segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A profecia das tiaras


Pe. Marcélo Tenorio

A tiara papal não é simplesmente um adorno nem tão pouco uma ostentação de poder, de império e de domínio político. Seu significado é bem mais profundo e grave, de forma que, hoje em dia, um papa já não pode usá-la sem causar grande impacto. Se existe um símbolo eclesiástico temido e rejeitado é, justamente, a tiara papal: os inimigos entendem muito bem o que ela evoca.

A tiara possui três coroas sobrepostas, conhecida mais como "tríplice coroa", ou triregnum. Isso quer dizer que o Vigário de Cristo detém o poder pleno, supremo e absoluto sobre os três reinos:

--a primeira coroa, "Pai dos Reis";
--a segunda  coroa, "Pastor Universal";
--a terceira, "Vigário de Jesus Cristo".

O último papa a fazer uso da tiara foi o Papa Paulo VI, em 1963. Ele usou de uma tiara nova, presente dos fiéis de Milão, onde foi arcebispo e cardeal. 

A nova tiara de Paulo VI tinha algo de profética. Era essencialmente feia, sem expressão alguma. Os adornos tinham sido retirados e a tríplice coroa não era tão visível: a impressão era de que se desmoronava de cima para baixo..Seu formato não era agradável e, segundo alguns críticos parecia uma "ogiva nuclear".

No final da II Sessão do Concílio Vaticano II, em 1963, Paulo VI desceu os degraus de seu trono, na Basílica de S. Pedro, e depositou a tiara sobre o altar.

Muitos atribuíram àquela atitude um gesto de humildade.

A verdade é que, depois disso, a tiara não voltou mais a ser usada, a não ser nas ornamentações dos brasões papais ou na cabeça da imagem de São Pedro, na basílica vaticana, pela solenidade dos apóstolos.

Paulo VI manteve na Constituição Apostólica Romano Pontifici Eligendo (1975), sobre as Eleições dos Papas, menções à coroação dos seus sucessores:

“Finalmente, o Pontífice será coroado pelo Cardeal Protodiácono e, dentro de um momento oportuno, irá tomar posse na Arquibasílica Patriarcal de Latrão, de acordo com o ritual prescrito".

João Paulo I não quis a coroação. Houve apenas uma cerimônia chamada de "inauguração do Sumo Pontífice", embora tenha usado a Sedia Gestatoria (trono móvel, ricamente adornado, utilizado para transportar o Papa).

Seu sucessor, João Paulo II, não só recusou a coroação como retirou qualquer menção à coroação dos pontífices na Constituição Apostólica de 1996, Universi Dominici Gregis. Assim ele se pronunciou em sua "Inauguração":

"O último Papa que foi coroado foi Paulo VI em 1963, mas após a cerimônia de coroação solene ele nunca usou a tiara novamente e deixou seus sucessores livres para decidirem a esse respeito. O Papa João Paulo I, cuja memória é tão viva em nossos corações, não gostaria de usar a tiara, nem o seu sucessor deseja hoje. Este não é o momento de voltar a uma cerimônia e um objeto considerado, erradamente, como um símbolo do poder temporal dos papas. Nosso tempo nos chama, nos exorta, nos obriga a olhar para o Senhor e mergulhar na meditação humilde e devota sobre o mistério do poder supremo do próprio Cristo".

O Papa Bento XVI inicia o seu pontificado com um brasão que não mais apresenta a tiara papal. Em seu lugar uma mitra, embora com três linhas, fazendo uma discretíssima menção à tríplice coroa.

"O Santo Padre Bento XVI decidiu não usar mais a tiara no seu brasão oficial pessoal, mas colocar só uma simples mitra, que não é portanto encimada por uma pequena esfera e por uma cruz como era a tiara". 

Todavia, inesperadamente - e esse papa sempre nos surpreende -, a tiara papal reaparece, la Gregório XVI, no brasão papal da nova flâmula da sacada da Basílica de São Pedro .

O problema central da tiara não são as pedras preciosas nela contidas, pois isso poderia ser bem resolvido e não é a questão fundamental. O antigo argumento de que a Igreja deveria "vender" tudo que possui e dar aos pobres, "porque é muito rica", já não se encaixa mais nas mentes inteligentes. Tudo ali é patrimônio da humanidade e sabe-se que mais gastos provoca que rentabilidade. Basta pensarmos no valor incalculável da restauração de um pequeno pedaço da Capela Sistina e em quem deve pagar essa conta.

Logo, a questão da tiara é teológica! Ela representa o império de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre a humanidade inteira: sobre a Igreja, sobre os Estados, sobre toda a sociedade. Eis aqui o tríplice reino, o tríplice múnus.

Era comum de se ver nas belas igrejas antigas e centenárias, como um marco da passagem de um século para outro, uma cruz, colocada na parede da Igreja, no pórtico de entrada com as seguintes frases: “Cristo vence - Reina - Impera. A Ele o Poder, a Glória, o Domínio e o Império, pelos Séculos dos Séculos”.

A supremacia de Cristo Rei deve resplandecer na face da Igreja e, sobretudo, na pessoa de seu Vigário, o Papa.

A tiara papal na verdade anuncia a Supremacia de Deus sobre os três reinos: Igreja, Estado e Sociedade.

Ao iniciar um novo tempo, a modernidade, onde a “deusa razão” inaugura a época do antropocentrismo, do homem livre, do livre pensamento, da libertação das cadeias de todo e qualquer dogma ou verdade absoluta; onde o triunfo da Revolução Francesa, com seus princípios maçônicos, é amplamente assumido em todas, sobretudo na filosofia e teologia, devastando tudo e destruindo por toda parte o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo, a tiara simplificada, lisa, sem adornos, oval, de Paulo VI, nos anuncia o “desmoronamento” da Igreja pelo que viria depois...

E hoje, assistimos a toda essa derrocada que começou com a separação oficial da Igreja e do Estado. 

Ora, o Estado existe pelas pessoas que o compõem, de maneira que a ideia da laicidade do Estado é, no mínimo, absurda, visto que, sendo a Lei Divina superior à lei humana positiva, esta existe, com legitimidade, apenas quando em perfeita conformidade e submissa à Lei Divina. 

Incentivando a laicidade do Estado, colaboramos com a destronização de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei e Senhor dos Exércitos e, ao invés de servirmos à Verdade plena, que sempre aponta à Verdade Católica, terminamos como humanistas e doutores do "amor fraterno universal", oco, visto que desprovido da perfeita caridade que somente existe fundamentada na Verdade, que é Cristo.

A laicidade gera a pluralidade religiosa, que por sua vez, gera o subjetivismo religioso, pai do indiferentismo e avô do ateísmo prático.

Leão XIII, considerava esta questão de extrema importância, tanto que se dedicou ao assunto em sua Encíclica "Immortale Dei":

"Deus dividiu o governo de toda sociedade humana entre dois poderes: o eclesiástico e o civil; o primeiro, que cuida das coisas divinas e o outro que cuida das humanas. Cada qual na sua esfera é soberano, cada um tem seus limites perfeitamente determinados e traçados conforme a sua natureza e seu fim determinado. Ha assim como que uma esfera de atuação onde cada um exerce sua ação 'jure' próprio".

E ainda:

"Gregório XVI, em sua Carta-Encíclica "Mirare Vos", de 15 de agosto de 1832, (...) sobre a separação da Igreja e do Estado, dizia o seguinte: 'Não poderíamos esperar situação mais favorável para a Religião e o Estado, se atendêssemos os desejos daqueles que anseiam por separar a Igreja do Estado e romper a concórdia mútua entre o sacerdócio e o império; pois se vê quanto os que gostam de uma liberdade desenfreada temem esta concórdia, pois ela sempre produziu bons e saudáveis frutos para a causa eclesiástica e civil".

A laicização do Estado destrona Nosso Senhor. As leis já não se pautam mais na Lei divina, a Igreja, possuidora da Verdade plena e com vinte séculos de existência, é posta ao lado das seitas mais bizarras: Cristo e Baal em pé de igualdade.

Um exemplo claro acontece em nosso dias: a aprovação da lei nazista de extermínio de indefesos. Na fala dos ministros estava estampada essa idéia de calar a voz da Igreja, neutralizá-la. O sucesso do STF advém de outro: o princípio maçônico de igualdade, liberdade e fraternidade.

Não se pode negar a grande dificuldade que a Igreja enfrenta hoje diante de um mundo que odeia a Verdade e que não aceita mais o "jugo" de Deus.

Como insistir no Reinado Social de Nosso Senhor e na Supremacia da Verdade e da Fé? Como fazer com que Ele reine, quando seu trono foi retirado do Estado e, em muitos casos, com  beneplácitos eclesiástico? 

Era um cardeal quem dizia: "O reinado de Nosso Senhor é praticamente impossível em nossos dias!" - uma afirmação terrível!


"Eu sou Rei e para isso vim ao mundo!", retrucou Jesus a Pilatos.

O Reinado Social de Nosso Senhor é vital! A Europa começa a despencar moralmente, numa crise jamais vista, justamente porque Nosso Senhor foi retirado de seu trono. E as consequências são vistas a olho nu: famílias acabadas, jovens perdidos, sem sentido algum, liberação e supremacia das vontades mais diabólicas do homem. Eis a separação de todo o equilíbrio social, quando se exclui Nosso Senhor Jesus Cristo.

A humanidade caminhando para um paganismo prático encontrará, no fim da linha, apenas o caos, o nada, o "não ser".

Bento XVI, em sete anos de pontificado, tem surpreendido, positivamente, em muitos pontos, sobretudo na reafirmação de valores já esquecidos pela sociedade cristã. Mesmo pagando um alto preço, não tem se omitido em relação à proclamação da Verdade sobre Deus, sobre o homem e sobre o mundo.

Há pouco tempo, Sua Santidade recebeu no México um presente típico, um chapéu e, imediatamente, o pôs sobre a cabeça. Isto também fizera noutras vezes, com outros estilos. Tempos atrás recebeu de presente dos católicos húngaros uma bela tiara, mas ponderou, olhou, olhou, agradeceu e... a entregou ao secretário.

No auge das invasões de terra pelo MST, aqui, nas terras tupiniquins, Lula pôs em sua cabeça um boné do movimento vermelho. Como falou aquele boné em sua cabeça! Falou-nos muito mais que suas atrapalhadas palavras.

Como ressoou alto aquele gesto de Paulo VI, retirando de sua cabeça a tiara...

Como ecoaria "urbi et orbi" a tiara de volta à cabeça do Vigário de Cristo?

Nós sabemos como.

Esperemos, pois não está tão distante: ela já se encontra em suas mãos.

Como tenho tanta certeza?

As fontes em Roma são falantes..jorram para todos os lados...

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