terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Doutrina da Igreja sobre a canonização dos Santos



No verbete “Infallibilità”, a Enciclopedia Cattolica escreve:
No objeto secundário [da infalibilidade] estão reunidas aquelas que, com termo genérico, se chamam ‘verdades conexas’ [com a Revelação]. (…) As classes mais consideradas destas verdades conexas são: a das conclusões teológicas, a dos fatos dogmáticos, a da canonização, a da legislação eclesiástica. A conexão da canonização com a Revelação se manifesta pelo fato de que ela nada mais é que a aplicação concreta de dois artigos de fé, o sobre o culto dos santos, e o da comunhão dos santos, além de que interessa à própria moral religiosa cristã, sendo o canonizado proposto também como modelo de perfeita virtude”.

No verbete “Canonizzazione”, lê-se:
É, porém, doutrina comum dos teólogos que o Papa na canonização é deveras infalível, tratando-se de um ato importantíssimo atinente à vida moral da Igreja universal, dado que o santo não é somente proposto à veneração por gozar da glória celeste, mas também por ser modelo das virtudes e da santidade real da Igreja. Ora, seria intolerável se o Papa, numa declaração dessas que implica toda a Igreja, não fosse infalível. Essa doutrina resulta de não poucas bulas de canonização, inclusive da Idade Média; das deduções dos canonistas, desde a Idade Média; e dos teólogos desde Santo Tomás de Aquino (1)Bento XIV (2) ensina que é certamente herético e temerário ensinar o contrário”.

Poderíamos ajuntar citações atrás de citações; o que acaba de ser dito parece-nos, todavia, suficiente para concluir que um católico não pode pôr em dúvida – como, ao invés, faz a Fraternidade – a infalibilidade do Papa nas canonizações dos Santos.

Notas
1) O ensinamento de Santo Tomás se encontra na Quodlibetale IX, art. 16 (Utrum omnes sancti qui sunt per Ecclesiam canonizati sint in gloria, vel aliqui eorum in inferno) e é admiravelmente comentado por Bento XIV em seu De servorum Dei

2) Papa Bento XIV é a máxima autoridade na matéria por causa de sua obra monumental, escrita quando ele era Cardeal Arcebispo de Bologna, intitulada De servorum Dei beatificatione et beatorum canonizatione. A questão da infalibilidade da canonização é tratada no Livro I, nos capítulos 43 (De ecclesiastico judicio, quod interponitur in Sanctorum Canonizatione: utrum sit infallibile), 44 (In quo repelluntur opposta iis, quae dicta sunt in Capite præcedenti), 45 (An sit de fide Summum Pontificem errare non posse in Canonizatione Sanctorum; et an de fide sit, Canonizatum esse sanctum) [notemos que, para uma escola teológica – que não seguimos –, nem tudo aquilo que é ensinado infalivelmente deve ser crido com fé divina: algumas verdades deveriam ser cridas somente com fé eclesiástica: daqui a divisão de capítulos feita por Bento XIV, que se indaga primeiro se o Papa é infalível nas canonizações, e depois se aquilo que é por ele assim definido é de fé]. Bento XIV sustenta a opinião segundo a qual o Papa é infalível ao canonizar os Santos, e que isso é de fé, razão pela qual quem o negue seria herege. Em vista, porém, das opiniões diversas, conclui (livro I, c. 45, n. 28) expondo aquilo em que todos concordam, e que se deve crer como mínimo, a saber que: “quem ousasse sustentar que o Papa errou nesta ou naquela Canonização, ou que este ou aquele Santo canonizado pelo Papa não deve ser venerado com culto de dulia, se não for herege[como pensa nosso autor, o Papa Bento XIV], ao menos deve ser chamado (como admitem inclusive os que ensinam não ser de fé que o Papa é infalível na Canonização dos Santos, ou que não seja de fé que este ou aquele Canonizado é Santo) temerário, que escandaliza toda a Igreja, injuria os Santos, favorece os hereges que negam a autoridade da Igreja na Canonização dos Santos, tem odor de heresia, enquanto abre caminho para os infiéis zombarem dos fiéis, sustenta uma proposição errônea e merece as mais graves censuras” (o DTC [Dicionário de Teologia Católica], no verbete “Canonisation”, adota esse juízo minimalista).

Fonte:https://aciesordinata.wordpress.com

3 comentários:

  1. Recorde-se que não se trata de uma doutrina certa, incontestável, a infalibilidade pontifícia em matéria de canonização. Fica no limite da infalibilidade, segundo Sto. Tomás. Hoje há bons teólogos que negam a infalibilidade nas canonizações.
    Diante dos últimos falsos santos canonizados pelos papas pós-conciliares (uma fábrica de santos em série, com decretos assinados em caneta Bik, que lembram justamente a fabricação de produtos descartáveis como a referida caneta), parece mais prudente negar de fato a infalibilidade pontifícia sobre a matéria, para não termos de abraçar a tese sedevacantista que tem consequências incalculáveis sobre a continuidade e indefectibilidade da Igreja.
    Para nós da tradição, que nos distinguimos pelo culto aos santos (tão presente na liturgia romana de sempre), é realmente dolorosa a situação que vivemos.
    Mas esses falsos santos da nova igreja nem sequer têm a honra dos altares, que foram demolidos na reforma litúrgica. Gozam da popularidade à maneira de homens sórdidos como Lula, Hugo Chavez, Mujica e outros do mesmo jaez.

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  2. Aproveito a brecha.
    Acabo de ler que o cardeal Ratzinger, outrora Bento XVI, disse que gostaria de ser chamado Padre Bento!
    Pelo visto a escola franciscana bergogliana que ensina a humildade ostensiva fez mais um discípulo ilustre. Aliás diz Ratzinger que tem bons contactos com o BDR.

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