terça-feira, 16 de abril de 2013

Catecismo Maior de São Pio X (Parte I)




PRIMEIRA PARTE

DO SÍMBOLO DOS APÓSTOLOS, CHAMADO VULGARMENTE O CREDO

CAPÍTULO I

Do Credo em geral

15. Qual é a primeira parte da Doutrina Cristã?
A primeira parte da Doutrina Cristã é o Símbolo dos Apóstolos, chamado vulgarmente o Credo.

16. Por que chamamos ao Credo Símbolo dos Apóstolos?
O Credo chama-se Símbolo dos Apóstolos porque é um compêndio das verdades da Fé, ensinadas pelos Apóstolos.

17. Quantos artigos tem o Credo?
O Credo tem doze artigos.

18. Dizei-os.
1.º Creio em Deus Pai, todo-poderoso, Criador do céu e da terra.
2.º E em Jesus Cristo, um só seu Filho, Nosso Senhor.
3.º O qual foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem.
4.º Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado.
5.º Desceu aos infernos, ao terceiro dia ressurgiu dos mortos.
6.º Subiu ao Céu, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso.
7.º De onde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
8.º Creio no Espírito Santo.
9.º Na Santa Igreja Católica; na comunhão dos Santos.
10.º Na remissão dos pecados.
11.º Na ressurreição da carne.
12.º Na vida eterna. Amém.

19. Que quer dizer a palavra “Credo, eu creio” que dizeis no começo do Símbolo?
A palavra “Credo, eu creio” quer dizer: eu tenho por absolutamente verdadeiro tudo o que nestes doze artigos se contém; e o creio mais firmemente do que se o visse com os meus olhos, porque Deus, que não pode nem enganar-Se nem enganar-nos, revelou estas verdades à Santa Igreja Católica, e por meio d'Ela as revela também a nós.

20. Que contêm os artigos do Credo?
Os artigos do Credo contêm tudo o que de mais importante devemos crer acerca de Deus, de Jesus Cristo e da Igreja, sua Esposa.

21. E muito útil rezar frequentemente o Credo?
É utilíssimo rezar frequentemente o Credo, para imprimirmos cada vez mais no coração as verdades da Fé.

CAPÍTULO II

Do primeiro artigo do Credo

§ 1º De Deus Pai e da Criação

22. Que nos ensina o primeiro artigo do Credo: creio em Deus Pai, todo-poderoso, Criador do céu e da terra?
O primeiro artigo do Credo ensina-nos que há um só Deus, o qual é todo-poderoso, e criou o céu e a terra e todas as coisas que no céu e na terra se contêm, isto é, todo o universo.

23. Como sabemos nós que há Deus?
Sabemos que há Deus porque a nossa razão no-lo demonstra, e a fé no-lo confirma.

24. Por que se dá a Deus o nome de Pai?
 Dá-se a Deus o nome de Pai: 1.º Porque é Pai, por natureza, da segunda Pessoa da Santíssima Trindade, isto é, do Filho por Ele gerado. 2.º Porque Deus é Pai de todos os homens, que Ele criou, conserva e governa. 3.º Porque, finalmente, é Pai, pela graça, de todos os cristãos, os quais por isso se chamam filhos adotivos de Deus.

25. Por que o Pai é a primeira Pessoa da Santíssima Trindade?
O Pai é a primeira Pessoa da Santíssima Trindade porque não procede de outra Pessoa, mas é o princípio das outras duas Pessoas, isto é, do Filho e do Espírito Santo.

26. Que quer dizer a palavra todo-poderoso?
A palavra todo-poderoso quer dizer que Deus pode fazer tudo o que quer.

27. Deus não pode pecar nem morrer; como é então que se diz que Ele pode fazer tudo?
Diz-se que Deus pode fazer tudo, embora não possa pecar nem morrer, porque o poder pecar ou morrer não é efeito de potência, mas de fraqueza, a qual não pode existir em Deus, que é perfeitíssimo.

28. Que quer dizer Criador do céu e da terra?
Criar quer dizer fazer do nada; portanto, Deus diz-se Criador do céu e da terra porque fez do nada o céu e a terra, e todas as coisas que no céu e na terra se contêm, isto é, todo o universo.

29. O mundo foi criado somente pelo Pai?
O mundo foi criado igualmente por todas as três Pessoas divinas, porque aquilo que uma Pessoa faz relativamente às criaturas, fazem-no com um só e o mesmo ato também as outras.

30. Por que então a criação se atribui particularmente ao Pai?
Atribui-se a criação particularmente ao Pai porque a criação é efeito da onipotência divina, a qual se atribui particularmente ao Pai, como se atribui a sabedoria ao Filho e a bondade ao Espírito Santo, embora todas as três Pessoas tenham a mesma onipotência, sabedoria e bondade.

31. Deus cuida do mundo e de todas as coisas que criou?
Sim, Deus cuida do mundo e de todas as coisas que criou, conserva-as e governa-as com a sua infinita bondade e sabedoria, e nada sucede no mundo sem que Deus o queira ou o permita.

         32. Por que dizeis que nada sucede sem que Deus o queira ou permita?
Diz-se que nada sucede no mundo sem que Deus o queira ou permita porque há coisas que Deus quer e manda, e outras que Ele não quer, mas não impede, como o pecado.

33. Por que Deus não impede o pecado?
Deus não impede o pecado porque até do abuso que o homem faz da liberdade que Ele lhe concedeu sabe tirar um bem, e fazer resplandecer ainda mais a sua misericórdia ou a sua justiça.


§ 2° Dos Anjos


34. Quais são as criaturas mais nobres que Deus criou?
As criaturas mais nobres criadas por Deus são os Anjos.

35. Quem são os Anjos?
Os Anjos são criaturas inteligentes e puramente espirituais, sem corpo.

36. Para que fim criou Deus os Anjos?
Deus criou os Anjos para ser por eles honrado e servido, e para os fazer eternamente felizes.

37. Que forma e que figura têm os Anjos?
Os Anjos não têm forma nem figura alguma sensível, porque são puros espíritos, criados por Deus para subsistirem, sem ter de estar unidos a corpo algum.

38. Por que então se representam os Anjos com formas sensíveis?
Representam-se os Anjos com formas sensíveis: 1.º Para auxiliar a nossa imaginação. 2.º Porque assim apareceram muitas vezes aos homens, como lemos na Sagrada Escritura.

39. Foram todos os Anjos fiéis a Deus?
Nem todos os Anjos foram fiéis a Deus, mas muitos por soberba pretenderam ser iguais a Ele, e independentes do seu poder; e por este pecado foram excluídos para sempre do Paraíso, e condenados ao Inferno.

40. Como se chamam os Anjos excluídos para sempre do Paraíso, e condenados ao Inferno?
Os Anjos excluídos para sempre do Paraíso, e condenados ao Inferno, chamam-se demônios, e o seu chefe chama-se Lúcifer ou Satanás.

41. Os demônios podem fazer-nos algum mal?
Sim, os demônios podem fazer-nos muito mal à alma e ao corpo, se Deus lhes der licença, sobretudo tentando­ nos a pecar.

42. Por que nos tentam os demônios?
Os demônios tentam-nos pela inveja que nos têm e que lhes faz desejar a nossa eterna condenação, e por ódio a Deus, cuja imagem em nós resplandece. E Deus permite as tentações a fim de que nós, vencendo-as com a sua graça, pratiquemos as virtudes e alcancemos merecimentos para o Céu.

43. Como podemos vencer as tentações?
Vencem-se as tentações com a vigilância, com a oração e com a mortificação cristã.

44. Os Anjos que se conservaram fiéis a Deus como se chamam?
Os Anjos que se conservaram fiéis a Deus chamam-se Anjos bons, Espíritos celestes, ou simplesmente Anjos.

45. Que aconteceu aos anjos que ser conservaram fiéis a Deus?
Os Anjos que se conservaram fiéis a Deus foram confirmados em graça, gozam para sempre da visão de Deus, amam-no, bendizem-no e louvam-no eternamente.

46. Deus serve-se dos Anjos como seus ministros?
Sim, Deus serve-se dos Anjos como seus ministros, e especialmente confia a muitos dentre eles o ofício de nossos guardas e protetores.

47. Devemos ter particular devoção ao nosso Anjo da guarda?
Sim, devemos ter particular devoção ao nosso Anjo da guarda, honrá-lo, implorar o seu auxilio, seguir as suas inspirações e ser-lhe reconhecidos pela assistência contínua que nos dá.


§ 3° Do Homem


48. Qual é a criatura mais nobre que Deus colocou sobre a terra?
A criatura mais nobre que Deus colocou sobre a terra é o homem.

49. Que é o homem?
O homem é uma criatura racional, composta de alma e corpo.

50. Que é a alma?
A alma é a parte mais nobre do homem, porque é substância espiritual, dotada de inteligência e de vontade, capaz de conhecer a Deus e de O possuir eternamente.

51. Pode-se ver e apalpar a alma humana?
Não se pode ver nem apalpar a nossa alma, porque é espírito.

52. Morre a alma humana com o corpo?
A alma humana nunca morre; a fé e a própria razão provam que ela é imortal.

53. E livre o homem nas suas ações?
Sim, o homem é livre nas suas ações; e cada qual sente, dentro de si mesmo, que pode fazer uma ação e deixar de fazê-la, ou fazer antes uma que outra.
54. Explicai com um exemplo a liberdade humana.
Se eu disser voluntariamente uma mentira, sinto que poderia deixar de dizê-la, e calar-me, e que poderia também falar de outro modo, dizendo a verdade.

55. Por que se diz que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus?
Diz-se que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus porque a alma humana é espiritual e racional, livre na sua ação, capaz de conhecer e de amar a Deus, e de gozá-Lo eternamente, perfeições que refletem em nós um raio da infinita grandeza de Deus.

56. Em que estado criou Deus os nossos primeiros pais, Adão e Eva?
Deus criou Adão e Eva no estado de inocência e de graça; mas depressa o perderam, pelo pecado.

57. Além da inocência e da graça santificante, concedeu Deus aos nossos primeiros pais outros dons?
Além da inocência e da graça santificante, Deus concedeu aos nossos primeiros pais outros dons, que eles deviam transmitir, juntamente com a graça santificante, aos seus descendentes, e eram: a integridade, isto é, a perfeita sujeição dos sentidos à razão; a imortalidade; a imunidade de todas as dores e misérias; e a ciência proporcionada ao seu estado.

58. Qual foi o pecado de Adão?
O pecado de Adão foi um pecado de soberba e de grave desobediência.

59. Qual foi o castigo do pecado de Adão e Eva?
Adão e Eva perderam a graça de Deus e o direito que tinham ao céu, foram expulsos do Paraíso Terrestre, sujeitos a muitas misérias na alma e no corpo, e condenados a morrer.

60. Se Adão e Eva não tivessem pecado, ficariam livres da morte?
Se Adão e Eva não tivessem pecado, mas se se tivessem conservado fiéis a Deus, depois de uma permanência feliz e tranquila neste mundo, teriam sido levados por Deus ao Céu, sem morrer, para gozar uma vida eterna e gloriosa.

61. Eram estes dons devidos ao homem?
Estes dons não eram devidos por nenhum título ao homem, mas eram absolutamente gratuitos e preternaturais; e por isso, tendo Adão desobedecido ao preceito divino, Deus pode, sem injustiça, privar deles a Adão e a toda a sua descendência.

62. Este pecado é próprio somente de Adão?
Este pecado não é só de Adão, mas é também nosso, embora por diverso título. É próprio de Adão porque ele o cometeu com um ato da sua vontade, e por isso nele foi pessoal. É nosso porque, tendo Adão pecado como cabeça e fonte de todo gênero humano, é transmitido por geração natural a todos os seus descendentes, e por isso para nós é pecado original.

63. Como é possível que o pecado original se transmita a todos os homens?
O pecado original transmite-se a todos os homens porque, tendo Deus conferido ao gênero humano, em Adão, a graça santificante e os outros dons preternaturais, com a condição de que ele não desobedecesse, e tendo este desobedecido na sua qualidade de cabeça e pai do gênero humano, tornou a natureza humana rebelde a Deus. Por isso a natureza humana é transmitida a todos os descendentes de Adão num estado de rebeldia contra Deus privada da graça divina e dos outros dons.

64. Contraem todos os homens o pecado original?
Sim, todos os homens contraem o pecado original exceto a Santíssima Virgem, que dele foi preservada por Deus, com singular privilégio, na previsão dos merecimentos de Jesus Cristo Nosso Salvador.

65. Depois do pecado de Adão, já não poderiam os homens salvar-se?
Depois do pecado de Adão, os homens já não poderiam salvar-se, se Deus não tivesse usado para com eles de misericórdia.

66. Qual foi a misericórdia de que Deus usou para com o gênero humano?
A misericórdia de que Deus usou para com o gênero humano foi prometer logo a Adão um Redentor divino, ou Messias, enviá-Lo depois a seu tempo, para libertar os homens da escravidão do demônio e do pecado.

67. Quem é o Messias prometido?
O Messias prometido é Jesus Cristo, como nos ensina o segundo artigo do Credo.
CAPÍTULO III

Do segundo artigo do Credo

68. Que nos ensina o segundo artigo do Credo: e em Jesus Cristo, um só seu Filho, Nosso Senhor?
O segundo artigo do Credo ensina-nos que o Filho de Deus é a segunda Pessoa da Santíssima Trindade; que Ele é Deus eterno, todo-poderoso, Criador e Senhor, como o Pai; que se fez homem para nos salvar; e que o Filho de Deus feito homem se chama Jesus Cristo.

69. Por que se chama Filho a segunda Pessoa?
A segunda Pessoa chama-se Filho porque é gerada pelo Pai por via de inteligência, desde toda a eternidade; e por este motivo se chama também Verbo eterno do Pai.

70. Sendo também nós filhos de Deus, por que Jesus Cristo se chama Filho único de Deus Pai?
Jesus Cristo chama-se Filho único de Deus Pai porque só Ele é por natureza seu Filho, e nós seus filhos por criação e por adoção.

71. Por que Jesus Cristo se chama Nosso Senhor?
Chama-se Jesus Cristo Nosso Senhor não só porque, enquanto Deus, juntamente com o Pai e o Espírito Santo, nos criou, mas também porque, enquanto Deus e homem, nos remiu com seu Sangue.

72. Por que o Filho de Deus feito homem se o chama Jesus?
O Filho de Deus feito homem chama-se Jesus, que quer dizer Salvador, porque nos salvou da morte eterna que merecíamos por nossos pecados.

73. Quem deu o nome de Jesus ao Filho de Deus feito homem?

Foi o mesmo Pai Eterno que deu o nome de Jesus ao Filho de Deus feito homem, por meio do Arcanjo São Gabriel, quando este anunciou à Virgem Santíssima o mistério da Encarnação.

74. Por que o Filho de Deus feito homem se chama também Cristo?
O filho de Deus feito homem chama-se também Cristo, que quer dizer Ungido e Consagrado, porque antigamente se ungiam os reis, os sacerdotes e os profetas e Jesus é Rei dos reis, Sumo Sacerdote e Sumo Profeta.

75. Foi Jesus Cristo verdadeiramente ungido e consagrado com unção corporal?
A unção de Jesus Cristo não foi corporal, como a dos antigos reis, sacerdotes e profetas, mas toda espiritual e divina, porque a plenitude da divindade habita n'Ele substancialmente.

76. Tiveram os homens algum conhecimento de Jesus Cristo antes da sua vinda?
Sim, os homens tiveram conhecimento de Jesus Cristo antes da sua vinda, pela promessa do Messias, que Deus fez aos nossos primeiros pais, Adão e Eva, a qual renovou aos santos Patriarcas; e também pelas profecias e muitas figuras que O designavam.

77. Como sabemos nós que Jesus Cristo é verdadeiramente o Messias e o Redentor prometido?
Sabemos que Jesus Cristo é verdadeiramente o Messias e o Redentor prometido porque n’Ele se cumpriu: 1.º Tudo o que anunciavam as profecias. 2.º Tudo o que representavam as figuras do Antigo Testamento.

78. Que prediziam as profecias acerca do Redentor?
As profecias prediziam acerca do Redentor: a tribo e a família de que devia sair; o lugar e o tempo do nascimento; os seus milagres e as mais minuciosas circunstâncias da sua Paixão e morte; a sua ressurreição e ascensão ao Céu; o seu reino espiritual, universal e perpétuo, que é a Santa Igreja Católica.

79. Quais são as principais figuras do Redentor no Antigo Testamento?
As principais figuras do Redentor no Antigo Testamento são o inocente Abel, o sumo sacerdote Melquisedec, o sacrifício de lsaac, José vendido pelos irmãos, o profeta Jonas, o cordeiro pascal e a serpente de bronze, levantada por Moisés no deserto.

80. Como sabemos nós que Jesus Cristo é verdadeiro Deus?
Sabemos que Jesus Cristo é verdadeiro Deus: 1.º Pelo testemunho do Pai Eterno, quando disse: “Este é O meu Filho muito amado, no qual pus todas as minhas complacências: ouvi-O”. 2.º Pela afirmação do próprio Jesus Cristo, confirmada com os mais estupendos milagres. 3.º Pela doutrina dos Apóstolos. 4.º Pela tradição constante da Igreja Católica.

81. Quais são os principais milagres operados por Jesus Cristo?
Os principais milagres operados por Jesus Cristo foram, além da sua ressurreição, a saúde restituída aos enfermos, a vista aos cegos, o ouvido aos surdos, a vida aos mortos.
CAPÍTULO IV

Do terceiro artigo do Credo

82. Que nos ensina o terceiro artigo do Credo: o qual foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem?
O terceiro artigo do Credo ensina-nos que o Filho de Deus tomou um corpo e uma alma, como nós temos, no seio puríssimo de Maria Santíssima, pelo poder do Espírito Santo, e que nasceu desta Virgem.

83. Concorreram o Pai e o Filho também para formar o corpo e para criar a alma de Jesus Cristo?
Sim, para formar o corpo e para criar a alma de Jesus Cristo, concorreram todas as três Pessoas divinas.

84. Por que se diz só: foi concebido pelo poder do Espírito Santo?
Diz-se só: foi concebido pelo poder do Espírito Santo, porque a Encarnação do Filho de Deus é obra de bondade e de amor, e as obras de bondade e de amor atribuem-se ao Espírito Santo.

85. Fazendo-se homem, deixou o Filho de ser Deus?
O Filho de Deus, fazendo-se homem, não deixou de ser Deus.

86. Então Jesus Cristo é Deus e homem ao mesmo tempo?
Sim, o Filho de Deus encarnado, isto é, Jesus Cristo, é Deus e homem ao mesmo tempo, perfeito Deus e perfeito homem.

87. Há então em Jesus Cristo duas naturezas?
 Sim, em Jesus Cristo, que é Deus e homem, há duas naturezas, a divina e a humana.

88. E haverá também em Jesus Cristo duas pessoas, a divina e a humana?
No Filho de Deus feito homem há só uma Pessoa, que é a divina.

89. Quantas vontades há em Jesus Cristo?
Em Jesus Cristo há duas vontades, uma divina, outra humana.

90. Tinha Jesus Cristo vontade livre?
Sim, Jesus Cristo tinha vontade livre, mas não podia fazer o mal, porque poder fazer o mal é defeito, e não perfeição da liberdade.

91. Serão uma e a mesma Pessoa o Filho de Deus e o Filho de Maria Santíssima?
O Filho de Deus e o Filho de Maria Santíssima são a mesma Pessoa, isto é, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

92. E a Virgem Maria será Mãe de Deus?
Sim, Maria Santíssima é Mãe de Deus, porque é Mãe de Jesus Cristo, que é verdadeiro Deus.

93. De que maneira veio Maria a ser Mãe de Jesus Cristo?
Maria veio a ser Mãe de Jesus Cristo unicamente por virtude do Espírito Santo.

94. É de fé que Maria foi sempre Virgem?
Sim, é de fé que Maria Santíssima foi sempre Virgem, e é chamada a Virgem por excelência.
CAPÍTULO V

Do quarto artigo do Credo

95. Que nos ensina o quarto artigo do Credo: padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado?
O quarto artigo do Credo ensina-nos que Jesus Cristo, para remir o mundo com o seu precioso Sangue, padeceu sob Pôncio Pilatos, governador da Judéia, e morreu no madeiro da Cruz, da qual foi descido, e no fim sepultado.

96. Que quer dizer a palavra padeceu?
A palavra padeceu exprime todos os sofrimentos suportados por Jesus Cristo na sua Paixão.

97. Padeceu Jesus Cristo enquanto Deus ou enquanto homem?
Jesus Cristo padeceu enquanto homem somente, porque enquanto Deus não podia padecer nem morrer.

98. Que espécie de suplício era o da cruz?
O suplício da cruz era, naqueles tempos, o mais cruel e ignominioso de todos os suplícios.

99. Quem foi que condenou Jesus Cristo a ser crucificado?
Quem condenou Jesus Cristo a ser crucificado foi Pôncio Pilatos, governador da Judéia, o qual, no entanto, reconhecera a sua inocência; mas cedeu covardemente às ameaças dos judeus.

100. Não poderia livrar-se Jesus Cristo das mãos dos judeus ou de Pilatos?
         Sim, Jesus Cristo poderia livrar-se das mãos dos judeus ou de Pilatos; mas, conhecendo que a vontade do seu Eterno Pai era que Ele padecesse e morresse pela nossa salvação, submeteu-se voluntariamente, e até saiu ao encontro dos seus inimigos, e deixou-se espontaneamente prender e conduzir à morte.

101. Onde foi crucificado Jesus Cristo?
Jesus Cristo foi crucificado sobre o monte Calvário.

102. Que fez Jesus Cristo na Cruz?
Jesus Cristo na Cruz orou pelos seus inimigos, deu por Mãe ao discípulo São João, e na pessoa dele a nós todos, a sua mesma Mãe, Maria Santíssima; ofereceu a sua morte em sacrifício, e satisfez à justiça de Deus pelos pecados dos homens.

103. Não bastaria que viesse um Anjo satisfazer por nós?
Não bastava que viesse um Anjo satisfazer por nós, porque a ofensa feita a Deus pelo pecado era, sob certo aspecto, infinita; e para satisfazê-la requeria-se uma pessoa que tivesse merecimento infinito.
104. Para satisfazer à justiça divina era necessário que Jesus Cristo fosse Deus e homem ao mesmo tempo?
Sim, era necessário que Jesus Cristo fosse homem para poder padecer e morrer, e era necessário que fosse Deus para que os seus sofrimentos fossem de valor infinito.

105. Por que razão era necessário que os merecimentos de Jesus Cristo fossem de valor infinito?
Era necessário que os merecimentos de Jesus Cristo fossem de valor infinito porque a majestade de Deus, ofendida pelo pecado, é infinita.

106. Era necessário que Jesus Cristo padecesse tanto?
Não era absolutamente necessário que Jesus Cristo padecesse tanto, porque o menor dos seus sofrimentos bastaria para a nossa redenção, pois cada um dos seus atos era de valor infinito.

107. Por que então Jesus quis sofrer tanto?
Jesus quis sofrer tanto para satisfazer mais abundantemente à justiça divina, para nos mostrar claramente o seu amor, e para nos inspirar maior horror ao pecado.

108. Aconteceram prodígios quando da morte de Jesus?
Sim, quando da morte de Jesus, obscureceu-se o sol, tremeu a terra, abriram-se algumas sepulturas, e muitos mortos ressuscitaram.
109. Onde foi sepultado o corpo Jesus Cristo?
O corpo de Jesus Cristo foi sepultado num túmulo novo, escavado na rocha do monte, pouco distante do lugar onde Ele fora crucificado.

110. Na morte de Jesus Cristo, a divindade separou-se do corpo e da alma?
Na morte de Jesus Cristo a divindade não se separou nem do corpo nem da alma; mas só a alma se separou do corpo.

111. Por quem morreu Jesus Cristo?
Jesus morreu pela salvação de todos os homens, e satisfez por todos.
        
112. Se Jesus Cristo morreu pela salvação de todos, por que nem todos se salvam?
Jesus Cristo morreu por todos, mas nem todos se salvam porque nem todos O reconhecem, nem todos seguem a sua lei, nem todos se servem dos meios de santificação que nos deixou.

113. Para nos salvarmos, não basta que Jesus tenha morrido por nós?
Para nos salvarmos, não basta que Jesus Cristo tenha morrido por nós, mas é necessário que sejam aplicados, a cada um de nós, o fruto e os merecimentos da sua Paixão e morte, aplicação que se faz, sobretudo, por meio dos Sacramentos, instituídos para este fim pelo mesmo Jesus Cristo; e, como muitos ou não recebem os Sacramentos, ou não os recebem com as condições devidas, eles tornam inútil para si próprios a morte de Jesus Cristo.
CAPÍTULO VI

Do quinto artigo do Credo

114. Que nos ensina o quinto artigo do Credo: desceu aos infernos, ao terceiro dia ressurgiu dos mortos?
O quinto artigo do Credo ensina-nos que a alma de Jesus Cristo, assim que se separou do corpo, foi ao Limbo e que, ao terceiro dia, se uniu de novo ao corpo, para nunca mais dele se separar.

115. Que se entende aqui por inferno?
Por inferno entende-se aqui o Limbo, isto é, aquele lugar onde estavam as almas dos justos, esperando a redenção de Jesus Cristo.

116. Por que as almas dos justos não foram introduzidas no Paraíso antes da morte de Jesus Cristo?
As almas dos justos não foram introduzidas no Paraíso antes da morte de Jesus Cristo porque pelo pecado de Adão o Paraíso estava fechado; e convinha que Jesus Cristo, cuja morte o reabriu, fosse o primeiro a entrar nele.

117. Por que Jesus Cristo quis esperar até ao terceiro dia para ressuscitar?
Jesus Cristo quis esperar até ao terceiro dia para ressuscitar a fim de mostrar, de modo insofismável, que verdadeiramente tinha morrido.

118. Foi a ressurreição de Jesus Cristo semelhante à dos outros homens ressuscitados?
A ressurreição de Jesus Cristo não foi semelhante à dos outros homens ressuscitados, porque Jesus Cristo ressuscitou por virtude própria, e os outros foram ressuscitados por virtude de Deus.
Do sexto artigo do Credo

119. Que nos ensina o sexto artigo do Credo: subiu ao Céu, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso?
O sexto artigo do Credo ensina-nos que Jesus, quarenta dias depois da sua ressurreição e na presença dos seus discípulos, subiu por Si mesmo ao Céu, e que, sendo, enquanto Deus, igual ao Pai Eterno na Glória, foi elevado, enquanto homem, acima de todos os Anjos e de todos os Santos, e constituído Senhor de todas as coisas.

120. Por que Jesus Cristo, depois da sua ressurreição, esteve quarenta dias na terra, antes de subir ao Céu?
Jesus Cristo, depois da sua ressurreição, esteve quarenta dias na terra, antes de subir ao Céu, para provar, com várias aparições, que ressuscitara verdadeiramente, para instruir melhor os Apóstolos e confirmá-los nas verdades da fé.

121. Por que Jesus Cristo subiu ao Céu?
Jesus Cristo subiu ao Céu: 1.° Para tomar posse do seu reino que havia merecido com sua morte. 2.º Para preparar o nosso lugar na glória,  para ser nosso Mediador e Advogado junto do Pai Eterno. 3.º Para enviar o Espírito Santo aos seus Apóstolos.

122. Por que se diz que Jesus Cristo subiu ao Céu e que sua Mãe Santíssima foi levada para o Céu?
Diz-se que Jesus Cristo subiu ao Céu e que sua Mãe Santíssima foi levada para o Céu, porque Jesus Cristo, sendo Homem-Deus, subiu ao Céu por virtude própria; mas sua Mãe, que era criatura, embora a mais digna de todas, foi levada para o Céu por virtude de Deus.

123. Explicai as palavras: Está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso.
As palavras está sentado significam a posse pacífica que Jesus Cristo tem da sua glória, e as palavras à direita de Deus Pai todo-poderoso exprimem que Ele tem o lugar de honra sobre todas as criaturas.
CAPÍTULO VIII

Do sétimo artigo do Credo

124. Que nos ensina o sétimo artigo do Credo: de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos?
O sétimo artigo do Credo ensina-nos que no fim do mundo Jesus Cristo, cheio de glória e de majestade, há de vir do Céu para julgar todos os homens, bons e maus, e para dar a cada um o prêmio ou o castigo que tiver merecido.

125. Se cada um, logo depois da morte, há de ser julgado por Jesus Cristo no juízo particular, por que havemos de ser julgados todos no Juízo universal?
Havemos de ser julgados todos no Juízo universal por várias razões: 1.ª Para glória de Deus. 2.ª Para glória de Jesus Cristo. 3.ª Para glória dos Santos. 4.ª Para confusão dos maus. 5.ª Finalmente, para que o corpo, depois da ressurreição universal, tenha juntamente com a alma a sua sentença de prêmio ou de castigo.

126. Por que no Juízo universal há de manifestar-se a glória de Deus?
No Juízo universal há de manifestar-se a glória de Deus porque todos hão de reconhecer a justiça com que Deus governa o mundo, embora se vejam às vezes os bons sofrendo e os maus em prosperidade.

127. Por que no Juízo universal há de manifestar-se a glória de Jesus Cristo?
No Juízo universal há de manifestar-se a glória de Jesus Cristo porque, tendo Ele sido injustamente condenado pelos homens, aparecerá então à face do mundo inteiro como Juiz supremo de todos.

128. Por que no Juízo universal há de manifestar-se a glória dos Santos?
No Juízo universal há de manifestar-se a glória dos Santos porque muitos deles, que morreram desprezados pelos maus, hão de ser glorificados em presença de todos os homens.

129. Qual será a confusão dos maus no Juízo universal?
No Juízo universal a confusão dos maus será enorme, especialmente a daqueles que oprimiram os justos e a daqueles que, durante a vida, procuraram ser tidos, falsamente, por homens virtuosos e bons, pois verão manifestados à vista de todo o mundo, todos os pecados que cometeram, ainda os mais ocultos.
CAPÍTULO IX

Do oitavo artigo do Credo

130. Que nos ensina o oitavo artigo do Credo: creio no Espírito Santo?
O oitavo artigo elo Credo ensina-nos que existe o Espírito Santo, terceira Pessoa da Santíssima Trindade, e que Ele é Deus eterno, infinito, onipotente, Criador e Senhor de todas as coisas, como o Pai e o Filho.

131. De quem procede o Espírito Santo?
O Espírito Santo procede do Pai e do Filho como de um só princípio, por via de vontade e de amor.

132. Se o Filho procede do Pai, e o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, parece que o Pai e o Filho existem antes do Espírito Santo. Como então se diz que são eternas todas as três Pessoas divinas?
Diz-se que são eternas todas as três Pessoas divinas porque o Pai gerou o Filho desde toda a eternidade, e do Pai e do Filho procede o Espírito Santo, também desde toda a eternidade.

133. Por que a terceira Pessoa da Santíssima Trindade se designa particularmente com o nome de Espírito Santo?
Designa-se a terceira Pessoa da Santíssima Trindade particularmente com o nome de Espírito Santo porque procede do Pai e do Filho por meio de expiração e de amor.

134. Que obra se atribui especialmente ao Espírito Santo?
Ao Espírito Santo atribui-se especialmente a santificação das almas.

135. O Pai e o Filho santificam-nos também, como o Espírito Santo?
Sim, todas as três Pessoas divinas nos santificam igualmente.

136. Se assim é, por que se atribui em particular ao Espírito Santo a santificação das almas?

Atribui-se em particular ao Espírito Santo a santificação das almas porque é obra de amor, e as obras de amor se atribuem ao Espírito Santo.

137. Quando o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos?
O Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos no dia de Pentecostes, isto é, cinquenta dias depois da Ressurreição de Jesus Cristo e dez dias depois da sua Ascensão.

138. Onde ficaram os Apóstolos nos dez dias antes da festa de Pentecostes?
Os Apóstolos ficaram reunidos no Cenáculo em companhia da Virgem Maria e dos outros discípulos, e perseveravam na oração esperando o Espírito Santo que Jesus lhes havia prometido.

139. Quais foram os efeitos que o Espírito Santo produziu nos Apóstolos?
O Espírito Santo confirmou na fé os Apóstolos, encheu-os de luzes, de forças, de caridade e da abundância de todos os seus dons.

140. Foi enviado o Espírito Santo só aos Apóstolos?
O Espírito Santo foi enviado a toda a Igreja e a todas as almas fiéis.

141. Que opera o Espírito Santo na Igreja?
O Espírito Santo, como a alma no corpo, vivifica a Igreja com a sua graça e com os seus dons; estabelece n’Ela o reino da verdade e do amor; e assiste-a a fim de que oriente os seus filhos com firmeza no caminho do Céu.
CAPÍTULO X

Do nono artigo do Credo

§ 1º Da Igreja em geral

142. Que nos ensina o nono artigo do Credo: creio na Santa Igreja Católica; na Comunhão dos Santos?
O nono artigo do Credo ensina-nos que Jesus Cristo fundou sobre a terra uma sociedade visível, a qual se chama Igreja Católica, e que todas as pessoas que fazem parte desta Igreja estão em comunhão entre si.

143. Por que, depois do artigo que trata do Espírito Santo, se fala imediatamente da Igreja Católica?
Depois do artigo que trata do Espírito Santo se fala imediatamente da Igreja Católica para indicar que toda a santidade da mesma Igreja procede do Espírito Santo, que é o autor de toda a santidade.

144. Que quer dizer a palavra Igreja?
A palavra Igreja quer dizer convocação ou reunião de muitas pessoas.

145. Quem nos convocou ou chamou para a Igreja de Jesus Cristo?
Nós fomos chamados para a Igreja de Jesus Cristo por uma graça particular de Deus, a fim de que, com a luz da fé e pela observância da lei divina, Lhe prestemos o culto devido e cheguemos à vida eterna.

146. Onde se encontram os membros da Igreja?
Os membros da Igreja encontram-se parte no Céu, formando a Igreja triunfante; parte no Purgatório, formando a Igreja padecente e parte na terra, formando a Igreja militante.

147. Estas diversas partes da Igreja constituem uma só Igreja?
Sim, estas diversas partes da Igreja constituem uma só Igreja e um só corpo, porque têm a mesma cabeça que é Jesus Cristo; o mesmo espírito que as anima e as une e o mesmo fim, que é a felicidade eterna, que uns já estão gozando e que outros esperam.

148. A qual das partes da Igreja se refere principalmente este nono artigo?
Este nono artigo do Credo se refere principalmente à Igreja militante, que é a Igreja em que estamos atualmente.

§ 2° Da Igreja em particular

149. Que é a Igreja Católica?
A Igreja Católica é a sociedade ou reunião de todas as pessoas batizadas que, vivendo na terra, professam a mesma fé e a mesma lei de Cristo, participam dos mesmos Sacramentos, e obedecem aos legítimos Pastores, principalmente ao Romano Pontífice.

150. Dizei precisamente o que é necessário para alguém ser membro da Igreja.
Para alguém ser membro da Igreja, é necessário estar batizado, crer e professar a doutrina de Jesus Cristo, participar dos mesmos Sacramentos, reconhecer o Papa e os outros legítimos Pastores da Igreja.

151. Quem são os legítimos Pastores da Igreja?
Os legítimos Pastores da Igreja são o Pontífice Romano, isto é, o Papa, que é o Pastor universal, e os Bispos. Além disso, sob a dependência dos Bispos e do Papa, têm parte no oficio de Pastores os outros Sacerdotes e especialmente os párocos.

152. Por que dizeis que o Pontífice Romano é o Pastor Universal da Igreja?
Porque Jesus Cristo disse a São Pedro, primeiro Papa: “Tu é Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e dar-te-ei as chaves do reino dos Céus, e tudo o que ligares na terra será ligado no Céu; e tudo o que desligares na terra será desligado também no Céu”. E disse-lhe mais: “Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas”.

153. Então não pertencem à Igreja de Jesus Cristo as sociedades de pessoas batizados que não reconhecem o Romano Pontífice por seu chefe?
Todos os que não reconhecem o Romano Pontífice por seu chefe não pertencem à Igreja de Jesus Cristo.

154. Como se pode distinguir a Igreja de Jesus Cristo de tantas sociedades ou seitas fundadas pelos homens e que se dizem cristãs?
Pode-se distinguir a verdadeira Igreja de Jesus Cristo de tantas sociedades ou seitas fundadas pelos homens e que se dizem cristãs por quatro notas características. Ela é Una, Santa, Católica e Apostólica.

155. Por que dizeis que a Igreja é Una?
Digo que a verdadeira Igreja é Una porque os seus filhos, de qualquer tempo ou lugar, estão unidos entre si na mesma fé, no mesmo culto, na mesma lei e na participação dos mesmos Sacramentos, sob o mesmo chefe visível, o Romano Pontífice.

156. Não pode haver mais de uma Igreja?
Não pode haver mais de uma Igreja, porque, assim como há um só Deus, uma só Fé e um só Batismo, assim também não há nem pode haver senão uma só Igreja verdadeira.

157. Mas não se chamam também igrejas o conjunto dos fiéis de uma nação ou de uma diocese?
Chamam-se igrejas também o conjunto dos fiéis de uma nação ou de uma diocese, mas são sempre porções da Igreja universal, e formam com ela uma só Igreja.

158. Por que dizeis que a verdadeira Igreja é Santa?
Chamo a verdadeira Igreja de Santa porque Jesus Cristo, a sua cabeça invisível, é Santo, santos são muitos dos seus membros, santas são a sua Fé e a sua Lei, santos os seus Sacramentos, porque fora d'Ela não há nem pode haver verdadeira santidade.

159. Por que dizeis que a Igreja é Católica?
Chamo a verdadeira Igreja de Católica, que quer dizer universal, porque abrange os fiéis de todos os tempos, de todos os lugares, de todas as idades e condições, e porque todos os homens do mundo são chamados a fazer parte d'Ela.

160. Por que a Igreja se chama também Apostólica?
A verdadeira Igreja chama-se também Apostólica porque remonta sem interrupção até aos Apóstolos; porque crê e ensina tudo o que creram e ensinaram os Apóstolos; e porque é guiada e governada pelos legítimos sucessores dos Apóstolos.

161. Por que a verdadeira Igreja se chama também Romana?
A verdadeira Igreja chama-se também Romana porque os quatro caracteres da unidade, santidade, catolicidade e apostolicidade se encontram só na Igreja que tem por chefe o Bispo de Roma, sucessor de São Pedro.

162. Como é constituída a Igreja de Jesus Cristo?
A Igreja de Jesus Cristo é constituída como uma sociedade verdadeira e perfeita. E n’Ela, como numa pessoa moral, podemos distinguir um corpo e uma alma.

163. Em que consiste a alma da Igreja?
A alma da Igreja consiste no que Ela tem de interior e de espiritual, isto é, a Fé, a Esperança, a Caridade, os dons da graça e do Espírito Santo, e todos os tesouros celestes que lhe provieram dos merecimentos de Cristo Redentor e dos Santos.

164. E o corpo da Igreja em que consiste?
O corpo da Igreja consiste no que Ela tem de visível e de externo, quer na associação dos seus membros, quer no seu culto e no seu ministério de ensino, quer no seu governo e ordem externa.

165. Para nos salvarmos, basta sermos de qualquer maneira membros da Igreja Católica?
Não basta para nos salvarmos o sermos de qualquer maneira membros da Igreja Católica, mas é preciso que sejamos seus membros vivos.

166. Quais são os membros vivos da Igreja?
Os membros vivos da Igreja são todos os justos e só eles, isto é, aqueles que estão atualmente na graça de Deus.

167. E quais são n’Ela os membros mortos?
Membros mortos da Igreja são os fiéis que estão em pecado mortal.

168. Pode alguém salvar-se fora da Igreja Católica Apostólica Romana?
Não. Fora da Igreja Católica Apostólica Romana ninguém pode salvar-se, como ninguém pode salvar-se do dilúvio fora da arca de Noé, que era figura desta Igreja.

169. Como então se salvaram os antigos Patriarcas, os Profetas e todos os outros justos do Antigo Testamento?
Todos os justos do Antigo Testamento se salvaram em virtude da fé que tinham no Cristo que havia de vir, e por meio da qual eles já pertenciam espiritualmente a esta Igreja.

170. Mas quem se encontrasse, sem culpa sua, fora da Igreja poderia salvar-se?
Quem, encontrando-se sem culpa sua - quer dizer, em boa-fé - fora da Igreja, tivesse recebido o batismo, ou tivesse desejo, ao menos implícito, de o receber, e além disso procurasse sinceramente a verdade e cumprisse a vontade de Deus o melhor que pudesse, ainda que separado do corpo da Igreja, estaria unido à alma d’Ela, e portanto no caminho da salvação.

171. E quem, sendo embora membro da Igreja Católica, não pusesse em prática os seus ensinamentos, este se salvaria?
Quem, sendo muito embora membro da Igreja Católica, não pusesse em prática os seus ensinamentos, este seria membro morto, e, portanto, não se salvaria, porque para a salvação de um adulto requerem-se não só o Batismo e a fé, mas também as obras conformes à fé.

172. Somos obrigados a acreditar em todas as verdades que a Igreja ensina?
Sim, somos obrigados a acreditar em todas as verdades que a Igreja nos ensina, e Jesus Cristo declarou que quem não crê já está condenado.

173. Somos também obrigados a fazer tudo o que a Igreja manda?
Sim, somos obrigados a fazer tudo o que a Igreja manda, porque Jesus Cristo disse aos Pastores da Igreja: “Quem vos ouve, a Mim me ouve, e quem vos despreza a Mim me despreza”.

174. Pode enganar-se a Igreja nas coisas que nos propõe para crermos?
Não. Nas coisas que nos propõe para crermos, a Igreja não pode enganar-se, porque, segundo a promessa de Jesus Cristo, é sempre assistida pelo Espírito Santo.

176. A Igreja Católica pode ser destruída ou perecer?
Não. A Igreja Católica pode ser perseguida, mas não pode ser destruída nem perecer. Ela há de durar até ao fim do mundo, porque até ao fim do mundo Jesus Cristo estará com Ela, como prometeu.

177. Por que é a Igreja Católica tão perseguida?
A Igreja Católica é tão perseguida porque assim foi também perseguido o seu Divino Fundador, e porque reprova os vícios, combate as paixões e condena todas as injustiças e todos os erros.

178. Há outros deveres dos católicos para com a Igreja?
Todo e qualquer cristão deve ter para com a Igreja um amor ilimitado, considerar-se feliz e infinitamente honrado por pertencer a Ela e empenhar-se pela glória e aumento d’Ela por todos os meios ao seu alcance.

§ 3° Da Igreja docente e da Igreja discente

179. Há alguma distinção entre os membros que compõem a Igreja?
Entre os membros que compõem a Igreja há distinção muito importante, porque há uns que mandam, outros que obedecem, uns que ensinam, outros que são ensinados.

180. Como se chama a parte da Igreja que ensina?
A parte da Igreja que ensina chama-se docente ou ensinante.

181. E a parte da Igreja que é ensinada como se chama?
A parte da Igreja que é ensinada chama-se discente.

182. Quem estabeleceu esta distinção na Igreja?
Esta distinção na Igreja estabeleceu-a o próprio Jesus Cristo.

183. A Igreja docente e a Igreja discente são, pois, duas Igrejas distintas?
A Igreja docente e a Igreja discente são duas partes distintas de uma só e mesma Igreja, como no corpo humano a cabeça é distinta dos outros membros, e, não obstante, forma com eles um corpo só.

184. De que pessoas se compõe a Igreja docente?
A Igreja docente compõe-se de todos os Bispos (quer-se encontrem dispersos, quer se encontrem reunidos em Concílio), unidos à sua cabeça, o Romano Pontífice.

185. E a Igreja discente de que pessoas é composta?
Igreja discente é composta de todos os fiéis.

186. Quais são as pessoas que têm na Igreja autoridade de ensinar?
Os que têm na Igreja o poder de ensinar são o Papa e os Bispos e, sob a dependência destes, os outros ministros sagrados.

187. Somos obrigados a ouvir a Igreja docente?
Sim, sem dúvida, somos todos obrigados a ouvir a Igreja docente, sob pena de condenação eterna, porque Jesus Cristo disse aos Pastores da Igreja, na pessoa dos Apóstolos: "Quem vos ouve, a Mim me ouve, e quem vos despreza, a Mim me despreza".

188. Além da autoridade de ensinar, tem a Igreja mais algum poder?
Sim, além da autoridade de ensinar, a Igreja tem especialmente o poder de administrar as coisas santas, de fazer leis e de exigir a sua observância.

189. Vem do povo o poder que têm os membros da hierarquia eclesiástica?
O poder que têm os membros da hierarquia eclesiástica não vem do povo, e seria heresia dizê-lo; vem unicamente de Deus.

190. A quem compete o exercício destes poderes?
O exercício destes poderes compete unicamente ao corpo hierárquico, isto é, ao Papa e aos Bispos a ele subordinados.

§ 4º Do Papa e dos Bispos

191. Quem é o Papa?
O Papa, a quem chamamos também Sumo Pontífice ou Romano Pontífice, é o sucessor de São Pedro na Santa Sé, o Vigário de Jesus Cristo na terra, e o Chefe visível da Igreja.

192. Por que o Romano Pontífice é o sucessor de São Pedro?
O Romano Pontífice é o sucessor de São Pedro porque São Pedro reuniu na sua pessoa a dignidade de Bispo de Roma e de chefe da Igreja, e porque, por disposição divina, estabeleceu em Roma a sua sede, e aí morreu. Por isso, quem é eleito Bispo de Roma é também herdeiro de toda a sua autoridade.

193. Por que o Romano Pontífice é o Vigário de Jesus Cristo?
O Romano Pontífice é o Vigário de Jesus Cristo porque ele O representa na terra, e faz as suas vezes no governo da Igreja.

194. Por que o Romano Pontífice é o Chefe visível da Igreja?
O Romano Pontífice é o Chefe visível da Igreja porque a dirige visivelmente com a mesma autoridade de Jesus Cristo, que é a cabeça invisível da Igreja.

195. Qual é, pois, a dignidade do Papa?
A dignidade do Papa é a maior entre todas as dignidades da terra, e dá-lhe um poder supremo e imediato sobre todos e cada um dos Pastores e dos fiéis.

196. Pode errar o Papa ao ensinar à Igreja?
O Papa não pode errar, quer dizer, é infalível nas definições que dizem respeito à fé e aos costumes.

197. Qual é o motivo por que o Papa é infalível?
O Papa é infalível em razão da promessa de Jesus Cristo e da contínua assistência do Espírito Santo.

198. Quando o Papa é infalível?
O Papa é infalível só quando, na sua qualidade de Pastor e Mestre de todos os cristãos, em virtude da sua suprema autoridade apostólica, define uma doutrina relativa à fé e aos costumes, que deve ser seguida por toda a Igreja.

199. Quem não acredita nas definições solenes do Papa que pecado comete?
Quem não acredita nas definições solenes do Papa, ou ainda só duvida delas, peca contra a fé; e, se se obstina nesta incredulidade, já não é católico, mas herege.

200. Para que fim Deus concedeu ao Papa o dom da infalibilidade?
Deus concedeu ao Papa o dom da infalibilidade a fim de que todos estejam certos e seguros da verdade que a Igreja ensina.

201. Quando foi definido que o Papa é infalível?
A infalibilidade do Papa foi definida pela Igreja no Concilio do Vaticano; e, se alguém ousasse contradizer esta definição, seria herege e excomungado.

202. A Igreja, ao definir que o Papa é infalível, estabeleceu porventura uma nova verdade de fé?
Não. A Igreja, ao definir que o Papa é infalível, não estabeleceu uma nova verdade de fé, mas só definiu, para se opor a erros novos, que a infalibilidade do Papa, contida já na Sagrada Escritura e na Tradição, é uma verdade revelada por Deus, e que, por conseguinte, se deve crer como dogma ou artigo de fé.

203. Como o católico deve proceder para com o Papa?
O católico deve reconhecer o Papa como Pai, Pastor e Mestre universal, e estar unido a ele de espírito e coração.

204. Depois do Papa, quais são, por instituição divina, as personagens mais venerandas na Igreja?
Depois do Papa, por instituição divina, as personagens mais venerandas da Igreja são os Bispos.

205. Quem são os Bispos?
Os Bispos são os Pastores dos fiéis, estabelecidos pelo Espírito Santo para governar a Igreja de Deus, nas sedes que lhes são confiadas sob a dependência do Romano Pontífice.

206. Que é o Bispo na própria diocese?
O Bispo na própria diocese é o Pastor legítimo, o Pai, o Mestre, o superior de todos os fiéis, eclesiásticos e leigos, que pertencem à mesma diocese.

207. Por que o Bispo se chama Pastor legítimo?
Chama-se o Bispo Pastor legítimo porque a jurisdição, isto é, o poder que tem de governar os fiéis da própria diocese, lhe foi conferido segundo as normas e leis da Igreja.

208. De quem são sucessores o Papa e os Bispos?
O Papa é sucessor de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos, e os Bispos são sucessores dos Apóstolos, no que diz respeito ao governo ordinário da Igreja.

209. Deve o fiel estar unido ao próprio Bispo?
Sim, todo e qualquer fiel, eclesiástico ou leigo, deve estar unido de espírito e de coração ao próprio Bispo que está em graça e comunhão com a Sé Apostólica.

210. Como deve proceder o fiel para com o próprio Bispo?
Todo e qualquer fiel, eclesiástico ou leigo, deve respeitar, amar e honrar o próprio Bispo, e prestar-lhe obediência em tudo o que se refere ao bem das almas e ao governo espiritual da diocese.

211. Quais são os auxiliares do Bispo na cura das almas?
Os auxiliares do Bispo na cura das almas são os sacerdotes e principalmente os párocos.

212. Quem é o pároco?
O pároco é um sacerdote delegado para presidir e dirigir, sob a dependência do Bispo, uma porção da diocese, que se chama paróquia.

213. Que deveres têm os fiéis para com o seu pároco?
Os fiéis devem conservar-se unidos ao seu pároco, ouvi-lo com docilidade, professar-lhe respeito e submissão em tudo o que interessa ao bem da paróquia.

§ 5° Da comunhão dos Santos

214. Que nos ensina o nono artigo do Credo com aquelas palavras: na comunhão dos Santos?
Com as palavras: na comunhão dos Santos, o nono artigo do Credo ensina-nos que na Igreja, pela íntima união que existe entre todos os seus membros, são comuns os bens espirituais, assim internos como externos, que lhe pertencem.

215. Quais são na Igreja os bens comuns internos?
Os bens comuns internos na Igreja são: a graça que se recebe nos Sacramentos, a Fé, a Esperança, a Caridade, os merecimentos infinitos de Jesus Cristo, os merecimentos superabundantes da Santíssima Virgem e dos Santos, e o fruto de todas as boas obras que na mesma Igreja se fazem.

216. Quais são os bens externos comuns na Igreja?
Os bens externos comuns na Igreja são: os Sacramentos, o Santo Sacrifício da Missa, as orações públicas, as funções religiosas e todas as outras práticas exteriores que unem entre si os fiéis.

217. Nesta comunhão de bens entram todos os filhos da Igreja?
Na comunhão dos bens internos entram somente os cristãos que estão na graça de Deus; os que estão em pecado mortal não participam de todos estes bens.

218. Por que não participam de todos estes bens aqueles que estão em pecado mortal?
Porque é a graça de Deus, vida sobrenatural da alma, que une os fiéis a Deus e a Jesus Cristo como seus membros vivos e os torna capazes de fazer obras meritórias para a vida eterna; e porque aqueles que se encontram em estado de pecado mortal, não tendo a graça de Deus, estão excluídos da comunhão perfeita dos bens espirituais e não podem fazer obras meritórias para a vida eterna.

219. Então os cristãos que estão em pecado mortal não tiram proveito nenhum dos bens internos e espirituais da Igreja?
Os cristãos que estão em pecado mortal tiram, ainda assim, algum proveito dos bens internos e espirituais da Igreja, porquanto conservam o caráter de cristãos, que é indelével, e a virtude da Fé, que é a raiz de toda a justificação. Por isso são auxiliados pelas orações e boas obras dos fiéis, para obterem a graça da conversão.

220. Os que estão em pecado mortal podem participar dos bens externos da Igreja?
Os que estão em pecado mortal podem participar dos bens externos da Igreja, contanto que não estejam separados da mesma Igreja pela excomunhão.

221. Por que os membros desta comunhão, considerados em seu conjunto, se chamam Santos?
Os membros desta comunhão chamam-se Santos porque todos são chamados à santidade, e foram santificados por meio do Batismo e muitos deles atingiram já a santidade perfeita.

222. A comunhão dos Santos estende-se também ao Céu e ao Purgatório?
Sim, a comunhão dos Santos estende-se também ao Céu e ao Purgatório, porque a caridade une as três igrejas – triunfante, padecente e militante; e os Santos rogam a Deus por nós e pelas almas do Purgatório, e nós damos honra e glória aos Santos, e podemos aliviar as almas do Purgatório, aplicando, em sufrágio delas, Missas, esmolas, indulgências e outras boas obras.

§ 6° Daqueles que estão fora da Igreja

223. Quem são os que não participam da comunhão dos Santos?
Aqueles que não participam da comunhão dos Santos são, na outra vida, os condenados, e, nesta vida, aqueles que não pertencem nem à alma nem ao corpo da Igreja, quer dizer, aqueles que estão em estado de pecado mortal ou se encontram fora da verdadeira Igreja.

224. Quem são os que se encontram fora da verdadeira Igreja?
Encontram-se fora da verdadeira Igreja os infiéis, os judeus, os hereges, os apóstatas, os cismáticos e os excomungados.

225. Quem são os infiéis?
Os infiéis são aqueles que não foram batizados e não crêem em Jesus Cristo, seja porque crêem e adoram falsas divindades, como os idólatras; seja porque, embora admitam o único Deus verdadeiro, não crêem em Cristo Messias, nem como vindo na pessoa de Jesus Cristo, nem como havendo de vir ainda: tais são os maometanos e outros semelhantes.

226. Quem são os judeus?
Os judeus são aqueles que professam a lei de Moisés, não receberam o batismo, nem crêem em Jesus Cristo.

227. Quem são os hereges?
Os hereges são as pessoas batizadas que recusam com pertinácia crer em alguma verdade revelada por Deus e ensinada como de fé pela Igreja Católica: por exemplo, os arianos, os nestorianos e as várias seitas dos protestantes.

228. Quem são os apóstatas?
Os apóstatas são aqueles que abjuram, isto é, renegam, com ato externo, a fé católica que antes professavam.

229. Quem são os cismáticos?
Os císmáticos são os cristãos que, não negando explicitamente dogma algum, se separam voluntariamente da Igreja de Jesus Cristo ou dos legítimos Pastores.

230. Quem são os excomungados?
Os excomungados são aqueles que por faltas graves são fulminados com excomunhão pelo Papa ou pelo Bispo, e, portanto, são separados, como indignos, do corpo da Igreja, a qual espera e deseja a sua conversão.

231. Deve-se temer a excomunhão?
Deve-se temer grandemente a excomunhão, porque é o castigo mais grave e mais terrível que a Igreja pode infligir aos seus filhos rebeldes e obstinados.

232. De que bens ficam privados os excomungados?
Os excomungados ficam privados das orações públicas, dos Sacramentos, das indulgências e excluídos da sepultura eclesiástica.

233. Podemos nós auxiliar de alguma maneira os excomungados?
Nós podemos auxiliar de alguma maneira os excomungados e todos os outros que estão fora da verdadeira Igreja com advertências salutares, com orações e boas obras, suplicando a Deus que pela sua misericórdia lhes conceda a graça de se converter à Fé e de entrar na comunhão dos Santos.

CAPÍTULO XI

Do décimo artigo do Credo

234. Que nos ensina o décimo artigo do Credo: na remissão dos pecados?
O décimo artigo do Credo ensina-nos que Jesus Cristo deixou à sua Igreja o poder de perdoar os pecados.

235. Pode a Igreja perdoar todas as espécies de pecados?
Sim, a Igreja pode perdoar todos os pecados, por numerosos e graves que sejam, porque Jesus Cristo Lhe concedeu pleno poder de ligar e desligar.

236. Quem são os que na Igreja exercem este poder de perdoar os pecados?
Os que na Igreja exercem o poder de perdoar os pecados são, em primeiro lugar, o Papa, que é o único que possui a plenitude de tal poder; depois os Bispos e, sob a dependência dos Bispos, os Sacerdotes.

237. Como perdoa a Igreja os pecados?
A Igreja perdoa os pecados pelos merecimentos de Jesus Cristo, administrando os Sacramentos por Ele instituídos para esse fim, especialmente o Batismo e a Penitência.
CAPÍTULO XII

Do undécimo artigo do Credo

238. Que nos ensina o undécimo artigo do Credo: na ressurreição da carne?
O undécimo artigo do Credo ensina-nos que todos os homens hão de ressuscitar, retomando cada alma o corpo que teve nesta vida.

239. Como se fará a ressurreição dos mortos?
A ressurreição dos mortos realizar-se-á por virtude de Deus Onipotente, a Quem nada é impossível.

240. Quando será a ressurreição dos mortos?
A ressurreição de todos os mortos será no fim do mundo, e depois se seguirá o Juízo universal.

241. Por que quer Deus a ressurreição dos corpos?
Deus quer a ressurreição dos corpos para que a nossa alma, tendo feito o bem ou o mal unida ao corpo, receba juntamente com ele o prêmio ou o castigo.

242. Ressuscitarão todos os homens da mesma maneira?
Não. Haverá enorme diferença entre os corpos dos eleitos e os corpos dos condenados; porque somente os corpos dos eleitos terão, à semelhança de Jesus Cristo ressuscitado, os dotes dos corpos gloriosos.

243. Quais são estes dotes que adornarão os corpos dos bem-aventurados?
Os dotes que adornarão os corpos gloriosos dos bem­aventurados são: 1.º A impassibilidade, pela qual eles não mais poderão estar sujeitos a males, nem dores de espécie alguma, nem às necessidades de alimento, de repouso e de qualquer outra coisa. 2.º A claridade, pela qual eles resplandecerão como o sol e as estrelas. 3.º A agilidade, pela qual eles poderão passar num momento, sem fadiga, de um lugar para outro e da terra ao Céu. 4.º A sutileza, pela qual eles poderão, sem obstáculo, passar através de qualquer corpo, como fez Jesus Cristo ressuscitado.

244. Como serão os corpos dos condenados?
Os corpos dos condenados serão destituídos dos dotes dos corpos gloriosos dos bem-aventurados, e trarão o horrível estigma da reprovação eterna.
CAPÍTULO XIII

Do duodécimo artigo do Credo

245. Que nos ensina o último artigo do Credo: na vida eterna?
O último artigo do Credo ensina-nos que depois da vida presente há outra, ou eternamente feliz, para os eleitos no Paraíso, ou eternamente desgraçada, para os condenados no Inferno.

246. Podemos compreender a felicidade do Paraíso?
Não. Não podemos compreender a felicidade do Paraíso, porque excede os conhecimentos da nossa inteligência limitada e porque os bens ao Céu não podem comparar-se aos bens deste mundo.

247. Em que consiste a felicidade dos eleitos?
A felicidade dos eleitos consiste em verem, amarem e possuírem para sempre a Deus, fonte de todo o bem.

248. Em que consiste a desgraça dos condenados?
A desgraça dos condenados consiste em serem para sempre privados da visão de Deus, e punidos com tormentos eternos no Inferno.

249. Por ora, são só para as almas os bens do Paraíso e os males do Inferno?
Os bens do Paraíso e os males do Inferno, por ora, são só para as almas, porque por enquanto só as almas estão no Paraíso ou no Inferno; mas, depois da ressurreição da carne, os homens, na plenitude da sua natureza, isto é, em corpo e alma, serão ou felizes ou infelizes para sempre.

250. Serão iguais para os eleitos os bens do Paraíso, e para os condenados os males do Inferno?
Os bens do Paraíso para os eleitos, e os males do Inferno para os condenados, serão iguais na substância e na duração eterna; mas na medida, isto é, no grau, serão maiores ou menores, segundo os méritos ou deméritos de cada um.

251. Que quer dizer a palavra Amém no fim do Credo?
A palavra Amém no fim das orações significa: assim seja; no fim do Credo significa: assim é, que quer dizer: creio que é absolutamente verdadeiro tudo o que nestes doze artigos se contém, e estou mais certo disso do que se o visse com os meus próprios olhos.

 SEGUNDA PARTE

DA ORAÇÃO

CAPÍTULO I

Da oração em geral

252. De que se trata a segunda parte da Doutrina Cristã?
A segunda parte da Doutrina Cristã se trata da oração em geral e do Pai-Nosso em particular.

253. Que é a oração?
A oração é uma elevação da alma a Deus, para adorá­Lo, para Lhe dar graças e para Lhe pedir aquilo de que precisamos.

254. Como se divide a oração?
A oração divide-se em mental e vocal. Oração mental é a que se faz só com a alma; oração vocal, a que se faz com as palavras acompanhadas da atenção do espírito e da devoção do coração.

255. Pode dividir-se de outra maneira a oração?
A oração pode também dividir-se em particular e pública.

256. Que é a oração particular?
A oração particular é a que faz cada um em particular, por si ou pelos outros.

257. Que é a oração pública?
A oração pública é a que fazem os ministros sagrados, em nome da Igreja, e pela salvação do povo fiel. Pode-se chamar pública também a oração feita em comum e publicamente pelos fiéis, como nas procissões, nas peregrinações e na igreja.

258. Temos nós esperança fundamentada de obter por meio da oração os auxílios e graças de que necessitamos?
A esperança de obter de Deus as graças de que necessitamos é fundamentada nas promessas de Deus onipotente, misericordiosíssimo e fidelíssímo, e nos merecimentos de Jesus Cristo.

259. Em nome de quem devemos pedir a Deus as graças de que necessitamos?
Devemos pedir a Deus as graças de que necessitamos em nome de Jesus Cristo, como Ele mesmo nos ensinou e como pratica a Igreja, a qual termina sempre as suas orações com estas palavras: per Dominum nostrum Jesum Christum, que quer dizer: por Nosso Senhor Jesus Cristo.

260. Por que devemos pedir a Deus as graças em nome de Jesus Cristo?
Devemos pedir as graças em nome de Jesus Cristo porque, sendo Ele o nosso mediador, só por meio d'Ele podemos aproximar-nos do trono de Deus.

261. Se a oração tem tanta eficácia, como é que tantas vezes não são atendidas as nossas orações?
Muitas vezes as nossas orações não são atendidas ou porque pedimos coisas que não convêm à nossa eterna salvação, ou porque não pedimos como deveríamos.

262. Quais são as coisas que principalmente devemos pedir a Deus?
Devemos principalmente pedir a Deus a sua glória, a nossa salvação e os meios para consegui-la.

263. Não é também lícito pedir bens temporais?
Sim, é também lícito pedir a Deus bens temporais, sempre com a condição de que sejam conformes à sua santíssima vontade, e não sejam obstáculo à nossa salvação eterna.

264. Se Deus sabe tudo aquilo de que necessitamos, por que devemos rezar?
Embora Deus saiba tudo aquilo de que necessitamos, quer, todavia, que nós Lho peçamos, para reconhecermos que é Ele que dá todos os bens, para Lhe testemunharmos a nossa humilde submissão e para merecermos os seus favores.

265. Qual é a primeira e a melhor disposição para tornar eficazes as nossas orações?
A primeira e a melhor disposição para tornar eficazes as nossas orações é estar em estado de graça, ou, não o estando, ao menos desejar recuperar esse estado.

266. Que mais disposições se requerem para bem orar?
Para bem orar, requerem-se especialmente o recolhimento, a humildade, a confiança, a perseverança e a resignação.

267. Que quer dizer orar com recolhimento?
Quer dizer: pensar que estamos falando com Deus; e por isso devemos orar com todo o respeito e devoção possíveis, evitando, quanto possível, as distrações, isto é, qualquer pensamento estranho à oração.

268. Diminuem as distrações o merecimento da oração?
Sim, quando nós mesmos as provocamos, ou não as repelimos com diligência. Se, porém, fizermos quanto podemos para estar recolhidos em Deus, então as distrações não diminuem o merecimento da nossa oração, mas até o podem aumentar.

269. Que se requer para fazermos oração com recolhimento?
Devemos antes da oração afastar todas as ocasiões de distração, e durante a oração devemos pensar que estamos na presença de Deus que nos vê e nos ouve.

270. Que quer dizer orar com humildade?
Quer dizer: reconhecer sinceramente a nossa indignidade, incapacidade e miséria, acompanhando a oração com a compostura do corpo.

271. Que quer dizer orar com confiança?
Quer dizer que devemos ter firme esperança de ser atendidos, se daí provier a glória de Deus e o nosso verdadeiro bem.

272. Que quer dizer orar com perseverança?
Quer dizer que não nos devemos cansar de orar se Deus não nos atender imediatamente, senão que devemos continuar a orar ainda com mais fervor.

273. Que quer dizer orar com resignação?
Quer dizer que nos devemos conformar com a vontade de Deus, que conhece melhor do que nós quanto nos é necessário para a nossa salvação eterna, e ainda no caso em que as nossas orações não fossem atendidas.

274. Atende Deus sempre as orações bem feitas?
Sim, Deus atende sempre as orações bem feitas; mas da maneira por que Ele sabe ser mais útil para a nossa salvação eterna, e nem sempre segundo a nossa vontade.

275. Que efeitos produz em nós a oração?
A oração faz-nos reconhecer a nossa dependência, em todas as coisas, de Deus, supremo Senhor; faz-nos progredir na virtude; alcança-nos de Deus misericórdia; fortalece-nos contra as tentações; conforta-nos nas tribulações; auxilia-nos nas nossas necessidades; e alcança­ nos a graça da perseverança final.

276. Quando devemos especialmente orar?
Devemos orar especialmente nos perigos, nas tentações e no momento da morte; além disso, devemos orar frequentemente, e é bom que o façamos pela manhã e à noite e no princípio das ações importantes do dia.

277. Por quem devemos orar?
Devemos orar por todos; isto é, por nós mesmos, pelos nossos parentes, superiores, benfeitores, amigos e inimigos; pela conversão dos pobres pecadores, daqueles que estão fora da verdadeira Igreja; e pelas benditas almas do Purgatório.

CAPÍTULO II

Da oração dominical

§ 1º Da oração dominical em geral

278. Qual é a oração vocal mais excelente?
A oração vocal mais excelente é aquela que o próprio Jesus Cristo nos ensinou, isto é, o Pai-Nosso.

279. Por que é o Pai-Nosso a oração mais excelente?
O Pai-Nosso é a oração mais excelente porque foi o próprio Jesus Cristo que a compôs e no-la ensinou; porque contém claramente, em poucas palavras, tudo o que podemos esperar de Deus; e porque é a regra e o modelo de todas as outras orações.

280. É também o Pai-Nosso a oração mais eficaz?
O Pai-Nosso é também a oração mais eficaz, porque é a mais agradável a Deus, pois é feita com as mesmas palavras que nos ditou o seu Divino Filho.

281. Por que se chama o Pai-Nosso oração dominical?
Chama-se o Pai-Nosso oração dominical, que quer dizer oração do Senhor, precisamente porque a ensinou Jesus Cristo por sua própria boca.

282. Quantas petições há no Pai-Nosso?
No Pai-Nosso há sete petições, precedidas de um preâmbulo.

283. Rezai o Pai-Nosso.
Pai-Nosso, que estais no Céu:
1ª. Santificado seja o vosso nome.
2ª. Venha a nós o vosso reino.
3ª. Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu.
4ª. O pão nosso de cada dia nos dai hoje.
5ª. Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.
6ª. E não nos deixeis cair em tentação.
7ª. Mas livrai-nos do mal. Amém.

284. Por que invocando a Deus no princípio da oração dominical O chamamos nosso Pai?
No princípio da oração dominical chamamos a Deus nosso Pai para despertar a nossa confiança na sua infinita bondade, uma vez que somos seus filhos.

285. Por que podemos nós dizer que somos filhos de Deus?
Somos filhos de Deus: 1.º Porque Ele nos criou à sua imagem e nos conserva e governa com a sua providência. 2.º Porque, por especial benevolência, Ele nos adotou no Batismo como irmãos de Jesus Cristo e co-herdeiros, juntamente com Ele, da eterna glória.

286. Por que chamamos a Deus Pai nosso e não “Pai meu”?
Chamamos a Deus Pai nosso e não “Pai meu” porque todos somos seus filhos, e portanto devemos considerar-nos e amar-nos todos como irmãos e orar uns pelos outros.

287. Estando Deus em toda a parte, por que é que Lhe dizemos que estais no Céu?
Deus está em toda a parte; mas dizemos: Pai nosso que estais no Céu, para elevar os nossos corações ao Céu onde Deus se manifesta na glória aos seus filhos.

§ 2º Da primeira petição do Pai-Nosso

288. Que pedimos a Deus na primeira petição: Santificado seja o vosso nome?
Na primeira petição: santificado seja o vosso nome, pedimos que Deus seja conhecido, amado, honrado e servido por todos os homens e por nós em particular.

289. Que temos em vista ao pedir que Deus seja conhecido, amado e servido por todos os homens?
Temos em vista pedir que os infiéis cheguem ao conhecimento do verdadeiro Deus, que os hereges reconheçam os seus erros, que os cismáticos voltem à unidade da Igreja, que os pecadores se corrijam e que os justos sejam perseverantes no bem.

290. Por que em primeiro lugar pedimos que seja santificado o nome de Deus?
Em primeiro lugar pedimos que seja santificado o nome de Deus porque devemos prezar mais a glória de Deus do que todos os nossos bens e vantagens.

291. De que maneira podemos nós promover a glória de Deus?
Podemos promover a glória de Deus com a oração, o bom exemplo, dirigindo para Ele todos os nossos pensamentos, afetos e ações.

§ 3° Da segunda petição do Pai-Nosso

292. Que entendemos por reino de Deus?
Por reino de Deus entendemos um tríplice reino espiritual, a saber: o reino de Deus em nós ou o reino da graça; o reino de Deus na terra, isto é, a Santa Igreja Católica; e o reino de Deus nos céus ou o Paraíso.

293. Que pedimos com as palavras: Venha a nós o vosso reino com relação à graça?
Com relação à graça, pedimos que Deus reine em nós com a sua graça santificante, pela qual Ele se compraz em residir em nós como um rei em seu palácio, e que nos mantenha unidos a Ele pelas virtudes da Fé, da Esperança e da Caridade, pelas quais reina sobre a nossa inteligência, sobre o nosso coração e sobre a nossa vontade.

294. Que pedimos com as palavras: Venha a nós o vosso reino com relação à Igreja?
Com relação à Igreja, pedimos que ela se dilate cada vez mais e se propague por todo o mundo para a salvação dos homens.

295. Que pedimos com as palavras: Venha a nós o vosso reino com relação à glória?
Com relação à glória, pedimos que possamos um dia ser admitidos no Santo Paraíso para o qual fomos criados e onde seremos plenamente felizes.

§ 4° Da terceira petição do Pai-Nosso

296. Que pedimos na terceira petição: Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu?
Na terceira petição: seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu, pedimos a graça de fazer em todas as coisas a vontade de Deus, obedecendo aos seus santos Mandamentos tão prontamente como os Anjos e os Santos Lhe obedecem no Céu. Pedimos, além disso, a graça de corresponder às inspirações divinas e de viver resignados à vontade de Deus, quando Ele nos manda tribulações.

297. É-nos necessário cumprir a vontade de Deus?
É-nos tão necessário cumprir a vontade de Deus como nos é necessário conseguir a salvação eterna, porque Jesus Cristo disse que só entrará no reino dos céus quem tiver feito a vontade de seu Pai.

298. De que maneira podemos conhecer a vontade de Deus a nosso respeito?
A vontade de Deus nos é manifestada pelos Mandamentos de sua Lei e pelos preceitos de sua Santa Igreja. Nossos superiores espirituais, postos por Deus para guiar-nos no caminho da Salvação, nos orientam a fim de que conheçamos os desígnios particulares da Providência a nosso respeito, desígnios que se podem manifestar em divinas inspirações ou nas circunstâncias em que o Senhor nos tenha colocado.

299. Devemos sempre reconhecer a vontade de Deus nas prosperidades ou adversidades da vida?
Tanto nas prosperidades como nas adversidades da vida presente devemos reconhecer sempre a vontade de Deus, o qual tudo dispõe ou permite para nosso bem.

300. Quer dizer que Deus nos revela sua vontade pelos sinais dos tempos?
Não. A revelação divina encerrou-se com a morte do último Apóstolo, de maneira que não há mais Revelação pública necessária para a salvação. A afirmação de que devemos ver em todas as coisas a vontade de Deus diz apenas que todas as coisas estão sujeitas à Santíssima Vontade de Deus, de maneira que mesmo o mal não acontece sem uma permissão de Deus, que sabe tirar o bem do mal, e por isso o permite. E, como Deus tem sobre os homens uma amorosa Providência, devemos ver em todos os acontecimentos, bons ou maus, um desígnio de Deus que visa à nossa salvação eterna.

§ 5º Da quarta petição do Pai-Nosso

301. Que pedimos na quarta petição: O pão nosso de cada dia nos dai hoje?
Na quarta petição: o pão nosso de cada dia nos dai hoje, pedimos a Deus o que nos é necessário cada dia para a alma e para o corpo.

302. Que pedimos a Deus para a nossa alma?
Para a nossa alma pedimos a Deus o sustento da vida espiritual, isto é, pedimos ao Senhor que nos dê a sua graça da qual a todo o instante temos necessidade.

303. Como se sustenta a vida da nossa alma?
A vida da nossa alma sustenta-se especialmente com o alimento da palavra divina e com o Santíssimo Sacramento do altar.

304. Que pedimos a Deus para o nosso corpo?
Para o nosso corpo pedimos o que é necessário para o sustento da vida temporal.

305. Por que dizemos: o pão nosso nos dai hoje, e não: "dai-nos hoje o pão"?
Dizemos: O pão nosso nos dai hoje, e não dizemos: "dai-nos hoje o pão", para excluir todo e qualquer desejo dos bens alheios. Por isso pedimos ao Senhor que nos ajude nos ganhos justos e lícitos, a fim de granjearmos o sustento com o nosso trabalho, sem furtos nem fraudes.

306. Por que dizemos: o pão nos dai, e não: "o pão me dai"?
Dizemos: nos dai, e não: "me daí", para nos lembrarmos de que, assim como os bens nos vêm de Deus, assim também, se Ele no-los dá em abundância, é para que distribuamos o supérfluo aos pobres.

307. Por que acrescentamos: de cada dia?
Acrescentamos de cada dia porque devemos desejar o que nos é necessário para a vida, e não a fartura dos alimentos e dos bens da terra.

308. Que mais quer dizer a palavra hoje na quarta petição?
A palavra hoje quer dizer que não devemos estar demasiadamente preocupados com o futuro, mas pedir o que nos é necessário no momento.

§ 6° Da quinta petição

309. Que pedimos na quinta petição: Perdoai­ nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores?
Na quinta petição: Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores, pedimos a Deus que nos perdoe os nossos pecados, como nós perdoamos aos que nos ofendem.

310. Por que nossos pecados são chamados dívidas?
Nossos pecados são chamados dívidas porque por causa deles devemos satisfazer a divina justiça, seja nesta vida, seja na outra.

311. Os que não perdoam ao próximo podem esperar que Deus lhes perdoe?
Os que não perdoam ao próximo não têm razão alguma para esperar que Deus lhes perdoe, tanto mais que se condenam por si mesmos, dizendo a Deus que lhes perdoe sem que eles perdoem ao próximo.

§ 7º Da sexta petição do Pai-Nosso

312. Que pedimos na sexta petição: E não nos deixeis cair em tentação?
Na sexta petição: E não nos deixeis cair em tentação, pedimos a Deus que nos livre das tentações, ou não permitindo que sejamos tentados, ou dando-nos graças para não sermos vencidos.

313. Que são as tentações?
As tentações são um incitamento ao pecado que nos vem do demônio, ou das pessoas más, ou das nossas paixões.

314. É pecado ter tentações?
Não é pecado ter tentações, mas é pecado consentir nelas, ou expor-se voluntariamente ao perigo de consentir.

315. Por que permite Deus que sejamos tentados?
Deus permite que sejamos tentados para provar a nossa fidelidade, para fortalecer as nossas virtudes e para aumentar os nossos merecimentos.

316. Que devemos fazer para evitar as tentações?
Para evitar as tentações, devemos fugir das ocasiões perigosas, guardar os sentidos, receber com frequência os santos Sacramentos, fazer uso da oração, especialmente da devoção a Maria Santíssima, Senhora Nossa.

§ 8° Da sétima petição do Pai-Nosso

317. Que pedimos na sétima petição: Mas livrai-nos do mal?
Na sétima petição: Mas livrai-nos do mal, pedimos a Deus que nos livre dos males passados, presentes, futuros e especialmente do sumo mal, que é o pecado, e da condenação eterna, que é o seu castigo.

318. Por que dizemos: livrai-nos do mal, e não: "dos males"?
Dizemos: livrai-nos do mal, e não: "dos males", por que não devemos desejar ser isentos de todos os males desta vida, mas só daqueles que são nocivos à nossa alma, e por isso pedimos a libertação do mal em geral, isto é, de tudo aquilo que Deus vê que para nós é mal.

319. Não é lícito pedir a Deus que nos livre de algum mal em particular, por exemplo, de uma doença?
Sim, é lícito pedir a libertação de algum mal em particular, mas sempre entregando-nos à vontade de Deus, que pode, no entanto, ordenar aquela tribulação para proveito da nossa alma.

320. Para que nos servem as tribulações que Deus nos manda?
As tribulações que Deus nos envia nos são úteis para fazermos penitência das nossas culpas, para provar nossas virtudes, e, sobretudo, para levar-nos à imitação de Jesus Cristo, nossa cabeça, ao qual é justo que nos conformemos nos sofrimentos, se quisermos ter parte na sua glória.

321. Que quer dizer Amém no fim do Pai­Nosso?
Amém quer dizer: assim seja, assim desejo, assim peço ao Senhor e assim espero.

322. Para se alcançarem as graças pedidas no Pai-Nosso, basta rezá-lo de qualquer maneira?
Para se alcançarem as graças pedidas no Pai-Nosso, é necessário rezá-la sem precipitação, com atenção e acompanhá-lo com o coração.

323. Quando devemos rezar o Pai-Nosso?
Devemos rezar o Pai-Nosso todos os dias, porque todos os dias temos necessidade do auxilio de Deus.
CAPÍTULO III

Da Ave-Maria

324. Que oração costumamos rezar depois do Pai-Nosso?
Depois do Pai-Nosso rezamos a saudação angélica, isto é, a Ave-Maria, por meio da qual recorremos à Santíssima Virgem.

325. Por que a Ave-Maria é chamada saudação angélica?
Chama-se a Ave-Maria saudação angélica porque principia com a saudação que dirigiu à Virgem Maria o Arcanjo São Gabriel.

326. De quem são as palavras da Ave-Maria?
As palavras da Ave-Maria são, em parte, do Arcanjo São Gabriel, em parte de Santa Isabel e em parte da Igreja.

327. Quais são as palavras do Arcanjo São Gabriel?
As palavras do Arcanjo São Gabriel são: “Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres”.

328. Quando disse o Anjo a Maria estas palavras?
O Anjo disse a Maria estas palavras quando lhe foi anunciar da parte de Deus o mistério da Encarnação que nela devia operar-se.

329. Que temos em vista ao saudarmos a Santíssima Virgem com as mesmas palavras do Arcanjo?
Ao saudarmos a Santíssima Virgem com as mesmas palavras do Arcanjo, nós nos congratulamos com ela, lembrando os dons e singulares privilégios com que Deus a favoreceu de preferência a todas as outras criaturas.

330. Quais são as palavras de Santa Isabel?
As palavras de Santa Isabel são: "Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre".

331. Quando disse Santa Isabel estas palavras?
Santa Isabel disse estas palavras, inspirada por Deus, quando, três meses antes de nascer seu filho João Batista, foi visitada pela Santíssima Virgem, que já trazia no seio o seu Divino Filho Jesus.

332. Que fazemos ao dizer estas palavras?
Ao dizer estas palavras de Santa Isabel, congratulamo­nos com Maria Santíssima pela sua excelsa dignidade de Mãe de Deus, bendizemos a Deus e damos-lhe graças por nos ter dado Jesus Cristo por meio de Maria.

333. De quem são as demais palavras da Ave­Maria?
Todas as demais palavras da Ave-Maria foram acrescentadas pela Igreja.

334. Que pedimos com as últimas palavras da Ave-Maria?
Com as últimas palavras da Ave-Maria pedimos a proteção da Santíssima Virgem no decurso desta vida e especialmente na hora da nossa morte, na qual nos será mais necessária.

335. Por que, depois do Pai-Nosso, dizemos antes a Ave-Maria que qualquer outra oração?
Porque a Santíssima Virgem é a Advogada mais poderosa junto de Jesus Cristo: por isso, depois de termos rezado a oração que Jesus Cristo nos ensinou, pedimos à Santíssima Virgem que nos alcance as graças que imploramos.

336. Por que motivo é tão poderosa a Santíssima Virgem?
A Santíssima Virgem é tão poderosa porque é Mãe de Deus e é impossível que não seja atendida por Ele.

337. Que nos ensinam os Santos a respeito da devoção à Virgem Maria?
A respeito da devoção a Maria, os Santos nos ensinam que os seus verdadeiros devotos são por ela amados e protegidos com amor de Mãe muito terna, e por meio dela têm a certeza de encontrar a Jesus Cristo e de alcançar o Paraíso.

338. Qual é a devoção à Virgem Maria que a Igreja nos recomenda de modo especial?
A devoção que a Igreja nos recomenda de modo especial em honra da Santíssima Virgem é a reza do Santo Rosário.
CAPÍTULO IV

Da invocação dos Santos

339. É coisa boa e útil recorrer à intercessão dos Santos?
É coisa utilíssima invocar os Santos e todo e qualquer cristão o deve fazer. Devemos invocar particularmente nossos Anjos da Guarda, São José, protetor da Igreja, os Santos Apóstolos, o Santo do nosso nome e os Santos protetores da diocese e da paróquia.

340. Que diferença há entre as orações que fazemos a Deus e as que fazemos aos Santos?
Entre as orações que jazemos a Deus e as que fazemos aos Santos há esta diferença: a Deus, invocamo-Lo a fim de que, como autor das graças, nos dê os bens e nos livre dos males; e aos Santos, invocamo-los para que, como advogados juntos de Deus, intercedam por nós.

341. Que queremos dizer quando dizemos que um Santo concedeu uma graça?
Quando dizemos que um Santo concedeu uma graça, queremos dizer que esse Santo obteve de Deus aquela graça.
TERCEIRA PARTE

DOS MANDAMENTOS DA LEI DE DEUS E DA IGREJA

CAPÍTULO I

Dos Mandamentos da Lei de Deus em geral

342. De que trata a terceira parte da Doutrina Cristã?
A terceira parte da Doutrina Cristã trata dos Mandamentos da Lei de Deus e da Igreja.

343. Quantos são os Mandamentos da Lei de Deus?
Os Mandamentos da Lei de Deus são dez:
1.º Amar a Deus sobre todas as coisas.
2.º Não tomar seu Santo Nome em vão.
3.º Guardar domingos e festas.
4.º Honrar pai e mãe.
5.º Não matar.
6.º Não pecar contra a castidade.
7.º Não furtar.
8.º Não levantar falso testemunho.
9.º Não desejar a mulher do próximo.
10.º Não cobiçar as coisas alheias.

344. Por que têm esse nome os Mandamentos da Lei de Deus?
Os Mandamentos da Lei de Deus têm esse nome porque foi o próprio Deus que os gravou na alma de cada homem e os promulgou no monte Sinai, na antiga Lei, esculpidos em duas tábuas de pedra e porque Jesus Cristo os confirmou na Lei nova.

345. Quais são os Mandamentos da primeira tábua?
Os Mandamentos da primeira tábua são os três primeiros que se referem diretamente a Deus e aos deveres que temos para com Ele.

346. Quais são os Mandamentos da segunda tábua?
Os Mandamentos da segunda tábua são os últimos sete que se referem ao próximo e aos deveres que temos para com ele.

347. Somos obrigados a observar os Mandamentos?
Sim, todos somos obrigados a observar os Mandamentos, porque todos devemos viver segundo a vontade de Deus, que nos criou; e basta transgredirmos gravemente um só deles para merecer o Inferno.

348. Podemos observar os Mandamentos?
Podemos, sem dúvida, observar os Mandamentos da Lei de Deus, porque Deus não nos manda nenhuma coisa impossível e dá a graça para observá-los a quem a pede devidamente.

349. Que se deve considerar em cada Mandamento?
Em cada Mandamento deve-se considerar a parte positiva e a parte negativa; isto é, o que nos é ordenado e o que nos é proibido.
CAPÍTULO II

Dos Mandamentos que se referem a Deus

§ 1º Do primeiro Mandamento da Lei de Deus

350. Por que disse o Senhor antes de ditar os Mandamentos: "Eu sou o Senhor teu Deus"?
Antes de promulgar os seus Mandamentos, Deus disse: "Eu sou o Senhor teu Deus", para que saibamos que Deus, sendo o nosso Criador e Senhor, pode mandar o que quiser, e nós, criaturas suas, somos obrigados a obedecer-Lhe.

351. Que nos ordena Deus com as palavras do primeiro Mandamento: Amar a Deus sobre todas as coisas?
Com as palavras do primeiro Mandamento: Amar a Deus sobre todas as coisas, Deus nos ordena que o reconheçamos, adoremos, amemos e sirvamos a Ele só, como a nosso Soberano Senhor.

352. Como se cumpre o primeiro Manda­mento?
Cumpre-se o primeiro Mandamento com o exercício do culto interno e externo.

353. Que é o culto interno?
O culto interno é a honra que se presta a Deus só com as faculdades da alma, isto é, com a inteligência e com a vontade.

354. Que é o culto externo?
O culto externo é a homenagem que se presta a Deus por meio de atos exteriores e de objetos sensíveis.

355. Não basta adorar a Deus interiormente, só com o coração?
Não basta adorar a Deus interiormente, só com o coração, mas é necessário adorá-Lo também exteriormente, com a alma e com o corpo juntamente, porque Ele é Criador e Senhor absoluto de um e de outro.

356. Poderá haver culto externo sem o interno?
Não pode de forma alguma haver culto externo sem o interno, porque aquele, desacompanhado deste, fica privado de vida, de merecimento e de eficácia, como corpo sem alma.

357. Que nos proíbe o primeiro Mandamento?
O primeiro Mandamento proíbe-nos a idolatria, a superstição, o sacrilégio, a heresia e todo e qualquer outro pecado contra a religião.

358. Que é a idolatria?
Chama-se idolatria o prestar a alguma criatura, por exemplo a uma estátua, a uma imagem, a um homem, o culto supremo de adoração devido só a Deus.

359. Como está expressa na Sagrada Escritura esta proibição?
Na Sagrada Escritura está expressa esta proibição com as palavras: Não farás para ti imagem de escultura nem figura alguma de tudo o que há em cima, no céu, e do que há em baixo, na terra. E não adorarás tais coisas nem lhes darás culto.

360. Proíbem estas palavras todas as espécies de imagens?
Não, por certo. Mas só as das falsas divindades feitas com intuito de adoração como faziam os idólatras. E tanto isto é verdade que o próprio Deus deu ordem a Moisés para fazer algumas como as duas estátuas de querubins que estavam sobre a arca e a serpente de bronze no deserto.

361. Que é a superstição?
Chama-se superstição toda e qualquer devoção contrária à doutrina e ao uso da Igreja, bem como o atribuir a uma ação ou a alguma coisa uma virtude sobrenatural que ela não tem.

362. Que é o sacrilégio?
O sacrilégio é a profanação de um lugar, de uma pessoa ou de uma coisa consagrada a Deus ou destinada ao seu culto.

363. Que é a heresia?
A heresia é um erro culpável de inteligência pelo qual se nega com pertinácia alguma verdade de fé.

364. Que mais coisas proíbe o primeiro Mandamento?
O primeiro Mandamento proíbe também todo o comércio ou trato com o demônio e afiliar-se às seitas anticristãs.

365. Quem recorra ao demônio e o invoque comete pecado grave?
Quem recorre ao demônio e o invoca comete um pecado enorme, porque o demônio é o mais perverso inimigo de Deus e do homem.

366. É lícito interrogar as mesas chamadas falantes ou escreventes, ou consultar de algum modo as almas dos mortos por meio de espiritismo?
Todas as práticas do espiritismo são proibidas, porque são supersticiosas e muitas vezes não estão isentas de intervenção diabólica, razão por que foram justamente interditas pela Igreja.

367. O primeiro Mandamento proíbe acaso honrar e invocar os Anjos e os Santos?
Não. Não é proibido honrar e invocar os Anjos e os Santos, e até o devemos fazer, porque é coisa boa e útil e altamente recomendada pela Igreja, já que eles são amigos de Deus e nossos intercessores juntos d'Ele.

368. Sendo Jesus Cristo o nosso único mediador junto de Deus, por que recorremos também à intercessão da Santíssima Virgem e dos Santos?
Jesus Cristo é o nosso mediador junto de Deus, enquanto, sendo verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, só Ele, em virtude dos próprios merecimentos nos reconciliou com Deus e d'Ele nos obtém todas as graças. Mas a Santíssima Virgem e os Santos, em virtude dos merecimentos de Jesus Cristo, e pela caridade que os une a Deus e a nós, auxiliam-nos com a sua intercessão a alcançar as graças que pedimos. E este é um dos grandes bens da comunhão dos Santos.

369. Podemos honrar também as sagradas imagens de Jesus Cristo e dos Santos?
Sim, porque a honra que se tributa às sagradas imagens de Jesus Cristo e dos Santos se refere às suas mesmas pessoas.

370. E as relíquias dos Santos podem honrar-se?
Sim, também as relíquias dos Santos podem e devem honrar-se, porque os seus corpos foram membros vivos de Jesus Cristo e templos do Espírito Santo e devem ressurgir gloriosos para a vida eterna.

371. Que diferença há entre o culto que prestamos a Deus e o culto que prestamos aos Santos?
Entre o culto que prestamos a Deus e o culto que prestamos aos Santos há esta diferença: a Deus adoramo­Lo pela sua infinita excelência, ao passo que aos Santos não os adoramos, mas só os honramos e veneramos como a amigos de Deus e nossos intercessores juntos d'Ele. O culto que prestamos a Deus chama-se latria, isto é, de adoração, e o culto que prestamos aos Santos chama-se dulia, isto é, de veneração aos servos de Deus; enfim, o culto especial que prestamos a Maria Santíssima chama­ se hiperdulia, isto é, de essencialíssima veneração, como Mãe de Deus.

§ 2° Do segundo Mandamento da Lei de Deus

372. Que nos proíbe o segundo Mandamento: Não tomar seu Santo Nome em vão?
O segundo Mandamento: Não tomar seu Santo Nome em vão, proíbe-nos: 1.° Pronunciar o nome de Deus sem respeito. 2° Blasfemar contra Deus, contra a Santíssima Virgem ou contra os Santos. 3. ° Fazer juramentos falsos ou desnecessários ou proibidos desta ou daquela maneira.

373. Que quer dizer pronunciar o Nome de Deus sem respeito?
Pronunciar o Nome de Deus sem respeito quer dizer: pronunciar este Santo Nome e tudo o que se refere de modo especial ao próprio Deus, como o Nome de Jesus Cristo, de Maria e dos Santos, com ira, por escárnio ou de outro modo pouco reverente.

374. Que é a blasfêmia?
A blasfêmia é um pecado horrível que consiste em palavras ou atos de desprezo ou maldição contra Deus, contra a Virgem, contra os Santos ou contra as coisas santas.

375. Há diferença entre a blasfêmia e a imprecação ou praga?

Há diferença, porque com a blasfêmia se amaldiçoa ou se deseja mal a Deus, a Nossa Senhora e aos Santos; ao passo que, com a imprecação ou praga, se amaldiçoa ou se deseja mal a si mesmo ou ao próximo.

376. Que é jurar?
Jurar é tomar a Deus em testemunho da verdade do que se afirma ou se promete.

377. É sempre proibido jurar?
Não é sempre proibido o juramento, mas é lícito e até honroso para Deus, quando há necessidade e se jura com verdade, discernimento e justiça.

378. Quando não se jura com verdade?
Quando se afirma com juramento o que se sabe ou se julga falso, e quando com juramento se promete o que não se tem a intenção de cumprir.

379. Quando não se jura com discernimento?
Quando se jura sem prudência nem madura ponderação, ou por coisas de pequena importância.

380. Quando não se jura com justiça?
Quando se jura fazer uma coisa que não é justa ou permitida, como jurar vingar-se, roubar e outras coisas parecidas.

381. Somos obrigados a cumprir o juramento de fazer coisas injustas ou proibidas?
Não só não somos obrigados, mas pecaríamos fazendo­o, porque são proibidas pela lei de Deus ou da Igreja.

382. Quem jura falso, que pecado comete?
Quem jura falso comete pecado mortal, porque desonra gravemente a Deus, verdade infinita, chamando­O em testemunho do que é falso.

383. Que nos ordena o segundo Mandamento?
O segundo Mandamento ordena-nos que honremos o Santo Nome de Deus, e que cumpramos, além dos juramentos, também os votos.

384. Que é um voto?
Um voto é uma promessa feita a Deus de uma coisa boa, para nós possível e melhor que a coisa contrária, a que nós nos obrigamos como se nos fosse preceituada

385. Se a observância do voto se nos tornasse no todo ou em parte muito difícil, que haveria a fazer?
Podia-se pedir a comutação ou a dispensa ao Bispo próprio, ou ao Sumo Pontífice, conforme a qualidade do voto.

386. É pecado transgredir os votos?
O transgredir os votos é pecado, e por isso não devemos fazer votos sem madura reflexão, e ordinariamente sem o conselho do confessor ou de outra pessoa prudente, para não nos expormos ao perigo de pecar.

387. Podem fazer-se votos a Nossa Senhora e aos Santos?
Os votos fazem-se só a Deus; pode-se, porém, prometer a Deus fazer alguma coisa em honra de Nossa Senhora ou dos Santos.

§ 3° Do terceiro Mandamento da Lei de Deus

388. Que nos ordena o terceiro Mandamento: Guardar domingos e festas?
O terceiro Mandamento: Guardar domingos e festas ordena-nos que honremos a Deus com obras de culto nos dias de festa.

389. Quais são os dias de festa?
Na Antiga Lei, eram os sábados e outros dias particularmente solenes para o povo judeu; na Lei Nova, são os domingos e outras festividades estabelecidas pela Igreja.

390. Por que na Lei Nova se guarda o domingo e não o sábado?
O domingo, que significa dia do Senhor, substituiu o sábado porque foi em dia de domingo que Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou.

391. Que obra de culto nos é preceituada nos dias de festa?
É-nos preceituado assistir devotamente ao Santo Sacrifício da Missa.

392. Com que outras obras costuma um bom cristão santificar as festas?
Um bom cristão santifica as festas: 1.º Assistindo à doutrina cristã, às pregações e aos ofícios divinos. 2.º Recebendo com frequência, com as devidas disposições, os Sacramentos da Penitência e da Eucaristia. 3.º Dando­ se à oração e às obras de caridade cristã para com o próximo.

393. Que nos proíbe o terceiro Mandamento?
O terceiro Mandamento proíbe-nos os trabalhos servis e qualquer obra que nos impeça o culto de Deus.

394. Quais são os trabalhos servis proibidos nos dias santos?
Os trabalhos servis proibidos nos dias santos são os trabalhos chamados manuais, isto é, aqueles trabalhos materiais em que tem parte mais o corpo do que o espírito, como os que ordinariamente são próprios dos servidores, dos operários e dos artífices.

395. Que pecado se comete trabalhando em dia santo?
Trabalhando em dia santo, comete-se pecado mortal; não obstante, não há culpa grave se o trabalho dura pouco tempo.

396. Não há nenhum trabalho servil que seja permitido nos dias santos?
Nos dias santos são permitidos aqueles trabalhos que são necessários à vida ou ao serviço de Deus, e os que se fazem por uma causa grave, pedindo licença, se possível, ao próprio pároco.

397. Por que nos dias santos são proibidos os trabalhos servis?
São proibidos nos dias santos os trabalhos servis a fim de que possamos melhor dedicar-nos ao culto divino e à salvação da nossa alma e para repousar das nossas fadigas. Por isso não é proibido entregar-se a divertimentos honestos.

398. Que mais devemos evitar de modo especial nos dias santos?
Nos dias santos devemos evitar principalmente o pecado e tudo o que possa induzir-nos a ele, como são os bailes e outras diversões e reuniões perigosas.


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