós... Não rogo somente por eles, mas também para aqueles que, movidos por sua pregação, creiam em mim, para que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti, para que também eles também sejam um em Nós, a fim de que o mundo saiba que Tu me enviaste "(Jo XVII, 11, 20-24).

Cristo sabia o preço e a dificuldade da unidade, o que seria o principal sinal da verdadeira Igreja. Porém haveria divisões, rupturas da unidade, divergências de opinião, em uma palavra, heresias. Este é, de fato, o significado desta palavra de origem grega, que adotado pelo latim, foi quase desconhecido pela linguagem clássica, e, em vez disso, usado com freqüência pelos Padres da Igreja. De onde provém as heresias? Da diversidade de idéias, de características, temperamentos, e por fim, o próprio fato da liberdade humana. A Fé na Palavra de Deus é livre.Deus não força ninguém. Porém é inevitável que a fé exija por parte do homem um esforço de submissão e obediência. Esta obediência é uma opção. O papel das heresias é destacar essa opção. Por isso São Paulo disse: “É necessário que entre vós haja heresias para que possam manifestar-se os que são realmente virtuosos” (I Coríntios, XI, 19).

E Tertuliano, 150 anos mais tarde, escrevia: “A condição de nosso tempo nos obriga a dar esta advertência, que não nos devemos admirar por causa das heresias, nem de sua existência, que foi predita, nem de que arruínem a fé em muitos, pois sua razão de ser é provar a fé, tentando-a”.

Se tentarmos verificar esta lei da prova necessária à fé, constataremos que ela faz parte das leis essenciais que regem os espíritos. Os anjos haviam sido submetidos a uma prova. Não lhe conhecemos o modo, mas constatamos o fato, na existência dos demônios (1). Eram anjos como os outros. Sucumbiram à prova. Os homens, por sua vez, devem ser “tentados”, isto é “provados”. É fácil ver o que acontece no aparecimento das heresias. No fato da heresia podem distinguir-se três aspectos diferentes: o aspecto filosófico, o aspecto paradoxal e o aspecto positivo.

Sob o ponto de vista filosófico, a heresia nasce do conflito ou do contraste entre a verdade revelada e os diversos sistemas filosóficos já estabelecidos nos espíritos sobre os quais recai essa revelação. A fé nem sempre encontra espíritos bem preparados para a receber. Cristo escolheu apóstolos sem instrução. Mas esses mesmos apóstolos tinham suas idéias, suas tradições, suas concepções sobre o reino messiânico. Os escribas e fariseus se julgavam bem mais esclarecidos que os humildes pescadores do lago da Galiléia. Em todos eles a fé encontrava obstáculos, em todos haviam preconceitos a vencer. E, passando dos Judeus para os pagãos, os conflitos de aspecto filosófico entre a fé e os sistemas em voga iriam ser ainda mais agudos. E até o fim dos tempos, seria a mesma coisa. Nem sempre é possível a concordância entre as filosofias humanas e a fé revelada. Os pensadores cristãos terão que executar uma tarefa imensa de adaptação entre a razão e a fé.

Do aspecto filosófico das heresias passamos, inevitavelmente, ao aspecto paradoxal. Entendemos com isso que a verdade revelada, pelo próprio fato de sua origem divina apresenta necessariamente sombras que a razão não consegue vencer. É o que exprimimos quando dizemos que a fé encerra mistérios. Refletindo sobre isso, compreendemos perfeitamente que uma religião sem mistérios não pode ser uma religião divina. A razão deve confessar sua impotência ante a fé vinda de Deus. E é isso que dá à heresia um aspectoparadoxal. Salienta a realidade antinômica e paradoxal do mistério da fé.

Enfim, a heresia se explica também pelo aspecto positivo. Com efeito, nem tudo está errado na heresia. Sempre contém uma intuição verdadeira, mas falseada pela interferência de um sistema filosófico que está em contradição com a fé, ou pela recusa implícita ou explícita do mistério da fé. Em toda heresia há, portanto, rebelião contra a verdade revelada e é nisso que se manifesta o sentido profundamente anticristão de qualquer heresia.

Êsse modo de ver a heresia é tradicional na Igreja. Mas sempre se tem insistido também no bem que pode surgir do grande mal que é a heresia. Tôdas as heresias foram ocasião de progresso na compreensão da fé, de confirmação da unidade no seio da Igreja.


(1) A respeito de Satã e os demônios, veja-se o tomo 21 da presente coleção.

Fonte: Retirado do livro “Breve História das Heresias” – Monsenhor Cristiani, Prelado da Santa Sé, Tradução de José Aleixo Dellagnelo, Sei e Creio, Enciclopédia do Católico no Século XX, Décima Terceira Parte, Irmãos Separados, Livraria Editora Flamboyant, São Paulo, 1962.
Foto: Autor desconhecido. Do álbum "Aedificabo Ecclesiam Meam", generosamente cedidas por Pedro Ravazzano.