quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O pontificado de Paulo VI – Gustavo Corção

Gustavo Corção
Não me compete julgar a pessoa de Paulo VI, nem mesmo tentarei tirar dos sinais exteriores, que todos podem ver, uma interpretação que explique sua posição, com aumento ou diminuição de sua responsabilidade na constelação dos acontecimentos mais marcantes na história recente da Igreja. Não me cabe julgar Paulo VI. Mas creio que posso e devo dizer, com critérios aprendidos no regaço da Igreja, o que já mais de uma vez disse do pontificado de Paulo VI.
Se quiséssemos fazer um resumido inventário desse pontificado, teríamos de começar evidentemente pelo Concílio Vaticano II e mais especialmente pela Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo atual, o Decreto sobre o ecumenismo, a Declaração sobre a liberdade religiosa e pelo discurso de encerramento pronunciado pelo Sumo Pontífice.
Em seguida mencionaríamos as reformas litúrgicas feitas “para acomodar a santa liturgia” à mentalidade contemporânea, e mais especialmente o novo Ordo Missae, e especialmente o ponto 7 da Institutio Generalis do mesmo. Em seguida lembraríamos a campanha desencadeada no mundo inteiro contra o IV mandamento de Deus e a promoção do “jovem”. Em seguida falaríamos sobre a acintosa heterodoxia de vários autores sob a benevolente tolerância que encontram e que prova o desgoverno da Igreja. Mencionamos alguns pregadores dessas novas e destetáveis doutrinas: Karl Rahner, Hans Kung, Ratzinger (elevado ao cardinalato), J. B. Metz, Schillebeckx, Yves Congar, Gonzales-Ruiz; e na América Latina: Juan Segundo, Segundo Galilea, Gustavo Gutierez, e no Brasil, Leonardo Boff, Carlos Mesters, e outros.
A esses abusos e aos correlatos descasos pelo Depósito Sagrado, acrescentaríamos os aberrantes produtos da nova pastoral catequética. De um modo geral falaríamos na protestantização da Igreja e finalmente mencionaríamos a Ost-Politik do Vaticano.
Diante de todas essas aberrações não hesitaríamos em dizer que o pontificado de Paulo VI foi o mais tormentoso e desastroso de toda a história da Igreja.
Como resultado global, temos hoje um cisma mais profundo e mais grave do que o Grande Cisma do Ocidente ocorrido no século XIV. Com uma diferença: naquele tempo os fiéis católicos estiveram hesitantes diante de duas obediências, e até alguns grandes santos, como São Vicente Ferrer, enganavam-se de papa (escolhendo Clemente VII em vez de Urbano VI), MAS NÃO SE ENGANAVAM DE IGREJA, que permanecia una, íntegra, nas duas obediências. Hoje, ao contrário, temos duas Igrejas: a Igreja Católica, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, e outra reformada, alterada, adulterada em favor de um humanismo sem dimensões sobrenaturais, e ostensivamente apegado às coisas temporais, usque ad contemptum Dei.
E eu receio muito que Paulo VI pretenda ser o Papa dessas duas Igrejas; e até tremo de pensar que talvez tenha preferência pela nova que tem como obra sua.
Revista Permanência (maio-junho) n.ºs  114/115 (1978)

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