segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

SANTA MISSA – INTRÓITO

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Intróito ou a entrada do padre significa, diz São Germano com todos os liturgistas, o advento do Filho de Deus neste mundo[1]. No rito Moçárabe, o santo Sacrifício começa pela Ave Maria, a saudação angélica que anuncia à Maria este augusto mistério. E visto que o Messias veio do oriente, assim como tinha anunciado o profeta[2], nas igrejas bem orientadas, as sacristias estão voltadas para o oriente, a fim de que o padre que dali sai para celebrar a Missa recorde esta circunstância. 
O incenso, lançado sobre a passagem do padre, simboliza as orações que clamaram tão ardentemente o Desejado das nações: a dupla luz dos acólitos representa as luzes que, entre os judeus e os pagãos, anunciaram a Encarnação. O diácono e o subdiácono designam o Novo e o Antigo Testamento, dos quais Jesus Cristo é o centro e a ligação.
O Sacrifício começa do lado direito do altar, que representa o povo judeu, “porque, diz São Boaventura, é entre este povo que Nosso Senhor encarnado toma a substância de sua humanidade[3]”.
Se a entrada do padre recorda a vinda de Jesus Cristo sobre a terra, a antífona doIntróito nos marca os ardentes desejos que precederam sua vinda. Ela é repetida duas vezes para expressar de forma sublime o ardor desses desejos sempre renovados[4]. E alentidão desta canção não é, além do mais, uma imagem da lentidão do céu que só concede o Messias após quatro mil anos de espera e suspiros? Quando, nas Missas solenes, o padre aparece na porta do santuário, todo o coro se levanta. Primeiro por respeito, segundo, porque o celebrante representa Aquele do qual está escrito: “Quando o Pai introduz seu primogênito no mundo, Ele diz: que todos os anjos de Deus o adorem[5]”.
O padre, chegando ao altar, o beija no lugar onde repousam as relíquias dos santos. “Que ele me beije, com um beijo de sua boca[6]”, exclamou a humanidade em sua espera pela vinda do Messias. O padre, representando Jesus Cristo, nos anuncia por esta cerimônia que os votos do mundo estão satisfeitos. Jesus Cristo veio se revestindo de nossa carne, Ele nos deu um beijo de amor e de reconciliação[6].
“O anjo veio, diz São João no Apocalipse, Ele está diante do altar, tendo em sua mão um turíbulo de ouro, e lhe entregaram muitos perfumes, que são as orações dos santos, a fim de que Ele as ofereça[7]”. Nesse anjo a Igreja viu Jesus Cristo, o verdadeiro enviado de Deus. Jesus Cristo veio, o intróito o recorda. Mas a Igreja quer exprimir o fim de sua missão: ater-se diante de seu Pai para orar, receber o incenso de nossas orações e oferecê-las a Deus. Confiemos a Ele, no momento da incensação, todos os nossos pedidos. Apresentados por mãos tão puras, por lábios divinos, como eles não poderiam ser ouvidos? 
intróito é cortado em diversos momentos pelo Gloria Patri. Como esta angélica harmonia, que respira a alegria e triunfo, intervém em um canto sempre grave como o gemido do homem que chora em uma longa espera? Anastácio do Sinai explica essa aparente contradição, dizendo-nos que os anjos cantaram as glórias desse mistério muito antes da Encarnação. Eles o adoraram e o louvaram quando Deus os revelou. Unidos aos coros angélicos estão os fiéis, sob os estandartes do Arcanjo Miguel, dando juntos: glória ao Pai, que nos amou até nos dar seu Filho único; glória ao Filho, que se despojou por nós; glória ao Espírito Santo, cujo poder e fecundidade divina operaram este mistério.
Desejamos que a glória dada agora à Santíssima Trindade por nossos corações gratos seja como aquela que Ela recebeu dos anjos no começo do mundo, e que Ela receberá dos eleitos nos séculos dos séculos. 
Em certas liturgias, como as dos Cartuxos, dos Dominicanos, dos Moçárabes, o padre, assim que sobe o altar, coloca o vinho e a água no cálice. Ora, essa mistura sempre foi considerara como um símbolo da Encarnação, ou seja, da união da natureza divina e da natureza humana, simbolizadas, veremos mais tarde, pelo vinho e a água.
Nossos sentimentos durante o intróito nos estão suficientemente citados acima. Agora, abandonemo-nos na efusão de um piedoso reconhecimento. Aquele que as nações desejaram durante 4.000 anos, o Messias do qual suspiraram Abraão e Isaac, Moisés e os profetas, logo estará, não nos esqueçamos, no meio de nós.
DURAND, A. Le culte catholique dans ses cérémonies et ses symboles; d’après l’enseignement traditionnel de l’Église. Tradução de: Robson Carvalho. Paris, Jouby et Roger, 1868, c. VI, p.77-79.
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[1] Théorie des choses ecclésiastiques – Maxime. Exposit. de la liturgie. Inn. III. – Sicard. Crém.
[2] Deus ab austro venit. Habac., c.III, v.3
[3] Expositio Missæ, c.2
[4] Inocêncio III, De Sacrificio altaris, I. II, c. 28 – Rationale, I. IV, c.5
[5] Hb 1, 16
[6] Ct 1, 1
[7] São Bernardo e São Méliton, citados pelo Spicil. de Solesmes, t.III, c.29
[8] Ap 8, 3

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