sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O ITINERÁRIO MÍSTICO DE SÃO JOÃO DA CRUZ


São João da Cruz sabia que os bens temporais em si mesmos não levam necessariamente ao pecado; mas a observação cotidiana mostrava-lhe ser tão grande a fragilidade humana, que o coração a eles se apega, esquecendo-se de Deus. É este abandono de Deus que constitui o pecado. E eis aqui o antídoto: “Para livrar-se deveras desses danos e temperar a demasia do apetite, é mister aborrecer toda espécie de posse; nem ter algum cuidado a respeito; como tampouco acerca de comida, de vestido, ou de outra coisa criada, nem no dia de amanhã, empregando esse cuidado em outra coisa mais alta: buscar o reino de Deus, isto é, não faltar a Deus”.

[...] Neste mundo dominado pelo furor do gozo, ciência e técnica trabalham dia e noite para despertar novos e insopitáveis desejos, de sorte que ainda ao rico dê a sensação de pobreza, por lhe faltar o último modelo de automóvel ou porque a residência carece de qualquer detalhe de ultraconforto. É, pois, indispensável querer ser pobre, estar desprendido das coisas materiais, Mas não basta desapegar-se das riquezas para ser verdadeiramente pobre; é ainda necessário desprender-se de tudo. De tudo? Sim, de tudo. [...] Exige a pobreza espiritual que nos desnudemos sobretudo de nós mesmos. [...] A pobreza ou desnudez espiritual é o grande instrumento de libertação da alma, que o apego aos bens criados, o desejo de gozá-los são outros tantos liames e a enlear a vontade... Ser livre, portanto, não é expandir os instintos, expressar os caprichos, sestros, limitações; ser livre é viver segundo nossa natureza espiritual e aderir ao verdadeiro Fim, para participar da vida livre de Deus.

Pe. M. Teixeira-Leite Penido   (2ª Edição – Editora Vozes Limitada, Petrópolis/RJ – 1954)

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